Por Hermes C. Fernandes
Uma foto tem sido difundida na internet
pelas redes sociais em que duas mulheres se
beijam em pleno culto pentecostal com a presença do pastor e deputado Marco
Feliciano. As reações são as piores possíveis. Cristãos que se sentiram ultrajados exigem que elas sejam identificadas e punidas por profanarem o santuário.
Nos últimos dias presenciei
várias demonstrações públicas de afeto entre homossexuais. Confesso o meu
constrangimento. Na primeira, eu e meu filho estávamos tomando café no
Starbucks do New York Shopping na Barra da Tijuca por volta das 18h, quando dois
homens de mais de trinta anos sentaram-se à nossa frente, e sem o menor recato,
começaram a se beijar. Sem saber como reagir, levantamo-nos e saímos. Da
segunda vez, eu e minha esposa estávamos no Plazza Shopping de Niterói quando
dois rapazes desciam as escadas rolantes bem à nossa frente, e começaram a trocar
carícias. A última foi ontem, quando me dirigia ao cinema, e dois rapazes
começaram a beijar-se à frente de todos, inclusive de crianças. Já havia visto
cenas assim, mas não no Brasil. Lembro-me da vez que fui levar meus filhos à
escola em Lake Mary, Flórida, e duas adolescentes se beijavam ardentemente em frente
à porta lateral do estabelecimento. Ninguém diz nada nem lá nem cá, por receio
de ser tachado de homofóbico.
Como deveríamos agir em situações
assim? A impressão que se passa é que tais demonstrações têm a intenção de
provocar. Parece mais uma manifestação política do que propriamente uma
demonstração de carinho e afeto.
Porém, fico a me perguntar até
que ponto tudo isso não é uma reação a todo preconceito que eles têm sofrido ao
longo dos tempos. Quanto mais demonstrarmos ojeriza a este comportamento, mais
ele tende a ser intensificado. Mas se a sociedade simplesmente relevar, aos poucos
eles perceberão a inutilidade de tais protestos (assim que os vejo).
Apesar de todo o meu
constrangimento, não me permitirei desrespeitá-los, nem esboçarei qualquer
reação negativa.
O que Jesus faria em nosso
lugar? Como Ele lidaria com reações inusitadas de pessoas ou grupos que tenham
tido um histórico de hostilização?
Creio que esta resposta pode
ser encontrada na maneira como Ele tratava os samaritanos. Apesar de ter sido
rechaçado ao passar por uma aldeia samaritana, Jesus não cedeu à pressão de
dois dos Seus discípulos que sugeriram que se pedisse a Deus que enviasse fogo do
céu para consumi-la. Em vez de acolher tal sugestão, Jesus os repreendeu,
dizendo que eles não sabiam a que espírito pertenciam. Afinal, Ele teria vindo
para salvar, não para condenar. Estava claro para Jesus que aquela reação
hostil dos samaritanos era resultado de uma ferida aberta que ainda sangrava.
Se Ele fosse recíproco, a hemorragia jamais se estancaria. Em vez disso, por várias vezes
Jesus referiu-se àquele grupo demonstrando respeito, carinho e amor. Veja, por
exemplo, a famosa parábola do Bom Samaritano. Ele foi capaz de elogiar a um
samaritano enquanto criticava sutilmente a casta sacerdotal e a tribo da qual
ela era proveniente. É óbvio que aquilo chegou aos ouvidos deles. Anos mais
tarde, isso deve ter contribuído para o sucesso obtido por Filipe entre os
samaritanos. Àquela altura, a ferida aberta pelo preconceito já estava
cicatrizada (pelo menos com relação a Jesus e a Seus discípulos).
Semelhantemente, hoje há uma
ferida aberta entre a sociedade e os homossexuais. Foram séculos de
hostilização que forçaram muitos a viverem no armário. Quando finalmente eles
se veem livres para se conduzir socialmente de acordo com sua opção sexual,
buscam se impor através de provocações como carinhos e beijos em lugares
públicos.
Não estou dizendo que é certo o
que fazem. Assim como não foi correto os samaritanos receberem Jesus com
pedradas. Porém, se não agirmos com sabedoria, discernimento e amor, estas provocações
poderão tomar proporções inimagináveis, gerando ondas de agressão mútua.
O que temos visto é uma reação
exacerbada, sobretudo, por parte dos cristãos que se sentem ultrajados.
Os homossexuais merecem todo o
nosso respeito, ainda que alguns esbocem atitudes desrespeitosas. Não podemos
julgar a todos por causa de alguns.
Em seu encontro com a samaritana
no poço de Jacó, Jesus foi cavalheiro. Não cedeu às suas provocações, mas
tratou-a como um ser humano digno. Entrar na pilha de alguns é fornecer munição
para que esta “guerra” jamais chegue ao fim.
Em vez de clamar para que
aquelas mulheres que se beijaram na igreja sejam punidas, deveríamos clamar
para que fossem perdoadas. Em vez de manifestações odiosas nas redes sociais
contra o deputado Jean Wyllys pedindo a sua cassação, deveríamos conclamar a todos que
orem por ele e por sua legislatura.
Ódio gera ódio. Preconceito gera preconceito.
Só o amor interrompe o ciclo da violência.
Deixo aqui o meu apelo aos
homossexuais que porventura lerem meu post: antes de saírem por aí se beijando
em lugares públicos, por favor, pensem nas crianças que nada tem a ver com isso
e no constrangimento que causam a seus pais. Se querem demonstrar afeto com beijos e abraços, façam-no dentro dos limites de sua privacidade. Meu apelo não é fruto de qualquer preconceito de minha parte, mas de minha preocupação com o bem-estar social geral. E aos cristãos deixo o meu
apelo para que não revidem, nem ajam pelo impulso, mas aprendam a conviver,
respeitando, mesmo se sentirem-se desrespeitados. Se sentirem-se incomodados, como fiquei na cafeteria ao lado do meu filho, levantem-se e saiam sem alarde. Nada de comentários preconceituosos ou odiosos, nem olhares discriminatórios. Não foi exatamente isso que Jesus ensinou? Ofereçamos a outra face!