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O que mudou em mim nesses 27 anos de ministério pastoral

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Por Hermes C. Fernandes

Vinte e sete anos se passaram desde que assumi o pastorado de minha primeira igreja. Se ainda sou o mesmo? Definitivamente, não.  Mudei. Isso é inegável. Uns quilos a mais, cabelos a menos... Não é nada disso. Quer saber em quê eu realmente mudei? Lá vai...

Primeiro, adquiri conhecimento. Ao longo deste um quarto de século, li muitos livros. Pesquisei. Estudei. Conheço a Bíblia um pouco mais hoje. Meu vocabulário aumentou. Frequentei uma faculdade de Psicologia. Recebi dois doutorados honoris causa em Escatologia e Ciência da religião. Escrevi 23 livros (entre livros e revistas de estudos).

Segundo, adquiri experiência. Foram sete igrejas pastoreadas no Brasil e uma nos Estados Unidos. Percorri vários países. Preguei em muitos congressos, cruzadas, convenções. Fui eleito bispo primaz da Igreja Reina aos 31 anos (Aliás, tudo na minha vida foi sempre precoce). Apresentei programas de TV e rádio. Participei de muitos debates. Descobri a internet...

Terceiro, conheci muita gente. Muitos conhecidos, alguns discípulos, e poucos, pouquíssimos amigos. Porém, cada um acrescentou algo em mim. Mesmo os meus desafetos (que nem são tantos assim...).

Quarto, perdi a ingenuidade. Não sou mais aquele menino que acreditava em qualquer coisa. Muitas vezes deixei-me levar pela aparência. Apostei em quem não devia apostar. Precipitei-me, não raras vezes. Mas um dia a gente cresce, e começa a encarar a vida como ela realmente é. Hoje, sou mais precavido. Meu lema é amar a todos, confiar em alguns e não fazer injustiça a ninguém.

Quinto, abandonei a presunção de que um dia eu alcançaria a perfeição. Foram muitas as camadas que tive que perfurar em minha armadura, até reencontrar a minha humanidade. Não sou candidato a anjo, muito menos a Deus.  Sou apenas um ser humano, cheio de contradições e ambiguidades, buscando cumprir o propósito da minha existência.

Julgava-me revestido da armadura de Deus, mas na verdade vestia a armadura de Saul.  Achei que seria o próximo Billy Graham. Considerava a fama como a coroação de um ministério, e queria alcançá-la a qualquer preço. Sonhava ver meu nome estampado nas manchetes dos jornais, ser cortejado por políticos, ter artistas consagrados no rol de membros da minha igreja. Hoje rio de minhas pretensões infantis. Jamais conheci alguém que se saciasse numa miragem.

Por favor, poupe-me de comparações. Não quero parecer com ninguém. Mas confio que o Espírito Santo há de concluir em mim a Sua obra, tornando-me mais parecido com Jesus.

Aprendi que minha carne não merece qualquer confiança. Por isso, procuro mantê-la com rédeas curtas. Sei da minha propensão ao orgulho. Daí a necessidade de ser confrontado com minhas inegáveis fraquezas. Ninguém precisa dar-se o trabalho de apontá-la. Eu as conheço melhor do que ninguém. Se quiser falar de mim, não se esqueça de me chamar pra conversa. Sei coisas a meu respeito que ninguém sabe. Coisas que me servem de lembrete, pra que eu jamais me envaideça, mantendo a crista sempre baixa, e dependendo da graça de Deus para continuar.

Por conta deste meu reencontro com a minha humanidade, aprendi a ser mais humilde e compassivo. Sei das minhas limitações, e as reconheço em outros seres humanos que me cercam. Não devo exigir deles o que não sou capaz de fazer. Antes, devo amá-los incondicional e despretensiosamente. Ademais, quanto menos expectativa colocamos nas pessoas, mais chance damos para que nos surpreendam.

Devo honrar os que me precederam, realçando suas qualidades, e não seus defeitos (que se parecem muito com os meus). Devo trabalhar pelos que me sucederão, sem colocar sobre os seus ombros expectativas sobre-humanas. Porém, encorajando-os a irem além.

Quanto aos meus contemporâneos, espero servi-los com os dons que Deus graciosamente concedeu-me, provendo-lhes um ambiente de aceitação e graça, sem ufanismo, rivalidade e ilusões.

Apesar de ter mudado tanto, há algo que se mantém inalterado: minha paixão. Paixão por Deus, por Seu Reino e sua justiça, pela humanidade e pela minha família. É esta paixão que me faz prosseguir sem perder as esperanças. Ela me impede de aderir ao cinismo, de encarar o púlpito como meu ganha-pão, de vender meus valores e princípios por um prato de lentilha (tenha o tempero que tiver!). Espero que o Senhor preserve em mim este sentimento até o final de minha carreira. Que a chama que um dia ardeu no coração de meu pai, possa ser transmitida para os meus filhos, netos e bisnetos. Que o sonho que nos move contagie a todos quantos nos acompanharem nesta jornada.

Por fim, faço minhas as palavras de Paulo, “que ninguém pense de mim mais do que em mim vê e de mim ouve” (2 Co.12:6b).

Christus victor, semper invictus!

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