Por Hermes C. Fernandes
Muita
gente incomodada com o beijo que a atriz Fernanda Montenegro, de 83 anos, deu
na boca da atriz Camila Amado, de 77, em protesto contra a permanência do
deputado e pastor Marco Feliciano à frente da CDH. O beijo aconteceu durante a
7ª edição do Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio), na noite
do dia 25 de março. Alguns chegaram a protestar nas redes sociais. De repente,
a rainha do teatro brasileiro foi considerada inimiga mortal da moral cristã e
dos bons costumes. Uma carreira de mais de 60 anos jogada no lixo por causa de
um beijo! Quem mandou mexer com o povo evangélico! Prepare-se para ser execrada
até que este episódio caia no esquecimento. Crucificamos a Xuxa e agora vamos
apedrejar a protagonista do “Central do Brasil”.
Sinceramente,
sinto-me muito mais incomodado, e até enojado, com o "beijo de Judas"
de alguns que se dizem representantes do povo evangélico. Traem Seu Mestre em nome
de uma agenda política e ideológica. Escandalizo-me cada vez que vejo um
político cristão de mãos dadas com o que há de pior naquele meio, traindo seus
próprios eleitores, e, pior, traindo suas convicções religiosas que tanto
afirmam defender. Poupam a moral, mas traem a ética. O que expressa nossa
histórica mania de coar mosquitos e fazer gargarejo com dromedários.
Incomoda-me
muito mais os pecados dos de dentro, dos que, em tese, conhecem a verdade, do
que os daqueles que desconhecem as demandas do evangelho.
Com
isso, não estou abonando o gesto de Fernanda Montenegro, mas apenas conclamando
a meus irmãos à consciência, a fim de que deixemos de apontar o cisco no olho
dos outros, enquanto trazemos uma trave atravessada no nosso.
Vergonha para nós! Que tipo de
políticos temos produzido! São a nossa cara! Frutos de púlpitos despreparados,
de sermões vazios, de discursos superficiais.
A bem da verdade, o que nos incomoda não é o beijo em si. Hebe Camargo vivia distribuindo selinhos em homens e mulheres, ninguém jamais se importou. O problema é o que se pretendeu dizer através do tal beijo. A igreja que antes produziu gente da estirpe de Martin Luther King, Jr., agora produz pregadores/políticos que afirmam haver uma maldição sobre determinada etnia, e chamam de privilégios desnecessários os direitos pleiteados por homossexuais. Aquele "beijo" expôs nossas entranhas...
A bem da verdade, o que nos incomoda não é o beijo em si. Hebe Camargo vivia distribuindo selinhos em homens e mulheres, ninguém jamais se importou. O problema é o que se pretendeu dizer através do tal beijo. A igreja que antes produziu gente da estirpe de Martin Luther King, Jr., agora produz pregadores/políticos que afirmam haver uma maldição sobre determinada etnia, e chamam de privilégios desnecessários os direitos pleiteados por homossexuais. Aquele "beijo" expôs nossas entranhas...
Aplaudo a coragem de Fernanda ao
expor sua reputação em nome daquilo em que acredita (mesmo que não coincida com
aquilo em que temos acreditado). Uma carreira brilhante e uma história que
inclui um casamento que durou mais de cinquenta anos (o que é raro entre os
artistas) não podem ser desprezados por causa de um beijo que não passou de uma
encenação em protesto contra o que, a seu ver, ameaça o interesse de minorias, dentre
as quais os negros e homoafetivos.