Por Hermes C. Fernandes
“Jesus está vivo. Hoje falei com
ele”. Esta é uma frase recorrente em adesivos de carros pertencentes a
cristãos. Apesar da clara intenção de dar testemunho acerca de Cristo, tal
frase não prova absolutamente nada. Ela poderia ser usada por um muçulmano,
bastando que se trocasse o nome “Jesus” por “Maomé”, ou poderia ser usada por
um budista, e assim por diante. Cada um crê em quer quiser crer. Fala com quem
quiser falar. Isso não altera e não prova coisa alguma. Talvez surtisse algum
efeito se frase dissesse “Jesus está vivo e hoje falou comigo”. Mas
provavelmente, quem ousasse afirmar tal coisa seria tachado de esquizofrênico.
Num mundo cada vez mais cético,
como provar que a ressurreição de Jesus não é apenas um mito? Que evidências
haveria?
Quem visita Jerusalém, depara-se
com um túmulo que para muitos teria sido onde o corpo de Jesus fora posto, e lá
lê-se, logo na entrada: Ele não está mais aqui, mas ressuscitou. Seria isso
suficiente? O fato dos Seus restos mortais não terem sido encontrados constitui-se
evidência de Sua ressurreição?
E quanto ao santo sudário, que
acredita-se ter sido a mortalha que cobriu o corpo de Jesus? Poderia ser
considerada prova pericial de que Ele voltou à vida? A Igreja Católica afirma
que sim, e trata-a como uma relíquia. Porém, autoridades científicas põem em
xeque a afirmação, e dizem ser um embuste.
As primeiras análises de laboratório ao sudário foram realizadas em 1973 por uma equipe internacional de cientistas. Os resultados demonstraram que a imagem do sudário é composta por inúmeras gotículas de tinta fabricada a partir de ocre. Em 1988 o sudário foi submetido à análise por radiocarbono que datou o tecido entre 1260 e 1390.
Quase dois mil anos se passaram, e
do ponto de vista científico é inviável fazer uma perícia que comprove o maior
milagre de todos os tempos. O lugar onde teria sido sepultado já foi
contaminado há tempo por todos que lá entraram desde que se noticiou que Ele
ressuscitara.
Já naquela época, os principais
sacerdotes subornaram os guardas que adormeceram enquanto guardavam o túmulo
para que espalhassem entre o povo que o corpo de Jesus teria sido levado pelos
discípulos.
Como rebater tal acusação? E se
tudo não passou de um embuste? Se fomos vítimas da mente perversa de alguns
discípulos que pretenderam disseminar uma mentira? Se tal hipótese for confirmada,
nossa fé perde totalmente o sentido, e o evangelho perde a credibilidade. Vale
aqui a conclusão a que chegou Paulo:
“Se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.E também os que dormiram em Cristo estão perdidos.Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” 1 Coríntios 15:14-19
Quero sugerir que viajemos no tempo
e voltemos à cena do crime para acompanharmos a perícia feita por três dos
discípulos mais chegados de Jesus.
Ainda era madrugada, e ela não quis
esperar amanhecer. Foi correndo ao sepulcro onde Jesus havia sido enterrado.
Sua missão era embalsamá-lo. Mas lá chegando, deparou-se com o que parecia a
cena de um crime. A enorme pedra do sepulcro havia sido removida (João 20:1-9).
Confusa, sem conseguir raciocinar
direito, Maria foi correndo avisar a Pedro e João. Sua conclusão era que alguém
havia levado os restos mortais de Jesus. Alguma providência deveria ser tomada.
Talvez, as autoridades devessem ser notificadas.
Mas nada poderia ser feito sem que
antes Pedro e João investigassem por si mesmos a tal cena do crime. Ademais, se
de fato o corpo houvesse sido roubado, os primeiros suspeitos seriam eles, os
discípulos.
Os dois saíram correndo juntos,
porém, João ultrapassou a Pedro, e chegou primeiro. Não sei o que o motivou a
correr tanto, sem algum tipo de rivalidade com Pedro, ou curiosidade, ou
simplesmente, amor, já que comumente era chamado de “o discípulo a quem Jesus
amava”.
Chegando à cena do crime, João
abaixou-se para espiar o buraco de onde a pedra havia sido removida. O dia já
começava a raia, de sorte que, deu pra ver que os lençóis de linho que cobriam
o corpo de Jesus estavam jogados no chão. Definitivamente, algo havia ocorrido
ali. Para que os lençóis estivessem no chão, o corpo teria que ter sido tirado
de sua posição. Receoso de entrar no sepulcro, João chegou à mesma conclusão de
Maria.
Logo em seguida, chegou Pedro.
Embora chegasse depois de João, não contentou-se em espiar a cena do lado de
fora. Deu um passo além, e entrou no sepulcro. De primeira mão, avistou o mesmo
que João: o lençol atirado ao chão. A pedra revolvida e o lençol pareciam
evidenciar que o crime havia sido cometido, exceto por um detalhe: havia o
lenço que cobrira a cabeça de Jesus. Diferente do lençol esparramado no chão, o
lenço estava dobradinho, colocado à parte sobre a cabeceira.
João toma coragem e adentra o
sepulcro, vê a mesma cena, e chega a uma nova conclusão. Não se tratava do
sequestro de um corpo, mas de algo inusitado. O lençol espalhado no chão
parecia dizer que o corpo de Jesus havia sido levado. Mas o pequeno lenço
dobrado, colocado à parte, parecia contar outra história. No meio do aparente
caos, algo sugeria ordem. Quem gosta de assistir a CSI, como eu, sabe que
detalhes imperceptíveis podem mudar radicalmente o rumo das investigações. Se
Sherlock Holmes estivesse lá, diria: Elementar, meu caro Watson: Saqueadores de
tumbas não se preocupariam em dobrar o lenço e colocá-lo à parte.
Mesmo sem compreenderem o que
estava acontecendo, parecia claro que aquela não era a cena de um crime, mas o
cenário do maior acontecimento da história da humanidade.
Se Pedro houvesse parado onde João
parou, teria chegado à mesma conclusão que seu colega, que por sua vez, chegara
à mesma conclusão daquela que os antecedera. Do lado de fora da tumba, só o
lençol espalhado no chão era visível. O lenço era um detalhe só perceptível
para quem adentrasse o sepulcro. Naquele dia João aprendeu uma importante
lição: o que importa não é chegar primeiro, mas dar um passo além.
Estaremos condenados a reproduzir
as mesmas conclusões a que chegaram nossos predecessores, se não nos
dispusermos a dar um passo além. Não se distraia com a bagunça dos lençóis no
chão. Repare no lencinho dobrado. Deus está nos detalhes!
Dois milênios se passaram desde
então, e o que vemos hoje? Tudo à nossa volta parece indicar que as rédeas do
mundo estão soltas. O caos parece dominar o cenário político, econômico,
cultural e até religioso. Como alguém se atreve a afirmar que Jesus não apenas
morreu por nossos pecados, como também ressuscitou, subiu ao céu de onde está
reinando sobre toda a criação?
É fácil chegar a conclusões
precipitadas quando estamos do lado de fora, alienados da realidade que nos
circunda. Mas quando damos um passo à frente e nossos olhos se acostumam ao
ambiente do sepulcro, percebemos que no meio da penumbra há um raio de
esperança. Há um lencinho dobrado na cabeceira. Há ordem em meio ao caos.
Desde que Jesus esteve neste mundo,
nada mais foi como antes. Algo está em fase de fermentação. Jesus disse que o
reino de Deus é semelhante à mulher que lança uma pitada de fermento que aos
poucos vai levedando toda a massa. Também disse que é como um minúsculo e
discreto grão de mostarda que tão logo brote, vai crescendo e crescendo até
tornar-se na maior das hortaliças.
O maior espetáculo de todas as eras
tem como evidência as coisas mais discretas e sutis que possamos imaginar. Assim
como numa investigação pericial um único fio de cabelo pode mudar os rumos do
caso, através de pequenos sinais podemos concluir que a história está sendo
conduzida pelas habilidosas mãos de Cristo que há de levá-la a bom termo.
Não fite a pedra revolvida. Pode
até ser que alguns tenham violado o espaço sagrado da fé, profanando-o e
transformando-o numa indústria religiosa. Como bem denunciou Paulo,
transformaram a verdade de Deus em mentira. Não fite o lençol bagunçado no
chão. O mesmo que dobrou o lencinho em breve há de dobrar igualmente o lençol.
Paulo diz que “convém que Ele reine até
que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” e que “depois virá o fim, quando tiver entregado o
reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a
potestade e força” (1 Co.15:24-25). Quem começou a boa obra há de
concluí-la até o prazo determinado por Deus (Fp.1:6).
Em certo sentido, a igreja é aquele
lencinho dobrado. Uma espécie de amostra grátis do que Deus é capaz de fazer.
Cada vida alcançada por Cristo é uma nova evidência de que Ele está vivo e
reinando soberanamente sobre toda a criação.
Seja você esta evidência. Que mundo
O reconheça em sua vida, em sua casa, em seu trabalho, em seus relacionamentos.
Seja a ordem que você almeja ver no mundo. Seja uma testemunha fiel de que Ele
ressuscitou!