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Documentário sobre "Intolerância Religiosa" na Globo News neste sábado às 21h. com a participação de Hermes C. Fernandes

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No próximo sábado, dia 19 de setembro às 21:05h, vai ao ar o documentário "Intolerância Religiosa" gravado na Reina há três meses. Assistam e divulguem para os seus amigos. 


 Por Hermes C. Fernandes 

Na manhã do dia doze de junho de dois mil e quinze, numa ensolarada sexta-feira, recebemos em nossa igreja uma equipe jornalística da Rede Globo de Televisão, empenhada na produção de um documentário sobre intolerância religiosa. Ao nos contatar, Claudio Renato Passavante, diretor de jornalismo da Globo News, contou-nos que o que teria chamado a atenção para aquela pequena igreja do subúrbio carioca era sua proposta de coexistência harmoniosa com pessoas de qualquer religião ou segmento social, que a seu ver, destoava de algumas igrejas midiáticas. 

Justamente num momento em que o país parecia viver o limiar de uma guerra religiosa, protagonizada por grupos religiosos extremistas, considerei que esta poderia ser uma oportunidade de ouro para mostrar o outro lado. Nem todos pautam seu discurso no ódio, no preconceito, num moralismo radical e desumano. 

Há que se celebrar o fato de vivermos numa das maiores democracias do mundo. Pessoas de todas as etnias, credos e culturas se mesclam provendo um caldo sem precedentes na história da civilização, com todos os nutrientes que possibilitem a emergência de uma sociedade pacífica pautada na equidade, na diversidade e no respeito mútuo. Todavia, tudo isso repousa sobre uma sensível calibragem. A qualquer momento o equilíbrio é rompido, e como uma bicicleta em movimento, pode pender para um lado ou para o outro. Temos evidências históricas indiscutíveis de que todo extremismo é perigoso. Portanto, a manutenção deste equilíbrio deve ser a ordem do dia. Um descuido, e lá se vão anos e anos de convivência amistosa. 

Sempre ouvi que em se tratando de TV, uma imagem fala mais do que mil palavras. Razão pela qual me senti impulsionado a fazer algo que talvez pudesse despertar a consciência de muitos quanto à necessidade de se resgatar a mensagem central do evangelho: o amor. 

O primeiro desafio seria lotar a igreja num dia e horário tão impróprios. Para a surpresa de muitos, nosso povo atendeu ao convite em cima da hora, lotando as dependências da Reina [1] do Engenho Novo, bairro do subúrbio carioca. Convidei a algumas pessoas para representar segmentos sociais que têm sido vítimas de intolerância, não apenas religiosa, mas também social, étnica, cultural, etc. Após algumas canções de louvor e a ministração de uma breve palavra, pedi que essas pessoas subissem à plataforma. Entre elas, um rapaz travestido de mulher representando a comunidade LGTB, uma mulher vestida a caráter representando os cultos afros, uma portadora de necessidades especiais, um negro, uma imigrante boliviana vítima de trabalho escravo no país, um sociólogo que por muitos anos havia professado o ateísmo e uma bióloga representando a ciência. Pus-me de joelhos e com uma bacia d’água, comecei a lavar e beijar seus pés, rogando que nos perdoassem por toda a discriminação que lhes havíamos impingido. O público presente não conteve as lágrimas. Era como se o abismo profundo que nos separava estivesse sendo finalmente transposto. Para os que creem, a presença de Deus era quase tangível. 

A cerimônia de lava-pés foi sucedida por uma entrevista de quase uma hora acerca de temas envolvendo a relação da igreja evangélica com os mais diferentes segmentos sociais. Mesmo as mais delicadas questões expostas pelo jornalista foram prontamente respondidas sem titubeios ante a câmera e o olhar atento da multidão. 


Ao deixar a igreja naquela manhã, vi-me arrebatado por uma sensação de missão cumprida. O recado estava dado. Sentia-me como aquele beija-flor que tentava apagar o incêndio da floresta com a água que trazia no bico. Ainda que não lograsse êxito, ao menos, estaria fazendo a minha parte, mesmo sob o rugido de leões que protestavam. 

Obviamente, eu teria que lidar com as críticas, principalmente com o “fogo amigo”. Confesso que me julgava preparado para isso. Mas jamais esperei reações tão ácidas, principalmente depois de postar as fotos do lava-pés numa rede social. Fui julgado, execrado, chamado de herege, liberal, dentre outros adjetivos. Interessante que ninguém pareceu ofendido ao ver-me ajoelhado aos pés de uma portadora de necessidades especiais ou de uma imigrante. Mas, ver-me de joelhos aos pés de uma “mãe-de-santo” e de uma “transexual” era inadmissível. 



Se alguém é capaz de escandalizar-se com tão pouco, imagine se visse Jesus elogiando a fé de um centurião devoto dos ídolos romanos, e ainda por cima, confessando jamais ter encontrado tamanha fé nem mesmo entre os fervorosos judeus. E se o flagrasse num papo descontraído com uma samaritana em plena luz do dia? E se presenciasse Sua brilhante defesa daquela mulher pega em adultério, impedindo que fosse sumariamente executada no pátio do templo? 

É tempo de construir pontes e não de escavar abismos. Não quero ver meu país dividido numa guerra estúpida, que de santa não tem nada. Afinal, Deus nos confiou a palavra da reconciliação, não da condenação.[2] O mesmo Espírito que agiu através de homens como Martin Luther King nos Estados Unidos e Nelson Mandela na África do Sul, impedindo que seus países permanecessem divididos pela segregação, está persuadindo homens e mulheres a emprestar seus lábios a destilar graça e amor em vez de condenação e rancor. 

A prática do lava-pés era comum na época de Jesus. Lavar os pés de um visitante fazia parte da etiqueta social e não possuía qualquer conotação religiosa. Se em Seu primeiro milagre, Ele toma os utensílios usados em ritual de purificação dos judeus e lhes dá uma função profana (servir vinho!)[3], desta feita, com Sua mania de subverter as coisas, Ele adota um costume pertencente a etiqueta social e lhe atribui um sentido sagrado.[4] Assim, Ele nivela todas as coisas, resgatando a sua sacralidade original. 

O texto bíblico diz que antes da páscoa, “sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”[5] Portanto, o que o motivou a se desnudar ante o olhar escandalizado dos discípulos e a lavar os seus pés como um serviçal qualquer não foi outra coisa além do mais puro amor. Um amor totalmente incondicional, isto é, que independia do que fizessem ou deixassem de fazer. Lembremo-nos de que entre os discípulos estava Judas, que, na sua vez, teve a ousadia de levantar o calcanhar como se dissesse: Se é para lavar, trate de lavar direitinho. Mesmo assim, Jesus não deixou de lavar os seus pés. Ele estava entre os que Jesus amou e amou até o fim. Lamentavelmente, há muitos que escolheram julgar, discriminar, odiar, mas ainda há tantos outros que, constrangidos pelo exemplo de Cristo, escolheram amar e amar até o fim. 

Para assistir ao trailer do programa, clique aqui.

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[1] REINA, sigla para Rede Internacional de Amigos, nome da denominação que presido. 
[2] 2 Coríntios 5:19 
[3] João 2:6 – A água transformada em vinho foi colocada em seis talhas de pedra que os judeus usavam em rituais religiosos de purificação. 
[4] Algumas igrejas adotam o lava-pés como uma ordenança semelhante à Ceia do Senhor. 
[5] João 13:1

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