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CARTA ABERTA AOS GAYS, TRANS E CIA

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Por Hermes C. Fernandes 

Antes de tudo, quero dizer o quanto vocês são amados. Sim, digo em alto e bom som: VOCÊS SÃO AMADOS! E são amados exatamente do jeito que são. Suas vidas são preciosíssimas aos olhos d’Aquele que os criou. Sua homossexualidade não é fruto de uma contingência qualquer. Não se deve ao ambiente, à criação, à atuação de espíritos malignos, a uma maldição, ou mesmo a um abuso sofrido na infância. Ninguém tem culpa. Até porque, culpa a gente tem por algo errado que tenha sido feito. E o que vocês fizeram para ser o que são? Que tal substituir a palavra ‘culpa’ pela palavra ‘propósito’? Saibam que Deus os fez com um propósito: desafiar nossa sociedade a aprender a amar. Mas para tal, ela terá que se livrar de preconceitos arraigados por gerações. Terá que reaprender a arte do convívio respeitoso com o diferente. 

Se vocês e outros segmentos não existissem da maneira como são, nós estaríamos fadados a viver numa sociedade uniformizada, ensimesmada, narcisista, que só seria capaz de amar os que refletissem sua própria imagem. Vocês nos desafiam a ser melhor que isso. Somos tão acomodados que precisamos de quem nos arraste pelas veredas da evolução ética e moral. Sua existência serve a isso. 

Peço que perdoem a nossa ignorância. Imagino o quanto temos sido cruéis ao impor-lhes que se adequem ao nosso modo de ser. 

Perdoem porque não sabemos o que dizemos, muito menos o que fazemos. Somos uns tolos que se acham donos da verdade e que apelam à religião para justificarem seu preconceito. 

No fundo, a razão pela qual os desprezamos reside em nosso machismo crônico. Apesar de tudo, insistimos com a ideia de que a mulher seja um ser de segunda categoria, portanto, inferior ao homem. Logo, é vergonhoso que um homem queira ser uma mulher ou manifeste atributos femininos. Crescemos ouvindo que “homem não chora”. Isso é coisa de mulherzinha. Gays mexem com nossos escrúpulos masculinos. Por isso, preferiríamos que não existissem. Mas já que existem, que vivam bem longe do nosso convívio. Sentimo-nos inseguros diante de vocês, pois expõem, sem qualquer recato e constrangimento, aquilo que preferimos manter em sigilo absoluto, encerrado nos porões de nossa alma. Ninguém precisa saber quão sensíveis os homens podem ser. O mesmo se dá com relação às lésbicas. Quem elas pensam que são para bancar os machos? Sua existência é um atentado ao nosso orgulho. Uma mulher jamais seria capaz de manifestar atributos predominantemente masculinos. Simples assim. Ninguém admite. Mas esta é a verdade. É por isso que nos sentimos tão incomodados com a homossexualidade. Ela mexe com nosso brio. Expõe nossas idiossincrasias. Revela nossa ambiguidade. 

Agora que conhecem a razão deste preconceito idiota, imploro que nos perdoem. 

Perdoem-nos por sabotá-los, buscando impedir que sejam quem são. Não nos importamos que sejam gays, desde que mantenham a discrição, não deem na pinta, e nem sonhem em sair do armário. Anulem-se! Finjam ser héteros. Ou tornem-se celibatários. Isso vai facilitar a vida de todo mundo. É isso que pensamos e não somos ‘machos’ o suficiente para assumir. 

Vocês têm o direito de se expressarem em reação a todo desprezo do qual têm sido vítimas por tanto tempo. Perdoem nossa cara de nojo ao testemunhar uma cena de carinho entre vocês. Deveríamos sentir nojos de nós mesmos e não de outros seres humanos que não sentem vergonha de se expor em público para demonstrar seu amor. Carinho que nem sempre se vê entre casais héteros que desfilam entretidos com seus celulares como se ignorassem a companhia um do outro. 

Perdoem-nos por ensejar impedir que vivam uma relação estável. Preferimos vê-los entregues à promiscuidade, passando de mão em mão, correndo o risco de contrariem doenças sexualmente transmissíveis. Pelo menos, assim, poderemos dizer que vocês receberam dos céus o castigo que mereciam. E por falar em “contrair”, deixe para nós a santa instituição do casamento. Fingimos valorizá-la, mas, cá entre nós, consideramos o casamento uma doença. Mas é doença de hétero. Talvez por isso falamos em “contrair matrimônio”. Este é o nosso castigo. Não o de vocês! Contentem-se com as DST! Deixem o casamento para nós! Deveríamos é nos envergonhar por desprezar uma instituição pela qual vocês resolveram lutar. Que lição vocês estão nos dando! É fácil exigir que um gay apele ao celibato em nome de uma regra religiosa. Difícil é colocar-se em seu lugar para perceber quão dolorosa é a solidão. 

Perdoem-nos por tentar lhes inviabilizar a adoção de filhos. Somos tão caras de pau que alegamos que nosso temor é que seus filhos sejam induzidos à homossexualidade, quando, na verdade, todo gay que conhecemos é filho de casal de heterossexuais. É verdade que você (ainda) não podem reproduzir. Mas também é verdade que muitos de vocês estão dispostos a assumir os cuidados de crianças que foram abandonadas por pais héteros. 

Perdoem-nos por lhes tachar de promíscuos. Não deve ser fácil encontrar alguém que não queira se aproveitar de sua carência e abusar de sua condição. 

Peço que não guardem rancor de seus pais, caso tenham sido rejeitados pelos mesmos. Eles são filhos do seu próprio tempo. Enxergam a vida com categorias ultrapassadas que lhes foram passadas por seus antepassados. Vocês são filhos do futuro, e por isso, nos desafiam a evoluir em nossos conceitos.  
Como Jesus ensinou, paguem com amor aos que lhes ofenderem. O ódio só faz retroalimentar o ciclo de violência. Só o amor é capaz de rompê-lo. 

Lembrem-se: sua vida é uma lição para todos nós. Lição de coragem e resiliência. 

Aos que preferem se resguardar e manter em sigilo sua orientação sexual, meu respeito e solidariedade. Aos que romperam com o obstáculo e saíram do armário, minha admiração. E aos que escondem sua orientação sexual atrás de um discurso homofóbico, deixo-lhes a advertência de Cristo: “Nada há oculto que não seja revelado.” Prepare-se, pois sua máscara eventualmente vai cair. Troque seu ódio mortal por si mesmo, por amor ao seu próximo. 

P.S. Quanto à questão da homossexualidade, quero deixar claro que só há salvação se houver arrependimento seguido de conversão. Se o sujeito segue homofóbico, continua perdido em seus delitos e pecados. Mas se ele se arrepende e passa a acolher o homossexual sem preconceitos e juízos condenatórios, a mesma misericórdia que ele aplicar virá em seu socorro. Homofobia não é apenas crime na justiça dos homens, mas também pecado na justiça de Deus.

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