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Sucesso, propósito e a pergunta que ninguém ousa responder

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Por Hermes C. Fernandes

Nada pior do que fazer algo contra a vontade. A coisa não flui como deveria. E, geralmente, os resultados são um fiasco. Mas, por incrível que pareça, não foi assim com Jonas. Ele ainda cheirava a vômito de peixe, quando entrou em Nínive, a capital do império assírio, anunciando que em quarenta dias a cidade cairia caso não se arrependesse de suas injustiças.  Sua má vontade era tão nítida que duvido que não falasse por entre os dentes para dificultar ainda mais o entendimento da mensagem. 

Imagine a cena: um andarilho fedorento, com um sotaque exótico, gritando feito um doido. É claro que não se poderia esperar qualquer resultado positivo.  Tinha tudo para dar errado. Mas deu certo. Isso mesmo. Funcionou. A população inteira parou para ouvir o que aquele profeta louco anunciava. Até o rei se converteu e ainda baixou um decreto de que todos deveriam igualmente se converter e expressar isso através do jejum. Nem as crianças e os animais foram poupados disso.

Não há precedentes históricos para o que ocorreu em Nínive. Nenhum outro profeta obteve êxito semelhante, nem mesmo em Israel. Nem Elias que fizera descer fogo do céu tantas vezes foi capaz de levar seu próprio povo ao arrependimento da maneira como Jonas em Nínive. Já se cogitou que o seu retumbante sucesso se deveu justamente ao fato de ter sido vomitado por um grande peixe, pois o deus venerado pelos ninivitas era Dagom que tinha o formado de um peixe. Nem precisava que alguém o houvesse flagrado quando fora expelido; o odor que exalava revelava sua procedência. Especulação à parte, o fato é que Jonas tinha muito o que comemorar.

Surpreendentemente, sua reação foi oposta à esperada. Ele mergulhou num processo de depressão profunda. Chegou ao ponto de pedir a morte a Deus.
- Eu sabia que o Senhor tinha coração mole! Como fica agora a minha reputação? Eu disse que o Senhor destruiria a cidade. E o que o Senhor faz? Converte o coração desta gente nojenta. Quer saber? Por isso que quando me enviou para cá, eu fugi para Társis.
Calma aí... Não foi ele que clamou por misericórdia de dentro do ventre do grande peixe? Ele não disse que estava arrependido? Que estória é esta agora? Então, aquele arrependimento foi fajuto?

Tenho a impressão de que muita gente precisa se arrepender de seus arrependimentos fajutos. A pessoa chora, confessa seus erros, pede perdão, mas no fundo, fica esperando a oportunidade para reverter o jogo e alegar que tinha mesmo razão. Ao clamar a Deus, Jonas só queria salvar sua pele. Não estava nem um pouco preocupado com o destino daquele povo, nem com o cumprimento de sua missão. Bem diferente de Paulo que declarou não ter sua vida por preciosa, contanto que cumprisse o ministério que lhe fora confiado.

Como pôde obter tamanho sucesso com um coração tão egoísta?

A Palavra tem vida em si mesma! Por isso, independe da condição do portador. Em Isaías lemos que a Palavra de Deus não volta vazia, mas faz aquilo para o qual é enviada. Mesmo que alguns a preguem com motivações nada louváveis, como bem advertiu Paulo, ela segue produzindo transformação por onde quer que seja anunciada. Se a anunciamos de boa vontade, diz o apóstolo, temos recompensa. Se não, apenas cumprimos nossa obrigação.

Quão complexo e imprevisível é o ser humano. Como explicar a inusitada reação de Jonas ao êxito obtido em Nínive? Ele chega a acampar próximo dos muros da cidade, esperando que Deus reconsiderasse a decisão e a destruísse.

De repente, brota do chão uma aboboreira diferente de tudo o que Jonas já havia visto. Em vez de rasteira, aquele pé de abóbora cresce verticalmente para proporcionar sombra para o profeta.  Como o sol estava de rachar, era de se esperar que ao menos fosse grato a Deus pela provisão. Mas ele estava com a mente ocupada demais para demonstrar gratidão. Tudo o que queria era assistir de camarote à destruição dos ninivitas.

Na manhã seguinte, enquanto ainda dormia protegido pela sombra da aboboreira, Deus enviou um bicho para devorá-la.  Quando o sol bateu em sua fronte, Jonas acordou praguejando tudo o que via à sua volta e mais uma vez fez uma oração suicida.

Deus, então, dirige-se ao profeta reclamão e diz:
- Jonas, você acha mesmo que deveria se lamentar pela aboboreira que você não plantou, que nasceu num dia e morreu no outro, enquanto eu não deveria me compadecer de milhares de ninivitas que mal sabem distinguir entre uma mão e outra?
Xeque-mate.

E assim termina o livro de Jonas, com uma pergunta que calou o profeta.

Quantas vezes Deus terá que permitir que soframos algum prejuízo material para que percebamos o que realmente tem valor em nossa vida? Até quando daremos mais valor às coisas do que às pessoas, à nossa própria vida do que à missão que nos foi confiada? 

O que confere sentido à existência não é o êxito material, mas o sucesso no cumprimento do propósito. Tudo que, por ventura, amealharmos, poderá se perder de uma hora para outra. Não temos controle sobre isso. O que hoje é novinho em folha, amanhã será descartado. Mas o cumprimento de um propósito fica registrado nos anais celestiais. Como diz em Apocalipse, nossas obras nos acompanharão.

Peço ao Senhor que nos cale, não com suas respostas, mas com perguntas que não ousemos responder. Perguntas que jamais se calarão. 


* Para melhor compreensão desta reflexão, sugiro a leitura da reflexão anterior.

A controvertida prática do jejum

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Por Hermes C. Fernandes

A palavra chave do cristianismo é “comunhão” (grego: koinonia). O pecado causou uma ruptura entre o Criador e a criatura. Mas o amor divino exigiu que esta comunhão fosse reatada, sem que a Sua justiça fosse abrandada. Através do sacrifício de Jesus, o pecado humano foi devidamente castigado, e o acesso do homem a Deus foi finalmente restaurado, possibilitando assim a comunhão entre eles. Esta comunhão, porém, deve ser vertical e horizontal.

A propósito, o que é comunhão? O termo grego koinonia significa “compartilhar o que se tem”. Deus Se dispõe a compartilhar o que possui com o homem, inclusive a Sua própria Vida, e deseja que o homem compartilhe tudo o que possui com o seu próximo. “O que vimos e ouvimos” escreve João, “isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo (...) se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros” (1 Jo.1:3,7).

Eis a diferença entre as religiões humanas, e a proposta do evangelho. Enquanto a palavra chave do evangelho é comunhão, a palavra chave de boa parte das tradições religiosas é privação.  Desde o hinduísmo, passando pelo islamismo, o budismo, até o catolicismo, atribui-se valor especial à privação espontânea de bens materiais. Faz-se voto de pobreza, pratica-se abstinência de alimentos, e em alguns casos, estimula-se o autoflagelo, como se o sofrimento auto-impingido tivesse algum valor expiatório.  À luz das Escrituras Sagradas, não há qualquer valor intrínseco na abstinência do que quer que seja. Deixar de comer, de possuir bens no mundo, de casar, ou coisa parecida, não acrescenta nada em nossa comunhão com Deus. Aliás, o apóstolo Paulo se refere a isso como “doutrinas de demônios”. Paulo denuncia tal prática, atribuindo sua inspiração a espíritos enganadores, que se aproveitam da “hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; pois tudo que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças”(1 Tm.4:2-4).

Enquanto a religião valoriza o ascetismo, a privação, o evangelho valoriza a partilha, a comunhão. A virtude não está em privar-se de um bem, e sim o abrir mão de parte dele em favor do próximo. Tomemos por exemplo o jejum. A maioria das religiões do mundo o adota como parte dos seus ritos. Para uns, trata-se de um método que tem como finalidade promover o sacrifício dos apetites carnais, enfraquecendo assim a natureza pecaminosa residente no ser humano. Para outros, como os judeus, a prática do jejum está relacionada ao luto. Além desses conceitos clássicos, há também uma ideia que predomina nos círculos evangélicos de hoje. Para muitos cristãos sinceros, o jejum não passaria de um meio de chamar a atenção de Deus para as suas necessidades, sensibilizando-O e pressionando-O a satisfazê-las. 

Não queremos aqui questionar a prática do jejum em si, e sim as motivações pelas quais muitos o têm praticado. Veremos um pouco adiante, que há boas motivações pelas quais o cristão pode jejuar. Infelizmente, transformaram o jejum em moeda corrente no Reino de Deus. Se alguém deseja alcançar alguma dádiva, basta ficar algumas horas sem comer, e Deus será obrigado a atendê-lo. Isso é um absurdo! Isso está mais para greve de fome! Somando a isso o fato das pessoas reivindicarem seus direitos perante Deus, parece-nos que estão mantendo uma espécie de relação sindical com o Criador. Desta maneira, Ele passa a ser visto como patrão em vez de Pai, e nós, como empregados sindicalizados em vez de filhos.

A questão que desejamos levantar é: De que adianta jejuarmos, ou praticarmos qualquer outro rito religioso, se não atentarmos para as necessidades e os direitos dos nossos semelhantes? O jejum que Deus prescreve é “que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo jugo”, e mais: “que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados”, e ainda: “vendo o nu, o cubras, e não te escondas do teu próximo” (Is.58:6-7). É este o jejum que temos praticado? À luz deste texto, aquilo que os crentes têm praticado hoje em dia não tem nada a ver com o jejum prescrito por Deus em Sua Palavra.

O que Deus espera não é que a pessoa se prive de alimento por algumas horas, sabendo que o mesmo alimento está guardado na geladeira ou na dispensa para ser consumido depois do tempo predeterminado. Em vez de privar-nos por algumas horas (geralmente, da hora em que acordamos ao meio-dia) do nosso pão, que tal se o repartíssemos com o que nada tem para comer?  Não estaríamos nos privando de todo o pão por um pouco de tempo, e sim, de parte dele para sempre em favor de quem está faminto.

Quando Cristo vier julgar o mundo, Ele vai perguntar o que fizemos com o nosso pão. Ele quer saber se o guardamos para consumi-lo um pouco mais tarde, ou se o repartimos com o faminto. “Tive fome, e não me deste o que comer” dirá Jesus. “Apartai-vos de mim!” será a sentença (Mt.25:41-42). 

O melhor jejum é o da partilha, e não o da privação momentânea por interesses particulares. Quando nos propomos a partilhar o pão, não somente o material, mas, sobretudo o espiritual, que é o Evangelho, a sua luz começa a romper e a dissipar as trevas. Confira se não é esta a promessa contida em Isaías 58:

"Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá: gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente, e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita, então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia”. Isaías 58:8-10.
 O alvorecer do Dia do Senhor está chegando!  Deus está despertando o Seu povo em todo o mundo para a prática da verdadeira religião (Tg.1:27) e do jejum da partilha! Nossa luz vai se romper, e a nova aurora vai surgir, quando tirarmos do meio de nós o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente. Creio que o jugo que precisa ser tirado do meio de nós é o jugo dos homens, das tradições legalistas, das doutrinas e preceitos humanos. Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade (2 Co.3:17)!  Ninguém aguenta mais tanto jugo!  “Não pode isto, não pode aquilo outro...” Paulo nos aconselha a termos cuidado, para que ninguém nos faça presa sua, usando de sutilezas, de acordo com a tradição dos homens. Se estamos mortos com Cristo, arrazoa Paulo, então, por que temos de nos sujeitar a ordenanças do tipo: não toques, não proves, não manuseies? De acordo com o apóstolo, tais regras até possuem a aparência de sabedoria, de culto voluntário, mas não passa de humildade fingida, e “não tem valor algum contra a satisfação da carne” (Col.2:8,20-23).

Além de nos livrarmos de todo jugo, precisamos abrir nossa alma ao faminto. Enquanto o mundo ao redor está faminto do Pão da Vida, nós o temos armazenado em grande quantidade. Isso é a maior prova de nosso egoísmo. Os crentes precisam aprender a compartilhar do Pão da Vida com aqueles que nada têm.

Jesus só multiplicou os pães quando alguém se prontificou a compartilhar o seu próprio pão. Se ninguém se dispusesse a partilhar seu pão, o milagre da multiplicação não aconteceria. Afinal, zero vezes zero é zero. Talvez isso explique a escassez de revelação da Palavra de Deus que predomina nos círculos cristãos de hoje em dia. O conhecimento só se multiplica, quando nos dispomos a compartilhá-lo com os que estão famintos da Palavra de Deus. Aí, sim, a revelação flui. É sobre isso que o livro de Daniel fala em seu último capítulo. Ali se diz que “os que forem sábios RESPLANDECERÃO como o fulgor do firmamento, e os que a muitos ENSINAM a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente (...) Muitos CORRERÃO de uma parte para outra, e o CONHECIMENTO SE MULTIPLICARÁ” (Dn.12:3,4b). Repare bem na ordem: A Igreja vai trazer o resplendor do Novo Dia, quando ela se dispuser a ENSINAR a justiça. E Deus tem pressa! Cabe a Igreja correr de uma parte para outra, a fim de que o conhecimento se multiplique. Eis o segredo: O que recebemos do Senhor será multiplicado na medida em que o compartilharmos com o maior número de pessoas.

Vai ser dessa maneira que vai se cumprir a profecia de Habacuque que diz: “Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (2:14). Mas para que isso aconteça, a ordem de Deus a Habacuque era que a visão fosse escrita de forma bem legível, para que aquele que a lesse, corresse com ela (v.2). Não há tempo a perder!  Nosso pão precisa ser partilhado com quem está faminto. Precisamos correr! Pregar a tempo e fora de tempo (2 Tm.4:2). Vale aqui a famosa frase do sociólogo Betinho: Quem tem fome tem pressa.

Quando Neemias e Esdras reuniram o povo de Jerusalém para a leitura da Lei, todos começaram a chorar e a lamentar, convencidos do fato de que haviam sido cativos por setenta anos, devido aos seus pecados. Foi realmente uma grande demonstração de arrependimento. Mas diante daquele quadro, Neemias, Esdras e os levitas disseram ao povo penitente: “Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus, pelo que não vos lamenteis, nem choreis. Pois todo povo chorava, ouvindo as palavras da lei. Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e ENVIAI PORÇÕES AOS QUE NÃO TEM NADA PREPARADO PARA SI. Este dia é consagrado ao nosso Senhor. Não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força (...) Então todo o povo se foi a comer, a beber, a enviar porções e a celebrar com grande alegria, porque AGORA entendiam as palavras que lhes foram comunicadas” (Ne.8:9b-10,12).

Um povo triste, faminto, não pode expressar a alegria do Senhor. Aquela gente havia trabalhado na restauração de Jerusalém, e agora, após tê-la concluída, estava deprimida diante das palavras da Lei. De fato, eles ainda não compreendiam o que lhes estava sendo comunicado.  Aquele era um dia consagrado ao Senhor, razão suficiente para que eles não se entregassem à tristeza. Aquele dia era apenas uma figura do Dia do Senhor no qual vivemos hoje. É neste santo dia, iniciado na manhã da ressurreição, que adentramos o Reino de Deus, e encontramos o nosso Sabath. Lembremo-nos de que o Reino de Deus é alegria!  Sem alegria, sem entusiasmo, ninguém pode mover uma palha. Se almejamos cooperar com Deus na reconstrução deste mundo, precisamos aprender o sentido da alegria.

Em vez de privar-se de comida, a ordem do dia era enviar porções aos que nada tinham para si. Este é o espírito do jejum da partilha!  Em vez de privar-me do todo, por algum tempo, privo-me de uma parte, a fim de que outro tenha o que comer também. Era este o espírito que imperava na igreja primitiva. Lucas testifica disso em Atos. Ele diz que os crentes primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (...) Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e PARTINDO O PÃO em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (At.2:42,44-46). “Isso é utopia!”, alguém pode objetar. Mas se foi possível nos dias de Neemias, e nos dias da igreja primitiva, por quê não, hoje? Este é o caminho da restauração. Será deste modo, e não de outro, que vamos trazer o alvorecer do novo aión. Porém, isso não pode ser feito através de coação. Lucas diz que isso acontecia na igreja primitiva porque “era um o coração e alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns (...) em todos eles havia abundante graça” (At.4:32,33b). Não se tratava de ascetismo, mas de comunhão.

Tal disposição só era possível, porque “havia abundante graça”. Somente a Graça pode produzir em nós essa disposição. A Graça nos faz uma unidade em Cristo Jesus. Jamais o Evangelho sugeriu que o cristão deveria viver como um asceta. Quando Cristo confrontou o jovem rico que se ufanava de cumprir toda a Lei, não ordenou que ele lançasse sua fortuna no fundo do mar, mas que a dividisse com os pobres. De acordo com o Evangelho, os ricos deste mundo têm um papel social fundamental a cumprir no Reino de Deus. Em vez de abrir mão de sua riqueza, e tornar-se um eremita, o rico deve dispor-se a usar de sua riqueza em benefício daqueles que nada possuem. Paulo escreve a Timóteo: “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm.6:17-18). Isto é comunhão e não abstinência. Este é o espírito da verdadeira religião.

Temos que estar dispostos a partilhar tanto os bens espirituais, quanto os materiais (1 Co.9:11). Tiago encarou este problema com muita propriedade. Ele havia encabeçado a igreja em Jerusalém durante um período de muita carestia. Ele escreve em sua epístola: “Se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhe disser: Ide em paz; aquentai-vos e fartai-vos, mas não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?”(Tg.2:15-16). Em outras palavras: de nada adianta dizer “Deus te abençoe” se não nos oferecermos para sermos bênção para o nosso próximo. Versos como este são uma punhalada na teologia da prosperidade tão em voga em nossos dias. De acordo com os seus expoentes, quando um irmão está atravessando dificuldades financeiras, deve-se provavelmente à sua falta de fé, ou à sua infidelidade a Deus. Que paranoia!  No pensar de Tiago, a necessidade de um irmão nada mais era do que a oportunidade que a Igreja tinha de manifestar seu amor, não apenas em palavras, mas também em obras. Tiago não diz que se deveria quebrar qualquer tipo de maldição que houvesse sobre ele, ou submetê-lo a uma sessão de exorcismo, ou mesmo profetizar meia dúzia de palavras positivas sobre ele. Em vez disso, a Igreja deveria acolher e buscar suprir as suas necessidades. Tiago não era um apóstolo legalista como afirmam alguns. O que ele pregava não era uma salvação pelas obras, e sim, uma salvação pela fé, mas uma fé operante. Ele foi capaz de confrontar os ricos do seu tempo, por não estarem andando em conformidade com o Evangelho. O problema não era o fato de serem ricos, mas de não se disporem a jejuar com os que nada tinham, e ainda explorarem os trabalhadores, dando-lhes um salário indigno. Repare em sua veemência:

"Agora, vós, ricos, chorai, e pranteai, por causa das misérias que sobre vós hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram. A sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará a vossa carne como fogo. Entesourastes nos últimos dias. Vede! O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com fraude, está clamando. Os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor Todo-Poderoso”. Tiago 5:1-4.

Pessoas que agem desta maneira não ficarão impunes nas mãos do Juiz de toda a terra (Ver Lv.19:13; Dt.24:15; Jr.22:13; Ml.3:5; Cl.4:1). Não importa o valor de suas contribuições na igreja, se não se dispuserem a agir com equidade para com os seus subordinados. Talvez alguém diga que o que sugerimos é uma reforma social que comece pela Igreja, e que, por fim, abranja todos os seguimentos da sociedade. Bem, a meu ver, esta é a proposta do Evangelho. Trata-se de um Evangelho que abrange o homem em sua integralidade, corpo e alma. O Evangelho, como temos entendido, não se preocupa apenas com questões espirituais do ser humano, como por exemplo, onde ele passará a eternidade. O Evangelho compreende o homem integral, incluindo os aspectos sociais, morais, culturais, e etc. Qualquer coisa menos que isso, não deveria ser chamado de Evangelho. Quando a Igreja experimentar esta reforma integral, tirando do seu seio todo jugo, e praticando o jejum da partilha, terá chegado a aurora do Novo Aión inaugurado por Cristo na Terra. Para que isso aconteça, há que se levantar pessoas dispostas a darem a sua quota de participação rumo às mudanças que urgem. Não podemos nos aquietar, e aceitar passivamente o que temos visto em nosso meio. Infelizmente, a igreja adequou-se ao espírito do mundo. Ninguém se incomoda mais com o que está errado. Somos uma geração apática, que não ousa sonhar, e que se nega a manifestar-se contrária ao comodismo que impera nas igrejas. Precisamos experimentar a inquietação que Isaías viveu em seu tempo: “Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não me aquietarei, até que brilhe a sua retidão como a aurora, e a sua salvação como uma tocha acesa. As nações verão a tua retidão, e todos os reis a tua glória; chamar-te-ão por um nome novo, que a boca do Senhor nomeará. Serás uma coroa de glória na mão do Senhor, e um diadema real na mão do teu Deus (...) Passai, passai pelas portas! Preparai o caminho ao povo. Aplanai, aplanai a estrada! Limpai-a das pedras. Arvorai a bandeira aos povos” (Is.62:1-4,10). Quando a Igreja levantar-se como a Nação Santa, onde as relações sociais se desenvolvem com equidade, ela se tornará o paradigma para as nações da Terra. Precisamos aplanar o caminho para que as nações venham a Sião, e busquem ali a Lei do Senhor. Aplanar o caminho, tirar as pedras, expressam a necessidade que temos de avaliarmos a nossa situação enquanto Igreja de Deus. Durante o primeiro século da era cristã, a Igreja era conhecida como a seita do Caminho. As pedras que precisam ser removidas são os desajustes, as contendas, e tudo aquilo que nos faz parecer mais com o mundo do que com Cristo.
            
Mahatma Ghandi, o grande líder indiano, afirmou ser um admirador da mensagem de Cristo, porém, segundo ele, o que o decepcionava no cristianismo era a maneira como os cristãos vivem.
            
Muita gente tem dificuldade em aceitar o cristianismo por causa da maneira como os cristãos vivem. Isto é uma vergonha para nós. Nós mesmos estamos dificultando o acesso das pessoas à Cidade de Deus.
           
Lembre-se de que somos nós, a Igreja, que traremos a aurora do Novo Dia. É através de nós que Cristo será admirado pelas nações. Ele mesmo diz que somos uma Cidade edificada no Monte, e que não pode ser escondida, e assim como uma lâmpada deve ser colocada em lugar alto para que todos sejam por ela iluminados, “assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt.5:14-16). Cristo voltará quando Ele for o Desejado das Nações (Ag.2:7). Compete-nos, na força do Espírito Santo, fazer com que todos os povos da terra O desejem. E será através de nossa vida que nós O faremos desejável a todas as nações. É a Igreja, que através do seu testemunho, diz aos povos: “Ele é totalmente desejável” (Ct.5:16). Enquanto a Igreja dá testemunho de Cristo, é Ele Quem dela dá testemunho. Ele diz:

"Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, imponente como um exército com bandeiras?” Cantares 6:10.

O propósito de Deus para a Igreja é que ela seja uma bênção para todas as nações (Zc.8:13). Mas para isso, diz o Senhor, “são estas coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo, e executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas; nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ame o juramento falso. Eu aborreço a todas estas coisas, diz o Senhor (...) O jejum do quarto mês, e o jejum do quinto, e o jejum do sétimo, e o jejum do décimo mês será para a casa de Judá (a Igreja), gozo, e alegria, e festas alegres. Portanto, amai a verdade e a paz” (Zc.8:16-17,19). Neste texto profético, Deus mostra que na Nova Aliança e no Novo Aión, o jejum já não seria com saco, cinza e lamentação, e sim um jejum de alegria e grande gozo. O jejum do Novo Aión não implica em calar-se, mas em falar a verdade cada um com o seu próximo; não implica em enclausurar-se, e sim em uma vida comunitária. Em vez de cinzas, uma coroa; em vez de tristeza, óleo de alegria; em vez de espírito angustiado e pano de saco, vestes de louvor (Is.61:3)! Somente quando incorporarmos isto é que estaremos prontos a reedificar as ruínas antigas, e restaurar os lugares devastados (v.4).


No próximo post, falaremos sobre a prática do jejum no Novo Testamento. É verdade que há demônios que só saem mediante privação de alimento? Não perca e ajude-nos a divulgar.





Há demônios que só saem com jejum?

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 Por Hermes C. Fernandes

Quero deixar claro que não me oponho aos irmãos que com sinceridade jejuam enquanto dedicam algum tempo à oração. Creio ser legítima a motivação de muitos quando jejuam. Em um certo sentido, não há como orar sem que se esteja jejuando, pelo menos enquanto se ora.  Aliás, o jejum pode ser um meio pelo qual aprendemos a nos compadecer dos que nada têm para comer. Sentimos na pele, ou melhor, no estômago, o que sentem aqueles que são vítimas das injustiças sociais do nosso tempo. Além disso, o jejum também pode ser exercitado como um meio de nos auto-disciplinar. Dizer não à carne, de vez em quando, pode fazer bem à alma. O que não admitimos é que se transforme o jejum em moeda, achando que ele nos qualifica a receber algo a mais de Deus, ou que nos faz mais santos, ou mais aceitáveis a Deus.

A ideia errada que se tem sobre o jejum deve-se à crença gnóstica de que tudo o que é material é ruim em si mesmo, inclusive a comida. Portanto, se quisermos bênçãos espirituais, teremos que abster-nos do que é material por algum tempo. Tal pensamento não encontra respaldo nas Escrituras. Alguns textos do Novo Testamento são usados para tentar argumentar em favor da prática do jejum com a motivação errada. Vamos examinar alguns deles.

Marcos 9:29“Respondeu-lhes: Esta casta só pode sair por meio de oração [e jejum]”- Estes colchetes não foram colocados por mim. Qualquer Bíblia revisada e corrigida traz estes colchetes na expressão “e jejum”. E sabe por quê?  Porque tal expressão não consta dos melhores manuscritos. Os textos mais antigos já encontrados do Evangelho de Marcos não trazem a palavra “jejum” neste versículo.  O que comprova que provavelmente Jesus não tenha falado isso. Trata-se, possivelmente, de um acréscimo feito entre o segundo e o quarto século, visando respaldar algumas práticas da igreja daquele tempo. Ademais, que diferença faria para algum demônio se estivéssemos de barriga cheia ou vazia? Se admitirmos que Jesus disse que há casta de demônios que só sai a poder de jejum, estaremos dizendo que há casos em que o Nome de Jesus não funciona. E se fosse comprovado que Jesus houvesse falado isso, temos que nos lembrar que isso teria sido antes da Cruz, e que, portanto, os principados e potestades ainda não haviam sido despojados (Col.2:15). Mesmo assim, tenho dificuldade em relacionar a expulsão de demônios com o fato de estarmos ou não de barriga vazia. O Nome de Jesus é suficientemente poderoso para expulsar qualquer casta, e não precisa de qualquer tipo de acessório para tornar-se mais eficiente.  Não aceitar tal fato é desprezar e subestimar o poder de nosso Rei, e a autoridade do Seu Nome.

Alguns tentam relacionar a eficiência do jejum no combate aos demônios com a tentação sofrida por Cristo no deserto. Já ouvi de muitos pregadores que Jesus foi para o deserto para se preparar para enfrentar o Diabo. Ele teria de jejuar quarenta dias para estar suficientemente forte para enfrentar o tentador. Jesus não foi para o deserto para jejuar coisa nenhuma. O texto diz que Ele foi levado para o deserto para ser tentado (Mt.4:1). E sabe por quê Ele teve de jejuar? Não era pra ficar mais forte, e sim, pra ficar mais fraco. Isso mesmo. O texto não diz que depois de jejuar por quarenta dias Jesus ficou mais forte espiritualmente. Em vez disso, diz que “depois de jejuar por quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (v.2). Fome é sinal de fraqueza, e não de força. E sabe por quê Ele tinha de ficar fraco e com fome? Para que a tentação do Diabo fosse legítima. Se Ele não estivesse com fome, de nada adiantaria Satanás Lhe sugerir que transformasse as pedras em pães. O que nos capacita a enfrentar as tentações e os laços do Diabo não é estarmos de estômago vazio, e sim, estarmos com o coração cheio, fortalecido na graça e no conhecimento da Palavra de Cristo (Hb.13:9; Col.3;16).

Mateus 9:14-17“Então vieram os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, mas os teus discípulos não jejuam? Respondeu-lhes Jesus: Podem estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Dias, porém, virão em que o noivo lhes será tirado, e nesses dias jejuarão” - Se o jejum era tão importante assim, a ponto de ser imprescindível, então, por quê os discípulos não jejuavam?  Nesta passagem, Jesus deixa bem claro que o jejum judaico está relacionado ao luto, à tristeza. Não havia motivo algum para que os discípulos estivessem tristes. Afinal, o Noivo estava com eles. É aí que começa o problema. Alguns podem argumentar: - Tudo bem que os discípulos não jejuavam; mas agora o Noivo não está conosco. Portanto, temos que jejuar!  Este argumento é muito fraco. O Noivo não está ausente de nós. Pelo contrário, Ele está mais presente em nós, do que estava com os discípulos. Para eles, Jesus era Emanuel, isto é, “Deus conosco”; agora Ele não mais está conosco, isto é, ao nosso lado. Agora, Ele está em nós. Se isso não é verdade, então Ele não cumpriu Sua promessa, e deixou-nos órfãos (Jo.14:17-18; Mt.28:20; Col.1:27). Nas palavras do próprio Cristo, somos mais bem-aventurados do que aqueles que conviveram com Ele nos dias da Sua carne (Jo.20:29; 2 Co.5:16). Então, de quais dias Jesus falou em que os discípulos jejuariam?  Quando o Noivo lhes fosse tirado. E quando isso se sucedeu?  Quando Jesus foi crucificado, e passou três dias no ventre da terra.

Ainda nessa passagem sobre o jejum, Jesus disse: “Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho, pois semelhante remendo rompe o vestido, e faz-se maior a rotura. Nem se põe vinho novo em odres velhos. Do contrário, rompem-se os odres, entorna-se o vinho, e os odres se estragam. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam” (vs.16-17). Jesus estava respondendo a indagação dos discípulos de João Batista. O vinho novo significa o Evangelho, enquanto que os odres velhos apontam para o sistema judaico com os seus ritos religiosos, dentre os quais estava o jejum. Tentar adaptar a mensagem pura do Evangelho com os hábitos religiosos dos judeus equivaleria a costurar remendo novo em vestido velho. O cristianismo não tinha nada a ver com o judaísmo do tempo de Cristo, que, diga-se de passagem, não era o judaísmo de Moisés, mas o dos fariseus e saduceus, e que deu origem à Cabala e ao Talmude. A proposta do Evangelho era remover as cinzas, e colocar no lugar delas uma coroa. Em vez de luto, alegria. Em vez de privação, partilha. A estrutura judaica de culto não conseguiria conter o frescor da doutrina de Cristo. E foi o que realmente aconteceu.  Durante os primeiros anos da Igreja, os apóstolos viviam como os judeus. Mantinham a mesma dieta alimentar, praticavam a circuncisão, faziam votos judaicos, e até frequentavam o Templo e as sinagogas (At.3:1; 10:14; 13:15; 14:23; 15:1,5; 16:3; 21:21-26). Aquele era um momento de transição. Não foi em vão que Paulo afirmou que quando menino, fazia as coisas de menino, mas ao chegar à maturidade, abandonou de vez as coisas de menino. O livro de Atos não pode ser tomado como um livro normativo para a Igreja. Trata-se do relato honesto dos primeiros anos da Igreja. Podemos perceber claramente nos Atos dos Apóstolos, como a igreja em seus primórdios insistiu em derramar o vinho novo do Evangelho nos odres velhos do sistema religioso judaico. Não poderia ter outra conseqüência senão a que Jesus advertiu que haveria: Os odres se romperam, como podemos conferir no relato do último encontro entre Paulo e os judeus, registrado em Atos 28:23-31. O mesmo Paulo que no início do seu ministério circuncidou Timóteo (At.16:3) para evitar escândalo entre os judeus, escreve a esse mesmo discípulo seu, advertindo-o contra homens que “ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que obedecem a verdade, a fim de usarem deles com ações; porque tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças” (1 Tm.4:3-4). Se o livro de Atos deve ser recebido como normativo para a igreja, então teremos que raspar a cabeça, como Paulo o fez (se bem que há quem faça isso hoje em dia! ).

Mateus 6:16-18 “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, pois desfiguram o rosto para parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça, e lava o rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” - Jesus estava falando com um público formado exclusivamente de judeus. O que Jesus queria era denunciar a hipocrisia dos religiosos de Sua época. Nesse mesmo sermão, Ele também disse: “Guardai-vos de praticar vossos atos de justiça diante dos homens, para serdes vistos por eles” (v.1). Os fariseus tinham por hábito levar consigo um trombeteiro para tocar seu instrumento no momento em que estivessem dando alguma esmola, e assim, chamar a atenção de todos para a sua boa obra. Jesus desmascarou tal prática e a chamou de hipocrisia. Jesus não ordenou que ninguém desse esmolas, ou jejuasse, porque tais práticas já eram comuns aos religiosos da época. Ele não disse: “Deem esmolas!” E sim: “Quando deres esmola...” Ele também não disse: “Jejuai!” E sim: “Quando jejuardes...” É interessante que no mesmo sermão nós encontramos diversos imperativos de Jesus. Ele ordenou: “De maneira nenhuma jureis” (5:34); “Dá a quem te pedir” (5:42); “Amais a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”(5:44); “Não ajunteis tesouros na terra...Mas ajuntai tesouros no céu” (6:19-20); “Não andeis ansiosos pela vossa vida” (6:25);  “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (6:33); “Não julgueis”(7:1) e etc. Mas não há nenhum imperativo sobre o jejum.

Além das esmolas e do jejum, outro hábito religioso dos judeus que foi questionado foi o de orar em voz alta para que todos os ouvissem. “Quando orares” advertiu Jesus, “não sejas como os hipócritas, pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens” (v.5). É claro que o que não falta na Bíblia são imperativos acerca da oração. Os judeus eram um povo que orava. Disso não há dúvida. O erro estava na motivação que os levava a orar. O que os fazia orar, era a mesma motivação que os fazia dar esmolas e jejuar. Sua pretensão era de serem vistos pelos homens, e não de glorificar a Deus.

Há um episódio narrado em Atos em que os judeus fizeram um voto de jejuarem até que Paulo fosse morto (At.23:12-14). Eram mais de quarenta homens dispostos a jejuarem pela morte do Apóstolo.

Um dos mais usados argumentos em favor do jejum é a mortificação da carne. Segundo os advogados desta posição, quando jejuamos estamos crucificando a carne. Não há um único verso na Bíblia que dá apoio a este argumento. Não obstante, com uma única passagem bíblica nós podemos derrubá-lo. Veja o que Paulo escreveu aos Colossenses:

"Ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber (...) Se estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, como: não toques, não proves, não manuseies? Todas estas coisas estão fadadas ao desaparecimento pelo uso, porque são baseadas em preceitos e ensinamentos dos homens. Têm, na verdade, aparência de sabedoria, em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas NÃO TEM VALOR ALGUM CONTRA A SATISFAÇÃO DA CARNE.” Colossenses 2:16a, 20-23.

Se o jejum fosse um instrumento para a mortificação da carne, então, a Cruz teria sido inútil (Gl.2:21). Bastaria que os homens jejuassem, e estariam salvos. Aliás, tal argumento, além de não ter respaldo bíblico, parece ter sido tirado da Cabala judaica. Veja o que escreveu Shmuel Lemle acerca do jejum: A Cabala ensina que temos dentro de nós duas inteligências, dois sistemas que estão sempre funcionando. O primeiro é a consciência da alma, que está ligada à Luz (...) O outro sistema é a consciência do corpo, que só pensa em si mesmo e em satisfazer seus desejos imediatos. O jejum é uma forma de anular a consciência negativa do corpo de querer receber somente para si, elevando nossa consciência. É uma ferramenta para fortalecer a alma”.

A fórmula bíblica para a mortificação do corpo é a recomendada por Paulo em Romanos 6:11-14: “...considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, e portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências. Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade, mas APRESENTAI-VOS A DEUS, como vivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.” É tudo uma questão de fé. Temos que considerar, isto é, levar em conta o que Cristo fez na cruz por nós. Lá, Ele não apenas morreu em nosso lugar, mas levou conSigo o nosso velho homem (v.6). À medida que consideramos isso, e apresentamos nossos corpos para o uso exclusivo do Senhor, experimentamos a mortificação de nossa carne.

De qualquer maneira, ninguém tem o direito de julgar o outro pelo fato de jejuar ou não. Devemos dar ouvidos à recomendação das Escrituras: “O que come não despreze o que não come, e o que não come não julgue o que come, pois Deus o recebeu por seu (...) Quem come, para o Senhor come, pois dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus (...) Se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu” (Rm.14:3,6b,15). Não vale a pena discutir por causa disso.

Em nosso ministério, muitos se sentem bem praticando o jejum. Nós não os censuramos por isso. Pelo contrário, os estimulamos a praticarem-no, deste de que o encarem de uma dessas maneiras:

a)   O Jejum como um meio de compadecer-se dos que sofrem enquanto se intercede (Sl.35:13-14);

b)  Um meio de expressar arrependimento pessoal ou coletivo (1 Sm.7:6; Ed.10:6; Ne.9:1-3; Sl.69:10; Dn.6:18; Jl.2:12), humildade (Sl.35:13), ou lamento por alguma situação em particular (Jl.1:14-20), ou ainda um profundo desejo de servir a Deus (At.10:30; 13:2)

c)   Como um exercício de auto-disciplina.

Só não admitimos que se faça do jejum uma moeda de barganha com Deus, ou um amuleto, ou mesmo uma arma de combate ao inimigo. Para isso, basta o precioso Nome de Jesus.

É legítimo usar a dança como expressão de louvor a Deus?

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Por Hermes C. Fernandes

Não é de hoje que a dança é um tabu entre os cristãos de diversas tradições.Há quem a admita apenas como expressão cultural ou de interação social, mas jamais como instrumento de louvor a Deus. E há quem faça o caminho inverso, usando e abusando da dança no ambiente de culto, porém, desprezando-a fora dali.

Pesquisando pela internet encontrei várias advertências quanto ao seu uso pelos cristãos. De acordo com o site Jesus Voltará, a igreja metodista condena a dança, alegando que ela é "prejudicial à vida cristã. O mesmo site afirma que para a igreja congregacional, "a prática da dança por parte dos membros de nossa igreja não condiz com a profissão religiosa, devendo ser tornada objeto de disciplina. A igreja presbiteriana consideraria "a prática de dança por parte dos membros da igreja como pasmosa incoerência", e alerta aos pais que enviarem seus filhos a escolas de dança de estarem cometendo um grave erro na disciplina da família. Para o bispo A. C. Coxe da igreja episcopal, "a dança é lascívia". O mesmo bispo advertiu aos dançadores a não participarem da mesa da comunhão. O bispo Hopkins, também da igreja episcopal, acrescenta: “A dança é responsável pela dissipação de tempo, a condescendência para com a vaidade pessoal e o incitamento prematuro das paixões, e artifício nenhum pode torná-la condizente com o pacto do batismo.” Nem mesmo a igreja católica romana se posicionou favorável à dança. O Concílio Pleno de Baltimore diz:“Consideramos ser nosso dever advertir nosso povo contra os divertimentos que possam facilmente tornar-se para eles ocasião de pecado, contra as modalidades de danças que, como praticadas presentemente, repugnam a todo sentimento de delicadeza e decoro, e se fazem acompanhar dos maiores perigos para a moral.”[1]

Apesar de todos estes posicionamentos contrários à dança, ela nunca esteve tão presente na vida eclesiástica quanto atualmente.  Deixando de lado as opiniões denominacionais, verifiquemos o que dizem as Escrituras acerca desta prática que acompanha a humanidade desde os seus primórdios.

# Dança como expressão de louvor a Deus nas Escrituras

Não faz muito tempo que algumas igrejas resolveram adotar a dança em seus cultos. Porém, no afã de evitar escândalo, principalmente por parte dos mais conservadores, adotou-se a nomenclatura “coreografia” em vez de “dança”.  A princípio, os grupos de coreografia apresentavam perfomances comedidas, com passos e gestos bem sóbrios. 

Com o passar do tempo, alguns grupos aderiram ao ‘mover’ conhecido como dança profética.  O termo ‘dança’ em conexão com o termo ‘profética’ tornou a prática mais palatável entre os considerados mais ‘espirituais’, despindo-a de sua conotação mundana. Segundo os expoentes do movimento, a dança profética teria o objetivo de trazer mensagens à congregação, levando-a a uma adoração mais profunda.  Deste mover, desenvolveu-se a adoração extravagante, em que os participantes expressam seu louvor a Deus com canções e danças improvisadas.

Já entre os pentecostais clássicos surgiu o movimento conhecido como re-te-té, em que as pessoas são tomadas por uma espécie de êxtase, rodopiando ou marchando pelo salão da igreja. Tais manifestações exóticas são consideradas por estes grupos como danças espirituais, embaladas pelo som de pandeiros e corinhos de fogo cujo ritmo e harmonia lembram pontos cantados em terreiros de religiões afro-brasileiras.

Apesar de nossas reservas devido aos abusos cometidos por ambos os movimentos, não podemos negar que haja fundamentação bíblica para o uso da dança como expressão de louvor a Deus.

Lemos no relato do Êxodo dos hebreus, que após atravessarem o Mar Vermelho,“Miriã, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças” (Êx. 15:20).

Alguns poderão alegar que Miriã provavelmente estava sob influência cultural egípcia, e que àquela altura o povo de Israel ainda não havia desenvolvido sua própria maneira de cultuar a Deus.  Entretanto, encontramos outro episódio ocorrido vários séculos depois, quando Israel já estava devidamente estabelecido como nação, e o culto a Deus já havia sido normatizado. Trata-se da passagem em que Davi trouxe de volta a Jerusalém a Arca da Aliança. O texto diz que“Davi, vestindo o colete sacerdotal de linho, foi dançando com todas as suas forças perante o Senhor, enquanto ele e todos os israelitas levavam a arca do Senhor ao som de gritos de alegria e de trombetas” (2 Sm. 6:14-15). Censurado por sua própria esposa que o acusou de querer exibir-se perante suas servas, Davi se justificou: foi perante Senhor que dancei; e perante ele ainda hei de dançar” (2 Sm 6:21). Aos que insistem em associar a dança com irreverência, pergunto: Estaria Mical com a razão? Teria Davi cometido algum excesso? 

Não bastassem esses dois casos, encontramos uma orientação clara no livro dos Salmos, que, diga-se de passagem, foi fartamente usado pela igreja primitiva como base do seu culto a Deus:

“Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos. Salmos 150:4

A maioria que discorda do uso da dança como elemento de culto alega não haver no Novo Testamento nenhuma orientação acerca disso. Porém, sabemos pelo próprio Paulo, que a igreja deveria usar os Salmos em seu culto a Deus. Confira:

“Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração.” Efésios 5:19

Teria Paulo e os demais apóstolos censurado o Salmo 150 que nos orienta a louvar a Deus com danças? Recuso-me a crer nesta possibilidade. Imagine a cena: todos estão declamando este salmo, quando, de repente, alguns começam a dançar. Paulo, então, interrompe a leitura e diz: “Parem com isso agora mesmo! Que irreverência! Vocês podem ler, mas não praticar!” Ora, isso não me parece razoável.

E o que dizer dos Salmos 87 e 149? Também deveriam ser censurados?

“Com danças e cânticos, dirão: "Em Sião estão as nossas origens!” 
Salmos 87:7

“Louvem eles o seu nome com danças; ofereçam-lhe música com tamborim e harpa.” Salmos 149:3

A exigência neotestamentária é que o culto deve ter ordem e decência (1 Co.14:40). Porém isso, de maneira alguma, exclui expressões corporais, desde que não sejam apelativas e sensuais. Ademais, por que numa aliança caracterizada pela liberdade faltaria um elemento como a dança tão apreciada sob a primeira aliança? Seria, no mínimo, um contrassenso acreditar que os que vivem sob a égide da graça seriam privados de um bem tão comum aos que viveram sob o peso da lei.

Que tem havido abuso quanto ao uso da dança no culto, não me atrevo a discordar. Principalmente nos movimentos que apontei acima. Só não vejo razão para jogar fora o bebê junto com a água suja do banho. Basta que eliminemos os exageros para que encontremos um equilíbrio.

Penso que haja lugar tanto para danças ensaiadas (performáticas) como para danças espontâneas e congregacionais.  Tudo dentro de um padrão descente e devidamente ordenado. Sem extravagâncias. Sem chocarrices. Sem histeria. Sem êxtases. Apenas corações tomados da alegria do Espírito, desejosos de expressar sua gratidão a Deus. 

Décadas atrás, a igreja debatia se deveria ou não usar instrumentos musicais em seus cultos. Hoje, esta temática parece estar ultrapassada. Tanto órgãos como guitarras elétricas e baterias são facilmente encontrados em igrejas de praticamente todas as denominações. Acredito que o mesmo se dará com o uso de dança nos cultos. 

Os pregadores podem ficar tranquilos que a dança jamais substituirá a pregação da Palavra, nem os louvores congregacionais. Se porventura isso ocorrer, compete ao ministro chamar a atenção de sua congregação para que reencontre o equilíbrio perdido. 

No próximo post abordaremos a dança como expressão cultural e de interação social. É lícito ao cristão praticar ballet, dança de salão, valsa de debutante, etc?



[1] http://www.jesusvoltara.com.br/atuais/dancar_danca.htm

O cristão pode dançar em ocasiões festivas?

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dança como instrumento de interação social


Por Hermes C. Fernandes

“Mas, a quem assemelharei esta geração? É semelhante aos meninos que se assentam nas praças, e clamam aos seus companheiros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes.” Mateus 11:16-17

Supondo que a questão da dança como expressão de louvor esteja superada, passemos adiante e reflitamos sobre a dança em seu aspecto social. Haveria alguma base bíblica que respaldasse o boicote dos cristãos à dança? Seria errado que um pai de família dançasse a valsa na celebração dos quinze anos de sua filhinha? Ocasiões como casamentos, aniversários e formaturas não poderiam ser festejadas com danças? O marido que num rompante romântico tirasse a esposa para dançar estaria cometendo algum sacrilégio?


Sugiro que deixemos de lado nossos preconceitos e investiguemos o que dizem as Escrituras sobre isso. O sábio Salomão salienta que “tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derribar, e tempo de edificar;tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar (Ecl.3:1-4).

Certamente que ele não estava referindo-se à dança litúrgica, mas a celebração que fosse o contraponto do pranto e do luto.  Se num funeral, pranteava-se, num casamento era comum que os convivas acompanhassem os nubentes na dança.  No Israel dos tempos bíblicos, não havia bodas sem baile. Seria como um casamento sem bolo em nossos dias.  Duvido muito que o próprio Jesus não tenha dançando durante as bodas de Caná da Galileia. Teria sido uma desfeita, pra não dizer uma afronta.


Muitos cristãos preferem não frequentar festas porque se sentem deslocados quando a turma começa a dançar. Uns, simplesmente se levantam, e saem à francesa. Outros se sentem afrontados por acharem que sua presença deveria impor algum respeito.  Ora, se somos orientados a “chorar com os que choram e alegrar-nos com os que se alegram”, logo, deveríamos, no mínimo, sentir-nos contentes de vê-los celebrar.  Jamais deveríamos portar-nos como “estraga-prazeres”.

Lemos em Juízes 21 que a tribo de Benjamim se via ameaçada de extinção e que, por isso, seus homens foram a uma espécie de baile à procura de moças para se casarem.  “Quando as moças estavam dançando, cada homem tomou uma para fazer dela sua mulher. Depois voltaram para a sua herança, reconstruíram as cidades e se estabeleceram nelas” (Juízes 21:23). Aquela tribo foi salva por um baile.

É claro que não estamos aqui fazendo apologia aos bailes onde prevalece a imoralidade. A própria igreja ou as famílias poderiam promover celebrações onde os jovens pudessem se alegrar e bailar de maneira decente, saudável e divertida. Quantos anciãos poderiam aproveitar um baile da terceira idade para fazer amigos e até encontrar alguém com quem pudessem compartilhar o restante de sua vida!

Além de espirituais, também somos seres sociais.

Também não estou defendendo que se façam bailes como estratégia evangelística, mas como celebrações legítimas para o próprio povo de Deus, onde possamos dar boas gargalhadas, brincar entre amigos, cantar, dançar e festejar sem nos preocupar com críticas dos que se consideram super-espirituais.

A ausência de dança representava juízo de Deus sobre o Seu povo

Na Antiga Aliança, a falta de dança era resultado do juízo de Deus sobre o Seu povo.

“Cessou a alegria de nosso coração”, desabafa Jeremias, “converteu-se em lamentação a nossa dança” (Lm. 5:15). Se o coração de Deus não estava alegre, isso acabava refletindo na vida social do Seu povo. Cria-se que a alegria do Senhor era força do Seu povo. Se Deus estava satisfeito, logo, todos festejavam. 

A propósito, o Deus que se revelou aos patriarcas e profetas é um Deus festeiro. Não foi à toa que Ele estabeleceu quatro festas anuais em Israel, e todas elas regadas a muita dança.  Ora, se a ausência de dança indicava juízo, sua volta marcava a restauração da alegria do povo.

O mesmo profeta prediz:
“Então as moças dançarão de alegria, como também os jovens e os velhos. Transformarei o lamento deles em júbilo; eu lhes darei consolo e alegria em vez de tristeza.” Jeremias 31:13
O salmista também testifica: “Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria” (Sl. 30:11). Restauração é a palavra-chave. Onde quer que ela ocorra, sobram motivos para festejar.

Foi o que aconteceu no retorno do filho pródigo. Aquele momento precisava ser celebrado. Por isso, o pai mandou anunciar que naquela noite haveria baile na fazenda.  Não era um culto, mas um baile. Porém, aos ouvidos de Deus aquele baile soaria como um autêntico culto de ação de graça. Enquanto todos se divertiam, o filho mais velho que passara o dia no campo trabalhando chegou perto de casa, e “ouviu a música e as danças” (Lc. 15:25). Aquela foi a gota d’água. Ofendido, ele recusou-se a entrar na festa. Foi preciso que o pai saísse ao seu encontro e o convencesse de que aquela era uma ocasião propícia para celebrar. O filho que estava morto havia revivido.

Quantos de nós temos reagido exatamente como o filho mais velho da parábola? Não admitimos que outros celebrem. Questionamos suas motivações. Achamos que a única razão de celebrarmos é o fato de sermos salvos. Ok.  Esta é a mais forte razão, mas não é a única. Por que não festejarmos o nascimento de um filho? Por que não sair pra dançar com a esposa no aniversário de casamento? Por que não tirá-la pra dançar na sala de estar ao som de uma música romântica? Será que o Espírito Santo se sentiria ofendido ao ver um casal abraçado dançando romanticamente? Creio que não. Aborrecido ficaria ao vê-los brigar, discutir, se agredir verbalmente.

Sempre haverá ocasiões especiais para serem celebradas com danças. Lemos que “quando os soldados voltavam para casa, depois de Davi ter matado o filisteu, as mulheres saíram de todas as cidades de Israel ao encontro do rei Saul com cânticos e danças, com tamborins, com músicas alegres e instrumentos de três cordas.” (1 Sm. 18:6). E não eram propriamente louvores a Deus que entoavam.

Há quem pense que só podemos dançar canções que exaltem o nome do Senhor. Porém, há canções que, ainda que não mencionem o nome “Deus”, exaltam valores que nos são caros, tais como família, amizade, amor, etc.

Confesso que não me sentiria confortável dançando com a minha esposa ao som de louvores. A ocasião não é própria para isso. O que não falta é oportunidade de louvar ao meu Deus, e acho que Ele não se sente enciumado quando tiro minha esposa para dançar ao som de uma canção romântica secular. Desde que sua letra não afronte minha fé e meus valores, nada impede que eu a curta ao lado de quem amo.

No próximo post quero abordar o outro lado da moeda, mostrando como a dança tem sido usada como instrumento de sedução e alienação. 

A dança como instrumento de sedução e alienação

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Por Hermes C. Fernandes

Nos dois textos anteriores defendemos a dança como expressão de louvor e interação social. Demonstramos através de diversas passagens bíblicas que nada há que desabone sua prática. Entretanto, não podemos ignorar o estado pecaminoso em que se encontra a humanidade, corrompendo tudo à sua volta. Somos uma espécie de rei Midas ao inverso [1], tudo o que tocamos se deteriora, perdendo seu valor original.  Nenhuma manifestação cultural está imune à contaminação do pecado, e isso, naturalmente, inclui a dança.

A mesma faca usada para fatiar um pão pode ser usada para cometer um homicídio. Isso não a torna intrinsecamente má. Assim se dá com relação à dança e qualquer outra manifestação cultural. Cabe aqui a argumentação de Paulo de que “todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados” (Tt. 1:15).

Temos exemplos bíblicos de como a dança pode ser mal utilizada em propósitos funestos e destrutivos. Por exemplo, no episódio em que a enteada de Herodes, orientada por sua própria mãe, o seduz com sua dança sensual, a ponto do rei babão dizer: “Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino” (Mc. 6:23). Aliás, esta é uma das raras vezes em que encontramos nas páginas das Escrituras um exemplo de dança performática. Nas demais vezes, a dança é apenas uma manifestação espontânea de alegria de um povo. Isso, de maneira alguma, desabona as danças performáticas como, por exemplo, o ballet clássico ou o street dance. O problema não está na performance em si, mas no propósito por trás dela. 

A filha de Herodias sabia o potencial sedutor de seus movimentos corporais. Provavelmente estava vestindo roupas sumárias, provocando a imaginação do rei. No final das contas, o rei perdeu a cabeça em seus devaneios, enquanto o maior dos profetas perdeu-a literalmente numa bandeja de prata.

Quantos chefes de família têm perdido a cabeça em boates de strip-tease! Quantas meninas estão se perdendo nas mãos desta famigerada indústria de entretenimento! Menores são aliciadas. Mulheres contrabandeadas pelo mundo afora. Tudo para o aprazimento de homens desprovidos de qualquer escrúpulo.

O cristão que aprecia a dança artística deve cuidar para que seu corpo não se torne num instrumento de sedução barata, lembrando sempre que ele é templo do Espírito Santo (1 Co.6:19).  Nosso lema deve ser “não pecar e não fazer ninguém pecar”. Somos carne e, portanto, vulneráveis ao assédio de nossos apetites carnais. Então, pra quê cutucar a onça com vara curta?

Não precisa ir a uma casa noturna para deparar-se com certas cenas apelativas. Lamentavelmente, há casos em que dançarinas de grupos de coreografia de igrejas usam roupas tão colantes e transparentes, combinadas com certos movimentos que, a meu ver, são incompatíveis com o ambiente de culto, e que acabam alimentando a fértil imaginação da homarada. Quem não quiser ceder aos impulsos lascivos da carne tem que desviar os olhos...

Quem está envolvido com dança, quer seja na igreja ou como profissional, deve pautar pelo equilíbrio, evitando a vulgarização de algo tão precioso. Ademais, não é preciso dançar para ser vulgar. Observo na capa de muitos cd’s de cantoras evangélicas poses extremamente sensuais, com olhares convidativos e gestos ambíguos. Ora, se o objetivo é a adoração, dever-se-ia ter o cuidado de passar uma imagem que inspirasse reverência, ainda que descontraída. Não se trata de falso moralismo ou legalismo, mas de bom senso regado com temor a Deus e respeito ao semelhante.

A sensualidade também não é algo ruim em si mesmo. Todos temos uma medida de sensualidade. O que precisa ser evitado é a vulgarização. Não vejo qualquer erro numa mulher seduzir seu marido com uma dança provocativa. Aos olhos de Deus eles são uma só carne. Um relacionamento conjugal desprovido do elemento sedução está fadado ao naufrágio. O próprio intercurso sexual tem seu ritmo e movimento, análogo à dança. Errado seria usar seu poder de sedução para arrancar do outro o que quiser, como fez a enteada de Herodes.

O outro exemplo de dança performática encontrado nas Escrituras é a protagonizada por Sansão no templo de Dagom. O texto diz que os filisteus que o haviam prendido estavam tão eufóricos que exclamaram:“Mandai vir Sansão para nos divertir! Tiraram-no da prisão, e Sansão teve que dançar diante deles. Tendo sido colocado entre as colunas” (Jz. 16:25). Lemos ainda que “o templo estava repleto de homens e mulheres, e estavam ali todos os príncipes dos filisteus; havia cerca de três mil pessoas, homens e mulheres, que do teto olhavam o prisioneiro dançar” (v.27).

Todos se divertiam à custa de Sansão até que este faz um pedido inusitado ao seu Deus. Com as forças devolvidas, Sansão derruba as colunas do templo, matando de uma vez maior número de inimigos do que durante toda a sua trajetória.

Definitivamente aquele não era o lugar de Sansão. Seus cabelos haviam sido raspados, seus olhos vazados, sua honra ultrajada. Suas energias agora eram despendidas no trabalho forçada no moinho de Dagom. Como se não bastasse, o herói dos hebreus se transformara no bobo da corte.

O que estava sendo celebrado ali? A suposta vitória de Dagom, divindade filisteia sobre Yavé, Deus dos hebreus. 

Não é por gostarmos de dançar que devemos frequentar alguns lugares, onde o que se celebra é contrário a tudo em que cremos.  Como um cristão poderia participar de um desfile de escola de samba que estivesse promovendo o culto a outras divindades? Ainda que respeitemos a religiosidade alheia, não devemos violar nossa consciência. Nosso culto é direcionado exclusivamente ao Deus revelado em Jesus Cristo. Como um cristão se sentiria dentro de um baile funk onde os valores morais são pisoteados e o sexo é cultuado como se fosse um deus? Se somos habitados pelo Espírito Santo, sentiremos um enorme desconforto por estarmos sendo cúmplices das obras infrutuosas das trevas (Ef.5:11).

O povo de Israel achou que Moisés já estava morto depois de uma ausência de quarenta dias no monte. Pressionando Arão, fizeram um bezerro de ouro e festejaram-no como se fosse o deus que os tirara do Egito. Quando Moisés vinha descendo, encontrou-se com Josué que o esperava no pé da montanha, e disse: "Há gritos de guerra no acampamento!""Não, respondeu Moisés, não são gritos de vitória, nem gritos de derrota: o que ouço são cantos."Aproximando-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Sua cólera se inflamou, arrojou de suas mãos as tábuas e quebrou-as ao pé da montanha.Em seguida, tomando o bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até reduzi-lo a pó, que lançou na água e a deu de beber aos israelitas” (Êx. 32:17-20).

Suponho que muitos dos que ali dançavam em torno do bezerro não tinham a menor ideia do que estivesse acontecendo. Eram “Maria vai com as outras”. Apenas se deixaram embalar pela música e começaram a dançar alheios aos fatos. Que decepção para Moisés! Depois de tudo o que aquela gente assistira, como a abertura do Mar Vermelho e as pragas no Egito, bastaram alguns acordes para que se esquecessem de tudo e celebrassem perante o deus errado.

A música e a dança têm potencial entorpecente, capaz de fazer com que o cérebro produza efeitos semelhantes aos das drogas. Neste estado de consciência as pessoas podem fazer coisas de que se arrependerão pelo resto de suas vidas.

Preciso salientar que o problema não é a comida, mas a glutonaria. Nem a bebida, mas o alcoolismo. Nem o sono, mas a preguiça. Nem o sexo, mas a promiscuidade. Assim também, o problema não é a dança, mas seu uso desprovido de senso crítico.


* Caso não tenha lido os dois posts anteriores, recomendo que o faça para uma compreensão mais abrangente do tema. 




[1]Midas é um personagem da mitologia grega que transformava em ouro tudo o que tocava.

Antes de decretar a falência do Carnaval...

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Por Hermes C. Fernandes

Antes de decretar a falência do Carnaval… deveríamos, como cristãos que somos, trabalhar pelo fim da comercialização da fé, pois a mesma, além de entristecer o coração de Deus, compromete nosso testemunho perante o mundo. Como podemos julgar o mundo, se não somos capazes de julgar a nós mesmos?

Antes de decretar a falência do Carnaval... deveríamos julgar a nós mesmos, removendo de nossos rostos as máscaras da hipocrisia religiosa, expondo-nos, assim, à verdadeira transformação empreendida pelo Espírito Santo. Afinal, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Liberdade, sim. Não pra pecar. Mas pra ser transformado sem viver sob pressão de quem quer que seja. Liberdade de ser quem somos, sabendo que ninguém nos condenará. O Espírito só opera em nós quando temos o rosto descoberto...

Antes de decretar a falência do Carnaval... deveríamos tirar o chapéu para o trabalho social desempenhado por algumas escolas de samba em suas comunidades. Não fosse nosso corporativismo evangélico, poderíamos até aliar-nos a elas nesse esplêndido trabalho. O que não significa que endossemos tudo quanto é promovido por elas. Porém, não se pode jogar fora a criança com a água suja do banho.

Antes de decretar a falência do Carnaval... deveríamos corar de vergonha ante o nível de excelência alcançado nas apresentações das escolas, com samba-enredos bem elaborados, carros alegóricos exuberantes, organização impecável, etc. Enquanto nós, que nos achamos no direito de apontar-lhes o dedo, nos acomodamos à mediocridade. Basta ouvir as canções de louvor atuais para perceber a pobreza lírica e melódica, fruto de nossa preguiça e desleixo. Sem contar que nossa arte ‘gospel’ fica restrita à música, como se Deus tivesse alguma coisa contra outras expressões artísticas.

Antes de decretar a falência do Carnaval... deveríamos amar os foliões, compreendendo que aquela alegria ilusória é tudo o que eles possuem. Em vez de condená-los, que tal se compartilhássemos com eles a nossa alegria perene? Eles certamente perderiam qualquer interesse por algo que fosse menos que isso.  A maneira como nos referimos a eles e à sua festa, faz com que sejamos vistos como gente estraga-prazer. Duvido que no lugar de Jesus nos dispuséssemos a transformar água em vinho só pra que a festa não terminasse tão cedo.  Talvez entendêssemos melhor o que diz Provérbios 31:6-7, mas sem perder de vista o seu contexto imediato.

Antes de decretar a falência do Carnaval... decretemos a falência da nossa arrogância, de nossa presunção, de nossa religiosidade midiática, e de nosso egoísmo. Que prevaleça o amor, a humildade e o serviço ao nosso semelhante, mesmo quando este estiver atrás de uma fantasia, ou despudoradamente despido. 

Entre Blocos e Retiros: Uma parábola do papel da igreja no Carnaval

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Por Hermes C. Fernandes

Uma parábola sobre o papel da igreja durante o Carnaval

Epêneto era o presbítero responsável pela igreja em Roma, desde que Priscila e Áquila tiveram que deixar a cidade em busca de novos campos missionários. Epêneto foi um dos primeiros a se converterem através do trabalho realizado por Paulo nessa cidade.

Aquela igreja era muito ativa, sempre aberta a acolher as pessoas. Quando havia algum cataclismo, fome ou guerra, os cristãos se mobilizavam para socorrer as vítimas. Por causa de seu envolvimento com a dor humana, ganhou a simpatia de todos, inclusive de funcionários do palácio de César.

Num belo dia, ouviu-se o clangor do clarim. Todos se reuniram para ouvir o que o mensageiro do império tinha para anunciar. Em duas semanas, o exército romano estaria chegando de uma campanha militar bem-sucedida. O próprio César o receberia com uma Parada Triunfal, que seria seguida de um feriado prolongado dedicado aos deuses Marte e Saturno, também conhecidos como Apolo e Baco, divindades da guerra e do vinho, respectivamente. Seria uma grande festa, regada a bebidas alcoólicas e todo tipo de luxúria. A população sairia às ruas para assistir ao desfile das tropas romanas, dando-lhes boas-vindas, e assistiriam à execução de milhares de prisioneiros. Ninguém trabalharia naqueles dias.

Epêneto ficou preocupado com a notícia. Qual deveria ser o papel da igreja durante essa festa pagã? Ainda inexperiente como líder, reuniu alguns dos mais antigos membros da igreja para discutir o que fazer.

Um deles, chamado Narciso, pediu a palavra e deu sua sugestão:

- Amados no Senhor, por que não aproveitamos o ensejo para promover um desfile paralelo, onde demonstraremos ao mundo a nossa força, revelando a todos nossa lealdade ao Rei dos reis, Jesus Cristo? Podemos até copiar algumas de suas canções, adaptando-as à nossa fé. Em vez de exibirmos prisioneiros, exibiremos testemunhos daqueles que foram salvos. Vamos montar nosso próprio bloco, quer dizer, nossa própria parada triunfal. Pode ser uma grande oportunidade evangelística.

Epêneto, depois de algum tempo pensativo, respondeu: Caro Narciso, a idéia parece muito boa. Porém, quem ouviria nossa voz durante os momentos de folia? Nosso modesto bloco se perderia no meio de toda aquela devassidão. Ademais, a maioria das pessoas estará embriagada, incapaz de entender nossa mensagem. Também não estamos preocupados em dar uma demonstração de força. Jesus disse que nosso papel no mundo seria semelhante à de uma pitada de fermento, que de maneira discreta, sem chamar a atenção para si, vai levedando aos poucos toda a massa. Por isso, acho que sua idéia não é pertinente. Quem sabe em gerações futuras, haja quem a aproveite?


Levantou-se então Andrônico, que gozava de muito prestígio por ser parente de Paulo, e sugeriu:

- Amados, durante o Desfile Triunfal e as Saturnais, a situação espiritual da cidade ficará insuportável. Divindades pagãs serão invocadas, orgias serão promovidas em lugares públicos à luz do dia. Não convém que estejamos aqui durante essa festa da carne. A melhor coisa a fazer é nos retirarmos, buscarmos um refúgio fora da cidade, e aproveitamos esse tempo para nos congratularmos, sem nos expormos desnecessariamente às tentações da carne.

Todos acenaram com a cabeça, demonstrando terem gostado da idéia. Já que seria mesmo feriado, ninguém precisaria trabalhar. Um retiro parecia a melhor sugestão.

O velho presbítero ficou um tempo em silêncio, meditando. Todos estavam atônitos esperando sua palavra, quando mansamente respondeu:

- Irmãos, não nos esqueçamos de que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se no momento de maior trevas nos retirarmos, o que será desta cidade? Por que a entregaríamos ao controle das hostes espirituais das trevas? Definitivamente, nosso lugar é aqui. Não Precisamos de exposição, como sugeriu nosso irmão Narciso, nem de fazer oposiçãoà festa, retirando-nos da cidade, como sugeriu Andrônico. O que precisamos é estar à disposição para acolher aos necessitados, às vítimas da violência, aos desassistidos, aos marginalizados.

A propósito, não temos estado sempre disponíveis para atender as pessoas durante as tragédias que tem abatido o império? E o que seriam tais desfiles, senão tragédias morais e espirituais? Saiamos às ruas, mesmo sem participar da folia, e estendamo-los as mãos, em vez de apontar-lhes o dedo, oferecendo compaixão em vez de acusação, amor em vez de apatia. Que as casas que usamos para nos reunir estejam de portas abertas para receber quem quer que seja, e assim, revelaremos ao mundo Aquele a quem amamos e servimos. Afinal, o reino de Deus se manifesta sem alarde, sem confetes, sem barulho, mas perturbadoramente discreto.

Depois dessas sábias palavras, ninguém mais se atreveu a dar qualquer outra sugestão.


* Esta é apenas uma parábola que elaboramos para emitir nossa humilde opinião acerca do papel da igreja durante o período carnavalesco.

Postado originalmente em 11/02/2010

A complicada relação da igreja com o carnaval

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Por Hermes C. Fernandes

Duas igrejas. Duas posturas diferentes quanto às demandas do mundo. Posturas que se evidenciam durante a época da festa da carne. Encontramo-nas, de maneira metafórica, num episódio relatado por Lucas envolvendo duas multidões que vinham de lados opostos, mas que, eventualmente, se chocaram.

A primeira multidão era liderada por Jesus, e seguia euforicamente na direção da cidade de Naim. Pessoas que haviam deixado tudo para seguir o mestre da Galileia. Não se importavam com o calor escaldante da região. Nem em passarem  por alguma privação durante o cortejo. A razão de toda a sua alegria e esperança estava personificada naquele jovem carpinteiro.

A multidão que seguia na direção oposta era liderada por um defunto. Enquanto a primeira entrava na cidade, a segunda a deixava. Enquanto a primeira parecia celebrar, a segunda só fazia lamentar. E, de fato, havia motivo para isso. Ao lado do defunto ainda moço, estava sua mãe, inconsolável, que não fazia muito tempo perdera também o marido. Sem um arrimo para sustentá-la, só lhe restava chorar, chorar e chorar.

Imagine o 'choque térmico' provocado pelo encontro das duas multidões. Uns sorrindo, outros chorando. Se ao menos entendessem a razão uns dos outros... Quem chorava, ao deparar-se com quem sorria, devia pensar: quem é este idiota que não respeita a dor alheia? Quem celebrava, ao avistar os que choravam, provavelmente pensava:  será que não percebeu a presença de Jesus entre nós?

Quando Jesus se viu de frente com aquela viúva, seu coração se encheu de ternura e compaixão. Dirigindo-se a ela, disse: Não chores!

Como assim, “não chores”? Será que não viu o menino morto que era carregado? Será que não percebeu que a partir daquele dia, ela poderia ficar desamparada? Obviamente que a resposta a estas perguntas é um sonoro sim. O “não chores” não soou petulante. Não foi uma ordem. Bastava observar as feições de Jesus para perceber a doçura do seu olhar. Quase que concomitantemente, Jesus paralisa o cortejo fúnebre, toca o esquife e diz ao morto: “Jovem, a ti te digo: Levanta-te”.

Se o jovem não o tivesse atendido, Jesus teria sido considerado um louco varrido e talvez até fosse linchado pela multidão. Mas o fato é que ele atendeu, levantou-se vivo e foi entregue à sua mãe. Agora, já não havia duas multidões caminhando em direções opostas, mas uma única multidão que se mesclara. Os que antes choravam, agora tinham uma razão para celebrar. Os que já celebravam, agora tinham uma razão a mais para fazê-lo.

Durante esta época, muitas igrejas preferem deixar a cidade. A alegria do mundo parece incomodá-las, pois rivaliza com sua própria alegria. Talvez até preferissem vê-lo chorar. Elas se esquecem que essa alegria é fugaz, e que, invariavelmente, termina em cinzas. Por trás de cada máscara e fantasia há um ser fragilizado, que depois de trabalhar o ano inteiro, se entrega à folia para tentar driblar o vazio que há em sua alma. Todavia, a alegria provida pelo Carnaval pode ser tudo o que ele tem. Por isso, não acho que seja sábio desdenhá-la ou desrespeitá-la. Como também não acho prudente endossá-la. 

Não me atrevo a generalizar, porém, constato que muitas dessas igrejas parecem ser guiadas por um morto. Uma espiritualidade mórbida. Um cristianismo em estado de putrefação e decomposição. Essa igreja é viúva. Seu marido é um Cristo que não deixou o túmulo. Que fez da própria igreja o seu sepulcro. Por isso, não lhe resta alternativa senão enterrar agora os seus filhos. Enterrá-los a sete palmos de alienação para que se decomponham fora das vistas do mundo. Seus filhos parecem destinados a serem devorados pelos vermes da religiosidade apática e performática.

Todavia, há uma igreja que toma o caminho inverso. Que se volta para a cidade. Que se dispõe a acolher os que choram sem se importar em misturar-se a eles. Quem está à sua frente é ninguém menos que o Cristo de Deus, o porta-voz da vida, o única capaz de reverter o quadro caótico em que se encontra o mundo. Deixe que Ele toque o esquife! Para os doutores da Lei, tocar o esquife tornava-o imundo. Mas quem disse que Jesus se importa com a higiene religiosa? Quem toca num esquife, equivalente ao caixão dos nossos dias, também toca num carro alegórico, num trio elétrico, numa vida arruinada pelas drogas, num homossexual vítima de todo tipo de preconceito, numa mulata em trajes sumários na avenida.  O Jesus que está à frente desta multidão não se deixa domesticar por convenções sociais ou ditames religiosos. Ele toca em quem quiser, onde estiver, na data que lhe aprouver, sem ter que se desculpar com ninguém.


* Texto baseado em Lucas 7:11-16 

Salvação para além do calvinismo, arminianismo e universalismo

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Por Hermes C. Fernandes

Para boa parte dos cristãos, salvação tem a ver com ir para o céu. De acordo com este pensamento, este mundo é apenas uma arena onde decidimos o lugar em que desejamos passar a eternidade, se no céu ou no inferno. Partindo desta premissa, construiu-se toda uma gama de raciocínios centrada no indivíduo. Calvinismo, arminianismo, ou mesmo universalismo, são linhas de raciocínio que partem desta mesma premissa.

Nossas abordagens evangelísticas caminham nesta direção. O calvinista crê que no final das contas, somente os eleitos serão salvos, significando com isso que terão seu lugar assegurado no céu. O arminiano se esforça para poder levar o máximo de pessoas, tendo em vista que a responsabilidade por sua salvação é do próprio indivíduo. Portanto, quantos mais ‘aceitarem’ a oferta de salvação, melhor. Seus esforços resultariam num saquear o inferno e povoar o céu. O universalista prefere apostar no amor de Deus que no final das contas vai liberar o céu para todo mundo.

Creio que todas essas linhas de raciocínio partem de uma premissa equivocada.

O propósito de Deus abarca a realidade como um todo. Uma vez que o pecado trouxe danos a toda criação, a redenção proposta em Jesus deve ter a mesma abrangência, conforme lemos em Paulo:

“Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo TODAS AS COISAS, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus.” Colossenses 1:19-20

“E desvendou-nos o mistério da sua vontade, segundo o bom propósito que propusera em Cristo, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tmepos, tantos as que estão nos céus como as que estão na terra.” Efésios 1:9-10

O Criador almeja restaurar Sua obra por completo. A salvação do indivíduo é parte do processo e consiste em recrutá-lo como agente parceiro nesta obra de restauração. Por isso, na continuidade da passagem que citamos acima, Paulo diz que fomos “selados com o Espírito Santo da promessa, que é o penhor da nossa herança, para REDENÇÃO DA PROPRIEDADE DE DEUS, em louvor da sua glória” (VV.13b-14).

Que propriedade de Deus seria esta que Ele enseja redimir? A mesma a que se refere em 1 Coríntios 3:21-23:

 “...Tudo é vosso;seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso,e vós de Cristo, e Cristo de Deus.

O que está realmente em jogo não é simplesmente o futuro do indivíduo (céu ou inferno), mas o futuro da criação (restauração ou aniquilação). Ser salvo é ter a vida integrada a este propósito de redenção de tudo. O contrário disso é desperdiçar a existência.

O inferno representa o depósito de lixo cósmico, onde toda existência desperdiçada será descartada. O céu, ao contrário, é a plenificação do propósito, o lugar de convergência, de reintegração, de conclusão. Não se trata de um espaço geográfico em alguma dimensão etérea. O céu não estaria acima de nós, mas à nossa frente. Tem mais a ver com um tempo do que com um espaço. Aquele tempo em que Deus será tudo em todos (1 Co.15:28); em que a harmonia perdida por causa do pecado será restaurada.

Para que a terra seja restaurada, o homem deve ser salvo de sua condição de predador insaciável e redescobrir seu papel original de cuidador, destinado a ser seu guardião, que tanto lavra quanto protege, tanto cuida quanto desenvolve (Gn.2:15). Era assim que Paulo se enxergava:  alguém que foi alcançado por Deus para trabalhar em Sua lavoura (2 Tm.2:6; 1 Co.3:6-9) e ser participante de Seu projeto redentor.

Uma vez salvo, o homem deixa de viver para si mesmo, errando o alvo de sua existência (tal é o peado essencial), e passa a viver em função da glória de Deus e das gerações futuras (2 Co.5:15; Ef.2:7). O que lhe interessa não é mais aproveitar ao máximo o que a terra lhe oferece, mas garantir que as próximas gerações não sejam privadas da vida abundante proporcionada no encontro entre céu e terra, entre espiritualidade e vocação.

Livre da alienação, o homem compreende que a vida continua após sua partida deste mundo. A vida prossegue naqueles que receberão seu DNA e que serão imbuídos do mesmo propósito. A tocha que houvermos carregado durante nossa carreira existencial será passada a outros que darão continuidade ao projeto de restauração do mundo, conscientes de que não poderão deixar que sua chama se apague (1 Sm.3:3).

E quanto à nossa alma? Para onde vamos ao morrer?

Seremos reintegrados à fonte primeva. Parafraseando o escritor sagrado, o corpo voltará para o pó, se dissolverá, de modo que nossas partículas passem a fazer parte de outras estruturas, mas o espírito, a essência, voltará para Deus, sua origem (Ec.12:7).  Com a essência, nossa consciência será preservada juntamente com nossa individualidade, e receberá um novo corpo, apto às condições da criação restaurada. Se nossa existência não houver sido desperdiçada, ela será absorvida por nossa essência. Nas palavras de Paulo, o mortal será absorvido pela imortalidade (2 Co.5:4). Porém, se a houvermos desperdiçado vivendo exclusivamente em função de nossos prazeres e interesses, então, nossa existência se perderá para sempre. Nossas obras se dissolverão no fogo do juízo divino. Todavia, nossa essência será preservada. Seremos, por assim dizer, “salvos como pelo fogo” (1 Co.3:15).

Por fim, toda a criação será restaurada. Nada ficará fora do escopo desta reconciliação.

Isso quer dizer que todos serão salvos? Depende do que chamamos de salvação. Se entendermos o ser humano como um ser histórico e metahistórico, compreendendo sua vida a partir do binômio existência/essência, podemos afirmar que a salvação num sentido restrito tem a ver com sua história, sua biografia, com a maneira como o homem aproveitou a oportunidade que a vida lhe ofereceu. Mas num sentido mais amplo, a salvação pode ser concebida como a redenção da essência, daquilo que precede e transcende a história (daí a expressão metahistória). Para fins didáticos, prefiro referir-me a esta salvação essencial como reconciliação final.

Distinguindo “salvação” de “reconciliação final” fica mais fácil compreender. Nem todos serão salvos. Porém, todos serão reconciliados.
 “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra. E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”Filipenses 2:10-11
Mesmo os que estiverem “debaixo da terra” (alusão clara ao inferno), terão suas consciências reconciliadas com Deus, admitindo que suas más obras lhos fizeram merecedores de tal condenação. Sobre isso, Judas afirma que o Senhor executará juízo sobre todos e fará convictos todos os ímpios “de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram” (Jd.1:14-15).

E não apenas isso. Além de admitir seus pecadores e o senhorio de Cristo, eles O louvarão! O coral que aparece nas páginas do Apocalipse louvando ao Cordeiro é formado por seres de todas as esferas, tanto do céu, como da terra e debaixo da terra:

“E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.”
Apocalipse 5:13

Ora, se todos serão integrantes deste coral, qual a vantagem de sermos salvos? Esta pergunta vem contaminada pela premissa que apresentei logo no início deste artigo. Não podemos pensar em termos de vantagens e desvantagens. Todavia, os que houverem sido alcançados pela salvação em sua existência serão aqueles cujas obras seguir-lhes-ão depois que partirem (Ap.14:13). Enquanto os demais terão suas obras dissolvidas pelo fogo do juízo divino.

Os salvos gozarão da companhia imediata de Cristo e se regozijarão por terem sido partícipes do projeto divino de restauração de todas as coisas. Suas obras não serão desperdiçadas, nem carcomidas pelo tempo. Seus tesouros terão sido ajuntados no céu. Tudo quanto houverem sofrido por amor à justiça terá valido a pena.

Não obstante, jamais nos esqueçamos de que fiel é esta palavra e digna de toda aceitação. Pois para istoé que trabalhamos e lutamos, porque temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem(1 Tm.4:9-10).

Em vez de ficarmos debatendo se Ele salvará a alguns que Ele mesmo houver escolhido, ou alguns que O escolherem ou simplesmente a todos, arregacemos as mangas e trabalhemos até que Ele mesmo desponte no céu em grande glória, pois “convém que o céu o contenha até a restauração de todas as coisas” (At.3:21). 

Batistérios cheios de ratos num museu de grandes novidades

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Por Hermes C. Fernandes


Recentemente, alguns comentários que fiz em um post meu no facebook renderam repercussão inesperada. Por isso, resolvi trabalhar um pouco mais o assunto, evitando assim, qualquer possibilidade de ambiguidade. O assunto começou com um comentário que fiz sobre a atitude de John Piper, teólogo e pastor americano no Congresso de Lausanne em 2010:

Deparei-me agora com uma informação que me deixou profundamente decepcionado. John Piper, pastor e teólogo americano que sempre admirei, teria se recusado a pregar no congresso de Lausanne em 2010, pelo simples fato de uma mulher ter sido convidada para conduzir um estudo bíblico, ocupando, assim, o púlpito da conferência. A mulher em questão é ninguém menos que Ruth Padilla (filha do René Padilla, um dos maiores teólogos latino-americanos), que sequer é pastora, mas apenas teóloga, sendo a única mulher entre os preletores. Piper teria dito que se ela subisse ao púlpito, ele não iria. Os organizadores do congresso disseram então que ele poderia ficar em casa, pois ela iria. Ele, então, teria voltado atrás e aceitado o convite. Quando ela subiu ao púlpito para ministrar o estudo, uma turma contrária de homens (pastores/líderes) se levantou e abandonou o recinto. Fico me indagando o que esses homens teriam feito quando aquela mulher de moral duvidosa invadiu o recinto onde estava Jesus e derramou sobre ele o perfume que lhe havia custado um ano de prostituição. Fico ainda imaginando se eles teriam aceitado o testemunho de Maria Madalena acerca da ressurreição de Jesus. Tudo isso me enoja e revela o quão distantes estamos da mensagem subversiva do Filho de Deus.
Não sei ao certo as razões que levaram Piper recusar-se a subir ao púlpito. Se foi por ter que dividi-lo com uma mulher (já que ele é contrário à ordenação feminina), ou por causa da teologia que ela defende, e da qual seu pai é um dos maiores representantes (Missão Integral). Por qualquer que tenha sido a razão, nada justifica a deselegância, ainda que transpareça certa coerência. E o pior é que houve reação em cadeia. Outros líderes se viram no direito de fazer o mesmo, boicotando o estudo bíblico que Ruth ministrou. Quando chegou a vez de Piper, ele a corrigiu publicamente, comentando um suposto erro de interpretação que ela teria feito.

Bastou que eu expressasse minha decepção para virem críticas de todos os lados, principalmente da ala mais conservadora dos reformados. Alguns chegaram a pedir que eu me retratasse, pois teria dado um falso testemunho sobre aquele santo homem de Deus.

Se quiser ter a sensação de ter mexido num vespeiro, critique algum baluarte da verdade numa rede social qualquer. Experimente criticar Calvino, Lutero, Spurgeon, ou alguns dos atuais como John Piper, R.C. Sproul ou Augusto Nicodemos. Protestantes que tanto criticaram o dogma da infalibilidade papal, agora o atribuem aos heróis da ortodoxia. Pelo menos os ídolos da veneração católica não fazem bem nem mal, posto que são apenas representações feitas em escultura de homens e mulheres que serviram a Deus em seu próprio tempo. Já os protestantes têm ídolos que, apesar de não terem sido oficialmente canonizados, parecem estar acima do bem e do mal. Alguns ainda vivem. São de carne e osso e não de gesso, e por isso, passíveis de erro e de acerto.

Apesar da dívida que temos com eles, devemos reconhecer que são filhos de seu próprio tempo. Cada qual pintou seu próprio quadro com as tintas que as Escrituras lhes deram. Porém, envolveram a tela numa moldura feita a partir de pressupostos culturais e sociais de sua época. Aliás, isso não depõe contra eles. Pelo contrário: os isenta de muita coisa. Como explicar, por exemplo, o fato de Calvino ter enviado Serveto para a fogueira? Ou o vício de tabagismo de Spurgeon? Ou o fato de Lutero, logo após ter afixado suas teses no castelo de Wittemberg, ter se dirigido a um bar para beber cerveja? Aliás, isso nem de perto poderia se comparar ao seu reconhecido antissemitismo. Não estou aqui fazendo juízo de valores, mas mostrando que eram seres humanos passíveis de erro. Algumas de suas atitudes nem sequer eram consideradas erros à época. Vários deles eram escravagistas, nem por isso sentiram-se culpados.

Deixando de lado os mortos, observemos o caminho dos que ainda transitam entre nós. No que eles acertarem, imitemo-los. Mas, no que errarem, repreendemo-los.

Muitos deles conquistaram sua fama em cima de uma defesa acirrada das verdades bíblicas que mais lhes são caras.

É admirável o zelo de alguns no cumprimento das instruções apostólicas à igreja primitiva. Razão pela qual são contrários à ordenação feminina. Sugiro que, por uma questão de coerência, impeçam que suas esposas cortem o cabelo e usem joias. Que tratem bem seus escravos e, para tal, terão que adquiri-los. E que, sobretudo, repartam todos os seus bens com os pobres. E aí... vamos radicalizar?

É muito conveniente defender qualquer instrução apostólica ou bíblica, mesmo que fora de contexto, desde que corrobore com nossa ideologia e práxis. Mas ninguém defende aquilo que está claro e que deveria ser aplicado em qualquer contexto, quando nossos interesses são contrariados. Por isso, tantos defenderam a escravidão tomando as Escrituras como base, mas jamais defenderam a partilha dos bens, conforme se vê na igreja primitiva. Quem se dignaria a vender sua Harley-Davidson para repartir com os necessitados?

Condenamos a luxúria com a mesma veemência com que abonamos a ganância. Mandamos as bruxas para a fogueira, ao passo que fomos subservientes com os poderosos. Vendemos nossa alma. Somos um completo fiasco!

Precisamos voltar ao projeto original do reino de Deus!

Parafraseando Cazuza, nossos batistérios estão cheios de ratos. Nossos seminários estão cheios de mofo. Nossos púlpitos cheiram a naftalina. Nossas ideias não correspondem aos fatos. Precisamos reciclar. O tempo não para!

Como cristãos, temos nos revelado capazes de acompanhar a evolução tecnológica, mas totalmente anacrônicos quando se trata de evolução sociológica, cultural e científica. Ainda estamos preocupados em responder questões de cinco séculos atrás. Combatemos as indulgências como se ainda estivessem sendo cobradas. E mantemos opiniões sobre certos assuntos como se o mundo não houvesse passado pelo Iluminismo. Ainda há quem defenda um sistema geocêntrico com a mesma veemência com que repudia outras teorias científicas. Para os tais, a era das trevas não terminou.  

Alisto abaixo algumas declarações supostamente respaldadas nas Escrituras, feitas por pessoas que defendiam com unhas e dentes a inerrância do texto sagrado, mas que, no fundo, queriam mesmo assegurar a inerrância de suas próprias interpretações na defesa do que lhes interessava.

"A Bíblia ensina claramente, do décimo capítulo de Gênesis e diante, que Deus estabeleceu diferenças entre as pessoas na terra para manter a terra dividida." - Bob Jones III, defendendo a política da Universidade Bob Jones que proibia namoros e casamentos inter-raciais em 1982. A política foi alterada em 2000. 
"O direito de manter escravos está claramente estabelecido pelas Sagradas Escrituras, tanto por preceito quanto por exemplo." - Rev. Richard Furman, primeiro presidente da Convenção Batista do Estado Carolina do Sul em 1823. 
"As pessoas deram ouvidos a um astrólogo novato que se esforçou para mostrar que é a Terra que gira, não os céus ou o firmamento, o sol e a lua. Este idiota ... quer reverter toda a ciência da astronomia, mas a Sagrada Escritura nos diz que Josué ordenou que o sol ficasse parado, e não a terra "- Martinho Lutero, o reformador protestante no século 16 em uma conversa de mesa sobre o sistema solar heliocêntrico. 
"Às vezes, a Escritura declara que mulheres e crianças deveriam perecer junto com os pais ... Nós temos luz suficiente da Palavra de Deus para os nossos trabalhos." - Capitão John Underhill, defendendo a dizimação da tribo Pequot promovida por puritanos em 1637. 
 "A evidência de que havia ambos, escravos e senhores de escravos em igrejas fundadas e dirigidas pelos apóstolos, não pode ser eliminada, sem recorrer a métodos de interpretação que porão tudo a perder." - Rev. Leonard Bacon, em defesa da escravidão na América em 1846. 
"A Bíblia é a vontade revelada de Deus, e declara a esfera atribuída por Deus à mulher. A Bíblia, então, é a nossa autoridade para dizer que a mulher deve contentar-se com esta esfera ... Quem exige o direito ao voto para a mulher ? Eles não são amigos de Deus , nem são crentes em Cristo. Pode haver exceções, mas a maioria prefere a alegria de um infiel ao favor de Deus e o amor da comunidade cristã .”  Rev. Justin Dewey Fulton em seu tratado contra o sufrágio feminino em 1869. 
"Onde quer que tenhamos raças misturadas em grande número, temos dificuldade... Estes liberais religiosos são os piores infiéis no país, e alguns deles estão enchendo os púlpitos no sul. Eles não acreditam mais na Bíblia (...)  e recorrem ao modernismo , para extraviarem tanto brancos quanto negros. Mas todo cristão ortodoxo bom e inteligente,  que crê na Bíblia, pode ler a Palavra de Deus e saber que o que está acontecendo no Sul agora não é de Deus ." - Bob Jones Sr., em seu tratado contra a integração de brancos e negros , intitulado  “A segregação é bíblica?” em 1960. 
“O Antigo Testamento considera o homossexualismo não somente como uma ofensa criminosa, mas também como uma ofensa capital, merecedora de morte. Eu concordo com esta categorização e com esta punição, e há pelo menos uns poucos outros teólogos que também concordam com isto. Isto é apenas dizer que estamos de acordo com a Bíblia sobre o assunto. Assim, os cristãos não deveriam discutir tão apressadamente o casamento e a união civil entre homossexuais. O que eu quero discutir com o incrédulo é, em primeiro lugar, o porquê o homossexualismo não é um crime (...) Novamente, minha posição não é apenas que os homossexuais não devem se casar, mas que o homossexualismo é um crime, assim como o assassinato ou roubo, de forma que mesmo antes de considerar a união civil, devemos considerar punir ou não aos homossexuais, com as possíveis punições, abrangendo desde a prisão à execução.” - Vicente Cheung , teólogo nascido em Hong Kong, radicado nos EUA, autor de mais de trinta livros e centenas de palestras sobre teologia, filosofia, apologética e espiritualidade. Sua influência é crescente entre teólogos e seminaristas brasileiros reformados e conservadores.
Poderíamos incluir mais textos de teólogos considerados profundos conhecedores da Bíblia, defendendo o regime da Apartheid, o nazismo, ou justificando lucros exorbitantes, o trabalho escravo, entre outras coisas, mas isso se tornaria exaustivo.

As próximas gerações julgarão nossos posicionamentos atuais. De que lado estaremos? Da justiça ou de algum interesse nem sempre claro, camuflado de piedade? Quanto daquilo que tem sido dito com amparo bíblico não esconde agendas inconfessáveis? Estaremos fadados a repetir os erros do passado? Ou como diria Cazuza, será que a igreja se tornou num museu de grandes novidades?

O problema começa quando a gente toma o que a Bíblia diz para justificar nossos preconceitos e afinidades ideológicas.

De fato, quase qualquer coisa pode encontrar um suposto ‘amparo’ bíblico. Seja através de mandamentos que deveriam ser cumpridos dentro de um contexto específico, ou ainda através do exemplo de alguns de seus mais proeminentes personagens. Além da escravidão, pode-se justificar o estupro, a poligamia, o genocídio e, pasmem, até a pedofilia.

Como bem disse Rachel Held Evans:É fácil olhar para os cristãos que vieram antes de nós, considerando-os ignorantes e desinformados. Mas para aceitar a tese de Galileu, os nossos antepassados ​​do século 17 tiveram que rejeitar 1600 anos de interpretações cristãs tradicionais de passagens como Salmo 93:1, Eclesiastes 1:5, e Josué 10:12-14. E para aceitar os argumentos abolicionistas, os nossos tataravós tiveram de enxergar para além do "significado claro" de textos usados como prova, tais como Efésios 6:1-5 , Colossenses 3:18-25 , 4:1 e I Timóteo 6 :1 -2; empreendendo uma varredura geral das Escrituras em busca de seu apoio à causa da justiça e liberdade. Nós gostamos de caracterizar as pessoas nas citações acima como tendo usado as Escrituras para sua própria vantagem. Mas acho que é ao mesmo tempo assustador e humilhante notar que, muitas vezes, a nossa forma de fazer a distinção entre aqueles que amaram Escritura e aqueles que usaram a Escritura é retrospectiva.”[1]

Portanto, devemos ler as Escrituras como quem garimpa ouro, deixando de lado nossos pressupostos e abraçando aquilo que esteja dentro do espírito do evangelho, ainda que contrarie nossos interesses. Qualquer coisa que não se coadune com este espírito, deve ser considerada sob a luz da advertência paulina: “A letra mata, o Espírito vivifica.”




[1]Texto de  Rachel Held Evans com o título “The Bible was ‘clear’...

Postado originalmente em 29/01/2014

Deus perdeu o juízo!

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Por Hermes C. Fernandes

Nada tem sido mais subestimado do que a graça, apesar de figurar entre as mais queridas doutrinas cristãs.  Talvez justamente por isso. Nós a reduzimos a uma doutrina. Conseguimos a proeza de dissecá-la e sistematizá-la (como se isso fosse possível!)

Graça é a disposição divina em querer comunicar-se com Suas criaturas, transpondo todos os abismos que porventura os separe, arcando com todos os custos envolvidos. Mesmo esta definição, como qualquer outra, não dá conta de esgotar todos os seus significados. Simplesmente não cabe na lógica humana. Por isso mesmo, Paulo a chama de “loucura de Deus”.

Como se não bastasse reduzir seu significado, atrevemo-nos a fixar os limites do seu alcance. Pura perda de tempo. A graça extrapola todas as bordas, desrespeita todas as convenções, subverte todas tentativas de codificá-la. Nenhuma combinação de consoantes e vogais consegue expressar a vastidão de sentidos que ela encerra. Nenhum número possível pode quantificá-la. 

Não se trata de algo contingencial. Não é um plano tapa-buraco para pôr ordem na bagunça que o nosso pecado provocou. Nada disso! Onde quer que o pecado haja abundado, a graça superabundará. Desde que há Deus, há graça. Portanto, ela é anterior ao pecado. E quando já não houver nem resquício do pecado, ela seguirá suprema por todas as eras. Ela não é apenas o contraponto ao pecado. Longe disso. Ela é o fundamento da existência.

Graça é o idioma divino. Um Deus que é essencialmente amor só poderia expressar-se através da graça. E é aí que Ele difere de todas as divindades frutos da imaginação humana.

A graça se revela majestosa no fato de um Deus que não cabe no universo se apequenar a ponto de se aconchegar no ventre de uma jovem. O Pai da Eternidade assumiu corporeidade dentro do tempo e do espaço. O Verbo em quem todos os códigos da existência estão contidos fez ecoar Sua voz nos subúrbios da Galileia na mais eloquente declaração de amor. Deus não apenas se agachou, mas desceu até nós, atribuindo-nos um valor incalculável. Paulo, o apóstolo, refere-se a este fato como kenósis, o esvaziamento de Deus. Tal processo não começou na concepção do Cristo. Degraus anteriores tiveram que ser descidos até que Deus se achasse em forma humana. Sua kenósis, por assim dizer, começou no momento da criação. O Deus Trino decidiu que deveria existir algo para além de Si mesmo. Para tanto, o primeiro passo seria a retração do Criador, cuja finalidade seria ceder espaço para que outros existissem. Esse movimento de retrair-se pode ser entendido como um movimento uterino de Deus, uma contração visceral, assim como a mãe que gera dentro de si para depois dar à luz o que foi gerado. Seus órgãos internos devem se acomodar, retraindo-se para dar lugar ao novo ente. Analogamente, Deus abriu espaço em Si mesmo para acomodar um universo inteiro.

Como uma mãe que sabe o quão arriscado é pôr um filho no mundo, Deus sabia de todos os riscos envolvidos na criação, principalmente a partir do momento em que a consciência emergisse no cosmos. Creio que a retração divina foi ainda maior ao criar seres dotados de consciência. Seres livres, capazes de refletir por si mesmos, certamente lhe daria muita dor de cabeça. Aliás, Ele mesmo se queixou disso pelos lábios do profeta: “Deste-me trabalho com os teus pecados, e me cansaste com as tuas iniquidades.”[1]Mas somente um Deus absolutamente soberano não se sentiria ameaçado pela liberdade conferida às Suas criaturas.

Acredito que o tipo de relação que a graça exerce sobre nós tem muito mais a ver com cuidado do que com controle. Como a mãe de Moisés, que o colocou recém-nascido num cesto confiando-o às águas do Nilo, Deus entregou Sua criação ao fluxo natural. Mas tal qual Miriam que acompanhou a trajetória do cesto até que fosse resgatado pela filha de Faraó, em momento algum Deus nos perdeu de vista. Ele sempre soube que, eventualmente, terminaríamos em Seus braços novamente. 

Por eras, fomos açoitados pelas correntezas dos processos naturais, ameaçados pela presença de predadores, porém, guardados num cesto impermeável, carinhosamente preparado para nos embalar e sob o olhar atento do Unigênito de Deus. Toda vez que nosso cesto se agarrava a algum junco, era Ele que vinha nos desencalhar. Se algum crocodilo se nos aproximava, era Ele quem o espantava, fazendo-o recuar.

Que cesto seria esse? Um cesto de junco! Nada mais frágil. O que nos favoreceu ao longo das eras no processo natural foi justamente a nossa fragilidade. Não fosse por ela, não teríamos sobrevivido. Aprendemos a tirar força da fraqueza como os heróis descritos na epístola aos Hebreus.[2]Devemos a ela nossa inventividade. Descobrimos o fogo porque precisávamos nos proteger do frio, razão pela qual também costuramos nossas roupas. Inventamos ferramentas para driblar a fraqueza de nossos músculos e as nossas limitações anatômicas. Refugiamo-nos em cavernas para nos proteger de predadores e da fúria das tempestades. Em vez de simplesmente nos render às imposições da natureza, nós a sobrepujamos. Tudo isso por causa de nossa fraqueza. Eis o cesto que nos tem protegido por eras.

Como Moisés, escapamos da extinção. Somos sobreviventes de um processo evolutivo cruel que fez desaparecer milhões de espécies ao longo dos tempos. Sobrevivemos num ambiente inóspito, hostil à nossa presença. Mas cá estamos. Tudo isso, fruto da inexplicável graça divina que nos brindou com o dom da fraqueza.

Paulo percebeu que graças a esta fraqueza o poder de Deus encontra seu encaixe perfeito em nós.[3]Ela se constitui, por assim dizer, na maior de nossas vantagens. No dizer do apóstolo, somos vasos de barro que têm como conteúdo um inestimável tesouro. [4]

Conhecedor de todas as coisas, inclusive do futuro, Deus sabia exatamente aonde nosso cesto de junco aportaria. Sua acolhida no palácio de Faraó seria passageira, assim como nossa absorção pelos sistemas deste mundo. Cristo, nossa “Mirian” trataria de nos reconduzir aos braços de nosso Pai/Mãe celestial, tão se comprovasse a inabilidade de tais sistemas em nos prover, não apenas meios de sobrevivência, mas, sobretudo, sentido para a nossa existência.

Mirian não poderia acompanhar o cesto sem molhar os pés e arriscar sua própria pele. Semelhantemente, Cristo não poderia nos reconduzir ao Pai se não sujasse Seus pés na poeira deste mundo. A diferença entre Mirian e Jesus é que a primeira passou incólume, só se manifestando diante da princesa para sugerir-lhe que se chamasse a mãe do menino para ser sua ama de leite. Jesus, não. O cosmos inteiro voltou sua atenção para Ele desde que pôs Seus pés neste mundo. Anjos celebraram. Demônios tiveram que abrir alas para que Ele passasse. Reis se sentiram ameaçados pela Sua presença. Sacerdotes conspiraram para matá-lo. Até dentre os Seus discípulos houve quem O traísse, quem O negasse e quem se recusasse a crer.

A filha de Faraó acatou sem resistência à sugestão de Mirian. Mas Cristo teve que despojar principados e potestades, arrancando-lhes das mãos o domínio que tinham sobre os homens.[5]

E como o fez? Demonstrando Seu poder? Não. Revelando Sua desconcertante vulnerabilidade. Foi em Sua completa rendição de amor que Ele desarticulou os poderes, ridicularizando sua presunção. A kenósis iniciada na criação, na retração divina, agora alcançava seu apogeu. O Onipotente revela Sua oni-debilidade. O Onisciente se faz momentaneamente ignorante, a ponto de desconhecer o dia de Sua vinda. O Onipresente agora está preso, totalmente imobilizado numa cruz. Aquele que enche todas as coisas, de repente, se esvaziou. O último degrau da kenósis foi descido. Aquele que era em forma de Deus, não usurpou ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo ao criar todas as coisas, tomou a forma de servo, fez-se semelhante aos homens, humilhou-se a si mesmo, e agora, por obediência à vontade do Pai, experimentou nossa morte.[6]Não de uma maneira convencional, natural. Não de “morte morrida”. Mas da maneira mais aviltante. Ele teve a morte destinada a todos os que se insurgem contra o sistema. Não morreu entre príncipes, mas entre ladrões comuns.

Jesus redefiniu os atributos divinos. De modo que, agora, onipotência tornou-se infinita capacidade do dom de si mesmo ao outro. Onipresença deixou de ser apenas estar presente para se tornar presente. Onisciência deixou de ser saber de tudo para ser o conhecimento por experiência própria. Misericórdia se tornou em compaixão. O Deus revelado em Jesus conhece o sofrimento, a dor, a humilhação, não pelo que contaram a Ele, mas pelo que Ele mesmo experimentou. Não há dor humana que Ele desconheça.

Os anjos devem ter achado que Deus perdera o juízo. Não é à toa que Paulo se refere à loucura de Deus, associando-a a Sua inebriante fraqueza.[7]Quão subversivo é o Deus revelado em Jesus! Ele Se esvazia para poder encher todas as coisas. Sua majestade resplandece na Sua humildade que beira à descompostura. Seu poder se revela na fraqueza, Sua presença na ausência provocada por Sua retração, Sua sabedoria em Seu desvario. Sua vida pulsa vibrantemente através de Sua morte. Sua soberania se sobressai ao conferir liberdade aos seres dotados de consciência. Sua justiça se impõe na exposição de Seu amor. 

Eis a graça! Tão graciosa que nos deixa absolutamente sem graça, desconcertantemente constrangidos. Nossos argumentos mais refinados vão para o lixo. Nossa sofisticação se torna obsoleta. A graça implode nossos castelos de areia. Ficamos sem chão. Entregues à vertigem da liberdade. Fiados exclusivamente em Seus propósitos, cuja equação inclui misteriosamente a Sua soberania e a nossa liberdade.

Assisti recentemente a um trecho de um sermão onde o pregador insistia que a porta da graça estaria prestes a se fechar. Para esta linha de pensamento, a graça é uma porta que se abriu na cruz e se fechará quando Cristo vier raptar o Seu povo. Ledo engano. A graça precede a existência do cosmos. Ela se firma na disposição amorosa de Deus em criar todas as coisas. Se a tal “porta da graça” se fechasse, o cosmos entraria em colapso.

Cada partícula subatômica é mantida pela mesma graça cujo guarda-chuva cobre o restante da criação.

E aqui, vale dizer que não há graça meia-boca, capaz de permitir a convivência entre os homens, mas incapaz de conduzi-los à consumação do propósito de suas existências. Quando falamos “graça comum”, referimo-nos a uma graça comungada por todos os seres.  Mas isso não a torna vulgar. Num certo sentido, a graça é absolutamente incomum. A mesma que conduz o elétron em sua órbita em torno do núcleo do átomo, conduz o homem à redenção de sua alma. A mesma que inspira o artista na elaboração de sua obra prima, inspira profetas a denunciar as injustiças e apontar o caminho da equidade.

Tal graça não cabe dentro de compêndios e esquemas doutrinários. Ninguém detém seu copyright, nem o monopólio de sua ação. Toda vez que nos apossamos dela, ela vaza por entre nossos dedos.

A graça é onipresente! Com os olhos iluminados, podemos detectar seus rastros na cultura, na ciência, na história e em todos os caminhos por onde temos transitado. Deixemo-nos, portanto, nos surpreender e encantar com o seu brilho e jamais ousemos novamente subestimá-la. 




[1]Isaías 43:24
[2]Hebreus 11:34
[3] 2 Coríntios 12:9
[4] 2 Coríntios 4:7
[5]Colossenses 2:15
[6]Filipenses 2:6-8
[7] 1 Coríntios 1:15

Oração de Carnaval

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Nosso Pai Celestial,

Amanhã já é quarta-feira de cinzas, quando os foliões guardam suas fantasias e, exaustos, voltam à sua rotina. Aqueles mais religiosos fazem penitências, e arrependidos por seus excessos, dão boas-vindas à Quaresma, período em que os cristãos católicos se preparam para a celebração da Semana Santa. Outros, indiferentes ao calendário religioso, simplesmente retomam suas vidas, descobrindo que aquele vazio existente antes da festa da carne parece ainda maior.

Ninguém nos conhece tão bem quanto o Senhor. Tu sabes o quão suscetíveis somos às paixões carnais. Por isso, dirijo-me a Ti para rogar o Teu perdão e a Tua misericórdia sobre nosso sofrido povo brasileiro. Não somos inocentes. Sabemos exatamente onde e quando erramos e magoamos o Teu coração. Porém, nem todos conhecem a Ti por meio de Teu Filho Jesus Cristo. Estes carregam nos ombros o insuportável peso da culpa, sem ao menos saberem a quem recorrer em busca de alívio.

Muitos de nós, desejosos de Te agradar, preferiram privar-se da festa, isolando-se em seus domicílios ou em retiros promovidos por suas igrejas. Mesmos estes não estão imunes ao pecado, seja ele de ordem moral ou por pura presunção. No fundo, somos todos “farinha do mesmo saco”. O pecado não está na Avenida onde acontecem os desfiles, nem nos blocos, nos bailes ou na transmissão televisiva. Antes, o pecado está em nós, em nossa natureza caída. Por isso, todos, igualmente, temos nossas próprias razões para nos arrepender. Inclusive pela nossa indiferença e alienação.

Alguns de nós se expuseram, infiltrando-se por entre os foliões para dar testemunho do Teu amor. Destes, muitos voltaram frustrados por não obterem os frutos esperados. Outros voltaram relatando a experiência de ter alcançado alguns poucos foliões, dentre os quais, boa parte afastada da igreja. Obrigado, Senhor, por sua coragem e dedicação.

No meio a tanta perversão, pudemos ver lampejos da Tua graça nos lugares mais inusitados. Até nos desfiles das agremiações carnavalescas, com sua rica criatividade revelada nas alegorias, nas fantasias e nos sambas-enredos. Quão bom é o Senhor! Não há trevas que de tão densas não possam ser rasgadas por Tua luz.  Mesmo assim, os homens Te dão as costas e preferem celebrar suas próprias paixões desenfreadas. Se fôsseis um Deus vingativo e rancoroso, Tua farias chover violentamente durante os festejos e, assim, estragaria a festa deles. Em vez disso, Tu nos brindaste a todos com dias ensolarados e noites estreladas. Isso me recorda o que Teu servo Paulo declarou aos moradores de Listra, afirmando que o Senhor não deixou de dar testemunho de si mesmo, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações” (At.14:17). Quão bondoso é o Senhor!

É bem verdade que alguns desses sambas-enredos mencionaram o Teu nome, ora parecendo invocá-lo, ora louvando-o. Seria isso o que Teu Filho previra ao dizer que se calássemos as pedras clamariam?

Obrigado, Senhor, pelos inúmeros empregos gerados nesta época. Pela injeção econômica que nossa cidade recebe por causa do turismo. Embora, muitos desses turistas venham em busca de prazer carnal, anunciado pelas agências de turismo ao redor do mundo, através de cartazes com fotos de nossas mulatas desnudas. Que bom seria se a EMBRATUR investisse mais num turismo destinado à família em vez de buscar atrair um público predominantemente masculino procurando por sexo fácil. Eu realmente preferiria que nossa gente fosse querida por sua criatividade e hospitalidade, e não por sua licenciosidade. Ainda assim, obrigado, Senhor, pelo aumento na arrecadação de impostos que beneficia tanto nossa prefeitura, bem como o governo do Estado e a União. Pena, Senhor, que esses recursos não sejam revertidos para melhoria da qualidade de vida daqueles que com tanta alegria desfilam em defesa do pavilhão de sua escola de samba.  Devo confessar, Senhor, que não me sinto confortável de saber que entre os que financiam os desfiles há contraventores, cujo dinheiro se mistura ao dinheiro público numa relação antiética e absurda. Quando, Senhor, os governos e a direção dessas escolas prestarão contas ao povo?

Vejo com bons olhos o fato de ricos e pobres se unirem num mesmo desfile. Mas até ali, a injustiça prevalece. Os verdadeiros protagonistas, que ensaiaram o ano inteiro nos barracões, desfilam no asfalto, enquanto que, artistas e gente renomada recebem destaque em carros alegóricos luxuosos. Preocupa-me a relação entre a classe artística e as escolas de samba. Não estou certo de que estejam apenas em busca dos holofotes. Mas Tu, Senhor, tudo conheces e julgas retamente. 

Perdoe-nos os excessos, Senhor. Mesmos os cometidos em Teu nome. Perdoe-nos o excesso de corpos desnudos que fomenta a lascívia até no coração de irmãos que assistem pela TV. Perdoe-nos o excesso de julgamento que nos faz alimentar a presunção de sermos melhores e mais santos do que outros. Perdoe-nos os excessos de alguns de nossos jovens que, mesmo em retiro, dão vasão à carnalidade nas caladas da noite, enquanto seus líderes dormem.

Perdoe-nos por fechar nossas igrejas quando mais o mundo precisa de nós. Por entregar nossas cidades ao reinado de Momo. Perdoe-nos pela nossa apatia frente à necessidade dos bancos de sangue que, devido ao elevado índice de acidentes nas estradas e nos grandes centros, atravessam seu momento mais crítico.

Peço pelas famílias destroçadas durante os festejos carnavalescos, seja pelo abuso de álcool, drogas ou pela imprudência ao volante. Console, Senhor, aos enlutados. Restaura àqueles que, no calor da folia, deram passos dos quais terão a vida inteira para se arrepender. 

Ajude-nos, Senhor, a que sejamos mais compassivos e menos jactanciosos. Que sejamos sal da terra, luz do mundo, e não sal no saleiro ou holofotes voltados para nós mesmos. Que tenhamos mãos estendidas no lugar de dedos em riste. Tire-nos de nosso comodismo e ostracismo, e conduza-nos na direção do outro, mesmo quando este pensa e age de maneira contrária aos nossos valores e princípios. Que o mundo conheça através de nosso testemunho de amor, aquela alegria perene que não termina em cinzas, festa que não tem hora para acabar.

Em nome de Jesus, Teu precioso Príncipe,

Amém. 

Por Hermes C. Fernandes

Rastros da Graça no Carnaval - O que a igreja poderia aprender com os desfiles das escolas de samba?

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Por Hermes C. Fernandes

Seria lícito tomar o desfile do Carnaval como analogia de nossa caminhada cristã? Certamente, a maioria dirá que não. Afinal de contas, o Carnaval é a festa pagã por excelência, onde, além de toda promiscuidade, entidades pagãs são homenageadas. Eu poderia gastar muitas linhas tecendo críticas justas a esta festa em que tantas famílias são desfeitas, e inúmeras vidas destruídas. Porém hoje, quero pegar a contramão.

Por que será que os cristãos sempre enfatizam os aspectos ruins de qualquer manifestação cultural? Se vivêssemos nos tempos primitivos da igreja cristã, como reagiríamos ao fato de Paulo tomar as Olimpíadas como analogia da trajetória cristã neste mundo? Ora, os jogos olímpicos celebravam os deuses do Olimpo. Portanto, era uma festa idólatra. Os atletas competiam nus. Sem contar as orgias e os sacrifícios que se seguiam às competições. Sinceramente, não saberia dizer qual seria pior, as Olimpíadas ou o Carnaval. Porém Paulo soube enxergar alguma beleza por trás daquela manifestação cultural. A disposição dos atletas, além do seu preparo e empenho, foram destacados pelo apóstolo como virtudes a serem cultivadas pelos seguidores de Cristo.

E quanto ao Carnaval? Haveria nele alguma beleza, alguma virtude que pudesse ser destacada do meio de tanta licenciosidade? Acredito que sim. Embora jamais tenha participado, talvez por ter nascido em berço evangélico tradicional, posso enxergar alguma ordem no meio do caos carnavalesco.

Destaco, em primeiro lugar, a criatividade dos foliões, principalmente dos carnavalescos na composição das fantasias, dos carros alegóricos, e do samba-enredo. É notória sua busca pela perfeição. Diz-se que o desfile do ano seguinte começa a ser preparado quando termina o Carnaval. É, de fato, um trabalho árduo que demanda muito empenho. Se houvesse por parte de muitos cristãos uma parcela da dedicação encontrada nos barracões de Escolas de Samba, faríamos um trabalho muito mais elaborado para Deus. Buscaríamos a excelência, em vez de nos contentar com tanta mediocridade. Tomemos por exemplo as composições musicais. Basta ouvir algumas estrofes para perceber o trabalho de pesquisa que envolve a composição de um samba-enredo. Sem contar as rimas ricas, as melodias marcantes, e a ousadia criativa das baterias. Enquanto isso, composições que visam louvar a Deus estão cada vez mais pobres, tanto do ponto de vista melódico, quanto do ponto de vista lírico. Não aguento mais temas repetitivos, tais como chuva, fogo, anjos e etc.

O desfile começa com a concentração. É ali que é dado o grito de guerra da Escola, seguido pelo aquecimento dos tamborins. A concentração equivale à congregação. Nosso lugar de culto (comumente chamado de “templo” ou “igreja”) é onde nos concentramos e aquecemos nosso espírito. Porém, a obra acontece lá fora, “na avenida” do mundo.

Gosto quando Paulo fala que somos conduzidos por Cristo em Seu desfile triunfal. O apóstolo compara a marcha cristã pelo mundo às paradas triunfais promovidas pelo império romano. Era um espetáculo cruento, no qual os presos eram expostos publicamente, acorrentados e arrastados pelas ruas da cidade. Era assim que Roma exibia sua supremacia, e impunha seu poder. Paulo toma emprestada a figura deste majestoso e horroroso evento para afirmar que Cristo está nos exibindo ao Mundo como aqueles que foram conquistados por Seu amor.

Muitos cristãos acreditam ingenuamente que a guerra se dá na concentração. Por isso, a igreja atual é tão ensimesmada, isto é, voltada para dentro de si. Ela passou a ver-se como um fim em si mesmo.

A avenida nos espera!

Encabeçando o desfile vai a comissão de frente, seguida pelo carro abre-alas. Compete aos componentes dessa comissão a primeira impressão. A comissão de frente da igreja de Cristo é formada pelos que nos precederam, que abriram caminho para as novas gerações. Não podemos permitir que caiam no esquecimento. Também são os missionários, que deixam sua pátria para abrir caminho em outros rincões. Grande é sua responsabilidade, e alto é o preço que se dispõem a pagar para que o Evangelho de Cristo chegue à populações ainda não alcançadas. Paulo fazia parte da comissão de frente da igreja primitiva. Escrevendo aos Coríntios, ele diz que sua missão era“anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós, e não em campo de outrem” (2 Co.10:16). Em bom português, o apóstolo dos gentios preferia pescar em alto mar, e não no aquário dos outros.

A Escola de Samba é dividida em alas, cada uma com fantasias e carro alegórico próprios. Porém, o samba-enredo é o mesmo. O que é cantado lá na frente, é sincronicamente cantado na última ala da Escola. A voz do puxador do samba, bem como a batida harmoniosa da bateria, ecoando por toda a avenida, garantem esta sincronia. Não pode haver espaços vazios entre as alas. Há harmonia até nas cores das fantasias. Ninguém entra na avenida vestido como quiser. Imagine se as variadas denominações que compõem o Corpo Místico de Cristo se relacionassem da mesma maneira, respeitando cada uma o espaço da outra, porém dentro de uma evolução harmoniosa.

No meio do desfile encontramos o casal formado pelo mestre-sala e pela porta-bandeira. Eles exibem orgulhosamente o pavilhão da Escola. Seus gestos e passos são cuidadosamente combinados, para que a bandeira receba as honras devidas. É triste verificar o quanto a bandeira do Evangelho tem sido chacoalhada, pois os que a deveriam ostentar, são os primeiros a desonrá-la com seu mal testemunho. Enquanto que os cristãos primitivos se dispunham a pagar com a própria vida para que seu testemunho de fé fosse validado e o nome de Cristo fosse honrado.

Ao término do desfile chega o momento da dispersão. É hora de partir, levando a certeza de que todos deram o melhor de si. Alguns saem machucados, com os pés sangrando, com as forças exauridas. Mas todos saem alegres, esperançosos de que sua escola seja a campeã. Aprenderam a sublimar a dor enquanto desfilam. Ignoram o cansaço. Vencem os limites do seu corpo. Tudo pela alegria de ver sua escola se sagrando campeã. Mas no fim, chega a hora de tirar a fantasia, descer dos carros alegóricos, cuidar das feridas nos pés. Mesmo assim, ninguém reclama. Todos exibem no rosto um sorriso de contentamento. 

Semelhantemente, todos estamos a caminho do fim do desfile. O momento da dispersão está chegando, quando deixaremos este corpo, nossa fantasia, e seremos saudados pela Eternidade. Que diremos nesta hora? Não haverá novos desfiles. Terá chegado o fim de nossa trajetória? Não! Será apenas o começo de uma nova fase existencial. Deixaremos nossas fantasias, para nos revestirmos de novas vestes celestiais. Falaremos como Paulo em sua carta de despedida a Timóteo:
“...o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm.4:6b-8).
Aproveitemos os instantes em que estamos na avenida desta vida, celebremos a verdadeira alegria, infelizmente ainda desconhecida por muitos foliões, e que não terminará em cinzas.

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P.S. Antes que me perguntem se pude perceber rastros da graça nos desfiles das escolas de samba que homenageavam entidades cultuadas nas religiões de matizes africanos, quero dizer que sim. Tudo depende da leitura que se faz. Ainda que não compartilhe de alguns dos valores e doutrinas apregoados em tais religiões, devo buscar compreender o que elas representaram na luta do negro pela manutenção de sua identidade cultural depois de ser arrastado de seu país para servir como escravo. Vejo no sincretismo entre tais cultos e a religião católica e o misticismo cigano, a tentativa desesperada de conciliação em nome da sobrevivência. Não estou aqui defendendo suas crenças, e sim o direito de existirem, ainda que desafiem nossos escrúpulos religiosos. Os demônios que porventura se escondam por trás de sua mitologia e práticas, por muito tempo têm se escondido por trás de nossas liturgias e discursos preconceituosos travestidos de piedade. Qualquer abordagem que almejemos, terá que partir da compreensão e do respeito, e não da demonização do diferente. Cada tradição religiosa, seja africana, europeia, indígena ou oriental, tem algum altar oferecido a um deus que desconhece. Antes de nos apresentarmos como Seus porta-vozes, cuidemos para que se construam pontes e não mais muros.

Quer mesmo saber o que é namorar?

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Por Hermes C. Fernandes

Namorar é abraçar sem pressa de soltar. É perder a respiração num beijo apaixonado. É pedir que o outro desligue o telefone primeiro, torcendo para que ele não atenda seu pedido. É perder o último trem e ter que dormir na casa da namorada e inventar uma desculpa para os pais. É contar cada minuto do dia à espera de reencontrar quem se ama. É sentir aquele friozinho na barriga e o coração disparar quando se está próximo. É não conseguir desviar os olhos ou tentar disfarçar e devorar com os olhos quando o outro se distrai. É colocar a melhor roupa, o melhor perfume, para tentar impressionar. É olhar-se no espelho quinhentas vezes para certificar-se de que está bem. É adivinhar o que o outro está pensando. É beijo roubado. É tirar para dançar. É fazer serenata. É surpresa. É romance. É sonho. É aventura. É amor. 

Quando se está enamorado, tudo é desculpa para se estar junto. A ausência produz uma insuportável saudade… saudade do olhar, da respiração ofegante, da fragrância do seu perfume, da voz, do jeitinho de falar, dos gestos. Por isso, a gente sempre dá um jeito. Se tiver que fugir, foge. Se tiver que sacrificar qualquer coisa, sacrifica. O importante é estar juntos, não importa o preço que se tenha que pagar.

Dizem que o namoro é um estágio anterior ao casamento. Por isso, para muitos, depois que se casa, não se namora mais. Que desperdício.

Um casamento sem namoro é como um dia de sol sem praia, ou um dia de chuva sem cinema. 

Dizem que no namoro há querer, sem poder, e que no casamento isso se inverte: há poder, mas já não há querer. Que bobagem! Quando se ama para valer, o casamento é a coroação do namoro, em que querer e poder caminham juntos. 

Quer salvar seu casamento, volte a namorar. O que apimenta uma relação desgastada pelo tempo não é assistir pornô, mas reavivar as chamas do amor. Sua mulher quer sentir-se amada, não usada. 

Antes de levá-la para cama, leve-a para a varanda. Antes dos finalmente, beije-a como dantes. Antes dos gemidos e suspiros de prazer, diga-a o quanto a ama. Reapaixone-se. Deixe-lhe bilhetes. Traga-lhe rosas. Ligue durante o dia só para ouvir sua voz. Eleja uma música para que seja a trilha sonora de sua paixão. Saia de mãos dadas. Lance-lhe olhares ‘maliciosos’… Demonstre, sem pudor, o quanto a deseja. Ame-a sem reservas e sem hora marcada. Reconquiste-a. Ou você esqueceu como se faz? Volte a ser o homem por quem ela um dia se apaixonou. 

Quando isso acontece, o céu aplaude. Os anjos assistem de camarote. Deus sorri.

Caso o contrário, seu casamento estará fadado a encabeçar a lista de arrependimentos de sua vida.

FELIZ DIA DOS NAMORADOS ATRASADO (Valentine's Day nos EUA foi ontem, dia 14)

Reconhecendo a silhueta divina em meio à calamidade

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Por Hermes C. Fernandes

Sabe quando a gente tem a impressão de ter agido precipitadamente, mas logo em seguida, somos tomados pela certeza de que agimos sob a direção divina? Já se sentiu assim antes? Pois os discípulos de Jesus passaram por um episódio em que se sentiram exatamente assim. Eles haviam acabado de presenciar um dos maiores milagres realizados por Cristo. Cinco mil homens, além de mulheres e crianças, foram alimentados com míseros cinco pães e dois peixinhos. Eles ainda estavam processando o significado do que tinham assistido.

Jesus, por Sua vez, parecia distraído com a multidão. Mateus conta que “ordenou Jesus que os seus discípulos entrassem no barco, e fossem adiante para o outro lado, enquanto ele despedia a multidão” (Mt.14:22). Aquela ordem não parecia razoável. Deixá-lO ali? E como os alcançaria depois? Não seria melhor esperá-lO um pouco mais?

Ordem é pra ser obedecida, não questionada. Por isso, lá se foram eles sem dizer uma palavra. O que Ele teria em mente? Talvez tomasse carona em outro barco para os encontrar. Tão logo acabou de despedir-se do povo, em vez de sair imediatamente ao encontro dos discípulos, Jesus foi para o monte orar. O fato é que Jesus precisava ficar a sós com o Pai.

Marcos relata que “sobrevindo a tarde, estava o barco no meio do mar, e ele sozinho em terra” (Mc.6:47). Mesmo tão distante geograficamente, Jesus não os perdeu de vista por um só instante.

“Vendo-os fatigados a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da oite aproximou-se deles, andando por sobre o mar” (Mc.6:48a).

Ora, se eles estavam lá por uma ordem expressa de seu Mestre, por que o vento lhes era contrário? Posso imaginar uma discussão entre os discípulos:

- Eu não disse que deveríamos esperar por Ele?
- Mas foi Ele quem nos enviou?
- Que nada! Ele estava nos testando. Deveríamos ter ficado com Ele.
- É… acho que nos precipitamos.
- Vamos parar com este papo, e continuar a remar…

De fato, não houve qualquer precipitação. Eles estavam ali no meio daquele mar revolto por determinação de seu Senhor. E embora eles O tivessem perdido de vista, distraídos com os ventos contrários, Jesus não os perdera. E a prova disso é que veio correndo para socorrê-los.

Os pés que em breve seriam vazados pelos cravos, marchavam sem serem submergidos pelas águas. Os pés que seriam suspensos no madeiro, agora driblavam a lei da gravidade, suspensos sobre as águas pelo poder do amor.

Sua caminhada por sobre o mar não era uma demonstração performática de poder, mas evidência de Sua pressa em alcançá-los. Marcos diz que Jesus“queria passar à frente deles” (v.48b).

Convém destacar que Jesus caminhou em meio ao mar revolto. A calmaria só veio depois que Ele entrou no barco. Quando os discípulos viram aquela silhueta se insinuando no meio do nevoeiro, começaram a gritar apavorados, achando que era um fantasma.

- Só faltava essa! Como se não bastasse o vento contrário, agora nos aparece esta assombração! E cadê Jesus? Por que nos abandonou?

Se isso acontecesse em nossos dias, em terras tupininquins, alguns diriam que era Iemanjá…rs

Vendo-os desesperados, Jesus bradou: “Tende bom ânimo, sou eu, não temais” (Mt.14:27). Pedro, gato escaldado, preferiu tirar a prova dos nove: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por sobre as águas” (v.28).

Jesus deve ter sorrido nessa hora. Uma sugestão dessas só poderia vir de Pedro, o sanguíneo. Em momento algum Jesus o censurou por isso. Às vezes precisamos de sinais que nos evidenciem que a silhueta que se insinua diante de nós seja realmente de Jesus, e não de alguma assombração ou projeção de nosso inconsciente.

Às vezes enxergamos o que queremos enxergar. Outras vezes enxergamos o que preferíamos evitar. Somos assombrados por temores incontroláveis e assediados por desejos inconfessáveis. Antes de deixar nossa zona de conforto para nos aventurar em direção àquilo que nos atrai, convém buscar uma confirmação de que aquilo provém do Senhor.

Jesus não discursou. Não era momento para um sermão. Ele apenas deu voz de comando: VEM!

Sem titubear, Pedro “descendo do barco, andou por sobre as águas para ir ter com Jesus” (Mt.14:29).
Repare no detalhe: Ele andou por sobre as águas para encontrar Jesus. O problema é que muitas vezes queremos“andar sobre as águas” apenas pela sensação que isso poderia nos proporcioar, ou mesmo, pela repercussão que isso causaria. Perdemos o foco. Fazemos do meio um fim em si mesmo.

Enquanto os outros discípulos pasmavam e talvez questiovam o atrevimento do colega, Pedro pisava nas águas como quem se sustenta sobre o chão firme. Tudo ía bem até que Pedro se deixou distrair pelo vento que permanecia forte e contrário. As ondas do medo invadiram seu coração e logo, começou a afundar. Desesperado, Pedro começou a gritar:“Salva-me, Senhor!”

Sem cerimônia, Jesus Se aproximou, estendeu a mão e o socorreu, dizendo:”Homem de pequena fé, por que duvidaste?” (v.31). Jesus não estava censurando por lhe haver pedido uma prova de que era Jesus quem se aproximava do barco. Jesus o repreendera por haver se distraído com a fúria do vento. Este é o tipo de dúvida que aborrece a Deus. A dúvida gerada pela distração.

Quando ambos entraram no barco, o vento cessou (v.32). O que indica que aquela tempestade servia como cenário para que os discípulos aprendessem uma importante lição: Reconhecer Jesus em meio da adversidade.

Atender a uma ordem divina nos garante que seremos imunes aos ventos contrários da vida. Mas nos garante que Jesus jamais nos perderá de vista, e quanto estivermos cansados de remar contra o mar, Ele virá em nosso socorro.

Não há VIP’s no Reino de Deus!

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Por Hermes C. Fernandes

Chegara a hora da triagem. De todos os que seguiam a Jesus, doze seriam escolhidos para serem Seus apóstolos. Logo no início, Pedro se destacou. Foi ele o porta-voz dos demais ao confessar que Jesus era ninguém menos que o Cristo, o Filho do Deus vivo. Dentre a multidão que seguia a Jesus, uns diziam que Ele era João Batista, outros, Elias. Mas Pedro acertou na mosca. Ficava evidente que entre eles, os mais chegados, e os demais, abria-se um abismo. Pedro deve ter se sentido muito importante, a ponto de querer dissuadir Jesus de entregar-Se para ser crucificado. Porém, acertar uma vez não significa acertar sempre. Os mesmos lábios que disseram que não fora carne ou sangue que lho revelara que Jesus era o Cristo, também o repreenderam: Pra trás de mim, Satanás!

Dos doze, Jesus separa três, Pedro, Tiago e João, e os leva para o monte. Lá assistem “de camarote” à transfiguração do Seu rosto e à aparição de duas das figuras mais importantes do Antigo Testamento, Moisés e Elias. Devem ter se sentido mais importantes do que os nove que ficaram lá embaixo. E pra completar, Jesus lhes pede sigilo absoluto. Estavam proibidos de contar aos demais o que haviam presenciado. Portanto, dentre os doze, eles se sentiam os VIP.

Quando descem do monte, deparam-se com uma inusitada cena. Os nove preteridos passavam o maior vexame tentando exorcizar um rapaz. O pai, desiludido  vem ao encontro de Jesus reclamando que Seus discípulos eram incapazes de libertar seu filho. “Ó geração incrédula e perversa!”, exclama o Mestre. Que vergonha! Os três seletos devem ter imaginado: Agora sabemos porque fomos preferidos e eles preteridos. Se eles não podem expulsar um demônio, que condição teriam de ver o que vimos?

A língua estava coçando… porém não podiam contar aos demais o que acontecera lá em cima.

De repente, Jesus percebe uma discussão em voz baixa. Quem, dentre os doze, seria o mais importante? Quem teria a primazia sobre os demais? Para encerrar a discussão idiota, Jesus toma uma criança, e diz, dirigindo-Se a eles:
“Qualquer que receber esta criança em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me recebe, recebe o que me enviou. Pois aquele que entre vós todos for o menor, esse é que é grande.” Lucas 9:48
Bem que poderiam dormir sem essa! Mas Jesus não podia desperdiçar a oportunidade de lhes dar uma importante lição acerca de como as coisas funcionam no Reino de Deus, onde a ordem é subvertida, e o maior é aquele que serve aos demais, e não aquele que se serve deles.

No Reino não existem VIP’s! Não existe discípulo de primeira classe e discípulo da classe econômica. Por maior que tenha sido a experiência que tivemos, não nos confere o direito de nos servir dos outros e nos alavancar à primazia sobre eles. Quem viu o rosto de Jesus transfigurar não é mais importante do que os que ficaram lá embaixo amargando a experiência de não conseguir expulsar um demônio. Quem fala em línguas não é mais importante do que quem não fala. Quem profetiza não tem primazia sobre quem não o faz. Quem ostenta um título não deve valer-se dele para exercer domínio sobre os demais.

Parecia que a discussão terminara. Embora tenham se silenciado, esperaram a ocasião oportuna para deixar emergir a mesma questão, ainda que de maneira velada. E a primeira oportunidade surgiu imediatamente.

João, um dos três VIP’s, disse: “Mestre vimos um homem que em teu nome expulsava demônios, e nós o proibimos de fazer isso porque não segue conosco” (v.49). Era como se João quisesse dizer: Senhor, tem um cara que não pertence ao nosso círculo, mas consegue o que nossos colegas aqui não conseguiram. Ele expulsa demônios em Teu nome. Percebe a ironia?

Além de dar uma implicada com os outros nove, João insinua que o direito a expulsar demônios era uma exclusividade dos doze. Quanta ousadia querer o monopólio do nome de Jesus! Para a surpresa de todos, Jesus respondeu: “Não o proibais, pois quem não é contra vós é por vós” (v.50).

Ser escolhido de Deus não significa ser preferido. Onde houver preferidos, haverá também preteridos. Ele usa a quem quer, onde quer, e como quer. Cristo jamais esteve limitado aos doze, nem aos setenta enviados posteriormente, nem mesmo à igreja. Ele não assinou contrato de exclusividade com quem quer se seja. E se houver alguém usando Seu nome para além de nossos arraiais eclesiásticos, isso deveria nos causar júbilo em vez de consternação. O escopo do Espírito Santo não está circunscrito aos limites denominacionais ou doutrinários. Ele soprar aonde quer, e ninguém fica sabendo de onde veio, ou pra onde vai.

O assunto ainda não se encerrara. Decidido a ir para Jerusalém, onde deveria sofrer e ser crucificado, Jesus “mandou mensageiros adiante de si, os quais entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada; mas não o receberam, porque viram que ele ia para Jerusalém” (vv.52-52). Acho que não preciso discorrer aqui sobre a animosidade recíproca que havia entre judeus e samaritanos. Pelo visto, os samaritanos não tinham nada contra Jesus. Numa outra ocasião, saíram ao encontro d’Ele, depois de ouvirem dos lábios de uma mulher que talvez Ele fosse o tão esperado Messias. Porém, quando souberam que ali seria apenas uma rápida escala para Jerusalém, recusaram hospedá-Lo. Aquela era a deixa tão esperada pelos irmãos Tiago e João, dois dos VIP’s do Monte da Transfiguração.
“Os discípulos Tiago e João, vendo isto, perguntaram: Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma, assim como fez Elias?” (v.54).
A sugestão deles fazia todo sentido. Afinal, quem eles haviam visto lá em cima em conferência com Jesus? Moisés e Elias. Quem mal haveria em tomar um dos dois como referência numa situação daquela? O que faria Elias?

O que eles haviam se esquecido é que o esplendor do rosto de Jesus foi tamanho que ofuscou a presença dos dois profetas. E a voz que bradou do céu disse: Este é o meu Filho, a Ele ouvi! Portanto, nem Moisés nem Elias, ou qualquer outro personagem bíblico nos serve de referência absoluta. Somos discípulos de Jesus, não de Elias, Eliseu, Samuel, Gideão, Davi ou qualquer outro. Todos eles tiveram sua importância na execução dos propósitos divinos. Porém, seu brilho foi ofuscado pelo esplendor da face de Cristo. Todos eles tiveram virtudes e vicissitudes, erros e acertos. Porém em Cristo encontramos a perfeição. Todos foram esboços, imagens de Deus maculadas pelo pecado, mas em Cristo encontramos a “imagem do Deus invisível” (Cl.1:15), a “expressão exata do Seu Ser” (Hb. 1:3).

Tiago e João esperavam receber um elogio de Cristo, ainda que não acatasse sua sugestão. Em vez disso, foram repreendidos: “Vós não sabeis de que espírito sois, pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las” (vv.55-56).

Se fosse Elias naquela situação, não hesitaria em ordenar que descesse fogo do céu e consumisse aqueles samaritanos ingratos e profanos. Se fosse Eliseu, talvez ordenasse que fossem devorados por ursos. Se fosse Moisés, talvez lhes enviasse pragas. Se fosse Davi, quiçá lhes enviasse tropas para dizimá-los. Mas em se tratando de Jesus, não se poderia esperar outra coisa que não fosse perdão.

No Reino de Deus não há lugar para rivalidade, nem para exclusividade, nem para revanchismo. O Reino de Deus funciona à base de amor, perdão, cooperação e comunhão. Deus não tem favoritos. Deus tem escolhidos em prol de todos.

A assinatura de Deus aparece nos genes humanos

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Além de ter criado o homem à Sua imagem e semelhança, Deus compartilha com Seus filhos os atributos do Seu nome, que estaria gravado em suas células. É o que sustenta o escritor e pesquisador Gregg Braden ao ligar os alfabetos bíblicos, hebraico e árabe à química moderna.

Aí, diz ele, encontra-se um código perdido, um alfabeto traduzível que é a chave para os mistérios de nossa origem e vive conosco desde sempre. A pesquisa de Braden revela que os elementos hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono, que formam o nosso DNA, podem ser substituídos por letras das antigas línguas. “Com isso, o código da vida se transforma em uma mensagem eterna. Traduzida, ela mostra que as letras do antigo nome de Deus estão codificadas como informação genética em cada célula da vida”, sustenta o pesquisador em seu novo livro “O Código de Deus – O Segredo do Nosso Passado, a Promessa do Nosso Futuro” (editora Cultrix, 256 págs, R$ 34).

A chave para traduzir o código do DNA para uma linguagem significativa é aplicar a descoberta que converte os elementos em letras. “Com base em seus valores equivalentes, o hidrogênio se transforma na letra hebraica yod (y), o nitrogênio na letra hey (h), o oxigênio na letra vav (v) e o carbono na letra gimel (g). Essas substituições revelam que a antiga forma do nome de Deus, YH, existe como química do nosso código genético. Por meio dessa ponte entre o nome de Deus e os elementos da ciência moderna, é possível desvendar o mistério e descobrir um significado ainda maior no antigo código que vive em cada célula do nosso corpo”, sustenta Braden.

O pesquisador considera que a sua pesquisa evidencia um ato divino: “Preservada dentro de cada célula dos cerca de seis bilhões de habitantes do nosso mundo, a mensagem é repetida, muitas vezes, para formar os elementos de nossa existência. Ela está dentro de cada um de nós, independente de raça, religião ou crença”.

Descoberta poderia levar à união dos povos

A pesquisa de Gregg Braden é polêmica. Mas ele acredita que “a assinatura do antigo nome de Deus oferece um denominador comum inédito, que nos permite resolver as diferenças. Essa evidência palpável nos dá também uma razão para acreditar que a paz é viável e vantajosa. Como cidadão do mundo, somos muito mais do que as religiões, crenças, modos de vida, fronteiras ou tecnologias que nos separam. Nos momentos em que duvidamos dessa verdade imutável, basta lembrar da mensagem que trazemos no corpo. Esse é o poder da mensagem que há dentro das nossas células”. O nome de Deus tem as mesmas letras e o mesmo sentido em todas as línguas, alega o pesquisador. Tanto a tradição judaica como a islâmica têm uma ancestralidade comum representada pelo patriarca Abraão, mas suas interpretações dos ensinamentos diferenciaram-se ao longo dos séculos. “Mesmo levando em conta essas diferenças, o código numérico oculto dos alfabetos hebraico e árabe revela precisamente o mesmo valor e produz precisamente o mesmo segredo do nome de Deus no nosso corpo. Com isso, o código leva a mesma mensagem de esperança para as três religiões que congregam mais da metade da população do mundo: o Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo”.

Braden interpreta que a mensagem “Deus eterno dentro do corpo” possa ser traduzida de várias maneiras. “Seja qual for a fonte do nosso código genético, o alto grau de ordem contido na mensagem diz que existe alguma coisa “lá fora”. A mensagem que trazemos no corpo é sem precedentes como base comum para a resolução de nossas diferenças”.

Carbono nos torna diferentes de Deus

“Somos o produto de elementos e moléculas que se combinaram ao acaso para produzir o milagre da vida, ou somos o resultado de um ato intencional de criação? Embora não se elucide a origem do código em nossas células, o simples fato de sua existência e a pouca probabilidade de essa mensagem ter-se formado ao acaso sugerem que há uma inteligência e uma intenção subjacente à nossa origem”, infere Gregg Braden. O pesquisador deixa claro que, antes de escrever o seu livro, foi preciso estabelecer com a maior precisão possível0 o nome pelo qual a presença sobre o Monte Sinai se identificou para Moisés. Após 12 anos de pesquisas, ele concluiu que “há um nome que sobrevive como o nome pessoal de Deus: YHVH, o eterno”. Segundo Braden, “quando substituímos os elementos modernos pelas quatro letras do antigo nome de Deus, temos um resultado inesperado, à primeira vista. Trocando o h final de YHVH pelo seu equivalente químico, o nitrogênio, o oxigênio e nitrogênio (HNON), todos eles são gases sem cor, sem cheiro e invisíveis. Substituir 100% do nome pessoal de Deus pelos elementos deste mundo cria uma substância que é uma forma de criação intangível, mas real”.

O pesquisador lembra que as primeiras definições de Deus dizem que Ele é onipresente e que, no nosso mundo, assume a forma invisível aos olhos. “Então Ele só pode ser conhecido por meio de suas manifestações. Os primeiros capítulos do Gênesis relatam que é nessa forma não-física que o Criador estava presente no tempo da criação”. Braden deixa claro que a humanidade compartilha das três primeiras letras antigas que representam 75% do nome do Criador, “mas a quarta e última letra do nosso nome químico nos separa de Deus. Enquanto a presença de Deus é a forma invisível e impalpável dos três gases, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio, a última letra do nosso nome é aquilo que nos dá a cor, o gosto, a textura e os sons do corpo: o carbono. A única letra que nos separa de Deus é também o elemento que nos torna reais no nosso mundo”.

A Igreja "Under The Dome"

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Por Hermes C. Fernandes


Under the Dome é uma série americana de ficção científicamistério e terror, desenvolvida por Brian K. Vaughan e baseada no romance homônimo ("Sob a Redoma", no Brasil) de Stephen King, tem a produção de ninguém menos que Steven Spielberg .

Ambientada em um futuro próximo, Under the Dome conta a história dos moradores da pequena cidade de Chester's Mill, que, de repente, se encontram isolados do resto do mundo por uma misteriosa barreira impenetrável que rodeia a cidade. Como a cidade começa a se desfazer através de pânico, um pequeno grupo de pessoas tenta manter a paz e a ordem ao mesmo tempo, tentando descobrir a verdade por trás da barreira e como escapar dela. Considerando a série uma das melhores desde o fim de Lost, não pude evitar enxergar em seu roteiro uma parábola da situação da igreja em nossos dias. Transcrevo abaixo um texto que escrevi anos atrás que retrata esta condição dramática em que vivemos.

Rompendo a redoma da igreja


“Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte anunciando a palavra.” Atos 8:4


Um organismo precisa respirar para continuar vivo. A respiração é um movimento de mão dupla. Inspiramos e expiramos. O ar entra por nossas narinas, atravessa nossa traqueia, e enche nossos pulmões, para depois ser devolvido à atmosfera. Tente manter o ar preso em seus pulmões por alguns segundos. Você vai ficando vermelho, seus olhos começam a lacrimejar, até que você não aguenta mais e solta o ar.

Não é simplesmente do ar que necessitamos, mas da entrada e saída ininterrupta deste ar. Sem ar pra respirar, morremos. E prendendo o mesmo ar dentro de nós, também morremos.

A igreja de Cristo é um organismo vivo que também necessita respirar. Em Seu discurso de despedida, Jesus garantiu aos Seus discípulos que lhes enviaria o Espírito Santo a fim de fossem capacitados sobrenaturalmente a dar testemunho do Evangelho:
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.” Atos 1:8
A palavra traduzida neste texto por ‘poder’ é dinamus, que dá origem a alguns vocábulos em português, como dinamismodinâmica e até dinamite. Dinamus significa poder em movimento. O Espírito Santo não apenas capacitaria os discípulos a testemunhar, como também os levaria a lugares e circunstâncias jamais imaginadas por eles, para que cumprissem a sua missão.

O mesmo Espírito que nos atrai a Cristo e nos transforma, também nos envia ao mundo.

Narrando sua experiência de conversão perante o rei Agripa, Paulo diz que Jesus se lhe apareceu, dizendo: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Agora levanta-te e põe-te em pé. Eu te apareci por isto, para te fazer ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda. Eu te livrarei deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrir os olhos, e das trevas os converter à luz...” (At.26:15b-18a). Observe que a comissão de Paulo se deu no exato momento de sua conversão.

O dinamus do Espírito exerce na igreja uma força centrípeta e centrífuga. Ele atrai, transforma e imediatamente envia. Não há intervalo! Todos os que são chamados, são também enviados.

Quando o endemoninhado gadareno se viu livre de sua possessão, quis deixar tudo para seguir a Jesus, mas recebeu d’Ele outra ordem: “Volta para casa e conta quão grandes coisas Deus fez por ti” (Lc.8:39a).

No reino de Deus tudo é muito prático. Porém, quando a igreja se institucionalizou, tratou de burocratizar o que antes era promovido pela dinâmica do Espírito. Quanto tempo de preparo precisou a mulher samaritana para atrair toda uma cidade a Cristo? Foi só o tempo de deixar seu cântaro, ir à cidade e anunciar ao seu povo: “Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito. Poderia ser este o Cristo?” (Jo.4:29). Mesmo sabendo que Jesus era o Cristo, ela preferiu instigar aquele povo à curiosidade. Em vez de apresentar uma contundente resposta, ela instigou-os a questionar. E aqui nos deparamos com uma importante questão: será que para testemunhar do amor de Cristo temos que esperar até que todas as nossas questões sejam respondidas?

Precisamos desburocratizar e dinamizar o processo de evangelização com urgência. Ninguém necessita de um mestrado em teologia para anunciar aos seus amigos e familiares quão grandes coisas fez o Senhor em sua vida.

Não temos o direito de impedir o trânsito pelas portas do reino de Deus. Muitos agem como os fariseus e religiosos contemporâneos de Jesus, que se punham à porta, não entravam e não deixavam ninguém entrar. E quando alguém demonstra desejo de sair testemunhando do amor de Deus, tratam de jogar-lhe um balde de água fria. A estes, diz o Senhor: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Fechais o reino dos céus aos homens. Vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aos que estão entrando” (Mt.23:13).

Temos que manter o trânsito livre, e para isso, o caminho tem que está desobstruído. Veja o que Jesus disse sobre isso:
“Eu sou a porta. Todo aquele que entrar por mim, salvar-se-á. Entrará e sairá, e achará pastagens” João 10:9
Há um detalhe neste verso que tem passado despercebido. O caminho para o Reino é uma via de mão dupla. Quem entra, tem que sair. E o mais surpreendente é que só depois de sair que se acha pastagens. As pastagens não estão do lado de dentro da cidade, mas lá fora, entre os vales e montanhas da realidade social e cultural na qual peregrinamos.

Muitos acham que vão encontrar tais pastagens do lado de dentro da igreja. Por isso, entram, e não querem mais sair. Ficam viciados em igreja. Assim como ar que respiramos tem que ser devolvido à atmosfera, temos que devolver ao mundo as pessoas que entram na igreja. Por favor, não se escandalize ainda. Continue sua leitura, e veja se o que digo não faz sentido.

Qualquer espiritualidade que não nos devolva à realidade é maléfica e alucinógena. Se não concorda comigo, tente concordar com Cristo, que em Sua prece sacerdotal, rogou ao Pai:
“Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.” João 17:15-18
Não se trata de uma questão facultativa. Fomos chamados, santificados e enviados ao mundo. Os pés formosos de que diz a Escritura, são os que estão enlameados pelo chão da vida. Cuidado para não confundir santificação com alienação.

A igreja não pode ser uma redoma para os seus membros. Ela tem que ser um liquidificador. Experimente colocar várias frutas em seu liquidificador. Ao ligá-lo, elas serão processadas e se tornarão numa deliciosa vitamina. A hélice do eletrodoméstico exerce a força centrípeta e centrífuga. Ela atrai as frutas para si, processando-as ao mesmo tempo em que as empurra para fora. É isso que o Espírito Santo almeja fazer na igreja.

O mesmo Cristo que diz ‘vinde’, também diz ‘ide’. E não há intervalo. A gente já vem indo, e já vai vindo. Em vez de despendermos energia e dinheiro numa mirabolante estratégia de evangelismo (ou seria de marketing?), que tal abrir a porteira do aprisco, permitindo que as pessoas transitem normalmente pelo mundo, testemunhando o que Deus fizera em suas vidas? Haveria estratégia melhor e mais eficiente do que esta? Elas não precisam esperar por um "ide" personalizado, vindo direto dos lábios de Cristo para elas. Não!

A bem da verdade, todos que viemos a Ele, já fomos liberados por Ele para ir. Já estamos no Caminho, indo e vindo no constante fluxo e refluxo da vida.

No texto original, Jesus não disse "ide", num tom imperativo, mas disse "indo", numa espécie de gerúndio existencial. O texto diz: "Indo por todo mundo, pregai o evangelho...". Queiramos ou não, já estamos na chuva, e quem está na chuva é pra se molhar.

vinde é personalizado, mas o ide (ou indo) é generalizado.

Alguém poderá perguntar: E quanto aos riscos? Como enviar ao mundo pessoas despreparadas para testemunhar? Não seria melhor segurá-las o máximo de tempo possível, até que se vejam prontas? Concordo. O risco não pode ser ignorado. Porém, vale a pena corrê-lo.

Jesus não ignorou os riscos ao enviar Seus discípulos ao mundo. Confira o que Ele diz:
“Ide. Eu vos envio como cordeiros ao meio de lobos” (Lc.10:3). Neste texto em particular, o ide foi imperativo. O que atenua os riscos é o fato de que o pastor das ovelhas vai à frente do seu rebanho.
“Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as leva para fora. Quando tira para fora todas as ovelhas que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.” João 10:2-5
Será lá fora, no mundão, que as ovelhas de Jesus terão suas maiores experiências com Ele. O mundo será o cenário por onde Ele as conduzirá aos pastos verdejantes, às águas tranqüilas. E mesmo quando passarem pelo vale da sombra da morte, não terão o que temer, pois Seu cajado e Sua vara as protegerão.

O que a igreja deveria fazer é procurar levar as pessoas a uma intimidade tal com o Bom Pastor, que elas jamais confundam Sua voz com a voz do estranho. Em outras palavras, temos que aprender a discernir a voz de Deus no mundo. Seja no ambiente profissional, acadêmico, familiar, ou mesmo nos corredores do poder político, será a Sua voz que guiará a nossa consciência, e, por conseguinte, as nossas atitudes. Portanto, já está na hora de liberarmos as ovelhas do Senhor para que cumpram sua missão de transformação do mundo.

Abramos a porteira, e deixemos o trânsito livre, pra que entrem e saiam, e assim, encontrem pastagem para as suas almas. Não há motivo para insegurança. Quem de fato é do Senhor, jamais abandonará seu redil.

Lady Gaga, uma igreja gagá e o Empoderamento da Mulher

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Por Hermes C. Fernandes

Na noite deste domingo, pude constatar mais uma vez a veracidade e atualidade das palavras de Jesus: “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai”[1]Vi-o soprar em nossa igreja no Engenho Novo, quando tive a grata satisfação de ouvir minha filha Revelyn que acabou de completar 21 aninhos, pregando com graça acerca de assuntos que raramente são ventilados dos púlpitos. Sob o título “O mundo está chato ou nós que perdemos a sensibilidade?”, por cerca de uma hora a jovem pregadora discorreu sobre preconceito racial, homofobia, assédio sexual e empoderamento feminino. Isso mesmo que você leu: empoderamento feminino. Muito além do meu orgulho de pai, foi gratificante perceber que minha filha representa uma nova geração de cristãos atenta às demandas sociais de nosso tempo.

Mais tarde, o mesmo vento soprou na cerimônia do Oscar em Los Angeles. Ninguém menos que Lady Gaga foi o canal usado por Deus para denunciar o abuso sofrido por milhões de mulheres ao redor do mundo. A cantora convidou várias vítimas de abuso sexual para o palco da premiação, enquanto fez uma emocionante apresentação de "Till it happens to you", música do documentário The Hunting Ground. 

 De fato, cada vez que nos calamos diante da injustiça, Deus levanta pedras que se fazem preciosas ao clamar em nosso lugar. Para cada igreja gagá, perdida no tempo e no espaço, Deus levanta uma Lady Gagá, uma Beyoncé, e tantos outros para amplificar a voz dos oprimidos. Se isso te incomoda, reclama com Deus.

Talvez alguém se pergunte: Desde quando assuntos como ‘empoderamento feminino’ e assédio sexual deveriam constar da agenda cristã? Respondo: desde sempre! A dificuldade que temos de encontrar base bíblica para tais demandas se deve ao fato de insistirmos em ler a Bíblia com as lentes bifocais do machismo e do moralismo.

Vejamos, por exemplo, o que diz Paulo em sua primeira carta aos aos cristãos da cidade de Tessalônica:
“A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e honrosa, não com a paixão de desejo desenfreado, como os pagãos que desconhecem a Deus. Neste assunto, ninguém oprima a seu irmão nem dele se aproveite." 1 Tessalonicenses 4:3-6a  

Repare como nossa leitura é ideologicamente comprometida. Nossos olhos se voltam para a expressão “imoralidade sexual”, e logo pensamos em sexo fora do casamento, adultério ou pornografia. Mas o que Paulo está defendendo aqui nada mais é do que o empoderamento do próprio corpo. “Cada um saiba controlar o próprio corpo...” Logo, ninguém tem o controle sobre o corpo alheio. Logo em seguida, ele arremata: “Neste assunto, ninguém oprima a seu irmão nem dele se aproveite”. Bingo! O que vem a ser isso? Empoderamento! Já naquela época, abusos eram cometidos, principalmente contra a mulher, por ser considerada mais frágil. Usar o sexo para oprimir alguém nada mais é do que lançar mão da força física, ou da posição de autoridade, para exigir do outro alguma gratificação sexual. Isso sim é imoralidade sexual.

Recentemente, ouvi de uma professora de psicologia forense que boa parte das mulheres brasileiras é estuprada por seus próprios parceiros. Se a mulher diz não e o homem insiste, o ato sexual é classificado como estupro aos olhos da lei. Uma colega levantou a mão e comentou: Você está dizendo que tenho sido estuprada pelo meu marido ao longo dos anos?

Tal prática é relativamente comum no meio cristão e é defendida pelos paladinos da moral e dos bons costumes tomando por base um trecho bíblico mal compreendido. Confiramos:

“O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração.”
1 Coríntios 7:3-4

Observe que o mandamento apostólico (que na verdade é uma concessão) começa pelo dever do homem, não da mulher. Portanto, é uma via de mão dupla. O dever conjugal começa pela marido. Ele deve ser carinhoso, atencioso, e não usar de seu poder marital para abusar física ou emocionalmente da mulher. O problema começa quando esbarramos com a seguinte fala: “A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido...” Eita! Paulo soa bem machista neste ponto, né não? Mas não se precipite em sua conclusão. Deixe que ele conclua seu raciocínio. “Da mesma forma”, declara, “o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher.” Já pensou que alguma mulher resolver sodomizar o marido? E aí? Ele terá que aceitar? Se ela for uma ninfomaníaca? Se quiser sexo todos os dias? Será que ele dará conta? Baseado neste texto pinçado do contexto, ele não poderá alegar estar indisposto, com dor de cabeça ou coisa parecida. Se não der no couro, estará contrariando um princípio bíblico! Bullshit!Vamos deixar de machismo e ler o restante do texto? “Não se recusem um ao outro, EXCETO POR MÚTUO CONSENTIMENTO”. Opa! Você leu isso aí? Mútuo consentimento? É isso mesmo, produção? Então, a última palavra sobre o meu corpo continua sendo minha. A decisão quanto a dar ou não continua sendo da mulher. Então, não me venha com chorumelas, seu machista!

A linha de raciocínio de Paulo é qualquer coisa, menos machista. Mas é Pedro quem chuta o pau da barraca.

“Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações.” 
1 Pedro 3:7

Mulher tem que ser honrada! Ela sempre tem a última palavra. Se ela não quiser, não insista. Respeite-a. Caso contrário, Deus se nega a ouvir suas orações. Deus não ouve oração de machistas!

Uma palavra às meninas: Se o marmanjo está forçando a barra, cai fora! Se ele ousar fazer chantagem emocional, mete um pé na bunda dele. Quem pede prova de seu amor, prova não te amar. E mais: se não te respeita durante o namoro, não te respeitará durante o matrimônio.

O corpo é seu! Não aceite que ninguém o toque sem o seu consentimento. E se o fizer, denuncie. Quem abusa tem que ser exemplarmente punido para que não continue a abusar. Tentou com você, vai tentar com outras.

Sexo é bênção! Sexo é graça! Sexo sem amor é prostituição, é coisificação do ser. Prostituição é fazer por dinheiro, ou por poder, ou meramente por prazer, o que deveria ser feito exclusivamente por amor. Não aceite menos que isso. Valorize seu corpo, pois, afinal, ele é templo do Espírito Santo.

Obrigado, Revelyn, minha filha. Tenho aprendido muito com você e com o Rhuan, seu irmão. A geração de vocês vai sacudir este mundo.





[1]João 3:8

P.S. O Oscar deste ano teve de tudo. Teve Chris Rock, apresentador da cerimônia, com suas tiradas sarcástica, abordando a questão da discriminação racial e a ausência de negros na lista dos indicados; Lady Gaga cantando em protesto rodeada de vítimas de abuso sexual, e, por fim, o discurso engajado do vencedor do prêmio de melhor ator Leonardo DiCaprio em favor do meio ambiente e das populações indígenas. Qual foi mesmo a última vez que temas como estes foram tratados em nossos púlpitos? Por que preferimos evitá-los? Por que nossa espiritualidade é tão alienada da realidade? Por que fazemos vista grossa ao sofrimento de milhões de negros, índios, mulheres, gays e de outros segmentos sociais? Talvez a igreja tenha sido muito bem representada pela participação inédita de Glória Pires como comentarista da premiação na Rede Globo. Numa de suas inserções, ela disse: "Sobre isso, não sei opinar". Ora, se não sabia, o que estava fazendo ali? Se não temos opinião a dar sobre as demandas da atualidade, o que estamos fazendo aqui?

Assista abaixo a memorável apresentação de Lady Gaga no Oscar 2016:

 
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