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Desmascarados os verdadeiros inimigos da cruz

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Por Hermes C. Fernandes

“Pois muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora novamente digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp.3:18).

Quem seriam os tais “inimigos da cruz”?  Estaria Paulo falando dos romanos, com seu estilo de vida hedonista, idólatra? Ou estaria se referindo aos gregos, amantes do saber? E se tivéssemos que aplicar esta palavra aos nossos dias, a quem caberia a alcunha? Quem são os atuais “inimigos da cruz”?  Seriam os muçulmanos? Os homossexuais? Os socialistas? Para sabermos quem são eles em nossos dias, temos que descobrir quem eram nos dias de Paulo.

Alguns versos antes, o apóstolo adverte a seus leitores sobre os que ele chama de “cães”, “maus obreiros”, “falsa circuncisão”. Ele não está apontando inimigos externos, mas internos. Os mesmos que em outra epístola ele chama de “falsos irmãos, que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, para reduzir-nos à escravidão” (Gl.2:4). É acerca dos tais que devemos redobrar o cuidado, para que não nos tornemos presas suas,“por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens” (Cl.2:8).

Os inimigos da cruz não estão lá fora. Eles estão entre nós! Fazem-se de cristãos, fiéis seguidores de Cristo, expoentes da sã doutrina, conservadores das tradições, porém, sua intenção é outra.

Não é a Cristo que servem, mas ao seu próprio ventre (Fp.3:19).

Pregam uma santidade de fachada, ostentando uma aparência de sabedoria”, “humildade fingida”, “severidade para com o corpo”, coisas completamente desprovidas de valor real.

Por que Paulo os chama de inimigos da cruz?

Por se insurgirem contra os efeitos da cruz. Estes intentam reconstruir os muros separatistas derrubados na cruz (Ef.2:14-17). Em vez de promover harmonia entre os diferentes grupos humanos, preferem ver o circo pegar fogo. Insistem com uma mensagem discriminatória, onde as pessoas são julgadas por critérios étnicos, culturais, sexistas ou religiosos. A mensagem do amor, marca registrada do ministério de Jesus, é substituída pela mensagem do ódio, da vingança. Em vez de boas novas, preferem espalhar calúnias, difamação, mentiras contra quem ouse pensar diferente deles.

Qualquer ideologia ou doutrina que não seja capaz de fazer de nós pessoas melhores, mais compassivas e generosas, deveria ser totalmente rechaçada, pois certamente não procede do Crucificado.

O mundo já está saturado de tanto ódio e preconceito.

Os inimigos da cruz são retrógrados, querem reverter o processo deflagrado com o advento da mensagem cristã. Preferem voltar à idade das trevas. Acham que as mulheres são seres inferiores, que não podem exercer qualquer função que não seja subalterna. Alguns chegam a defender a instituição da escravidão, como sendo justa e necessária. Tudo isso travestido de linguagem bíblica e teológica. Dizem-se favoráveis à vida, mas defendem a pena de morte com unhas e dentes, bem como a utilização de tortura por parte do Estado, e a proliferação de armas entre os cidadãos comuns.

Se Paulo os chama de “cães”, vou um pouco adiante.. São cães raivosos. Cães de guarda! Defendem seu perímetro com ferocidade, não se dispondo a ceder um centímetro sequer. Para eles, o importante não é a defesa da verdade (aquele que é seguida em amor, de acordo com Ef.4:15), mas a defesa de seu ponto de vista ou de seus interesses.

Eles bem que poderiam ser identificados facilmente, não fosse sua habilidade em camuflar-se. Paulo diz que os tais “obreiros fraudulentos” se transformam em ministros da justiça, tal como Satanás que se transfigura em anjo de luz (2 Co.11:14).

Além de reconstruírem “as paredes de separação” entre os homens, seu maior atrevimento é tentar recosturar o véu do templo. Pra eles, ninguém pode chegar-se a Deus a não ser rezem em sua cartilha ideológica/doutrinária. Os que ousam discordar, logo são tachados de hereges, anticristos, falsos profetas, etc. São os herdeiros diretos do legado deixado pelos fariseus contemporâneos de Jesus, que não entravam e ainda impediam que outros entrassem (Mt.23:13).

Se estivessem na cena em que Jesus impediu o apedrejamento de uma mulher adúltera, certamente seriam os primeiros a apedrejá-la. Se testemunhassem o diálogo de Jesus com o ladrão da cruz, achariam que Ele estava delirando ao franquear a entrada do reino àquele meliante.

Com o mesmo rigor com que julgam, serão julgados. Sua hipocrisia será exposta. “Porque o juízo será sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia” (Tg.2:13).

Que em lágrimas como o apóstolo, exortemos a estes a não pisarem o Filho de Deus, não profanarem o sangue da aliança, nem ultrajarem o Espírito da graça (Hb.10:29).

De carona com o sucesso alheio

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Por Hermes C. Fernandes 

O curso intensivo para desintoxicá-los do preconceito havia chegado ao fim. Foram três anos de lições preciosas. Chegara a hora de pôr em prática tudo que haviam aprendido. 

Mas não sem antes serem devidamente diplomados. Para isso, teriam que ficar em Jerusalém até que recebessem o certificado lá do alto, a saber, o selo do Espírito Santo, que os capacitaria a fazer as mesmas obras de seu mestre, e ainda maiores, conforme Ele mesmo prometera.[1] 

Foram dez dias de espera, reunidos no mesmo lugar, o cenáculo no qual Jesus celebrara a última ceia antes de Sua morte. Aquele mesmo cenáculo para onde um jovem que carregava um cântaro levou os dois discípulos designados por Jesus para preparar-lhe a refeição da páscoa. Os discípulos estranharam que um lugar tão grande fosse escolhido para abrigar apenas treze homens (contando com Jesus). Eles não podiam supor que em sete semanas ele abrigaria um número dez vezes maior e seria cenário do cumprimento da promessa. [2] 

Este episódio me leva a questionar se a igreja atual estaria preparada para acolher tanta gente. Até que ponto não nos tornamos num círculo fechado, numa espécie de clube com número de sócios limitado? 

Cumprindo-se o dia de pentecostes, estavam todos confortavelmente sentados quando, de repente, ouviu-se o som de um vento impetuoso, aquele de que Jesus diz que sopra aonde quer e ninguém sabe de onde vem, nem para onde vai. Todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar das grandezas de Deus em idiomas que jamais haviam estudado. Pessoas de várias partes do mundo que se reuniam em Jerusalém para festejar pentecostes os ouviram falar em suas próprias línguas, numa espécie de Babel às avessas. 

Os discípulos estavam, finalmente, formados. Prontos para o desafio que deveria começar ali mesmo em Jerusalém, alcançar em seguida toda a região da Judeia, e antes de alcançar os confins da terra, teriam que fazer um último estágio em Samaria. 

Todavia, a experiência em Jerusalém foi tão boa, que eles acharam que era melhor ficar por ali mesmo. Afinal, em time que está ganhando não se mexe, não é mesmo? Por que, em vez de sair pelo mundo, não ficavam por ali mesmo à espera das quatro festas anuais que atraiam pessoas do mundo inteiro? Em vez de Maomé ir à montanha, nada melhor que esperar que a montanha venha a Maomé. Se a experiência pentecostal se repetisse, aquelas mesmas pessoas se encarregariam de espalhar a boa nova ao retornarem a seu lugar de origem. Parecia uma ótima ideia. Jerusalém se tornara em sua zona de conforto. 

Porém, Deus não estava disposto a alterar Sua agenda e cronograma. Para tirá-los da toca, permitiu que se levantasse uma “grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e da Samaria (...) os que foram dispersos iam por toda parte, anunciando a palavra.”[3] 

Dentre os dispersos estava Filipe, um dos primeiros recrutados por Jesus, que descendo “à cidade de Samaria, pregava-lhes a Cristo. As multidões escutavam, unânimes, as coisas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados; pelo que houve grande alegria naquela cidade.”[4] 

O sucesso de Filipe em Samaria foi tão estrondoso que, dois dos principais apóstolos, Pedro e João deixaram sua zona de conforto em Jerusalém para aproveitar a carona. 

Mas a que se deveu tamanho sucesso? Quem poderia esperar que uma cidade inteira se convertesse a Cristo? O único precedente de algo assim se encontra nas páginas do Antigo Testamento, quando Nínive se converteu através da pregação de Jonas. Nem mesmo Jesus durante Seu ministério terreno assistiu a algo semelhante. 

Sem querer tirar o mérito de Filipe, o fato é que ele encontrou o terreno preparado. Aquele solo já estava sendo devidamente arado. Não duvido que, dentre as multidões que atentamente ouviam o que Filipe dizia, estava aquele leproso curado que voltara para agradecer a Jesus, aquela mulher com quem Jesus conversara à beira do poço em Sicar, e até aqueles que não O quiseram acolher quando perceberam que seu aspecto era de quem ia para Jerusalém. E se Jesus houvesse dado ouvidos à sugestão de Tiago e João, orando ao Pai para que enviasse fogo do céu para consumir os samaritanos que O rejeitaram naquele dia? Agora, o mesmo João era testemunha do que Deus estava fazendo pelas mãos de Filipe. 

Pode-se dizer que, num certo sentido, Filipe também tomou carona no que o próprio Jesus iniciou. Paulo diz que um é o que planta, outro é o que rega, porém, compete a Deus dar o crescimento.[5] Ampliando um pouco a analogia dos apóstolos, eu diria que mesmo antes de entrar em cena o que semeia e o que rega, há o que ara a terra. Jesus se refere aos tais quando diz que o que põe a mão no arado não deve olhar para trás, sob pena de tornar-se indigno do reino de Deus. [6] 

Arar é afofar a terra, permitir que o ar circule para que a semente, uma vez lançada, possa germinar sem dificuldade e lançar suas raízes. 

Jesus conta uma parábola de um agricultor que saiu a semear. Parte das sementes caiu à beira do caminho. Obviamente, aquelas sementes se perderam, pois o solo no qual caíram não havia sido preparado para recebê-las. Os pássaros vieram e as devoraram. Outra parte caiu entre espinhos, e acabou sufocada por eles. Outra caiu em terreno pedregoso, chegou a germinar, mas não vingou porque não conseguiu lançar raízes. A última parte foi lançada em boa terra, não só germinou, mas cresceu e produziu muitos frutos. 

Não seria o caso de trabalharmos para arar o solo, remover os espinhos e pedras para que nossas sementes não se perdessem? 

Filipe encontrou a cidade pronta para receber a boa nova. Nem precisou tanto esforço para anunciar a Cristo. Não houve resistência, nem animosidade. Todos foram receptivos porque tempos antes, Jesus passou por lá revirando e irrigando o solo, removendo os espinhos e pedregulhos. Deu no que deu. Vidas se renderam ao Seu amor. Sem imposições. Sem ameaças de inferno. Sem lançar mão de expedientes questionáveis. Sem nenhuma estratégia de marketing religioso. Apenas o anúncio do bom e nunca velho Evangelho.



[1]João 7:14
[2]Lucas 22:9-12
[3]At.8:1-8
[4]Idem
[5] 1 Coríntios 3:7
[6]Lucas 9:62

O que não se pode tolerar

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Por Hermes C. Fernandes

Conversões. Não há nada que um cristão que milite na evangelização almeje mais. O que ocorreu em Samaria é o sonho de consumo de todo ministro cujo coração bata no compasso do coração de Deus. Porém, conversão não é obra humana, mas divina. Estratégias humanas poderão produzir adesões, mas não conversões. Nosso papel é dar testemunho do amor de Deus, sendo amostras grátis do que o evangelho é capaz de produzir naqueles que creem. Mas, mesmo quando nos atemos em anunciar a Cristo, adesões superficiais são inevitáveis.

Temo que já tenha chegado o tempo em que ser cristão se tornaria moda. Cantores, atores e jogadores de futebol proeminentes vêm a público assumir a sua fé. É óbvio que isso acaba por atrair a muitos dentre os seus fãs. Sem contar os que aderem à fé por motivos pouco louváveis, como no caso de candidatos que forjam sua conversão no afã de conquistar o eleitorado evangélico.

O fenômeno ocorrido em Samaria não foi exceção. Em meio a conversões em massa, surge um homem chamado Simão, que por muito tempo havia exercido fascínio nos moradores da cidade devido à arte do ilusionismo, o que lhe rendera a alcunha de “O Grande Poder de Deus”. Assim que percebeu que sua clientela estava ameaçada, Simão resolveu juntar-se a Filipe. Depois de batizado, Simão colou em Filipe como se quisesse sugar dele o “pulo do gato” responsável por tantos milagres. Sua esperança era que pudesse recobrar o terreno perdido.

Quando Pedro e João chegaram a Samaria, Simão ficou completamente embasbacado de ver como as pessoas recebiam o Espírito Santo ao receberem a imposição dos apóstolos. Desavergonhadamente, aproximou-se oferecendo dinheiro para que lhe outorgassem o mesmo poder. Sem titubear, Pedro respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.”[1]

Por que Pedro foi tão duro com o mago Simão? Isso não seria um sinal de intolerância? A resposta é sim. Se Pedro tolerasse a conduta de seu xará, aquela cobra se criaria e voltaria a enganar a muitos com sua arte ilusória.

Não se pode ser tolerante com quem almeje se locupletar da credulidade alheia. O mal precisa ser cortado pela raiz. Pedro foi tomado do mesmo sentimento que levou Jesus a derrubar as mesas dos vendilhões do templo. Por trás desta intolerância está o amor.

Uma coisa é ser tolerante com quem, em sua ignorância ou ingenuidade, comete equívocos, ou mesmo com quem adota uma crença diferente da nossa. Outra coisa é ser tolerante com quem sabe exatamente o que está fazendo, e que, portanto, age dolosamente.

Jesus jamais demonstrou tolerância com os religiosos hipócritas, que “atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los.”[2]Aqueles cujo lema é “faça o que digo, mas não o que eu faço”. Gente cujo discurso não confere com a prática.

Jesus nunca tolerou os que fecham aos homens o reino dos céus, de modo que nem eles entram, nem deixam outros entrar. [3] Aqueles que se acham os porteiros do céu, em cujos ombros repousa o sacrossanto dever de decidir quem está dentro, quem está fora.

Ele jamais tolerou os que devoram as casas das viúvas, “sob pretexto de prolongadas orações”. Gente que se aproveita da boa fé dos incautos para explorá-los, sugando-lhes até o último tostão. Eles os alertou: “Por isso sofrereis mais rigoroso juízo”.[4]

Ele nunca tolerou, e duvido que um dia tolere, os que percorrem o mar e a terra para converter alguém, para em seguida torná-lo “filho do inferno duas vezes mais.”[5] Apesar de não lhes faltar disposição e espírito aguerrido, o resultado é desastroso.

Ele também não tolera os que se valem de suas práticas religiosas, mas desprezam “o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé”[6]Ele os chama de “condutores cegos” que coam mosquitos, mas engolem camelos. Brigam por tão pouco, enquanto fazem vista grossa para o que realmente importa. Geralmente, se preocupam com questões morais, rituais, dogmáticas, mas desprezam questões éticas de relevância insofismável.

Ele denunciou os que se preocupam com exterioridades, mas não cultivam uma espiritualidade autêntica; que limpam o exterior do copo e do prato, mas o interior segue cheio de rapina e de intemperança. Ele os assemelha a sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro carregam cadáveres em estado de putrefação.[7]

Ele não tolera quem se dispõe a corrigir o erro alheio sem que antes admita o seu;[8]que mesmo tendo telhado de vidro, não pensa duas vezes antes de arremessar pedras sobre o telhado alheio.

Pelo que conheço de Jesus, Ele é capaz de tolerar qualquer fraqueza humana, exceto a hipocrisia.

O que poderia ter acontecido se Pedro não desse aquele “chega pra lá” em Simão? Um perigoso precedente teria sido aberto. Um câncer cuja metástase poderia comprometer todo o tecido em pouco tempo.

Na carta endereçada à igreja de Tiatira, Jesus afirma conhecer suas obras, seu amor, sua fé, seu serviço, sua perseverança, e admite que suas últimas obras eram mais numerosas que as primeiras. Apesar disso, Ele adverte: “Tenho, porém, contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetisa.”[9]

Uma coisa é ser, outra é se dizer ser. A tal Jezabel não era, de fato, uma profetisa, mas se fazia passar por uma. Como tantos que se autoproclamam apóstolos, patriarcas, bispos, pastores, sacerdotes, mas cuja intenção é de se locupletar, não se importando de induzir tantos ao erro. Deus não os terá por inocente. Paulo os chama “desordenados, faladores, vãos e enganadores”, “aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância.”[10]

Ganância. Eis o que os move. Se atraíssem poucos, não haveria muito com que nos preocupar. Porém, o fato é que tais elementos arrastam multidões, com suas promessas mirabolantes, com seus milagres no atacado, com suas dissoluções. Cumpre-se, pois, o que Pedro anteviu: “E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade; também movido pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio.”[11] Mas a batata deles está assando! “A condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita.”[12] Deus não os deixará impunes. Todo o sucesso alcançado por seus ministérios não compensará o juízo que os espera.

Todavia, compete-nos “tapar a boca” dessas sanguessugas do altar. E isso fazemos quando denunciamos seus intentos, livrando as vítimas de suas malévolas mãos. A verdade deve ser proclamada, a fim de que as trevas do engano sejam dissipadas. Como disse Victor Hugo, “quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha.”




[1]Atos 8:20,21
[2]Mateus 23:4
[3]Mateus 23:13
[4]Mateus 23:14
[5]Mateus 23:15
[6]Mateus 23:23
[7]Mateus 23:25-28
[8]Mateus 7:3-5
[9]Apocalipse 2:18-20
[10]Tito 1:10-11
[11] 2 Pedro 2:2
[12] 2 Pedro 2:3

Cuidado! Você pode estar flertando com a morte

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Por Hermes C. Fernandes

Nada como a liberdade que a graça nos confere! Mas em nome desta liberdade, muitos aproveitam para dar vazão aos seus apetites carnais. Esquecem-se ou mesmo desconhecem a admoestação que diz: “Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne” (Gálatas 5:13). Por isso, muitos preferem o controle oferecido no legalismo. Reconhecem os riscos que envolvem a liberdade da graça e preferem evitá-los. É mais fácil proibir, impondo limites e sanções. E assim, todos são mantidos sob as máscaras e algemas de uma religiosidade superficial, desprovida de consciência e senso crítico. 

Apesar de todos os riscos, prefiro a vertigem da liberdade, permitindo assim que o verdadeiro caráter das pessoas se revele, oferecendo ocasião para que Aquele que neles começou a boa obra siga adiante até a sua conclusão. Entretanto, compete-me, como guia do rebanho que me foi confiado pelo Senhor, admoestar, chamar a atenção, atiçar a consciência daqueles que não estão acostumados à tanta liberdade, evitando, assim, que se afastem do propósito de Deus para as suas vidas. 

Não brinquem com coisa séria! Este mundo não é um playground! Estamos caminhando em terreno minado. Há armadilhas em toda a parte. No dizer de Pedro, “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe. 5:8).

Antes fosse o diabo nosso maior problema! Bastaria que nos sujeitássemos a Deus, resistíssemos ao diabo, e ele, certamente, fugiria de nós. Pelo menos, é o que nos garante a Palavra (Tg. 4:7). Todavia, nosso maior problema não está fora de nós, mas em nossa própria natureza. Na faculdade em que o diabo se formou, somos PhD. Nem sequer precisamos dele para sermos maus. Já há malignidade suficiente em nossa carne, a ponto de Paulo confessar: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm. 7:18a). Portanto, em se tratando de diabisse, o diabo é totalmente dispensável. Os piores ‘demônios’ habitam nossas pulsões e são alimentados pela cobiça dos nossos olhos e pela soberba de nossos corações. Para livrar-nos deles, temos que matá-los, deixando de alimentá-los. Infelizmente, preferimos alimentá-los a pão de ló, como se fossem nossos bichinhos de estimação. Paulo diz que devemos exterminar nossas inclinações carnais (Col. 3:5). Outras traduções dizem “mortificai”, ou “fazei morrer”. Não será com medidas ascetas como autoflagelação, prolongados jejuns, que lograremos êxito em nossa luta contra tais inclinações carnais. Devemos, tão-somente, deixar de alimentá-las. E como fazemos? Quando se trata do diabo “em carne e osso”, a orientação bíblica é que o resistamos para que ele fuja de nós. Mas quando se trata do inimigo que trazemos em nós mesmos (carne), nós é que temos que fugir. Não adianta tentar resisti-lo. Por isso, Paulo é incisivo com seu jovem discípulo Timóteo: “Foge das paixões da mocidade” (2 Tm.2:22). Ninguém é mais tentado do que o jovem. Soma-se a curiosidade aguçada típica da idade aos hormônios à flor da pele. Se pudéssemos, colocaríamos nossos filhos dentro de uma redoma, a fim de protegê-los das investidas do mundo. Mas já que isso não nos é possível, devemos alertá-los para os riscos que correm ao transitar pelos terrenos minados do mundo. 

Fugir das paixões é driblar as pulsões que latejam dentro de nosso próprio corpo. Mas não para aí... Temos que evitar ambientes e relacionamentos que sejam nocivos à nossa comunhão com Deus, porquanto estimulem tais paixões em nós. Não basta fugir do mal. Devemos fugir “de toda a aparência do mal” (1 Ts.5:22). Há ambientes carregados de lascívia que instigam o pior que há em nossa natureza. Fuja deles! Desvie-se de amizades que te induzem a frequentá-los. 

Alguns alegam que sabem quando parar. Dão corda até chegarem bem próximos ao abismo e aí... freiam. Ainda que nosso freio esteja em perfeito estado, a pista é escorregadia; o carro vai derrapar e precipitar-se no abismo. É besteira confiar em sua carne. Nenhum condicionamento religioso vai te livrar de cair em tentação. Por isso, Jesus nos ensinar a orar para que não “caiamos” em tentação, mas também nos ensinar a vigiar para que não “entremos” em tentação. 

Repare nisso:
“E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.” Mateus 6:13
 “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus 26:41 
É perda de tempo orar para não cair, mas não vigiar para evitar entrar em tentação. Quando é que entramos em tentação? Quando nos expomos desnecessariamente à tentação. É a isso que a Bíblia chama de“tentar ao Senhor”. Testar seus limites implica querer tentar ao próprio Deus. Lembre-se de que Deus não se deixa tentar (Tiago 1:13). Mantenha sua carne com rédeas curtas. Não se exponha! Não cutuque a onça com vara curta! Mesmo quando expostos, Deus invariavelmente nos envia um escape. Pena que, geralmente, nós o negligenciamos e depois acusamos a Deus de permitir que fôssemos tentados além de nossas forças. Se considerarmos que a Palavra de Deus não mente, não podemos recorrer a este tipo de desculpa. 
 “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” 1 Coríntios 10:13
Por mais que a carne seja fraca, o espírito é forte. Sorte a nossa! Além do mais, o escape sempre aparece a tempo. Basta prestar a devida atenção. É como aquelas placas de “saída” nos lugares fechados. Em caso de incêndio, corra! Ademais, “o Senhor sabe livrar da tentação os piedosos” (2 Pe. 2:9). 

Portanto, jamais culpe a Deus. Nem tome o diabo como bode expiatório. A responsabilidade de nossos atos pertence única e exclusivamente a nós. Que não sejamos como os que “ouvindo a palavra, a recebem com alegria, mas, como não têm raiz, apenas creem por algum tempo, e no tempo da tentação se desviam” (Lucas 8:13).

Teimosia inexplicável é a que nos faz tomar uma estrada em cuja entrada vemos uma placa onde se lê "Rua Sem Saída". Só para ter o trabalho de manobrar e dar meia-volta. Tomou o caminho errado? Não foi por falta de aviso. Não é à toa que lemos a mesma advertência em duas passagens diferentes: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim deles conduz à morte" (Prov.14:12 e Prov.16:25). Os dois versículos estão separados por 81 versos (81= 9x9). Como se sabe, 9 é o número dos dons espirituais e é também o número das manifestações do fruto do Espírito. Não arrisque sua comunhão com o Espírito Santo numa aventura por uma estrada sem saída ou que termine num precipício. Vai que o freio falhe... Valorize o que você tem.

Teste de DNA - Quem é o pai do ROCK, afinal?

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Por Hermes C. Fernandes

Ontem se comemorou o Dia Mundial do Rock, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma homenagem ao megaespetáculo Live Aid, ocorrido nesta mesma data em 1985, com o fim de arrecadar fundos para combater a fome na África.

Muito se tem dito acerca do Rock, e alguns chegam atribuir sua paternidade ao diabo. Por causa disso, nem todos olham com bons olhos a influência que o rock tem exercido na música cristã contemporânea.

Afinal de contas, o diabo é ou não o pai do rock?

Para respondermos a esta questão, que tal apelarmos a um exame de DNA?

Vamos examinar as origens deste ritmo que tem embalado jovens por várias gerações.

Apesar de no decorrer de sua história o rock and roll ter ficado mais marcado por astros brancos, deve-se aos negros, escravos trazidos da África para as plantações de algodão dos Estados Unidos, a criação da estrutura rítmica e melódica que seria a base do rock. Os cantos entoados pelos negros durante o trabalho, no início do século XX dariam origem ao Blues (do inglês azul, usado para designar pessoa de pele escura, bem como tristeza ou melancolia). Focado basicamente no vocal, o blues era geralmente acompanhado apenas por violão.

Enquanto o blues se desenvolvia nos campos e pequenas cidades, nas grandes cidades por sua vez tocava-se o jazz, baseado na improvisação e marcado por bandas maiores e arranjos mais elaborados, com percussão e instrumentos de sopro.

Por um outro lado, nas igrejas evangélicas desenvolvia-se a música gospel negra, que embora obedecendo as escalas de blues, caracterizavam-se por ritmo frenético, canções de redenção e esperança para um povo oprimido. A música era acompanhada por piano ou órgão.

A economia de guerra e o desenvolvimento da indústria havia levado mais gente dos campos para a cidade, forçando o relacionamento entre brancos e negros e a tensão social e racial mas também favorecendo a influência mútua entre a música negra (blues e seus derivados) e a música branca (principalmente country e jazz). Da fusão do blues original com os ritmos mais dançantes dos brancos surgiu o rhythm and blues, que levou a música negra ao conhecimento da população consumista.

No início da década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos despontavam como grande potência mundial. A população de maneira geral (inclusive as minorias) pela primeira vez tinha dinheiro para gastar com supérfluos como música. Com o anúncio da explosão de bombas atômicas pela União Soviética e um possível "fim do mundo" a qualquer momento, a ordem geral era aproveitar cada momento como se fosse o último.

Em pleno crescimento econômico capitalista o consumo era considerado fator primordial para geração de empregos e divisas, bem como o melhor antídoto contra o comunismo, e a busca por novos mercados consumidores era incessante. Obviamente a parcela mais jovem da população rapidamente se mostrou mais facilmente influenciável e ao público adolescente pela primeira vez foi dado o direito de ter produtos destinados ao seu consumo exclusivo, bem como poder de escolha.

Estranhamente, porém, os jovens brancos, em grande parte, se negavam a consumir a música normalmente consumida pela maioria branca. Começaram a buscar na música dos guetos algo diferente.

A aceitação deste tipo de música pelo público de maior poder aquisitivo levou a incipiente indústria fonográfica da época a investir na evolução do estilo e procura e contratação de novos talentos, principalmente na procura de um jovem branco que pudesse domar aquele estilo aliando a ele uma imagem que pudesse ser vendida mais facilmente. Tornaram-se comuns os relançamentos de versões de músicas dos negros regravadas por artistas brancos, que terminavam por tirar os verdadeiros criadores do estilo do topo das paradas.

A mistura explosiva da empolgante música negra com o consumismo branco adolescente havia sido feita... a explosão era questão de tempo.

Mas quem teria sido o homem que mereceria ser coroado como responsável pela "criação" do rock and roll? Obviamente um estilo musical tão complexo não poderia ter sua invenção atribuída incontestavelmente a apenas um indivíduo ou grupo de indivíduos. Mas se alguém merecesse ter seu nome associado à "criação" do rock como o conhecemos este alguém não seria Elvis ou Bill Haley ou Chuck Berry ou nenhum outro cantor ou band leader. O "inventor" do termo rock and roll e grande responsável pela difusão do estilo foi o disk jokey Allan Freed, radialista de programas de rhythm and blues de Cleveland, Ohio, que primeiro captou e investiu na carência do público jovem consumista por um novo tipo de música mais energética e primeiro percebeu o potencial comercial da música negra.

Portanto, apesar de muitos terem usado o ritmo para fins pouco louváveis, o rock não é filho do diabo, mas a fusão de várias influências musicais, entre elas, o gospel.

***

Abaixo, um vídeo do Rebanhão, pioneira do rock cristão no Brasil. Quem viveu aquela época lembra o impacto feito por esses rapazes sob a liderança do poeta Janires. Embora esta canção não seja propriamente um rock, ajuda a matar saudade.


Terraformação: o agir do Espírito na formação de uma Nova Terra

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Por Hermes C. Fernandes

H.G.Wells foi um grande gênio, criador do gênero literário de ficção científica. Foi ele que em 1898 imaginou como seria alterar um planeta a fim de torná-lo habitável.  Em seu livro “A Guerra dos Mundos”,extraterrestres invadem a Terra, derrotam a civilização humana e iniciam um processo de terraformação, preparando-a para ser colonizada por sua raça. Recentemente, o filme “O Homem de Aço” utilizou a mesma argumentação. O general Zod e seus asseclas pretendiam transformar nosso planeta num novo Kripton.

Terraformação é a denominação dada ao processo de modificar a atmosfera, temperatura, e geologia de um corpo celeste sólido (como um planeta ou um satélite natural) até deixá-lo em condições adequadas para suportar um ecossistema com seres vivos da Terra. A maior parte do que se sabe sobre a modificação de planetas é baseado no que já observamos em nosso próprio mundo. Os efeitos da poluição sobre o ecossistema de nosso planeta evidenciam que é possível afetar o ambiente em uma escala global a fim de transformá-lo, ainda que esse processo possa ser muito lento. Os cientistas concordam que Marte seja o candidato mais provável para as primeiras experiências em terraformação. A NASA, agência espacial americana, estuda maneiras de aquecer o planeta e de alterar a sua atmosfera, possibilitando uma eventual colonização humana.

Deixando o campo da ficção científica para o campo da teologia, o que muitos cientistas desconhecem é que nosso planeta já passou por uma terraformação, e que, esta se encontra registrada no livro de Gênesis. Ali somos informados de que“a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”(Gn. 1:2). Interessante notar que o verbo hebraico traduzido por “pairar” é o mesmo usado em referência ao ato de chocar, próprio das aves.  Este verbo aparece em Deuteronômio 32:11, onde lemos: “Como a águia desperta a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes, estende as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas.” O Espírito de Deus estava, por assim dizer, chocando as águas, preparando o caldo primordial de onde a vida emergiria na Terra. Por isso se diz longo adiante no texto de Gênesis que a ordem de Deus foi para que as águas produzissem a vida. E aqui, ciência e fé se harmonizam, pois ambas concordam que a vida surgiu da água.

O salmista tem um vislumbre da atuação criadora do Espírito Santo ao declarar: “Quando envias o teu Espírito, são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl.104:30). Repare numa coisa importante que esta passagem nos revela. O Espírito não apenas é responsável pela criação e manutenção da vida, mas também pela renovação da face da terra. O processo de terraformação não está acabado. A Terra prossegue em sua renovação contínua. Placas tectônicas são acomodadas. Continentes vão se distanciando uns dos outros alguns centímetros por ano. O nível do mar aumenta em algumas regiões. O que antes era floresta torna-se deserto, e vice-versa. Animais migram. Espécies desaparecem. Vulcões entram em erupção. Aterros são retomados pelas águas do oceano. Enfim, a Terra está em constante mutação.

Em que pese o papel do homem na alteração da paisagem e do clima (seja para o bem ou para o mal), o fato é que, mesmo antes de ele ter aparecido, a Terra já havia sido cenário de várias extinções em massa. Se os dinossauros não houvessem sido extintos, os mamíferos não teriam se desenvolvido e a Terra não seria capaz de abrigar a raça humana.  Quero dizer com isso que as coisas não aconteceram à revilia. O Espírito Santo guiou todo o processo, tenha durado seis dias literais ou bilhões de anos como defende a ciência. Este processo todavia não terminou.  Uma nova terra está a caminho. Não será outro planeta, como acreditam alguns, mas a nossa terra completamente reformatada, pronta para ser habitação da nova humanidade.

A criação da nova terra é um processo que se dá concomitantemente à criação da nova humanidade. Porque esta nova terra deverá ser habitação da justiça (2 Pedro 3:13). Portanto, compete ao mesmo Espírito produzir esta nova raça de seres humanos, dotados de uma consciência comprometida com a justiça.

Jesus anunciou-nos que o Consolador por Ele enviado convenceria o mundo “do pecado, e da justiça e do juízo” (Jo.16:7-8). A renovação da mente, sem a qual não podemos experimentar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus, passa necessariamente por estes três estágios.  Sem que sejamos convencidos do mal (pecado), não poderemos experimentar o bem. Sem que sejamos convencidos acerca da justiça, não provaremos o que é perfeito. Perfeição tem a ver com integridade, inteireza, justiça. Se não formos convencidos acerca do juízo, também não experimentaremos a agradável vontade de Deus. O mesmo Espírito que renova a face da terra, também almeja renovar nossa consciência, reformatando-nos, transformando-nos segundo a imagem do Filho de Deus, Jesus (2 Co.3:18). Se a nova terra fosse habitada pela velha humanidade, esta a destruiria como está fazendo com a atual.

Há três elementos usados como símbolo da ação do Espírito Santo em Sua interação com a terra e seus habitantes: água, vento e fogo.

Todos os três são responsáveis pelo processo que os geólogos chamam de erosão, através do qual a topografia da terra está em permanente transformação.  A ação desses elementos serve-nos como analogia da ação do Espírito Santo na transformação da sociedade.

Esta analogia é proposta pelas próprias Escrituras em várias passagens, dentre as quais destaco a que se segue:

“Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo.”Isaías 43:18-19

É claro que Deus não está falando de um fenômeno geológico ou ambiental, mas usando-o como analogia da obra que Seu Espírito promoveria entre os homens. Algo novo já estava em andamento, todavia, ninguém se apercebera. Assim se dá com o processo de erosão. Algumas vezes acontece abruptamente, como quando ocorre um terremoto ou tsunami. Mas geralmente, acontece imperceptivelmente. Por isso os geólogos falam de “eras geológicas”. O que para nós, humanos, representa um tempo incalculável, geologicamente não passa de um momento.

Vamos verificar a ação de cada um dos elementos que representam a atuação do Espírito em convencer-nos do pecado, da justiça e do juízo:

1.  Água

Observe como as águas açoitam as rochas na praia. Pode parecer que as pedras estejam resistindo bravamente. Mas, em longo prazo, cumpre-se o adágio que diz: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!  Não só fura, mas a esfarela. De onde vêm a areia da praia, afinal? Não vêm das rochas esfareladas pela ação contínua da água? Sem embargo, águas transformam pedras em areia. De modo semelhante, o Espírito Santo transforma “pedras” em filhos de Abraão.  Para o judeu contemporâneo de Jesus, os gentios não passavam de pedras. Jesus desafiou a sua presunção ao declarar: “mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão”(Mateus 3:9). Ora, era sabido de todos que a promessa feita por Deus a Abraão era que sua descendência seria “como a areia que está na praia do mar” (Gn.22:17). Como transformar pedras em areia? Como transformar gentios pagãos em filhos de Abraão? Através da atuação do Espírito Santo. Sim. Porém, o instrumento usado por Ele para isso é a Palavra. Ela é “como um martelo que esmiúça a rocha”(Jer.23:29).

 Mesmo antes que estas pedras se transformem em grãos de areia, o Espírito desperta nelas o desejo de clamar. Jesus disse que se nós nos calássemos, conformando-nos ao atual estado de coisas, “as pedras clamarão” (Lc.19:40).  Clamarão reconhecendo seu pecado, e o pecado da sociedade na qual estão inseridos. Clamarão por perdão e serão salvos. Clamarão por justiça e serão fartos.

As águas também são condutores de vida. O caminho do pecado conduz à morte. Mas a vereda do Espírito conduz à vida. De acordo com a visão de Ezequiel, há um rio cuja nascente é o templo de Deus, mas cujo destino é desaguar no mundo. Apesar de alegrar “a cidade de Deus”, não temos o direito de represar suas águas. Pois “onde quer que este rio passar tudo viverá” (Ez.47:9). Seu objetivo é irrigar cada área de nossa existência, tornando fértil a terra seca. A cultura, a ciência, o governo, a família, são algumas dessas áreas que necessitam ser irrigadas pelas águas do Espírito.

Além de esfarelar rochas, transformando-as em areia, de conduzir vida por onde passa, as águas do Rio de Deus também nos lavam e purificam de todo resquício do pecado (1 Co.6:11).

2. Vento

O segundo elemento responsável pela erosão é o vento. Quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos no cenáculo, ouviu-se um ruído “como que de um vento impetuoso” (At.2:2). Foi este vento o responsável por espalhar o que, até então, estava restringido a um grupo fechado. Por isso, os discípulos “ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas”(v.4). Era importante que os estrangeiros reunidos em Jerusalém para celebrar a festa de Pentecoste tivessem a oportunidade de ouvir o evangelho em seus próprios idiomas. Basicamente, é isso que o vento faz: espalha. Daí sua importância no processo de erosão. Ao espalhar, ele distribui o que estava concentrado num único lugar.

Consideremos, por exemplo, as montanhas. Como se formaram? Ao longo de eras geológicas. Cada montanha é um acúmulo de terra e outros materiais. Cada vez que o vento sopra sobre ela, parte deste material é distribuída, e assim, a paisagem é remodelada. É claro que não acontece da noite para o dia. Mas de uma coisa podemos estar certos. Está acontecendo agora mesmo.

Veja o que diz o Senhor pelos lábios de Isaías:

“Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será abatido; e o que é torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E a glória do SENHOR se manifestará, e toda a carne juntamente a verá, pois a boca do SENHOR o disse.” Isaías 40:4-516:7-8

Exaltar o vale e abater o monte é uma metáfora para o estabelecimento da justiça do reino. Não é justo que uns tenham tanto, e outros tão pouco. Toda concentração de bens constitui-se numa injustiça (Is.5:8), e devemos priorizar não somente o reino de Deus, como também a sua justiça. Quando o vento do Espírito sopra, há uma redistribuição de riquezas. O terreno acidentado é nivelado.  Tira-se da montanha para aterrar o vale. Como disse Paulo:  “Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre” (2 Co.9:9). Não foi isso que aconteceu na igreja primitiva? O resultado da ação daquele vento impetuoso não foi só o falar em línguas, mas também o tornar “um o coração e alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comum” (At.4:32).

Ao convencer-nos da justiça, isto é, do que é justo, o Espírito de Deus nos faz converter-nos ao nosso próximo, buscando atender às suas necessidades com aquilo que nos tem sido confiado.

3.  Fogo

Dentro do simbolismo bíblico, fogo representa juízo. O fogo é, sem dúvida, a mais poderosa ferramenta de erosão disponível na natureza. Basta observar a fúria de um vulcão em erupção para verificar o que digo. A lava que escorre da montanha nada mais é do que rocha derretida. O que a água não houver esfarelado, o fogo certamente derreterá. Ninguém fica imune à ação do fogo. Nada é capaz de resisti-lo. O mesmo pode-se dizer do juízo divino.

Na visão do trono de Deus narrada pelo profeta Daniel, “um rio de fogo manava e saía de diante dele (...) Assentou-se para o juízo, e os livros foram abertos”(Dn. 7:10). Se para o justo, aquele é um rio de água viva, para o ímpio é um rio de fogo, semelhante à lava expelida por um vulcão.

Pedro nos adverte que o dia do juízo surpreenderá a muitos, quando “os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão” (2 Pe.3:10). Não creio que devamos fazer uma leitura literal deste texto, como se o planeta em que vivemos estivesse fadado a ser incinerado. Trata-se, antes, de uma poderosa metáfora para o juízo reservado à todos os que resistiram à ação da água e do vento durante as inúmeras oportunidades dadas por Deus.

Judas diz que o Senhor virá “com os seus milhares de santos, para executar juízo sobre todos e CONVENCER a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram” (Jd.1:14-15).

Se não nascermos da água, recusando-nos a sermos “instrumentos de justiça”, só nos restará sermos alvos do juízo de Deus.

Deus está redesenhando a geografia do mundo. Um novo mundo emerge diante dos nossos olhos: Um novo céu e uma nova terra em que habita a justiça. Se quisermos ser moradores desta nova realidade, temos que submeter-nos à ação do Espírito, reformatando-nos, tornando-nos cada vez mais parecidos com Jesus. 

Fim da linha para quem se vende

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Por Hermes C. Fernandes

Quem nunca foi tomado por um forte sentimento de culpa? Quem jamais desejou voltar no tempo para consertar as coisas? Mesmo Judas, o apóstolo traidor, sentiu-se profundamente arrependido do que fizera ao seu Mestre. Lembro-me de quando me emprestaram um livro chamado “Eu, Judas”, onde o autor tentava redimir a figura do apóstolo traidor. Entre suas teorias, talvez a mais contundente era a que dizia que Judas fora movido por um propósito altruísta. Ele achava que se “cutucasse a onça com vara curta”, Jesus se levantaria, assumindo Seu papel messiânico, arregimentando Seu povo para uma tomada de poder. A traição seria apenas um empurrãozinho. Mas as coisas não aconteceram como planejadas.

Quando Judas ouviu de Jesus que os discípulos deveriam se armar para acompanhá-lo até o Getsêmane, ele imaginou que finalmente a revolução ocorreria. Porém, Jesus jogou um balde de d’água fria em seus planos quando não apenas reprovou a atitude violenta de Pedro ao desembainhar sua espada para defendê-lo, como também colocou no lugar a orelha decepada de um dos soldados do Sinédrio que vieram prendê-lo.

Amargurado com os rumos dos últimos acontecimentos, Judas dirigiu-se aos principais sacerdotes e anciãos para devolver-lhes o dinheiro que recebera para trair seu Senhor. Tudo deu errado! Jesus fora condenado, preso, e em mais algumas horas seria crucificado. A conclusão a que Judas chegara foi expressa na frase: “Pequei, traindo o sangue inocente”. Já que não dava pra voltar atrás, pelo menos o dinheiro que recebera deveria ser devolvido. Mas para sua surpresa, os sacerdotes recusaram recebê-lo de volta.  E olha que trinta moedas de prata eram uma quantia considerável.  Como os sacerdotes recusaram-se a recebê-la, Judas atirou-a para dentro do santuário e retirou-se já resolvido a suicidar-se.

Que destino deveriam tomar aquelas moedas?

Por mais sórdidos que fossem aqueles sacerdotes, ainda lhes restara certo senso de ética. Em conselho convocado de última hora, concluíram: “Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.”

Como alguém que foi capaz de subornar um dos apóstolos de Jesus para traí-lo, ainda seria capaz de posicionar-se eticamente? Por incrível que pareça, tal senso ético não tem sido facilmente encontrado em muitas lideranças cristãs. Ouvem-se rumores de líderes que aceitaram dinheiro do tráfico para financiar a construção de seus templos ou a aquisição de canais de TV. Soube do caso de uma igreja que apoiou a candidatura de um governador, e que após as eleições bem-sucedidas, veio cobrar-lhe uma secretaria, como havia sido prometido. O governador alegou que todas as secretarias já estavam ocupadas, e que só sobrara a Loteria do Estado (achando que certamente a igreja não aceitaria). Para a surpresa do governador (evangélico, diga-se de passagem), os dirigentes da igreja aceitaram de bom grado a direção do jogo no Estado.  Imagine: como uma igreja poderia pregar contra o jogo, se ela mesma é quem está à frente dele?

A conclusão a que chego é que os principais sacerdotes que condenaram Jesus eram mais éticos que muitos líderes evangélicos de nosso tempo. Que vergonha! Quantos ministérios edificados sobre "Campos de Sangue"? Quantas ofertas recebidas que foram fruto de extorsão, venda de drogas, vidas arruinadas, dinheiro público desviado que deveria ser usado na compra de ambulâncias, merenda escolar, segurança, etc.?

Como eu poderia subir ao púlpito com a consciência tranquila sabendo que o dinheiro que mantém meu ministério vem de fontes erradas? Como eu poderia pregar honestidade vendendo os votos do meu rebanho para um político inescrupuloso? Será que os fins justificam os meios? Será que Maquiavel tinha razão? Já que não somos católicos romanos, em vez de canonizá-lo, que tal elegê-lo como patrono de nossa causa? Há que se ter redobrados cuidados com ministérios que explodem de uma hora pra outra, comprando tudo que vê pela frente... Quem trabalha duro à frente de um ministério sabe que dinheiro não cai do céu...

Já que aquele dinheiro sujo não deveria ser depositado no cofre do templo, algo precisaria ser feito. Alguém teve uma “brilhante” ideia: Vamos utilizá-lo na aquisição de um campo para servir de cemitério para os estrangeiros. O conselho prontamente votou e aceitou.

O dinheiro foi considerado tão sujo, que mesmo que fosse usado na construção de um cemitério, este deveria ser destinado unicamente aos estrangeiros. Nenhum judeu poderia ser enterrado nele. A propriedade adquirida recebeu o nome de “Campo de Sangue”.

Interessante notar que o relato feito por Lucas difere um pouco de Mateus, que é o que temos considerado até agora. Segundo Lucas em seu relatório conhecido como Livro de Atos dos Apóstolos, o próprio Judas teria adquirido aquele campo com o“salário da sua iniquidade”.

Não creio que haja contradição entre Mateus e Lucas. O fato é que Lucas intencionalmente atribuiu a Judas a compra daquele campo para enfatizar o seu terrível destino. Como que por coincidência, Judas sai em busca de um lugar ermo para dar cabo de sua vida, avista uma árvore à beira de um precipício, pendura-se nela, com o peso do seu corpo, o galho se quebra, e ele se precipita no abismo, tendo suas entranhas espalhadas pelo campo. Era uma imagem horrível de ser ver. O que ele jamais poderia supor é que aquele lugar escolhido para ser cenário de seu suicídio era justamente o campo comprado com dinheiro que recebera pela traição.

Judas bem que tentou livrar-se daquelas moedas, mas elas o perseguiram até o fim.

Em contraste com Jeremias, que mesmo preso adquiriu, por ordem do Senhor, um campo em Anatote (que quer dizer “Resposta à oração”), o campo adquirido com o dinheiro da traição foi chamado de Acéldama, que significa “Campo de Sangue”.

Acéldama representa o fim da linha, o precipício do qual a alma humana se lança quando trai a si mesma. Toda traição é auto-traição. Ninguém trai alguém se trair a si mesmo. E toda a traição tem um salário e um custo. O custo jamais compensa o salário que se recebe dela.  E não adianta tentar fugir, lançar as moedas de volta ao seu lugar de origem. Elas nos acharão!

O precipício é o preço da precipitação. Precipitamo-nos sempre que sacrificamos nossos princípios  e valores no altar do imediatismo. Traímos nossas convicções por conveniência. Somos iludidos pela ideia de que é possível apressar o processo.

Um dia o que estava oculto vem à tona. As entranhas de Judas são expostas. E aí... será tarde demais.

Mateus 27:3-8 e Atos 1:15-19

Os gargalos de uma igreja que se acha autossuficiente

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Por Hermes C. Fernandes

Um dos maiores desafios à expansão da economia brasileira são os gargalos estruturais. De que adianta incrementar a produção se esta não tem por onde escoar? As estradas brasileiras seguem esburacadas, provocando o atraso na entrega de mercadorias. As estradas de ferro não são suficientes para a dimensão continental do país. Os portos são uma vergonha nacional. Mercadorias estragam, enquanto os navios esperam em longas filas para atracarem e serem devidamente carregados.

Se as rodovias e ferrovias são responsáveis pela distribuição da produção em solo nacional, os portos são os principais responsáveis pela distribuição de nossas riquezas por todo o mundo.

Já era assim nos tempos bíblicos. Sob o cetro de Salomão, Israel viveu o período mais próspero de sua balança comercial. Lemos que a cada três anos, os navios do rei vinham de Társis, carregados de ouro, prata, marfim e animais exóticos. “Assim excedeu o rei Salomão a todos os reis da terra, em riqueza e sabedoria” (2 Crônicas 9:21-22). De Ofir, traziam o mais precioso dos metais, o ouro; e do Egito, traziam cavalos puro sangue (2 Crônicas 8:17-18 e 9:28).

Toda esta mercadoria era descarregada no porto de Elote, e comercializada nas ruas de Jerusalém. Além de importar produtos de outras nações, Israel também exportava para os heteus e sírios (1 Reis 10:28-29).

Com a morte de Salomão, Israel foi perdendo aos poucos a sua influência comercial no mundo, deixando de ser uma nação cosmopolita, mas tornar-se perigosamente provinciana. Os reis que o sucederam estiveram tão ocupados em restabelecer a ordem social em suas terras, que foram negligentes com a manutenção das relações comerciais internacionais. Com isso, o porto de Elote ficou entregue às baratas, ocasionando no seu sucateamento.

Uma cidade sem porto estaria condenada ao isolamento comercial. Houve reis comprometidos com o legado espiritual de Davi e Salomão, mas que não deram a devida atenção à questão. Josafá, certamente, foi um deles. Sua preocupação era com a crise entre o reino do norte e o reino do sul. Outros reis como Joás e Amazias também estiveram ocupados demais com questões internas. Até que Deus levantou a Uzias. Com apenas dezesseis anos, a primeira medida de seu reinado foi restaurar Elote, e restituir o porto a Judá (2 Crônicas 26:1-2). Isso aconteceu muito antes do reinado de Ezequias, responsável por restaurar o culto a Deus, e do reinado de Josias que reparou o templo e reeditou as festas, começando pela Páscoa.

Considerando que a Jerusalém dos tempos bíblicos seja apenas uma sombra ou figura da Jerusalém definitiva que é a igreja de Cristo, penso haver aqui algumas lições preciosas para nós.

Estamos tão distraídos com questões internas, que perdemos de vista o fato de que fomos enviados por Deus a este mundo. Isolar-nos poderá nos custar muito caro. Urge que se levante em nossos dias uma geração de cristãos como Uzias, disposta a reconstruir nossos portos. Sem que Elote nos seja devolvida, seremos uma Cuba, isolada do resto do mundo por causa de um embargo econômico. Todavia, no nosso caso, este embargo não partiu de fora, mas de nós mesmos. É como se sabotássemos a nós mesmos.

Tal atitude só seria razoável se fôssemos autossuficientes. Será que o somos? Creio que não. E quero apresentar neste artigo minhas razões para isso.

Em Provérbios, livro creditado a Salomão, lemos acerca da mulher virtuosa, cujo valor excede ao de rubis. Entre seus atributos, diz-se que “o coração do seu marido está nela confiado”, pois “ela só lhe faz bem, e não mal”. Ela “busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos. Como o navio mercante, ela traz de longe o seu pão”(Pv.31:10-14).

Fazendo uma leitura alegórica do texto, pode-se dizer que a tal “mulher virtuosa” seja uma figura da igreja, e o valor que excede ao de rubis nada mais é do que o preço pago por Cristo em Sua cruz. Paulo diz que a igreja foi comprada pelo sangue do próprio Deus (At.20:28). Haveria valor maior que esse?

Seu marido confia nela assim como Deus tem depositado Sua confiança em nós, o Seu povo. Há algo que precisa ser buscado lá fora. A lã é produzida em nosso próprio território. Afinal, somos ovelhas do Seu aprisco. Porém, o linho deve ser trazido de fora. Mesmo o pão que poderia ser produzido em nossa própria padaria, deve vir de longe, e de tão longe que necessitaria que navios mercantes o trouxesse. Penso haver aqui um interessante paralelo com o que Jesus disse acerca do bom pastor: "A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz (...) Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens" (Jo.10:3-4,9). Note isso: o alimento para as ovelhas não está no aprisco, mas nas pastagens lá fora, para além das cercas do redil. 

Achar-se autossuficiente é presunçoso e beira à petulância. No parecer de Salomão, “aquele que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv.18:1).

Recuso-me a crer que seja plano de Deus que a igreja se isole do resto do mundo. Por isso, nossos portos precisam ser reabertos, tanto para exportar quanto para importar.

O salmista afirma que “os que descem ao mar em navios, os que fazem comércio nas grandes águas,esses veem as obras do Senhor, e as suas maravilhas nas profundezas” (Salmos 107:24). Lembre-se de que, na visão de Ezequiel, quanto mais longe do templo estivessem as águas do rio que dele jorrava, mais profundas se tornavam (Ez.47). As mais significantes experiências que temos com Deus não ocorrem no templo, mas no chão da vida, nas relações, nas “grandes águas”.

Todavia, a maioria prefere o conforto do gueto. Recusa-se a aventurar-se além da linha do horizonte. Contenta-se com o raso e superficial.

Alguns dirão: - Não precisamos de nada deste mundo! Temos o Senhor! Temos a Sua glória! O mundo é que precisa de nós!

Apesar de soar espiritual, tal postura não passa de arrogância travestida de piedade.

Leia atentamente o que diz o Senhor pelos lábios de Isaías acerca do Seu povo:

 “Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti;porque eis que as trevas cobriram a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a sua glória se verá sobre ti.E as nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu.” Isaías 60:1-3

Se pararmos aqui, talvez concluamos que, de fato, temos razão para acreditar que não precisamos de nada além do que já temos recebido diretamente do Senhor. Afinal, enquanto a glória do Senhor nasce sobre nós, o mundo é coberto de trevas. As nações é que devem andar à nossa luz. Em outras palavras, temos o que oferecer, mas nada temos para receber. Porém, o texto prossegue:

“Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes já se ajuntaram, e vêm a ti; teus filhos virão de longe, e tuas filhas serão criadas ao teu lado.Então o verás, e serás iluminado, e o teu coração estremecerá e se alargará; porque a abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas dos gentios virão a ti.Isaías 60:4-5

Apesar de toda a glória recebida do Senhor, devemos levantar nossos olhos à realidade à nossa volta, e preparar-nos para receber as riquezas das nações que nos virão em navios pelo mar. É justamente pelo fato de termos recebido a glória do Senhor é que atrairemos a glória das nações. Cada um dos filhos que de longe vierem para integrar-se à sociedade dos santos trará consigo suas riquezas (vv.8-9). Os navios que antes eram usados por Salomão para trazer de Társis suas riquezas, agora trariam para a cidade de Deus os tesouros das nações.

Em que consistiriam tais tesouros? Muito mais do que de riquezas materiais, os tesouros das nações são compostos de sua produção cultural. Cada povo tem sua própria contribuição a dar na construção da civilização do reino de Deus. Nada deve ser desprezado: sua música, seus costumes, suas tradições, seu idioma, etc. O reino de Cristo é multiétnico e multicultural.

Compete à igreja está aberta para acolher tais expressões. Por isso, o profeta conclui:

 “E as tuas portas estarão abertas de contínuo, nem de dia nem de noite se fecharão; para que tragam a ti as riquezas das nações, e, conduzidos com elas, os seus reis.”Isaías 60:11

Esta profecia é tão importante que foi replicada em Apocalipse. No capítulo em que retrata a Nova Jerusalém, figura da igreja de Cristo, embrião da nova civilização, João diz que “as nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória. As suas portas não se fecharão de dia, e noite ali não haverá; e a ela trarão a glória e a honra das nações. E não entrará nela coisa alguma impura” (Ap. 21:24-27a).

Repare em algo: como todo porto que se preze, nenhuma mercadoria é descarregada sem antes ser inspecionada pelas autoridades alfandegárias. Antes que algo seja introduzido na cidade, deve ser examinado. O que for bom, será retido, o que não passar na inspeção, deverá ser eliminado. Isso combina perfeitamente com a instrução dada por Paulo aos Tessalonicenses: Examinai tudo. Retende o que é bom” (1 Ts.5:21). Não se pode agir arbitrariamente, dispensando uma carga sem antes examiná-la item a item. Tampouco se deve comprar pacotes fechados. Contêiner por contêiner, mala por mala, caixa por caixa, devem ser inspecionados.

A quem é atribuído o dever de inspecionar as mercadorias descarregadas no porto da cidade de Deus? Em que consiste a alfândega do reino? Seriam as autoridades eclesiásticas? Nossos líderes espirituais? Seriam eles os censores que dirão o que devemos ou não consumir? Creio que não.

A alfândega da cidade de Deus é a nossa consciência. Caberá a ela selecionar o que deve ou não ser introduzido em nossa vida.

O que torna algo sujo ou imundo é a relação que estabelecemos com ele. A impureza é uma categoria subjetiva. Por isso Jesus afirmou:“Nada há fora do homem, que, nele entrando, possa contaminá-lo; pelo contrário as coisas que saem dele, são as que o contaminam” (Mc.7:15).

Esta verdade encontra eco nas palavras incisivas de Paulo: “Eu sei e estou persuadido no Senhor Jesus que nenhuma coisa é em si impura; a não ser para aquele que a tem como tal, para esse é ela impura”(Rm.14:14). E mais: Tudo é puro para os que são puros, mas para os corrompidos e incrédulos não há nada puro; pelo contrário tanto a sua mente como a sua consciência são contaminadas” (Tt.1:15).

Portanto, qualquer coisa que nos chegue às mãos ou aos ouvidos, ou à boca, só será impura se nossa consciência estiver contaminada. Caso contrário, tudo será puro. Sem esta “boa consciência”, o navio sequer chegará a atracar no porto. Naufragará antes disso. Daí a advertência do apóstolo quanto a manter “a fé e a boa consciência que alguns rejeitaram e, por isso, naufragaram na fé” (1 Tm.1:19).

Uma consciência contaminada é a que estabelece uma relação de cobiça e posse das coisas. Uma consciência sadia é aquela que reconhece tanto a fonte quanto os canais pelos quais as coisas lhe chegaram às mãos e, por isso, é permanentemente grata, sem apegar-se a nada. Ela desfruta, mas não se apossa. Por isso, não apresenta qualquer dificuldade em partilhar o que tem recebido.

Cada consciência deve julgar por si mesmo. Se algo tem potencial de cativá-la e, assim, adoecê-la, deve ser rejeitado. Como disse Paulo, todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1 Co.6:12).

À luz do que expus aqui, sinto-me à vontade para apreciar uma boa música secular, ou qualquer outra manifestação cultural, desfrutar de qualquer prazer lícito sem sentir-me culpado. Uma consciência pesada é forte candidata ao naufrágio. Será a fé que trará a estabilidade à nossa nau, impedindo que submerjamos em nossas presunções e dúvidas. “A fé que tu tens”, arremata Paulo, “guarda-a para ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.Mas aquele que duvida, é condenado se comer, pois o que faz não é proveniente da fé; e tudo o que não provém da fé, é pecado (Rm.14:22-23). Portanto, não queira atribuir objetividade ao que é subjetivo. Antes de julgar ao outro por suas preferências musicais ou algo parecido, julgue-se a si mesmo e verifique se não tem deixado entrar em sua vida aquilo que tem usurpado o lugar do Senhor, exercendo domínio sobre você.

Que nossos portos e portas estejam abertos continuamente e que jamais deleguemos a outros o dever de examinar de tudo antes de permitir sua entrada em nossa vida. Afinal, “por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência de outrem?(1 Co.10:29).

Que os gargalos que dificultam o acesso das riquezas das nações sejam desobstruídos. Que percamos de vez a mania de coar mosquitos e engolir camelos.  E que, uma vez reabertos os nossos portos, nossa ‘balança comercial’ alcance o devido equilíbrio em que ‘exportemos’ mais do que ‘importemos’. Em outras palavras, que estejamos abertos tanto para dar quanto para receber, mas que busquemos um superávit, em que o mundo receba de nós muito mais do que dele recebemos, já que, segundo Jesus, melhor coisa é dar do que receber. 

Evangelho Ostentação x Revolução do Amor

Uma avaliação sincera da reação dos cantores ao Thalles Roberto

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Por Hermes C. Fernandes

Assistindo a algumas respostas que cantores gospel deram ao 'desaforo' dito por Thalles Roberto, cheguei à conclusão de que a coisa está bem mais feia do que imaginava. De todos que ouvi, poucos demonstraram verdadeira preocupação com a vida espiritual do cantor. A maioria parecia com o ego machucado. Alguns fizeram questão de se cartar de seus próprios feitos, de sua vendagem de discos, de seu sucesso que já perdura décadas, etc. Parece-me que o "desserviço" prestado por ele serviu a um propósito: sacudir o tapete e fazer com que toda o lixo acumulado viesse à tona. Quanta inveja travestida de piedade! Quanta amargura! Partindo disso, acho até que eles deveriam comemorar a sua "queda", visto que isso abriria uma enorme lacuna no mercado gospel ainda em ascendência. Houve até quem o advertisse de que o juízo de Deus viria sobre ele da mesma maneira como afundou o Titanic e matou John Lennon. Meu Deus! De que espírito sois? Será que eles não percebem que o Thalles é apenas um subproduto de toda esta famigerada indústria gospel que eles mesmos ajudaram a criar? Se eu fosse eles, poria minha barba de molho. O que ocorreu ao Thalles, pode ocorrer a qualquer um deles. Todos estamos na mira da vaidade. Ao menos, o dito cantor teve a coragem de expor o que estava em seu coração. A maioria prefere disfarçar, pagar uma de humilde, mas, no fundo, no fundo, adoraria receber os mesmos cachês, tirar o mesmo sarro que ele tirou dos demais, ostentar a mesma riqueza e fama. O ocorrido deveria servir de alerta a todos. 

Devo concordar com ele de que a música gospel atual é fraca. Já foi bem melhor. Por isso, não se faz mais canções eternas como antes. Todas têm prazo de validade. Tocam por alguns meses, e depois caem no esquecimento. Ainda bem! Sinceramente, não merecem ser lembradas. São canções extremamente antropocêntricas, cheias de vícios de linguagem, sem qualquer comprometimento com o genuíno evangelho do reino e da graça. Porém, as canções do Thalles não escapam disso. São todas igualmente fracas, ao menos, do ponto de vista lírico. 

Criaram um monstro, e quando ele se desperta e tenta escapar da jaula, todos os apedrejam. O que ele precisa agora é de oração. Mas ele não é o único. Todos estão no mesmo barco. O sucesso os intoxicou. A soberba os corrompeu. Mamom etiquetou suas almas. Arrependam-se! Busquem a Deus! Talvez ainda haja esperança. Renunciem seus cachês exorbitantes. Os milhares de reais que recebem das prefeituras deveriam ser usados nos serviços públicos, nas merendas escolares, nos leitos hospitalares. Sem contar os que recebem cachês impraticáveis do tráfico de drogas para se apresentarem em bailes de comunidades. Depois não adianta se apresentar numa igrejinha qualquer sem cobrar, só para driblar o peso de consciência. Aliás, se depender de tal peso, levita vai ter que deixar de levitar... O Thalles é só um efeito colateral de um câncer cuja metástase já se espalhou por quase todo o corpo. Sorte de Janires, dos irmãos Otoniel e Oziel, e de tantos outros que partiram para a glória antes que a coisa descambasse. Deixo claro que há exceções. Ainda restam joelhos que não se dobraram. Pena que sejam tão poucos. Que o Senhor tenha misericórdia do Thalles. Que Ele tenha misericórdia de cada um de nós.

Abaixo, uma canção em que faço uma severa crítica a tudo isso que está aí, mas esperançoso de que as coisas mudem na medida em que buscarmos ter um coração igual ao de Cristo.




A Era das Estrelas Gospel está chegando ao fim

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Por Hermes C. Fernandes

Não sou saudosista. Mas devo admitir que foi-se o tempo em que o púlpito não era palco nem tampouco palanque, e a congregação não era plateia, nem o pastor era considerado um showman. Foi-se o tempo em que os cantores que se dedicavam a louvar a Deus não tinham fã clube, nem sabiam o que significava tietagem. Mesmo porque, não havia performance, e sim, culto. Todos os holofotes eram voltados para Cristo. Os únicos aplausos que esperava ouvir deveriam vir dos céus.

O sonho de conquistar o mundo para Cristo foi substituído pelo sonho de tornar-se num mega-star gospel.

O dinheiro antes investido para enviar missionários ao campo, agora é usado para pagar vultuosos cachês a estas estrelas, que ainda por cima exigem regalias, tais como, hotel cinco estrelas, carro de luxo com chofer, comidas requintadas (eu disse, requintadas, não requentadas!), etc.

Mas tudo isso está prestes a acabar. O mercado gospel dá sinais de que está ficando saturado. Ninguém suporta mais patrocinar os projetos megalomaníacos dessas estrelas. Talvez por isso, o fluxo esteja se revertendo. Se até bem pouco tempo, cantores seculares estavam se voltando para a música cristã, agora, cantores cristãos anunciam que pretendem trocar a carreira gospel pela secular.

Por outro lado, cada vez mais, os cristãos estão se conscientizando de que seu papel não é o de manter esta indústria religiosa, e sim, de trabalhar pela transformação do mundo.

Chega de fogueiras de vaidade! Chega de busca por títulos e fama. Que se busque servir em vez de ser servido.

Chega de estratégias evangelísticas mirabolantes, de projetos milionários, Que o importante seja o que é certo, e não o que certo.

Voltemos ao velho e bom Evangelho, sem invencionices. Voltemos ao discipulado, sem a pressão pela multiplicação. Deixemos que Ele acrescente em número, enquanto nós focamos a qualidade de nossa vivência cristã.

E que os milagres aconteçam em ambientes domésticos e seculares, no dia-a-dia, e não à granel, no atacado, como tem sido anunciados nos programas neo-pentecostais.

Está chegando o tempo em que o Evangelho será espalhado por toda a Terra, não através de eventos extraordinários, marchas, cruzadas, mas através de gente anônima, ilustres desconhecidos, que ofuscarão o brilho daqueles que se acham indispensáveis na expansão do Reino de Deus, e tudo isso, sem chamar a atenção para si.

Viva o novo tempo que já se insinua no horizonte da história. 

Não existe música profana!

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Por Hermes C. Fernandes 
"Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza." Miguel de Unamo
 “Todas coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os corrompidos e descrentes. Antes a sua mente como a sua consciência estão contaminadas.” Paulo em sua carta a Tito cap. 1, verso 15

Haveria algum idioma que pudesse ser considerado sagrado? Alguns talvez achem que sim. Há até quem pense que a língua falada no céu seja o hebraico, e que esta seria o idioma original dos homens, antes de Babel.

Recentemente, fui indagado acerca da logomarca de nossa igreja (Uma cruz estilizada que lembra uma estrela, com o que parece uma letra “x” no meio dela). Ao explicar que aquela letra “x” era na verdade a primeira letra grega do nome “Cristo” (Christus), houve quem alegasse que o grego e o latim seriam os idiomas prediletos do satanismo.

Ora, já ouvi tanta asneira nesta vida, mas esta superou a muitas delas. Então, teremos que concluir que o Novo Testamento foi todo escrito em língua satânica e que Paulo pregava no idioma dos demônios!

Um argumento como este revela o quão criativo é o gênio humano, tanto para o bem, quanto para o mal.

Haveria em nosso alfabeto alguma letra maligna? Claro que não! Mas é possível usar as letras de nosso alfabeto para escrever qualquer coisa, desde louvores a Deus até insultos, blasfêmias e obscenidades. Porém isso, não torna aquelas letras profanas.

Assim se dá com a música, por exemplo. Quem criou as notas musicais? Não foi o diabo, ou foi? E quanto aos ritmos diversos, teriam sido criados ou inspirados por ele? Recuso-me a crer neste absurdo.

Não há música profana! O que há são músicas profanadas. Usar a música para estimular sentimentos perversos no coração humano é profanar uma das mais sagradas artes.

Harmonia, melodia e ritmo podem ser igualmente usados para o bem ou para o mal. Assim como posso usar uma faca tanto pra fatiar um pão quanto pra ferir alguém. Isso não faz da faca um instrumento satânico, ou faz?

O que é uma canção senão a combinação de harmonia, melodia e ritmo? Nenhum destes elementos pode ser considerado profano em sua origem. O que se pode é profaná-los, dando-lhes um propósito maligno.

Não posso satanizar um frango só porque alguém o oferece numa encruzilhada num ritual religioso. Não vou deixar de degustar um saboroso frango assado por isso.

Posso usar todo o espectro de cores para pintar uma obra que insulte os valores cristãos, como posso usar o mesmo pincel para criar obras que os enalteçam.

Mesmo uma obra considerada “profana” pode ser apreciada de outros ângulos. Em vez de condená-la, podemos buscar entender a intenção de seu autor, e a maneira como ele tenta expressar o que há em sua alma. Há anseios, frustrações, anelos profundos, amarguras, questionamentos, inquietudes, que nem sempre são verbalizados claramente, mas que vazam através de sua produção cultural.

Em vez de ficar ouvindo discos de trás pra frente em busca de mensagens subliminares, deveríamos ouvi-los com o coração tomado de compaixão, buscando compreender o que de fato essas almas humanas tentam comunicar nas entrelinhas de sua arte.

O que foi profanado pode ter sua sacralidade primordial resgatada. Alguns avivalistas e reformadores perceberam isso nos séculos passados. Charles Wesley, o maior compositor cristão de todos os tempos, tomava emprestado melodias usadas nos cabarés da Inglaterra, e as transformava em louvores a Deus. Aliás, muitos dos hinos da Harpa Cristã e do Cantor Cristão tiveram origem “profana”.

Ademais, devemos considerar a graça comum, que como chuva derramada sobre justos e injustos, é capaz de inspirar o mais vil dentre os homens a produzir coisas belas, dignas de apreciação e aplauso.

A vida enxergada do prisma da graça é muito mais leve, solta e vibrante. Sem neuroses, fanatismo infundado, mania de conspiração, e outras bizarrices.

Sinto-me inteiramente à vontade para apreciar as linhas harmoniosas de uma obra arquitetônica de Niemeyer, e ainda louvar a Deus por sua genialidade, mesmo sabendo que ele se professa ateu.

Prefiro embasbacar-me contemplando o interior da Capela Sistina, a ficar buscando na obra de Michelangelo algum indício de que ele pertencesse a uma sociedade secreta qualquer.

Jamais me preocupei em ser flagrado ouvindo uma boa música secular, nem em ter que dar explicação aos que me censurem por isso.

Posso apreciar uma escultura do ponto de vista artístico, sem por isso comprometer a pureza de minha fé, nem endossar a idolatria que se preste a ela.

Não sou menos espiritual por dar umas boas gargalhadas enquanto assisto a uma comédia.

Deixo-me emocionar enquanto assisto a uma apresentação de ballet ou a uma peça teatral, ou mesmo a um concerto de música clássica ou pop, sem qualquer constrangimento ou culpa, por reconhecer que a fonte primeva de toda beleza é Deus.

Afinal de contas, “d’Ele e por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória, pois, a Ele eternamente. Amém” (Rm.11:36).

Teríamos algo a aprender com os que creem diferente de nós?

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Por Hermes C. Fernandes


No penúltimo dia da XIV Convergência Reinista, tivemos uma inusitada apresentação realizada por nossas igrejas em Nilópolis e Engenheiro Pedreira. Sobre o púlpito, três rapazes vestidos à caráter, representando um sacerdote católico, um muçulmano e um protestante. Num dado momento, o muçulmano prostrou-se sobre o tapete como se estivesse em seu momento de devoção voltado para Meca. Enquanto ele orava, os outros dois mantinham seus braços estendidos sobre ele. Ao se levantar, foi abraço por eles, recebendo deles um exemplar das Escrituras. Imediatamente, postei as fotos, mas não pude legendá-las para explicar o que estava acontecendo. Ao término do culto, quando chequei meu perfil na rede social, deparei-me com críticas severas e acusações de ecumenismo e sincretismo. Em resposta a essas críticas, resolvi publicar esta reflexão. 

No tempo do ministério de Jeremias, havia um povo considerado excêntrico pelos demais habitantes de Judá, que era conhecido como os recabitas e viviam do lado de fora dos muros, isolados do resto do mundo. Não bebiam vinho, não construíam casas, nem cultivavam a terra. Habitavam em tendas, como os antigos patriarcas hebreus. Ninguém os levava realmente a sério. De repente, Deus ordena que Jeremias os convide para ir ao Templo em Jerusalém.
“Palavra que do Senhor veio a Jeremias, nos dias de Jeoiaquim, filho de Josias, rei de Judá: Vai à casa dos recabitas, fala com eles, leva-os à casa do Senhor, a uma das câmaras, e dá-lhes vinho a beber.” Jeremias 35:1-2
O profeta deve ter estranhado as orientações que Deus lhe estava dando. Por que oferecer ao recabitas algo que eles certamente recusariam? Que sentido havia em tentá-los?

Mas Jeremias não titubeou e pôs “diante dos filhos da casa dos recabitas taças cheias de vinho, e copos, e disse-lhes: Bebei vinho. Mas eles disseram: Não beberemos vinho, porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos deu ordem, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem os vossos filhos. Também não edificareis casa, nem semeareis semente, nem plantareis vinha, nem a possuireis; mas habitareis em tendas todos os vossos dias, para que vivais muitos dias sobre a face da terra, em que vós andais peregrinando” (vv.5-7).

Estas ordens haviam sido dadas por Jonadabe há duzentos anos, isto é, cinco gerações anteriores àquela. Todavia, os descendentes de Jonadabe jamais se desviaram delas.

Que grande líder foi Jonadabe, a ponto de sua influência permanecer por dois séculos após sua partida.

Antes de prosseguirmos em nossa reflexão sobre a postura dos recabitas diante da tentação, vamos descobrir um pouco mais sobre seu patriarca. Jonadabe aparece em II Reis 10:15, em parceria com Jeú, rei de Israel, na ação contra a casa do Acabe – o marido da abominável Jezabel. Deus havia confiado a Jeú a missão de não deixar vivo nenhum descendente daquele malévolo rei. Embora já estivesse morto à época, Acabe deixara nada menos que setenta filhos, que a qualquer momento poderiam reivindicar o trono de Israel, e manter a política devassa de seu pai. Nesse contexto, Jeú, que havia sido ungido rei de Israel por intermédio de Eliseu, se encontra com Jonadabe. Eis o relato:
“Partindo dali, encontrou-se com Jonadabe, filho de Recabe, que lhe vinha ao encontro. Saudou-o Jeú e lhe perguntou: Reto é o teu coração, como o meu coração é com o teu coração? Respondeu Jonadabe: É. Então, se é, dá-me a tua mão. Ele lhe deu a mão, e Jeú o fez subir consigo ao carro. Disse Jeú: Vem comigo e vê o meu zelo pelo Senhor. Então o fez sentar consigo no carro.” II Reis 10:15-16
À luz deste texto, concluímos que Jonadabe era um homem fiel ao Deus de Israel, e leal ao homem escolhido por Deus para reinar sobre o Seu povo. Homens assim sempre deixam um legado para as próximas gerações. Gente fiel gera gente fiel. Por isso, duzentos anos depois de sua morte, seus descendentes ainda lhe eram fiéis. E é para essa fidelidade que Deus queria chamar a atenção do povo de Judá nos dias de Jeremias. A fidelidade dos recabitas lhes serviria como referência.

Aprendemos com Jonadabe que só devemos dar as mãos àqueles com os quais nosso coração for reto. Só há comunhão legítima, quando autenticada por convicções verdadeiras. É claro que Deus jamais requereu deles que vivessem separados dos demais, ou que se abstivessem de vinho ou do cultivo da terra. Pelo contrário. Quando o povo de Judá foi levado em exílio para a Babilônia devido à sua infidelidade, a ordem de Deus foi que eles construíssem casas, plantassem pomares, casassem suas filhas, enfim, que se estabelecessem lá, de onde só sairiam setenta anos depois (Jer.29:4-7).

O tipo de espiritualidade que Deus propõe ao Seu povo não é sinônimo de alienação. Deus almeja ver Seus filhos espalhados pelo mundo, infiltrados em todos os setores da sociedade, fazendo a diferença. Infelizmente, a maioria dos cristãos age com os recabitas. Preferem separar-se, viver em guetos, sem misturar-se com a sociedade à sua volta. Em momento algum Deus endossou o modo de vida dos recabitas. O que Ele quis foi dar uma lição aos demais judeus, demonstrando o tipo de fidelidade que Ele requeria deles. Veja o desabafo do Senhor:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Vai, e dize aos homens de Judá e aos moradores de Jerusalém: Não aceitareis instrução, para ouvirdes as minhas palavras? Diz o Senhor. As palavras de Jonadabe, filho de Recabe, que ordenou a seus filhos que não bebessem vinho, foram guardadas, pois não beberam vinho até este dia, antes ouviram o mandamento de seu pai. A mim, porém, que vos tenho falado a vós, madrugando e falando, não me ouvistes. Também vos enviei todos os meus servos, os profetas, madrugando, e enviando, e dizendo: Convertei-vos, cada um do seu mau caminho (...) Os filhos de Jonadabe, filho de Recabe, guardaram o mandamento de seu pai, que lhes ordenou, mas este povo não me obedeceu”(vv.13-15a, 16).
A questão não era a abstenção de vinho, nem o fato de habitarem em tendas. A questão era a obediência às instruções de seu patriarca.

Presenciei durante minha estada nos Estados Unidos pessoas oriundas das mais diversas culturas, que apesar de estarem longe do seu chão, mantêm-se fiéis aos seus costumes e à sua fé. Vi mulheres que só saem de suas casas usando véus que cobrem parcialmente seus rostos. Muçulmanas, que apesar de todo preconceito que sofrem aqui, são fiéis àquilo que aprenderam de seu profeta Maomé. Vi hindus que jamais retiram seus turbantes em reverência aos seus inúmeros deuses. Deus não exige que vivamos como eles. Mas exige que sejamos tão fiéis a Ele, quanto eles são aos seus deuses e profetas.

Temos muito que aprender com os espíritas, e suas obras de caridade. Se fôssemos tão fiéis ao Evangelho, quanto eles aos ensinos de Kardec, esta exortação não nos caberia como uma luva.

Temos que tirar o chapéu para os crentes que chamamos carinhosamente de legalistas. Falta-nos o seu espírito aguerrido, sua coragem para ir além de suas possibilidades, tudo em nome de sua fé (ainda que equivocada!).

Deus poderia colocar diante de nós, testemunhas de Jeová, Mórmons, Budistas, e até Candomblecistas e Umbandistas, para que aprendêssemos com eles. Assim como Jesus usou um Samaritano como referência de bondade e amor, ainda que sua crença estivesse equivocada.

Não se escandalize com isso! Jesus era mestre em usar exemplos escandalosos. Ele chegou mesmo a elogiar um centurião romano, dizendo que jamais encontrara tamanha fé, nem entre os filhos de Abraão.

Todos sabemos dos pega-pra-capar que Jesus tinha com os fariseus. Ele os chamava carinhosamente de hipócritas. Mas nos esquecemos que Jesus os tomou como referência para os Seus discípulos:
“Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” Mateus 5:20
Repare nisso: Deus requer muito mais de nós, do que a fidelidade demonstrada por qualquer religioso ao seu credo. Afinal de contas, a graça nos foi revelada, e isso nos torna indesculpáveis. E não se trata de uma graça barata, mas uma graça que, segundo Paulo, “nos ensina a renunciar a impiedade e as paixões mundanas, para que vivamos neste presente século sóbria, justa e piedosamente”(Tt.2:12).

Testemunhando sobre seus patrícios, Paulo diz: “Pois dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento” (Rm.10:2). Ora, o que esperar, então, de quem afirma ter recebido o entendimento da graça? Pior que ter zelo sem entendimento, é ter entendimento sem zelo.

Se um muçulmano é capaz de dobrar seus joelhos várias vezes ao dia em direção à Meca, cumprindo assim a uma ordenação de seu profeta Maomé, do que seria capaz um cristão que recebeu a graça de Cristo?

Recordo-me com carinho quando minha filha Revelyn estudava num High School em Lake Mary, na Flórida, e se dispôs a ajudar um colega muçulmano recém-chegado do Irã, e que não sabia falar uma única palavra em Inglês. Tanto ela, quanto meu filho Rhuan, tiveram que aprender a se relacionar com pessoas de diversas culturas, sem qualquer ranço de preconceito.

Já testemunhei uma família de judeus, em pleno aeroporto de Nova York, por volta das 5h. da manhã, fazendo suas orações na frente de todos, sem qualquer constrangimento.

O problema é que muitos têm usado a graça como justificativa para uma vida descomprometida e desregrada. Não seria isso que Paulo chama de receber a graça de Deus em vão (2 Co.6:1)?

Seguidores de credos de matizes africanos são capazes de se expor ao escárnio em plena luz do dia para oferecer suas oferendas em logadouros públicos. E quanto a nós, que afirmamos amar a Cristo? Quantas vezes temos nos exposto por Ele? Alguns nem sequer se identificam como cristãos. É de se admirar que as crenças oriundas do continente africano tenham sobrevivido a tantas perseguições e preconceitos, ainda que para isso algumas tenham se valido do sincretismo.

Um crente neo-pentecostal, sem o conhecimento da graça, faz qualquer sacrifício em nome de sua fé. E quanto a nós, o que temos feito em prol da mensagem do reino? É muito fácil criticá-los. Mas se a Bíblia diz que cada um será julgado de acordo com aquilo que houver recebido, o que será de nós? Eles vivem por aquilo que receberam. E com o pouco que têm recebido, têm feito muito mais do que aqueles que afirmam que receberam toda a revelação da Palavra.

Mais uma vez suplico: Não se escandalizem comigo. Não me vejo em condição de julgar, nem tampouco endossar qualquer prática religiosa. Minha questão aqui não tem nada a ver com a prática, mas com a fidelidade.

Posso condenar qualquer ato considerado idólatra, como por exemplo, carregar um andor com uma imagem qualquer. Mas também posso enxergar de outro ângulo e dizer: Uau, quanta disposição em servir! Quanta veneração! Paulo fez isso em Atenas. Ele não condenou seus cidadãos por serem idólatras, mas elogiou-os por serem fervorosos em sua religiosidade, garantindo com isso a sua atenção e simpatia, a fim de introduzir-lhes o evangelho (At.17:22).

Qualquer ato de terrorismo pode ser considerado abominável. Mas é admirável a disposição que alguns fundamentalistas islâmicos têm de morrer por sua fé. Disposição antes encontrada nos primeiros cristãos. A diferença é que estes morriam por sua fé, enquanto aqueles querem levar o maior número possível consigo. Os cristãos primitivos movidos por amor, enquanto aqueles são motivados pelo ódio.

Pode-se dizer que a doutrina das testemunhas de Jeová destoa do que consideramos ortodoxo. Porém, quem de nós se dispõe a bater de casa em casa para anunciar o Evangelho? Que prejuízo um adventista do sétimo dia se dispõe a sofrer por guardar o sábado? E nós, já sofremos algum prejuízo pela causa do Evangelho?

Voltemos para Jonadabe e os recabitas e consideremos a recompensa que tiveram por sua lealdade aos ensinos de seu pai.
“À casa dos recabitas disse Jeremias: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Obedecestes ao mandamento de Jonadabe, vosso pai, guardastes todas as suas instruções, e fizestes conforme tudo o que vos ordenou. Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Nunca faltará homem a Jonadabe, filho de Recabe, que assista perante a minha face todos os dias” (vv.18-19).
Milhares de anos se passaram desde que esta palavra fora dita pelo Senhor. E onde foram parar os recabitas? Será que ainda existem? Teria Deus cumprido Sua promessa àquele povo? A mais recente notícia sobre eles dá conta de que foi descoberta na Arábia, perto de Meca, uma tribo que se diz descendente de Jonadabe. E mais recentemente, foi descoberta perto do Mar Morto, outra tribo beduína que também se identifica como recabitas. E pasmem: Esse povo que afirma ser os remanescentes dos recabitas, ainda se mantém fiel aos preceitos de Jonadabe.

E será que nesses dois mil anos de Cristianismo temos nos mantido fiéis aos preceitos de Cristo?

Por um evangelho "sem lenço, nem documento"

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Por Hermes C. Fernandes

Desde criança, aprecio viajar. Gosto de respirar outros ares, conhecer culturas distintas da minha, e encontrar gente diferente. Porém, nada mais chato que fazer as malas. Sempre deixo pra última hora. Ter que decidir o que levar e o que deixar não é nada fácil. Anteriormente, carregava muita bagagem. Mas tive algumas experiências amargas de extravio de malas. Já fiquei nove dias usando roupas emprestadas por causa disso. Ademais, fui percebendo aos poucos que a maior parte do que levava, não usava. Agora viajo com o básico. Quanto menos peso, melhor. Quanto menor o tempo de espera pela bagagem na esteira do aeroporto, melhor.

Prefiro usar o mesmo terno várias vezes. Prefiro ter que lavar minhas roupas íntimas toda noite antes de dormir. Prefiro levar camisas leves, que não necessitem ser passadas.

Sei exatamente o que é ter que pagar taxa extra por ter exagerado no peso das malas. Já tive até que me desfazer de algo ali mesmo, antes do check-in no aeroporto, só pra não pagar mais. É horrível! E quando tive que abrir a minha mala e a da minha esposa para redistribuir melhor o peso... Todo mundo olhando curioso, e lá estávamos nós, tirando de uma pra colocar em outra, porque uma delas havia excedido o peso enquanto a outra estava abaixo do permitido.

Pois recentemente, resolvi fazer o mesmo com a minha teologia. Decidi abandonar todos os rótulos. Não dá mais pra carregar tanto peso sobre meus ombros. Prefiro viajar de mãos livres, como a antiga canção de Caetano, "sem lenço, nem documento, nada no bolso ou nas mãos. Eu quero seguir vivendo, amor. Eu vou. Por que não?"

Às vezes os rótulos expressam mais do que aquilo em que acreditamos. Bagagem extra! Outra vezes expressam menos. Paulo, o experiente viajante, sabia muito bem disso, e declarou que se livrara de todos os rótulos ( benjamita, hebreu, fariseu, etc.), considerando-os perda total, ainda que para muitos fossem considerados lucro na certa (Fp.3:4-7). Em vez de estribar-se neles, Paulo preferia confiar unicamente em Deus, seguindo à risca a orientação dada por Jesus a Seus discípulos: “Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias…” (Lc.10:4). Nada como viajar sem bagagem… sei o que é isso!

Deixem-me dar alguns exemplos.

Identifico-me com muitos dos pressupostos calvinistas. Creio piamente na salvação pela graça, independente das obras humanas, na soberania divina, na eleição incondicional, etc. Dependendo de mim, a tulipa calvinista não perde nenhuma de suas pétalas.  Por isso, sentia-me confortável em apresentar-me como calvinista. Porém, aos poucos fui percebendo que o calvinismo carrega consigo o peso extra do conservadorismo fundamentalista. Não preciso deste peso extra. Sem dizer que muitos calvinistas encaram a eleição divina apenas como um privilégio. Continuo a crer na doutrina da eleição, porém, acredito que Deus eleja alguns para o bem de todos, e não visando seu próprio bem-estar. Prefiro também enfatizar mais a Graça Comum à depravação total, embora creia em ambas as assertivas; assim como prefiro carregar as malas de pé, apoiadas nas rodinhas, em vez de carregá-las deitadas, segurando em suas alças.

Em termos eclesiológicos, creio firmemente na igreja única, católica, apostólica, porém, não romana. Mesmo porque, os termos “católica” e “romana” são excludentes. Ou a igreja é universal (católica), ou pertencente a um local (Roma). Abraço, portanto, a catolicidade da igreja, mas deixo de lado a bagagem extra dos dogmas criados em seus concílios, bem como o seu sincretismo.

Falando de escatologia, identifico-me com o pós-milenismo, mas me recuso a carregar a bagagem extra do teonomismo. Não acredito que transformaremos o mundo simplesmente através de governos cristãos ou leis baseadas nas Escrituras. Não me considero teonomista nem antinomista. Creio na lei gravada pelo Espírito no coração dos homens. São esses que farão a revolução. Sim, creio num cristianismo revolucionário e marginal, que transformará o mundo através da mensagem subversiva do Evangelho: o amor, pregado e encarnado pelos discípulos de Cristo.

Como posso identificar-me com o conservadorismo, se o que está aí não vale a pena ser conservado? Também não acredito que devamos nos entrincheirar contra a ciência. Afinal de contas, o Cristo que reina soberanamente na igreja, também reina sobre a ciência. Nenhuma descoberta científica é acidental. O Espírito Santo foi enviado para nos conduzir à toda a verdade. E toda verdade, seja bíblica ou científica, provém da mesma fonte: DEUS! Abaixo o obscurantismo. Já não vivemos na idade média.

Creio na contemporaneidade dos dons espirituais, mas não me identifico como pentecostal nem como carismático. Há excesso de bagagens ali também. Não me sinto à vontade com as bizarrices praticadas em alguns círculos que ostentam estas bandeiras e que, infelizmente são creditadas ao Espírito Santo. Creio que os dons não têm a pretensão de criar estrelas, mas servos. Os dons nos fazem menores, não maiores. Nossa ênfase deve ser o“caminho mais excelente”, o amor (1 Co.12:31). Esta é a verdadeira evidência de que fomos batizados em um só Espírito (Rm.5:5). Muito mais do que falar em línguas angélicas, precisamos mesmo é aprender a falar a língua dos homens, e tornar o Evangelho mais acessível. Urge libertar-nos do evangeliquês usado em nosso gueto religioso.

Apesar de crer que Deus possa curar ainda hoje (e tenho visto inúmeras curas, inclusive em meu lar), não vejo a cura como uma evidência da presença de Deus em nosso meio. Acredito que Deus esteja mais interessado em curar as chagas sociais que adoecem nossa gente, do que apenas as enfermidades físicas e emocionais. Creio na cura como manifestação da misericórdia divina, e não como show sensacionalista praticado em muitos púlpitos atuais.

Creio na prosperidade. Não nesta prosperidade mágica pregada nos círculos neo-pentecostais. Mas na prosperidade que abarca toda a sociedade quando se pratica a justiça preconizada no Evangelho do Reino. Os cristãos não vivem numa bolha de proteção. Se a sociedade prospera, também prosperamos (Jer.29:7). Portanto, devemos trabalhar pelo bem-comum, sem corporativismo eclesiástico.

Os únicos itens que não podem faltar em nossa mala são a fé, a esperança e o amor, e o maior deles é o amor (1 Co.13:13).

Ao passar pela alfândega celestial, teremos que deixar de lado nossas ideologias, tudo em que nos estribamos, e só poderemos nos valer de Sua surpreendente graça.

Perímetros e Parâmetros da Imaginação

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Última preleção da XIV Convergência Reinista ministrada por Hermes C. Fernandes em 27/07/2015.



Se nos conhece tão bem, por que Deus prova nossos corações?

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Revelando a Química do Coração

No mesmo salmo em que Davi afirma que “de longe” Deus entendia seus pensamentos, ele pede: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos” (Sl.139:2,23). Ora, se Ele nos conhece tão bem, a ponto de saber o que pensamos, mesmo antes que a palavra nos chegue à boca, por que deveria nos provar? Não há nada que façamos que Lhe passe despercebido. Ele esquadrinha nosso andar e o nosso deitar; conhece todos os nossos caminhos. Ele criou o nosso interior, moldando-nos no ventre materno. Os Seus olhos viram nosso corpo ainda informe. Portanto, conhece profundamente nossa composição orgânica e psíquica. Todos os nossos dias foram previamente ordenados por Ele. Quem nos conhece tão bem quanto Ele? Então, por que nos provar?

Uma das razões pelas quais Deus nos prova é revelar-nos o estado do nosso coração. Ao provar-nos, Deus deseja nos conduzir pelas sendas do autoconhecimento. Não é Ele quem precisa nos conhecer, mas nós que necessitamos nos conhecer mais. Tornamo-nos estranhos a nós mesmos. Iludimo-nos, achando que nos conhecemos, porém somos sempre surpreendidos com facetas desconhecidas de nossa personalidade.

Que diagnóstico as Escrituras fazem do coração humano?
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e incorrigível. Quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, e provo a mente, para dar a cada um segundo os seus caminhos, e segundo o fruto das suas ações.”Jeremias 17:9-10
O pior dos enganos é o auto-engano! Nosso coração sempre nos prega peças. Seu grau de corrupção chegou a tal ponto que se tornou incorrigível. Em outras palavras, não tem jeito.

Uma das razões que levou o coração humano a chegar a tal estado é explicado por Salomão:
“Visto que não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto à prática do mal.”Eclesiastes 8:11
Deus não admite impunidade. Sua justiça requer que todo erro seja devidamente tratado. Porém, a aplicação de Sua disciplina sempre visa o bem e a restauração de quem errou. Entretanto, às vezes, tal disciplina parece tardar-se. E a razão desse retardamento proposital está explícita nas Escrituras: “Ele é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe.3:9). É a Sua misericórdia que suspende temporariamente o juízo, dando-nos tempo para que nos arrependamos (Ap.2:21). Mas o homem, em seu estado pecaminoso, entende isso como uma licença para pecar. Por isso, seu coração fica inteiramente disposto à prática do mal. Ele não percebe que a justiça de Deus tarda, porém não falha (Na.1:3).

Podemos crer em nossa própria avaliação?

Dado o estado lastimável do coração humano, como acreditar em sua capacidade de avaliação? Seríamos aptos a julgar com isenção? De acordo com o sábio Salomão, “o que confia no seu próprio coração é insensato” (Pv. 28:26a). Quando julgamos os outros, geralmente somos severos em nossos critérios de avaliação. Mas quando julgamos a nós mesmos, somos sempre condescendentes. Como bem disse Salomão,“todos os caminhos do homem são inocentes aos seus olhos, mas o Senhor pesa os motivos” (Pv. 16:2). Há, portanto, uma instância que só Deus pode julgar: nossas motivações.

Deus não Se deixa impressionar por nossas atitudes. Ele avalia aquilo que as motivou. É possível fazer a coisa certa, mas pelos motivos errados. Aos olhos dos homens, parecemos santos e irrepreensíveis, porém, aos olhos de Deus estamos deixando a desejar.

Quando olhamos para dentro de nós, deparamo-nos com motivações inconfessáveis. E para tranquilizarmos nossa consciência, sempre buscamos justificativas. Em vez de buscar reconciliar-nos com Deus, buscamos nos reconciliar com o travesseiro.

Nossa avaliação só é válida quando concorda com a avaliação do próprio Deus. Não temos o direito de nos opor aos critérios apresentados na Sua Palavra. Se esta disser que algo é mal, não há o que se discutir. Vale aqui a admoestação de Isaías:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal, que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade, que põem o amargo por doce, e o doce por amargo.”Isaías 5:20
Entre confiar em meu próprio paladar e confiar no que Deus diz, prefiro confiar cegamente em Sua Palavra. Meus sentidos não são inteiramente confiáveis. Devemos viver por fé, e não por vista. E viver por fé nada mais é do que submeter-se inteiramente à avaliação de Deus.

Achamos que somos profundos conhecedores de nós mesmos. Além de nossa típica condescendência, somos muito superficiais. Temos medo de nos aprofundar. Alguns dos nossos erros são patentes, porém outros nos são ocultos.
“Quem pode entender os próprios erros? Purifica-me dos que me são ocultos.”Salmos 19:12
Para sermos restaurados temos que trilhar o caminho do arrependimento e da confissão. Arrepender-se é concordar com a avaliação de Deus, sem tentar justificar-se. Confessar é expor a ferida para que seja tratada. Mas como podemos nos arrepender e confessar aquilo que nos é oculto? Seria como se automedicar, sem saber de que enfermidade está acometido. Temos que passar por exames médicos, que vão diagnosticar com precisão a doença que precisa ser tratada. Sabendo disso, Davi orava ao Senhor: “Sonda-me, ó Deus...” (Sl. 139:23). Não é Ele que necessita nos sondar pra ver quem realmente somos. Esta sondagem visa nos fazer conhecer as facetas ocultas do nosso ser. Ele nos sonda para nos revelar o que está encoberto, e assim, nos possibilitar o arrependimento.
“Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como animais.”Eclesiastes 3:18

“A luz que a tudo manifesta”é acesa nos recônditos mais escuros do ser, possibilitando-nos enxergar toda a poeira acumulada na mobília da nossa alma (Ef.5:13). Ora, ninguém pode fazer uma faxina na casa com as luzes apagadas.


Como Deus sonda o nosso coração?

A análise química de uma substância é feita a partir da reação que ela tem a um determinado elemento. Por exemplo: a água e o álcool têm aparência semelhante… Mas cada um reage de maneira diferente ao fogo.

Deus se utiliza de vários elementos reagentes para nos provar. Nossa reação vai revelar o que há em nosso coração.

Um dos elementos usados por Deus para nos provar é a humilhação. Foi assim com o povo hebreu durante sua marcha de quarenta anos pelo deserto do Sinai. Confira o que disse o Senhor:
“Guarda-te de não te esqueceres do Senhor teu Deus, não cumprindo os seus mandamentos, os seus juízos e os seus estatutos que hoje te ordeno, para não suceder que, depois de teres comido e estares farto, de teres edificado boas casas e habitado nelas, e depois de se multiplicarem as tuas vacas e as tuas ovelhas, e aumentar a prata e o ouro e tudo quanto tens, se ensoberbeça o teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes abrasadoras, de escorpiões, de terra árida e sem água onde fez jorrar para ti água da pedra dos rochedos, que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram, a fim de te HUMILHAR e PROVAR, e afinal te fazer bem. Não digas no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me proporcionaram esta riqueza.”Deuteronômio 8:14-17
Não se trata de sadismo! O propósito de Deus sempre é de nos fazer bem. “Humilhar” aqui não é pisar, mas ensinar a ser dependente. Tal humilhação visa nos precaver da soberba resultante de um espírito autossuficiente.

Outro elemento usado por Deus é a repreensão.

A razão pela qual Deus nos repreende é o Seu profundo amor por nós. É por se importar com o nosso bem, que Deus nos chama a atenção: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua repreensão, porque o Senhor corrige aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem” (Pv. 3:11-12).

O sábio e o tolo agem de maneiras distintas quando repreendidos:
“O que ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que odeia a repreensão é estúpido.”Provérbios 12:1
Há duas maneiras de o tolo reagir à repreensão: ou ele se enoja, sentindo-se ofendido, ou fica indiferente. Às vezes a indiferença é pior do que sentir-se ofendido. O indiferente ouve, mas não escuta. A repreensão fica como água empoçada no asfalto. Mas o sábio reage diferentemente:
“Mais profundamente entra a repreensão no prudente, do que cem açoites no tolo.”Provérbios 17:10
A tabela periódica de Deus está cheia de elementos com os quais Ele testa o coração humano: elogios, críticas, autoridade, prosperidade, adversidades, etc.


Como reagimos, por exemplo, a um elogio? E quando somos severamente criticados? E ainda: quando nos é delegada autoridade? Dizem que o poder é capaz de mudar os homens. Discordo! O poder não muda ninguém. Apenas revela o caráter antes disfarçado de virtudes.

Controle das variáveis

Deus sabe até onde podemos suportar e tem o controle de todas as variáveis. Dependendo das circunstâncias, a substância pode reagir ao elemento de maneira diferente.

Se Jesus não estivesse em jejum por quarenta dias no deserto, a tentação de transformar pedras em pães não faria qualquer sentido. Imagina se Ele houvesse saído de uma churrascaria gaúcha... Seria mais sugestível transformar pedras em sobremesa.

Jesus foi tentado ao extremo. Todos os seus limites foram postos à prova. E não pense que sua boca não se encheu de saliva quando ouviu a sugestão do Maligno. Embora não seja Deus o autor da tentação, Ele tem o controle de todas as variáveis. Deus prova, mas não tenta.

Observe o que Tiago diz sobre isso:
“Bem-aventurado o homem que suporta a provação, porque depois de ter passado na prova, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam. Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.”Tiago 1:12-14
O diabo entra de coadjuvante, ou se preferir, assistente de palco, responsável por compor o cenário. O ator principal é aquele que é tentado. Deus é quem permite a tentação, para que sejamos provados, e assim, saibamos o estado de nosso coração. Não façamos do diabo nosso bode expiatório!

Por ter o controle de tudo, Deus jamais permite que sejamos tentados além de nossa capacidade de resistência.
“Não veio sobre vós tentação, senão humana. E fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.”1 Coríntios 10:13
Somos tentados como humanos, não como deuses. Através da tentação, ficamos cientes de nossos pontos fracos. E assim, além de nos arrependermos quando caímos, passamos a redobrar a vigilância nas áreas onde somos mais vulneráveis. Temos que agir como “gatos escaldados”.


Reconhecendo os limites

Ora, se agora sei onde sou mais fraco e vulnerável, devo me precaver, evitando ao máximo me expor a situações melindrosas. Quem reconhece suas limitações, não vai querer correr riscos desnecessários. O penúltimo capítulo de Provérbios nos adverte para isso:
“Duas coisas te peço, ó Senhor; não as negues a mim, antes que eu morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha furtar, e profane o nome de Deus.”Provérbios 30:7-9
Eis um homem que não confiava em seu próprio coração. Agur, autor dessas palavras, sabia que não estava pronto nem para a riqueza, nem para a pobreza. Ele preferia não correr riscos. Não se trata de covardia, mas de prudência.

Confiemos mais no Espírito da Graça e menos na força dos nossos braços e em nossa força de vontade. E que sejamos continuamente motivo de glória para o nosso Pai Celestial.

O controverso Dom de Línguas - Hermes C. Fernandes

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Espero que ajude a elucidar esta tão controversa questão.

Os Direitos Humanos e a Bíblia - Hermes C. Fernandes

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Porque todo cristão deveria ser um ativista pelos direitos humanos. Assista e compartilhe.

PIRATARIA: Quem nunca baixou um arquivo que atire a primeira pedra!

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Por Hermes C. Fernandes

As siglas S.O.P.A e P.I.P.A. têm dado muito o que falar entre os internautas brasileiros nos últimos dias. Apesar de tratar-se de projetos leis americanos, sabemos que geralmente o que se faz por lá, acaba afetando o resto do mundo. 

O Stop Online Piracy Act (SOPA, da sigla em inglês) propõe significativas alterações na forma de combate a pirataria no ambiente da internet. O projeto de lei permitiria ao Departamento de Justiça dos EUA investigar, perseguir e desconectar qualquer pessoa ou empresa acusada de disponibilizar na rede sem permissão material sujeito a direitos autorais dentro e fora do país afetando inclusive empresas brasileiras. A lei também obrigaria aos sites de busca, provedores de domínios e empresas de publicidade americanas a bloquear os serviços de qualquer site que esteja sob investigação do Departamento de Justiça por ter publicado material violando os direitos de propriedade intelectual.

Já o PIPA (Protect Intellectual Property Act), propõem penas de até cinco anos de cadeia para pessoas condenadas por compartilhar material pirateado 10 ou mais vezes ao longo de seis meses. Suas propostas também preveem punições para sites acusados de “permitir ou facilitar” a pirataria. Em tese, um site pode ser fechado apenas por manter laços com algum outro site suspeito de pirataria.

Não deve demorar muito para que o congresso brasileiro siga os mesmos passos do americano, tentar impor aos nossos internautas uma espécie de censura, semelhante à aplicada na China, Irã e Síria. A diferença está na justificativa usada: impedir a pirataria on-line. Ou seja: combater práticas sociais historicamente usadas pelas pessoas para acessar a qualquer obra cultural, como intercambiar, compartilhar, emprestar, etc., mesmo antes que a internet fosse inventada.

Em Janeiro de 2012, o governo dos Estados Unidos fechou o site de compartilhamento de arquivos MegaUpload, acusando o serviço de facilitar a troca de conteúdo protegido por direitos autorais e prendendo seus fundadores e funcionários por incentivar a pirataria.

Em represália ao fechamento do serviço, e também como forma de protesto ao SOPA e ao PIPA, o grupo hacker conhecido como Anonymous promoveu a sua maior ação. Em poucas horas, conseguiram derrubar os sites da RIAA (Record Industry Association of America), da MPAA (Motion Picture Association of America), da Universal Music (responsável pela acusação de pirataria do Megaupload), do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, do US Copyright Office, da Warner Music Group e até mesmo o do FBI. 

Com a retirada do Megaupload, milhões de pessoas que usavam o site para armazenar seus arquivos foram prejudicadas. Eu mesmo fui prejudicado, pois mantinha mais de uma centena de arquivos em vídeos de mensagens pregadas em congressos, convenções e outros eventos.

Na mesma semana, a Wikipédia saiu do ar, cumprindo a promessa feita no dia anterior, quando anunciou um “apagão” de 24 horas para protestar contra as leis antipirataria que tramitam no Congresso dos Estados Unidos.

O texto na capa do site diz o seguinte:

Imagine um mundo sem conhecimento livre. Por mais de uma década, gastamos milhões de horas construindo a maior enciclopédia da história da humanidade. Neste momento, o Congresso dos Estados Unidos está debatendo uma legislação que poderia prejudicar fatalmente a internet livre e aberta. Por 24 horas, para chamar a atenção sobre o assunto, estamos realizando um apagão na Wikipédia.

A própria Casa Branca criticou os projetos de leis. Durante o último fim de semana, três especialistas em tecnologia da administração Obama divulgaram um comunicado em que reconhecem a necessidade de controlar a pirataria online, mas criticaram o SOPA e o PIPA. 

Espero, sinceramente, que esta pipa não decole, e que caia logo uma mosca nesta sopa, tornando-o intragável. E isso deve acontecer logo, logo, por conta do forte lobby patrocinado pelas empresas do Vale do Silício.

Enquanto isso, cá pelas terras tupiniquins, gravadoras seculares de peso contratam cantores evangélicos, por acreditarem que o filão por eles representado constituiria numa espécie de reservatório moral, que abominaria qualquer tipo de pirataria. Do outro lado, gravadoras, emissoras e cantores deste seguimento fazem campanhas abertas afirmando que pirataria não é apenas crime, mas também pecado. O que no meio secular é tratado mercadologicamente, no meio evangélico recebe um peso moral e espiritual. Alguns chegam a dizer em debates radiofônicos que quem compra material pirateado não vai pro céu. Desta maneira, os artistas gospel estão se impondo no mercado fonográfico como campeões de venda. É claro que isso não passaria despercebido pela indústria do entretenimento. 

Apesar de ser um problema característico do nosso tempo, haveria alguma instrução bíblica que poderia ser aplicada?

Se piratear é apropriar-se indevidamente de uma propriedade intelectual, logo é roubo, prática vastamente condenada pelas Escrituras. Mas será tão simples assim, preto no branco? Não haveria uma área meio cinzenta?

Se os textos escritos pelos apóstolos e profetas não fossem extensivamente copiados, teriam chegado até nós? E será que os copistas tiveram que pagar direitos autorais? Quanto deveria custar uma cópia autêntica de uma epístola paulina no mercado negro?

A sociedade para a qual os princípios éticos das Escrituras foram propostos inicialmente era economicamente agrícola. Por muitos séculos a base de sua sobrevivência foi a coleta. Tudo o que fosse encontrado no caminho podia ser adquirido com um simples estender das mãos.  Ainda hoje, ninguém tem uma crise moral por ter catado uma manga encontrada na calçada. Ninguém vai se dar o trabalho de tocar a campainha do vizinho, importunando-o para devolver-lhe a goiaba que caiu do pé cuja raiz está em seu quintal, mas cujos ramos se estendem na direção da rua. Não se trata de desonestidade, mas de uma convenção social implícita, um trato silencioso entre os humanos.

Porém, quando a Lei de Deus foi outorgada, a sociedade humana estava na transição entre a coleta e o cultivo sistemático (agricultura). Mesmo defendendo o direito à propriedade privada, a Lei faz certa concessão à velha e ingênua prática da coleta. Talvez tal precedente lance alguma luz sobre a questão da pirataria na internet. Afinal,  cultura (que é o que a internet pretende divulgar) é uma expressão agrícola.

Lei para quem compartilha

“Quando entrares na vinha do teu próximo, comerás uvas conforme ao teu desejo até te fartares, porém não as porás no teu cesto. Quando entrares na seara do teu próximo, com a tua mão arrancarás as espigas; porém não porás a foice na seara do teu próximo.” Deuteronômio 23:24-25

Qualquer transeunte que atravessasse uma plantação poderia coletar o produto para consumi-lo de imediato, mas não para armazená-lo, o que indicaria a intenção de comercializá-lo mais tarde. E não havia limites. Poderia comer até se fartar. Usufruir, sim, mas não lucrar em cima disso. Poderia colher as espigas com as mãos, mas não com a foice.

Trazendo este princípio para o espaço cibernético, poderíamos dizer que é lícito usufruir de tudo o que estiver acessível na rede, desde que para isso, bastasse o click no mouse, jamais tendo que usar mecanismo de quebra de segurança, geralmente usado por hackers. Mãos, sim. Foice, não. Está disponível? Tudo bem. É lícito (ainda que não convenha…). Mas se está protegido, deve ser respeitado. O que não se pode é acessar, copiar, e depois, obter lucro com a venda do material. Isso seria desonesto.

Lei para quem produz

Quando também fizerdes a colheita da vossa terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua sega. Semelhantemente não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR vosso Deus.” Levítico 19:9-10

Quem produz informação (propriedade intelectual, cultura) deve permitir que pelo menos parte dela fique acessível àqueles que não dispõem de recursos. Mas infelizmente não é isso que acontece. A ganância não nos permite compartilhar sem visar algum ganho. O segredo de sites como o Wikipédia é justamente disponibilizar informações gratuitamente. O lucro vem da publicidade, e não do conteúdo. Muitos outros sites, inclusive de jornais, revistas e TV, têm seguido o mesmo caminho. O Youtube, o google, e as redes sociais são um exemplo disso. Alguns, como o Megaupload, oferecem contas premium pagas para seus usuários, onde é possível baixar ou dar upload em arquivos com maior rapidez. Mas quem não pode pagar, não fica impedido de desfrutar de seus serviços.


Quando no teu campo colheres a tua colheita, e esqueceres um molho no campo, não tornarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás para colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não voltarás para rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão, e para a viúva será.”
"Deuteronômio 24:19-21

Ah se aqueles que detêm e controlam os meios de produção e distribuição pensassem e agissem assim! Em vez disso, eles não abrem mão de nada. A avareza é a sua bandeira. A ordem do dia é otimizar os lucros e minimizar as perdas. Se Deus condena a pirataria (digo aquela descarada, em que as pessoas se apropriam indevidamente de material intelectual para obter lucro), Ele igualmente condena a avareza de quem impede que os menos favorecidos tenham acesso à produção cultural.

Temos o direito de proteger o que produzimos. Porém, quando houver algum descuido, e algo do que produzimos ficar vulnerável, vazar na rede, devemos entender que isso pode ter sido permitido por Deus para benefícios de outros. O que para nós foi acidental, para outros será providencial. 


O que precisamos é de uma mudança de paradigma. Não dá pra viver com uma mentalidade retrógrada em pleno século da informação. Deixe-me compartilhar um trecho extraído do livro "Reiventando o capital/dinheiro" de Rose Marie Muraro (Idéias e Letras 2012) que li recentemente no blog de Leonardo Boff e creio que possa enriquecer nossa reflexão:

Na Pré-História predominava o ganha/ganha. Vigorava o escambo, isto é, a troca de produtos. Reinava grande solidariedade entre todos. No Período Agrário entrou o dinheiro/moeda. Os donos de terras produziam mais, vendiam o excedente. O dinheiro ganho era emprestado a juros. Com os juros entrou o ganha/perde. Foi uma bacilo que contaminou todas as transações econômicas posteriores. No Período Industrial esta lógica se radicalizou pois o capital assumiu a hegemonia e estabeleceu os preços e as taxas dos juros compostos. Como o capital está em poucas mãos, cresceu o perde/ganha. Para que alguns poucos ganhem, muitos devem perder. Com a globalização, o capital ocupou todos os espaços. No afã de acumular mais ainda, está devastando a natureza e aumentando o fosso ricos/pobres. Agora vigora o perde/perde, pois tanto o dono do capital como a natureza saem prejudicados. No Período da Informação criou-se a chance de um ganha/ganha, pois a natureza da informação especialmente da Internet é possibilitar que todos se relacionem com todos.
Queira Deus que o espaço cibernético não perca tal característica, proporcionando à sociedade humana a oportunidade de vivenciar o paradigma ganha/ganha. Afinal, ninguém precisa perder para que outros ganhem. E na partilha de informação e cultura, todos somos beneficiados. 


Minha intenção com este texto não é oferecer uma resposta final ao problema, que é bem mais complexo do que possamos averiguar aqui,  mas tão somente instigar uma reflexão mais ampla e profunda da questão e de suas implicações. Sei que meu posicionamento pode parecer um tanto quanto heterodoxo, ainda que, a meu juízo, respaldado nas Escrituras, mas deixando de lado a hipocrisia... quem nunca baixou um arquivo que atire a primeira pedra!






Publicado originalmente em 24/01/2012

Teorias de Conspiração - A verdade nua e crua

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