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Channel: Hermes C. Fernandes
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Pai: Saudades demais, porém, não eternas

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Pai, amanhã será comemorado o dia dos pais. Sei que o senhor jamais vai ler o que agora escrevo. A menos que Deus lhe dê uma permissão especial, o que imagino que seja impossível (Ouvi falar que Deus costuma fazer coisas impossíveis...).

Ainda assim, resolvi escrever. É que estou com saudade, pai.

Essa semana levei seu neto Rhuan para a escolinha de futebol. Quando lá chegamos, não havia aula. Aproveitei para conversar com ele.

Falei-lhe sobre nós, pai. De nossos encontros e desencontros. Lembrei-me das vezes que o senhor precisava desabafar, e me colocava no carona do carro e saía comigo, sem destino, só pra conversar. O senhor sabia que eu não lhe interromperia, e que podia contar com minha discrição. Ali no carona do seu carro, ouvia seus lamentos e frustrações.

Gostava de saber que o senhor confiava em mim. Eu me sentia tão orgulhoso.

Sabe quando senti mais orgulho na vida, pai?

Lembra que o senhor tinha o costume de assobiar enquanto tomava banho? Pois um dia o senhor assobiou uma música minha. Eu não acreditei no que estava ouvindo. De repente, o senhor interrompeu o assobio e começou a cantar: Jesus, eu quero te fazer uma declaração... O senhor não imagina o quanto me senti realizado em lhe ouvir cantar minha canção.

Sinto saudade de quando o senhor ía pra casa mais cedo (era raro, né?). O senhor gostava de assistir ao telejornal do canal educativo. Eu me deitava ao seu lado no sofá e fica lhe fazendo perguntas sobre os conflitos no Oriente Médio. Foi o senhor que me abriu os olhos para a realidade no Mundo.

Sinto saudade, pai. Quando o senhor me colocava no carro aos domingos, e saía sem me dizer pra onde estávamos indo. Era sempre um suspense. Não adiantava perguntar, que o senhor não respondia.

Geralmente, íamos visitar algumas das igrejas que o senhor presidia.

Saudade de viajar com o senhor.

Saudade de ouvir seus passos firmes ao chegar em casa depois de um longo dia de trabalho, que geralmente começava às 6:30 h. da manhã, e não tinha hora pra terminar.

Saudade de sua voz, sempre rouca e cansada. Ficava orgulhoso quando as pessoas confundiam minha voz com a sua, fosse pelo telefone, ou nos programas de rádio.

Como gostaria de tê-lo aqui, pai, pra ver os seus netos crescerem. Já são 14! Três meus, três do Elias, três da Odisséa, dois da Odília, dois do Júnior e um da Miry. Gostaria que o senhor visse o homem em que o Jr. se tornou, e a bela mulher em que a Mirilayne se tornou, seus filhos temporões. O senhor se orgulharia muito deles. Tenho tentado cumprir o que o senhor me pediu, cuidando deles.

Por que o senhor se foi sem cumprir a promessa de sairmos pra pescar juntos? Eu também furei com o senhor. Nunca lhe dei o pijama que o senhor me pediu.

Dei tanto trabalho para o senhor. Hoje vejo o quanto o senhor tinha razão.

Obrigado por me fazer quem eu sou hoje. Obrigado por ter me ensinado a trabalhar desde cedo, me presenteando com aquela caixa de engraxate.

Obrigado por ter me introduzido no ministério em minha mocidade. Não fosse isso, talvez hoje não estivesse cuidando da igreja que o senhor iniciou.

Saudades demais, porém, não eternas. O senhor foi, é e sempre será meu herói, aquele em quem me espelharei até o dia em que deixar este mundo para reencontrá-lo na Eternidade.

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