Por Hermes C. Fernandes
Acabo de chegar de uma cantata numa igreja hispana em Deltona, Florida. Devo admitir que aprecio muito a atmosfera natalina. Gosto de ver as casas
enfeitadas, os shoppings lotados, o corre-corre, a mesa farta, a troca de
presentes, e até… o Papai Noel. Isso mesmo que você acabou de ler. Sou fã do bom
velhinho. Tive minhas desafensas com ele anos atrás, pois julgava que estava
usurpando o lugar de Cristo. De um tempo pra cá, fiz as pazes com o velho Noel.
Antes que alguém me esconjure, deixe-me explicar.
Gosto de ver as casas enfeitadas, porque nesta época do ano elas se tornam
mais aconchegantes. Os olhos da criançada brilham enquanto vêem a mãe enfeitando a
árvore com penduricalhos e pisca-pisca. Quem não tem uma boa lembrança da
infância quando chega este período do ano? Aqui nos Estados Unidos dá pra gente
saber quem é cristão ou não pela maneira como a casa é decorada para o Natal.
Geralmente, enchem-nas de pisca-piscas ao redor da casa, luzes coloridas,
presépios, bonecos de neve, veados e alces, trenós, etc. Quando uma casa não é
enfeitada, presume-se que ali more uma família judia, ou hinduísta, ou de
qualquer outro credo, ou mesmo, sem credo. As casas iluminadas contagiam a vizinhança de um clima de
celebração. Aqui em casa reunimos os filhos para ajudar na decoração. Esta
semana, enquanto eu e Tânia armávamos o pinheiro de natal, lembrei-me de que foi
o grande reformador Martinho Lutero quem começou esta tradição. As bolas
representavam o fruto do Espírito Santo. O pinheiro foi escolhido porque é a
única árvore a sobreviver à estação do inverno nos países onde é mais
rigoroso sem perder a folhagem.
Por que gosto de ver os shoppings lotados? Não seria isso um culto ao
consumismo? Que tal deixarmos um pouco o radicalismo de lado? Primeiro, por
conta da explosão de vendas, a indústria e o comércio podem empregar mais gente.
A economia do país melhora. E quanto à motivação que leva multidões às compras?
Não seria a generosidade, uma vez que a maioria vai aos shoppings para comprar
presentes? Não seria isso inspirado no exemplo dos magos que ofertaram ao menino
Jesus os seus tesouros? Mesmo que gaste parte do sermão natalino pregando contra
o espírito consumista predominante nesta época, gosta de receber presentes ao
término do culto. Em vez de criticar quem gaste parte de seu orçamento com
lembrancinhas, por que não incentivar que pelo menos uma parte dos presentes
seja dada aos mais necessitados? Você sabia que é nesta época que as crianças
que vivem em orfanatos recebem mais visitas e presentes? O Natal consegue
despertar o melhor que há nos homens.
Gosto de mesas fartas. Alguém aí prefere ver famílias que distribuem seus
filhos entre casas de vizinhos e parentes, ou simplesmente vão dormir mais cedo
por não terem condição de montar uma mesa com as iguarias natalinas? Não
confunda isso com glutonaria! Em vez de criticar, líderes poderiam incentivar os
fiéis a não disperdiçarem comida, distribuindo para os moradores de rua no dia
seguinte. Toneladas de alimento vão pro lixo um dia depois do natal. Isso é que
deveria ser condenado.
E quanto ao Papai Noel? Quer saber por que fiz as pazes com ele? Porque
cheguei à conclusão de que não será uma figura imaginária que ameaçará a
supremacia de Cristo no Natal. Já houve quem até satanizasse o velinho. Uma
igreja na Inglaterra chegou a dizer que o seu nome em inglês seria um anagrama
do nome "Satan". Isso porque seu nome em inglês é Santa Claus, devido à
tradição que o associa a São Nicolau. Na mente fértil desta turma, Santa, como
geralmente é chamado pela criançada, seria na verdade Satan, bastando trocar
a letra “n” de lugar. #Peloamordedeus! Imagina se o meu Jesus ficaria enciumado
por causa de um personagem fictício, que no imaginário popular representa
generosidade! Por que não usar a própria figura do Papai Noel para anunciar a
Cristo às crianças? Seria muito mais produtivo do que simplesmente demonizá-lo. Imagine alguém fantasiado de Noel numa comunidade carente, com o saco cheio de presentes pra criançada, de repente, antes de distribuí-lo, ele anuncia que o verdadeiro presente de Natal é Jesus, dado por Deus aos homens para que tenham vida eterna.
Cristo jamais foi ameaçado por personagem algum. No Natal há lugar para o magos
do Oriente, para os pastores de Belém, para o anjo Gabriel, e pra tantos outros
personagens bíblicos, inclusive o malévolo rei Herodes. Noel entra de penetra,
mas é bem-vindo. Apesar de ser associado a Nicolau, um cristão primitivo que
prezava as crianças, tornou-se num ícone natalino através de uma campanha da
Coca-cola nos anos 30. Antes disso, ninguém o reconheceria vestido com aquela
roupa vermelha, botas pretas, saco de brinquedos e trenó.
Dito isso, desejo a todos os meus leitores um Natal repleto de alegria e
contentamento no Espírito. E que os cristãos não sejam vistos como
estraga-prazeres, e sim como aqueles que têm motivo extra pra festejar.
Publicado originalmente em 20/12/2010
Publicado originalmente em 20/12/2010