Por Hermes C. Fernandes
Onde Marina Silva resolveu se meter? Evangélicos a acusam de ser condescendente com a agenda gay e o aborto. A comunidade LGBT olha com desconfiança por suas posições consideradas ambíguas acerca de temas que lhes são caros, tais como o casamento gay. Ruralistas temem por seu histórico em defesa do meio-ambiente. Ambientalistas se retraem por sua aproximação dos setores agropecuários. Trabalhadores sentem-se desconfortáveis por vê-la flertando com seus patrões. Empresários temem por sua ideologia esquerdista. Progressistas se sentem constrangidos ao vê-la elogiando o legado deixado por Fernando Henrique. Conservadores sentem calafrios ao assistir seu testemunho acerca dos esforços de Lula no combate à pobreza. Apesar de tudo isso, Marina segue em linha ascendente rumo à rampa do Planalto.
Como explicar tal fenômeno? Certos apoios que Marina tem recebido lhe rendem mais dor de cabeça do que dividendos para sua campanha. Não duvido que alguns que resolveram manifestar-se por ela, ainda que no segundo turno, tenham a pretensão de atrapalhá-la junto a outros setores considerados rivais.
Eu realmente não queria estar na pele de Marina. Mas não vejo em condição de julgá-la, pois não estou em seu coração. Mas, considerando o que tenho observado dela nos últimos anos, arrisco afirmar que seu único compromisso é com a sua consciência. Se não o é, deveria ser. Rótulos não lhe cabem. Preconceito é preconceito, mesmo quando vindo daqueles que mais foram vítimas dele. Gays deveriam ovacioná-la ao saber do quanto ela perde no meio daqueles que professam sua fé ao colocar-se favorável às suas demandas. Evangélicos deveriam louvá-la por reconhecer que mesmo sofrendo ataques por parte de 'irmãos', em momento algum renegou sua fé.
Confesso que ainda estou aberto. Não decidi em quem votar, e mesmo que houvesse decidido, não o anunciaria aqui. Mas devo salientar que minha decisão não será baseada em preceitos religiosos ou ideológicos. Estou propenso a votar em quem inspire esperança no tão sofrido povo brasileiro. Pouco me importa por quais ideologias se pretenda pautar seu discurso e práxis governamental. Estou bem mais preocupado com ideais que sinalizem e evoquem o tão anunciado reino de Deus, em que justiça e paz sejam finalmente conjugados, e a corrupção seja banida em vez de varrida para debaixo do tapete de nossas conveniências.
Abomino ardis usados em época de campanha no afã de destruir oponentes pela via da difamação e calúnia. Quem os usa deveria ser afastado da vida pública para sempre.
Política deveria ser feita com integridade, transparência e idealismo. Quem joga sujo para levar o título, certamente jogará sujo enquanto estiver no poder. Como dizia Gandhi, "o que destrói a humanidade é a política sem princípios, o prazer sem compromisso, a riqueza sem trabalho, a sabedoria sem caráter, os negócios sem moral, a ciência sem humanidade e a oração sem amor."
Sigo em minha torcida para que o povo brasileiro, o mesmo que saiu às ruas em Junho do ano passado, possa sair às urnas de maneira consciente, deixando desempregada esta cambada de políticos profissionais cuja intenção jamais foi outra senão a de se locupletar da máquina pública.