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Aborto, drogas, prostituição, homossexualidade: Não se trata da questão relegando-a à marginalidade


Por Hermes C. Fernandes


A gente paga um alto preço por dizer o que pensa. E por mais que tentemos escapar das armadilhas da ambiguidade, sempre há quem entenda de maneira equivocada o que intentamos dizer. Não faz muito tempo, tive que lidar com severas críticas por haver me posicionado a favor dos direitos das prostitutas. Para alguns, isso indicaria que sou favorável à prostituição. Os tais parecem os ninivitas dos tempos de Jonas, que não sabiam distinguir entre a mão esquerda e a direita. Você diz "alho", eles entendem "bugalho". Colocar-se, por exemplo, a favor da descriminalização das drogas soa-lhes como ser favorável ao uso de entorpecentes. Acenar com a bandeira da paz para os homossexuais, deixando de entrincheirar-se contra eles seria o mesmo que endossar qualquer tipo de promiscuidade que porventura pratiquem, como se héteros também não fossem promíscuos.

Alguns colegas já até me chamaram a atenção, alegando não valer a pena expor-me desta maneira, comprando brigas desnecessárias. Mas o fato é que não sou afeito à neutralidade. Prefiro estar em paz com a minha consciência a ser politicamente correto para ficar bem na fita. 

A maioria prefere manter certas pautas às margens dos temas importantes para a sociedade. Seria como varrer para debaixo do tapete, como se isso fosse esconder a sujeira por muito tempo. 

Como sou discípulo de Jesus, não fujo à luta. O que tem que ser tratado, tem que ser trazido à baila. Feridas não se cicatrizarão apenas com band-aid. Uma assepsia eficaz requer que o carnegão seja exprimido até a última gota de pus. Vai doer, mas vai curar. 

Aprecio a maneira como Jesus lidava com aquilo que os outros preferiam manter às margens. Para que o mendigo cego tivesse sua visão restaurada, os discípulos tiveram que convidá-lo a deixar as margens do caminho e sair ao encontro de Jesus. Doutra feita, em plena sinagoga, onde os deficientes não eram bem-vindos, Jesus convidou a um homem cuja mão era mirrada para que deixasse a penumbra e viesse para o meio, o centro das atenções. Somente ali, Jesus restituiu-lhe os movimentos da mão. 

Tratar de certos temas mantendo-os na marginalidade e clandestinidade é contraproducente, para não dizer, hipócrita. A descriminalização das drogas, o aborto, os direitos dos homossexuais e prostitutas não podem ser mantidos na penumbra, varridos para debaixo do tapete dos falsos escrúpulos e da religiosidade de fachada. Enquanto mantemos nosso discurso anacrônico, as clínicas clandestinas de aborto se multiplicam, o narcotráfico fica cada vez mais poderoso, a prostituição segue galopante e os homossexuais se distanciam cada vez mais da mensagem do evangelho por nos considerarem seus arqui-inimigos. 

Não se trata de ser conivente com qualquer pecado. Se fosse, então, teríamos que admitir a conivência de Jesus ao impedir que a mulher flagrada em adultério fosse sumariamente executada em pleno pátio do templo. Para seus detratores, seu adultério era mais do que um pecado, era um crime passível de punição. Jesus, todavia, tratou-o como pecado e nada mais. 

Um cristão comprometido com as demandas do evangelho jamais seria favorável à prostituição, por exemplo, mas não podemos fazer vista grossa ao sofrimento desumano do qual prostitutas são vítimas nas ruas de nossas cidades. Se podemos atenuá-lo, por que não fazê-lo? Afinal, aquele que sabe fazer o bem e não o faz comete pecado. Jamais deveríamos nos posicionar a favor da droga. Mas também não deveríamos defender a sua criminalização, responsável pela superlotação de nossas cadeias. Que sentido faria enviar um usuário de droga para a prisão, sabendo que lá ele poderá tornar-se numa ameaça muito maior à sociedade? Não é em vão que a cadeia tem sido considerada a faculdade do crime. Entra-se "ladrão de galinha" e se sai formado em assalto a banco. Entra-se usuário e se sai PhD em tráfico de entorpecentes.

Semelhantemente, o aborto pode ser considerado um pecado terrível, e para alguns, injustificável em quaisquer circunstâncias. Mas deixar que essas meninas morram em clínicas clandestinas é um pecado de omissão igualmente injustificável. Se não quisermos que abortem, esforcemo-nos para acolhê-las e, com amor, dissuadi-las deste ato que muitas vezes é fruto do desespero. 

Não será pela via da imposição da lei que as pessoas abandonarão seus vícios e estilo de vida promíscuo ou danoso à sociedade, mas pela via da conscientização e do amor. Como dizem as Escrituras, o amor cobre multidão de pecados.[1]



[1] 1 Pedro 4:8

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