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Rastros da Graça nos Mamonas Assassinas

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Por Hermes C. Fernandes

Hoje completa vinte anos desde que aqueles cinco rapazes debochados deixaram este mundo num trágico acidente aéreo na Serra da Cantareira, interrompendo um meteórico e estrondoso sucesso que durou sete meses e que foi responsável pela venda de mais de dois milhões de discos. Os meninos de Guarulhos eram onipresentes em programas de auditório. Era raro um domingo em que não apareciam até simultaneamente em canais concorrentes.

À época, eu cursava Psicologia na Universidade Gama Filho, e cego em minha religiosidade, não conseguia entender a razão da unanimidade que a banda alcançou entre os colegas universitários. Aos poucos, fui percebendo que por trás das performances espalhafatosas e das letras repletas de duplo sentido, havia algo que contagiava a todos: alegria.

Naquele fatídico dia, tive uma noite insone provocada por uma tristeza inexplicável. Ao tomar conhecimento da tragédia, senti um pesar semelhante ao que tive com a morte de Ayrton Senna. O Brasil chorou.

Alguns pregadores consagrados espalharam em seus sermões e programas radiofônicos e televisivos que Deus havia julgado os integrantes da banda por ensinarem nossas crianças a falarem palavrão. Quanta insensibilidade! Eles simplesmente cantavam o que todos já tinham o costume de falar. Puseram melodia em nossas piadas picantes. E por incrível que pareça, ouvindo dos lábios deles, aquilo soava ingênuo. As crianças cantavam sem ao menos perceber a 'maldade' por trás das frases. E, sinceramente, em comparação ao que era cantado por grupos como É o tchan, suas canções eram inofensivas.

Os Mamonas não deixaram só saudade, mas também uma lacuna que jamais foi preenchida.

Quando comentei os 20 anos de sua morte, um amigo do facebook insinuou em tom de brincadeira que sentia cheiro de "rastros da graça" com as músicas do Mamonas. Não sei se cantaria na igreja algumas das canções que mais fizeram sucesso, porém, não faz muito tempo que durante um luau que promovemos com a juventude na praia de Copacabana, os jovens puxaram algumas delas e ninguém recriminou. Só vê maldade, quem tem maldade instalada em sua alma. Se os olhos e os ouvidos forem bons, ninguém fica da cor daquela brasília ao ouvir suas músicas.

E pra quem acha que os rapazes só cantavam bobagens, confira as canções abaixo:






E o sucesso "Chopis Centis":

Lula, a prostituta e o cafetão

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Por Hermes C. Fernandes

Para início de conversa, não sou petista, nem tampouco socialista. Quem já leu meus livros ou acompanha meu blog, sabe o quanto combato a ideologização do evangelho. Todavia, vejo-me da obrigação de posicionar-me ante os últimos acontecimentos no país envolvendo a figura do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Em sua 24ª fase, a operação Lava Jato fez buscas no Instituto Lula, na casa do ex-presidente e o levou para depor numa condução coercitiva que rendeu muito debate ao longo do dia. Até o ministro do STF Marco Aurélio Mello fez contundentes críticas à decisão do juiz Sérgio Moro. Para o ministro, só se conduz coercitivamente o cidadão que resiste à ordem judicial e não comparece para depor. A ordem expedida por Moro seria um retrocesso e não um avanço. 

Para o instituto Lula, a intenção real do que classificou como "violência desencadeada" pela Força Tarefa da Operação Lava Jato era submeter o ex-presidente a um constrangimento público. O fato inconteste é que a mídia já estava devidamente avisada muito antes dos advogados de Lula serem notificados. O circo estava armado. Emitir um mandado de condução coercitiva de um cidadão brasileiro para prestar depoimento antes de intimá-lo a comparecer espontaneamente conforme prescreve o Códio de Processo Penal é um ato autoritário e fascista. O objetivo por trás disso é destruir qualquer pretensão de Lula em vir candidato a presidente em 2018. 

Não vou sair em defesa do Lula, mesmo reconhecendo o quanto fez pela população mais pobre deste país. Mas é duro ver colegas pastores comemorando e pedindo que seu rebanho aplauda na hora do Jornal Nacional uma arbitrariedade desmedida. Sinceramente, não aplaudiria uma arbitrariedade nem contra o próprio diabo. Quem celebra um ato de injustiça demonstra não ser contrário à corrupção, mas partidário de a uma oposição cega, comprometida com o favorecimento de certos setores e segmentos em detrimento de outros. Aplaudiria com veemência a isenção, o altruísmo e a justiça, ainda que não me favorecesse em absolutamente nada. Lamentavelmente, a 'elite eclesiástica' deste país é vergonhosamente reacionária, preferindo desfilar ao lado dos poderosos, desprezando o clamor dos excluídos e marginalizados.  

Aliás, eu poderia me sentir vingado ao saber dos contêineres do Lula que estão sendo investigados, depois que o contêiner com minha mudança vinda dos EUA ficou preso na operação maré vermelha deflagrada por ordem da presidente Dilma. Mas aprendi com Jesus a pensar mais nos outros do que em mim. 

É possível que o PT tenha se tornado tudo isso que a mídia está tentando nos fazer acreditar. É possível que Lula tenha traído seu idealismo. Mas quer mesmo saber? Não adianta remover a prostituta para pôr o cafetão em seu lugar. O fato é que o PT se promiscuiu em nome da governabilidade. Rendeu-se ao poder do capital. Amasiou-se do seu estuprador. Agora que a prostituta ficou velha, o cafetão busca uma mais novinha e mais rentável para ocupar o seu lugar. Quem será a bola da vez? Em breve, nas vitrines das TVs exibindo-se despudoradamente com seu discurso moralista e anti-corrupção. Já vi este filme antes... Difícil vai ser encontrar uma que já não tenha sido desvirginada por este sistema corrupto, seja por estupro ou por se deixar encantar pelo canto da sereia capitalista. A reação de Mamom, ops, do Mercado aos últimos acontecimentos só confirma o que digo aqui. O cafetão cansou-se do PT! O atual governo tornou-se brochante para os que detém a roda da economia. 

Jesus sempre se pôs ao lado das prostitutas. Mas nunca o vi sair em defesa do cafetão. Jesus era capaz de entender a lealdade das pessoas ao Estado ao pagar-lhes impostos, e até as incentivou a dar a César o que a ele convinha; porém, ao tratar com o capital, Jesus foi incisivo, apontando-o como rival de seu senhorio. "Não podeis servir a dois senhores!", advertiu. Ou serve a Deus, ou serve ao dinheiro. 

O que se fez em nome da governabilidade é abominável. Porém, mais abominável é o apoio que os cristãos dão aos cafetões, de modo que se garanta a manutenção do puteiro. É nisso que o Estado se tornou desde que rendeu-se à nefasta agenda das oligarquias brasileiras.

Bom seria se nossos líderes dessem ouvidos ao discurso de Leonardo DiCaprio ao receber seu primeiro Oscar: "Governem para o seu povo e não para as corporações!" Isso deveria ser ouvido dos lábios dos profetas. Mas estes também se venderam. Preferem jogar querosene no fogo, tornando o país ingovernável. 

Digam-me, por favor, como posso engrossar o coro puxado por Silas Malafaia, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, Aécio Neves e tantos outros? Como poderia compactuar com quem desdenha das minorias e busca tão somente locupletar-se com seu discurso odioso e sectário? 

O certo a fazer seria investigar e punir igualmente a todos os que estejam envolvidos em falcatruas. Porém, alguns se revelam blindados pela mídia e pela justiça. Veja, por exemplo, o caso do Aécio, quatro vez delatado na Lava Jato. E quanto ao avião cheio de drogas? O que se fez até agora? Para debaixo de que tapete foi varrido este escandaloso caso?

O que me preocupa agora é a convocação midiática para que o povo saia às ruas no dia 13. Sempre apoiei manifestações populares espontâneas, autênticas. Mas abomino ver o povo sendo massa de manobra nas mãos desta gente inescrupulosa. Meu receio é que estore uma guerra civil neste país. Por isso, no dia 13, convocarei o povo a quem tenho o privilégio de pastorear para orar pelo Brasil. Quem quiser sair às ruas, que saia, mas guiado por sua consciência e no exercício de sua cidadania e não como "maria vai com as outras".

Oro para que Deus conceda sabedoria e serenidade à nossa presidente, mas não ao custo da firmeza com que deve enfrentar os interesses dos que a querem derrubar. 

E quanto à campanha midiática para destruir Lula, tenho a impressão de que o tiro pode sair pela culatra. Se o prenderem, ele pode vir a se tornar num mito como foi Mandela na África do Sul. Se o matarem, se tornará num mártir. Se o deixarem solto e vivo, poderá voltar à presidência em 2018 para o desespero dos que se sentem aviltados com a inserção de trinta milhões de pobres na nova classe média brasileira. 

Lula não é nenhum santo. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas graças a seus programas sociais, nunca se viu tantos negros nas universidades brasileiras. Nunca se deu tanta oportunidade para que os mais humildes pudessem acender socialmente. Pena que ele tenha andado tão mal acompanhado nos últimos tempos... Pena que fez tantas concessões ao capital, aos banqueiros, aos donos de canais de TV, às empreiteiras... Agora, chegou a hora disso lhe ser cobrado. Se a casa cair, que caia sobre todos e não apenas sobre os que a mídia nos faz odiar. Que o prostíbulo encerre suas atividades e em seu lugar emerja um novo jeito de se fazer política neste país. Que pau que dá em Lula, também dê em FHC. Que as regras aplicadas a quem saiu de baixo e chegou ao andar de cima, também se apliquem a quem sempre esteve lá.

Segue abaixo uma das mais brilhantes composições de Chico Buarque, visceralmente interpretada por Letícia Sabatella, que ilustra bem a atual condição do PT no governo da nação. Caso não se lembre, a Geni retratada na letra desta canção era a prostituta que fora bem tratada pelos burgueses enquanto lhes foi útil, mas após cumprir sua função, voltou a ser desprezada como antes.


Uau! Perfume de Mulher

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Hermes C. Fernandes

Perfume de Mulheré um filme americano rodado em 1992, dirigido por Martin Brest e estrelado por ninguém menos que Al Pacino, o gigante de pequena estatura.  Em busca de realizar um antigo sonho antes de morrer, um militar cego (Al Pacino) contrata um jovem e inexperiente estudante (Chris O'Donnell) para ajudá-lo a passar um fim de semana inesquecível em Nova York. Por não desejar piedade nem tolerar discordância, passa a criticar o comportamento do acompanhante. Porém, na viagem, aos poucos, ele passa a se interessar pelos problemas do jovem, esquecendo um pouco sua amarga infelicidade.

A cegueira tirou todos os facínios do Coronel Slade, exceto o seu facínio por mulheres. Sem poder ver a beleza de uma mulher, o personagem de Pacino passa a ser seduzido por suas fragrâncias. Porém, isso não é suficiente para que Slade queira continuar vivo, e é em torno deste eixo que a história do filme se desenrola, contando como um garoto introvertido do interior de Oregon influencia o decidido Coronel Slade.

Uma das cenas inesquecíveis é quando eles vão a um luxuoso restaurante, e o Coronel convida uma moça para dançar tango. Ela hesita e ele lhe diz bombasticamente “Não se preocupe, o tango não é como a vida; você pode errar e continuar dançando.” Além de um ótimo olfato, ele adquire uma habilidade especial de superar limites. Dizem que quando somos privados de algum de nossos sentidos, os outros tendem a se desenvolver mais.

As Escrituras estão cheias de referências a perfumes e unguentos. Dentre todos, nenhum tem o destaque dado à mirra. Esta é extraída de um arbusto espinhoso que cresce nas regiões desérticas, especialmente na África, em países como a Etiópia e a Somália. Tem sido usada, desde a antiguidade, para embalsamar corpos. Os egípcios, por exemplo, a usavam em suas múmias. Além de evitar o mal odor, a mirra tem ação bactericida, impedindo a proliferação de fungos, vírus e bactérias. Ao ser ingerida serve como entorpecente, aliviando as dores e atenuando o contato com a realidade.

Nos tempos bíblicos a mirra era comumente usada para embalsamar os mortos. Por ser muito cara, era costume da família economizar o equivalente a um ano de trabalho para comprá-la e guardá-la para ser usada por ocasião da morte de um de seus membros.

Também era usada pelos noivos na preparação do casamento. Ester teve que banhar-se em óleo de mirra por seis meses e em outros unguentos por mais seis meses antes de apresentar-se ao rei Assuero para ser escolhida como a nova rainha. (Ester 2:12).

Portanto, a mirra tem a ver tanto com casamento, quanto com sepultamento. Então, por que razão os magos vindos do Oriente a escolheram como um dos presentes do recém-nascido Jesus?

Confira:
“E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra” Mateus 2:11
Que utilidade teria a mirra para um bebê?

Por mais mórbido que pareça, aquele perfume caríssimo era para ser usado no sepultamento de Jesus, e visava poupar Maria e José de um ano inteiro de trabalho. Talvez houvesse suficiente para usá-lo para embalsar tanto Jesus, quanto o resto da família.

Mas o fato é que, se aquela mirra chegou a ser usada, não foi em Jesus. Se é verdade que Maria ficou viúva antes que Jesus fosse crucificado (o que explicaria a ausência de José na cena da crucificação), talvez parte daquela mirra tenha sido usada para embalsamá-lo.

A mirra, porém, não foi o único presente recebido por Jesus na ocasião de Seu nascimento. Muito tem sido dito sobre seu simbolismo, mas gostaria de propor uma interpretação alternativa (ainda que pareça pretensão de minha parte): O ouro aponta para Sua chegada, o valor de Sua encarnação, o início. O incenso aponta para Sua obra, e a extensão de Sua existência terrena, o meio. Assim como o incenso se consome à medida que vai queimando, Sua vida terrena seria gasta inteiramente na dedicação da obra que veio fazer. Já a mirra aponta para Sua morte, a consumação de Sua obra, o fim. Início, meio e fim. Criação, redenção e consumação.

Depois do episódio de Seu nascimento, deparamo-nos com a mirra novamente no episódio em que Ele é surpreendido por uma mulher que, sem pedir licença, quebra todos os protocolos, invade o recinto em que estava, e derrama-Lhe sobre a cabeça o precioso bálsamo. Percebendo que os discípulos a censuravam, e que Judas argumentava que aquele perfume poderia ter sido vendido e seu valor revertido para os pobres, Jesus sai em sua defesa e diz: “Deixai-a, por que a aborreceis? Ela praticou boa obra para comigo. Sempre tendes os pobres convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde. Antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo que em todo o mundo onde este evangelho for pregado, o que ela fez também será contado para sua memória”(Mc.14:6-9).

Esta mulher era ninguém menos que Maria, irmã de Lázaro, a quem Jesus ressuscitara poucos dias antes (Jo.12). No Evangelho de acordo com João, Jesus afirma: “Ela guardou este perfume para o dia do meu enterro”(Jo.12:7).

Pense comigo: aquele perfume custava 300 denários. Praticamente um ano de trabalho. Era economia de uma vida inteira. Considerado um bem da família, destinado a ser usado no embalsamento de seus membros. Era de se esperar que ela o tivesse usado em Lázaro, pelo menos a terça parte do perfume, já que sua família era composta de três pessoas. Se o tivesse feito, não haveria razão para que Lázaro cheirasse mal no quarto dia após seu sepultamento.

Em vez disso, ela o guardou para Jesus.

De acordo com o testemunho do próprio Jesus, ela se antecipou a prepará-lO para o sepultamento. O que significa isso?

Ao expirar na cruz, já eram três horas da sexta-feira. O sábado judeu começa às seis horas da tarde. Portanto, faltavam apenas três horas. Pelos romanos, Jesus ficaria pendurado no madeiro sendo devorado pelas aves de rapina, como geralmente acontecia com os demais crucificados. Porém, havia um membro do sinédrio chamado José de Arimatéia que era Seu discípulo secreto. Foi por intercessão dele que Pilatos liberou Seu corpo para ser sepultado (Mt.27:57-60). A correria foi enorme. Um judeu não poderia fazer absolutamente nada no sábado, nem mesmo sepultar seus mortos, quanto mais embalsamá-los. Aproveitaram que havia uma sepultura nova que alguém esqueceu aberta próxima do lugar da crucificação. Só deu tempo de enrolar o corpo do Senhor em lençóis, fechar a sepultura com uma grande pedra e esperar até que o sábado passasse para que pudessem retornar com calma para os procedimentos normais, incluindo o embalsamento.

O texto diz que as duas Marias, entre elas a Madalena, seguiram José de Arimatéia e viram onde puseram o Seu corpo. A pressa delas em embalsamar Jesus era tão grande, que mesmo antes de começar o sábado, elas “prepararam especiarias e unguentos”, e ficaram esperando as primeiras horas do dia seguinte para prosseguir em sua empreitada (Lc.23:56). Elas devem ter pensado: Vamos ser mais rápidas do que José de Arimatéia. Quando ele chegar no domingo para embalsamá-lO, terá uma surpresa.

Outro personagem que entra nesta corrida é citado por João. Trata-se de Nicodemos, outro discípulo secreto de Jesus.  Segundo o relato de João, Nicodemos providenciou “quase cem libras de uma mistura de mirra e aloés” para embalsamar Jesus. Mas devido à aproximação do sábado, só deu tempo de perfumar os lençóis que envolveram o Seu corpo.

Ao chegar bem cedo no sepulcro onde estaria Jesus, quem teve uma surpresa foi Maria Madalena. Algo inusitado ocorrera. A pedra estava removida. O sepulcro estava vazio. Não! Ninguém levou Seu corpo, como Maria inicialmente achou que acontecera. Jesus ressuscitou dos mortos, como muitas vezes avisou aos Seus discípulos que ocorreria. Maria teve que voltar para casa com aquele perfume. Porém, Jesus não ficou sem receber o devido tratamento. Ela pode ter chegado antes dos discípulos secretos, e mesmo antes dos demais discípulos, mas alguém se ANTECIPOU. Outra Maria fez o serviço.

Talvez Madalena não tenha se dado conta disso. Possivelmente não tenha presenciado o ocorrido na casa de Lázaro cerca de quatro dias antes.

Maria, irmã de Lázaro agiu antes mesmo da morte. Ela se antecipou à cruz. Teve um vislumbre do futuro. Tomou para si a responsabilidade.

Maria Madalena, sinto em lhe informar, mas mesmo tendo madrugado em frente ao sepulcro, você chegou atrasada.

Imagine comigo: quando Jesus entrou em Jerusalém montado no jumento, Ele já estava devidamente perfumado para ser sepultado. Quando expulsou os cambistas, ele exalava aquele perfume forte. Pilatos, enquanto O julgava, devia ter pensado: que fragrância maravilhosa é esta? E enquanto era crucificado, aquele perfume se espalhava pelo ar…

* "Apenas para uso externo..."

De repente, no auge de Seu suplício, alguém se compadece de Sua dor e para atenuá-la, oferece-Lhe “vinho com mirra” (Mc.15:23). Esta mistura promovia um efeito semelhante a de um anestésico. Mas Jesus Se recusa a tomá-la. A mirra era bem-vinda como perfume, mas não como entorpecente. Um “homem de dores, e experimentado no sofrimento” (Is.53:3b) não podia deixar-Se entorpecer.

Infelizmente, a oferta recusada por Jesus tem sido aceita por Sua igreja em nossos dias. Perdemos o contato com a realidade. Buscamos desesperadamente o alívio de nossa dor.

O que deveria servir como perfume através do qual exalássemos a fragrância de Seu amor, tem sido usado como entorpecente, para não dizer, alucinógeno.

A mirra pode representar nossa espiritualidade, com todos os dons que o Senhor nos outorgou pelo Seu Espírito. Se esta espiritualidade nos fizer pessoas voltadas para dentro de si mesmas, então ela nos entorpecerá. Uma igreja entorpecida perdeu o contato com a realidade à sua volta, e por isso, já não é capaz de afetá-la e transformá-la. Tornamo-nos apáticos, incapazes de nos solidarizar com a dor do mundo. Já não nos importamos com nada que aconteça à nossa volta. Simplesmente nos desligamos. Isso não é espiritualidade genuína, mas mera religiosidade, aquilo que Karl Marx chamou de “ópio do povo”. A verdadeira espiritualidade nos convida à compaixão e a nos engajarmos na transformação da realidade, para que o sofrimento humano seja atenuado.

Mesmo na Cruz, Jesus demonstrou preocupar-Se com os que estavam à Sua volta. Desde Sua mãe, passando pelos Seus algozes, até os ladrões crucificados ao Seu lado, todos foram alvo de Sua compaixão e solidariedade. Desta forma, Ele exalou o bom perfume de Seu amor em um cenário de dor e crueldade. Se Ele Se deixasse tomar por um sentimento de auto-compaixão, certamente teria aceitado a oferta daquela esponja, e sorvido por inteiro a mirra que Lhe aliviaria a dor. Mas Ele recusou.

Agora somos convocados a levar “sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2 Co.4:10-11). E é assim que Deus “por meio de nós manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. Pois para Deus somos o bom perfume de Cristo” (2 Co.2:14b-15a).

Nossa missão é espalhar Seu aroma pelo mundo.

Cantares retrata a esposa do rei, representação da igreja de Cristo, como aquele cujas mãos “gotejavam mirra”, e os dedos “mirra com doce aroma” (Ct.5:5). Ela é aquela que “sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra” (Ct.3:6). 

Como Esposa de Cristo, temos que deixar um rastro de mirra por onde passarmos. Os ambientes que frequentamos devem ficar impregnado da fragrância de Cristo. E isso se dá quando deixamos de viver para nós mesmos, para viver para Cristo e por aqueles por quem Ele Se entregou na Cruz. 

O Mundo pode até estar cego, como o personagem vivido por Al Pacino, mas certamente será capaz de perceber no ar o aroma de Cristo exalado por nós.

As mulheres da vida de Jesus

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Por Hermes C. Fernandes

Recentemente, alguém postou um comentário num post meu que defendia o empoderamento feminino afirmando que a primeira mulher a se empoderar foi Eva, e deu no que deu.  Como é triste em pleno século XXI alguém insistir em ler a Bíblias com as lentes do seu machismo cafona. As Escrituras estão repletas de personagens femininos que se empoderaram, dentre as quais poderíamos destacar Sara, Débora, Ester, Rute, Raabe, Ana e tantas outras. E o que dizer daquelas ilustres anônimas que cruzaram o caminho do Messias nas empoeiradas ruas da Galileia? Eram elas, mulheres empoderadas, que mantinham o ministério de Jesus.

Mulheres como a Samaritana que mesmo não gozando de uma reputação ilibada, foi capaz de atrair todo o seu vilarejo para ouvir Jesus. Mulheres como a prostituta que lhe ungiu os pés com um perfume que lhe custou um ano inteiro de serviços na mais antiga profissão do mundo. Mulheres como a que sangrou por doze anos seguidos, mas que resolveu enfrentar o preconceito, infiltrando-se entre a multidão para tocar na orla de Suas vestes e ser curada. Mulheres como as que choravam vendo-o passar pela Via Crucis carregando a cruz dos homens. Mulheres como a Cananeia, que seguia-o clamando por sua filha enferma, sob o olhar daqueles que consideravam seu povo como meros cães, mesmo sendo os habitantes originais daquela terra. Mesmo ouvindo de Jesus a reprodução daquele discurso, ela não titubeou e humildemente argumentou: "Os cachorros também comem das migalhas que caem da mesa de seu senhor." Pelo que ouviu dos lábios do Mestre um elogio que pouquíssimos mortais receberam. Mulheres como Maria Madalena, a primeira a vê-lo ressurreto e a recebera missão de contar aos Seus discípulos o que testemunhara. 

Mas dentre todas as mulheres da vida de Jesus, ninguém foi tão importante quanto Maria, de quem herdou o ímpeto revolucionário tão nítido em sua canção de louvor a Deus (Magnificat).

Jesus empoderava as mulheres quando estas nem sequer eram contadas nos censos. Dentre tantos mestres da época, mesmo alguns como Sócrates, Platão e Aristóteles, considerados homens bem à frente de seu tempo, Jesus foi o único a aceitar mulheres como discípulas. 

Pena que dois mil anos depois, muitos dos que se apresentam como Seus seguidores emprestam os lábios ao machismo imperante em nossa sociedade, negando à mulher o espaço e a dignidade que lhe são devidos. Temos muito que aprender com Jesus.

Feliz Dia Internacional da Mulher para todas as minhas amigas, e, em especial, para as mulheres da minha vida: minha mãe, minha esposa e minhas filhas.

Segue abaixo, a canção "Dona" do Roupa Nova cantada ontem no culto especial dedicado a todas as mulheres.

A mulher em seu devido lugar...

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“Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis.” 
Provérbios 31:10-31

Baseado num dos textos bíblicos que mais exaltam a mulher, declaro solenemente que lugar de mulher é...

Desfrutando da total confiança do seu marido – “Seu marido tem plena confiança nela e nunca lhe falta coisa alguma” (v.11).

No ambiente de trabalho fora de casa– “Busca lã e linho, e trabalha de boa vontade com suas mãos” (v.13).

Sendo provedora de sua família– “Como os navios mercantes, ela traz de longe as suas provisões” (v.14).

Gerindo recursos humanosLevanta-se, mesmo à noite, para dar de comer aos da casa, e distribuir a tarefa das servas” (v.15).

Administrando patrimônio– “Examina uma propriedade e adquire-a” (v.16)

Investindo recursos financeiros em produção– “Com o que ganha planta uma vinha” (v.16).

Superando sua própria fragilidade– “Entrega-se com vontade ao seu trabalho; seus braços são fortes e vigorosos” (v.17).

No marketing– “Administra bem o seu comércio lucrativo, e a sua lâmpada fica acesa durante a noite” (v.18).

Manuseando qualquer tipo de maquinário– “Estende as suas mãos ao fuso, e suas mãos pegam na roca” (v.19).

Solidarizando-se com os injustiçados e excluídos– “Acolhe os necessitados e estende as mãos aos pobres” (v.20).

Tomando medidas preventivas– “Não teme a neve na sua casa, porque toda a sua família está vestida de escarlata. Faz para si cobertas de tapeçaria” (vv.21-22).

Vestindo-se como quiser sem ter que preocupar com a censura de ninguém– “Seu vestido é de seda e de púrpura” (v.22).

Sendo protagonista de sua própria história de modo que em vez de ser conhecida meramente como esposa de fulano, ele que é conhecido por ser seu marido– “Seu marido é respeitado na porta da cidade, onde toma assento entre as autoridades da sua terra” (v.23).

Produzindo e fornecendo bens de consumo– “Ela faz vestes de linho e as vende, e fornece cintos aos comerciantes” (v.24). Ela é capaz de atuar em toda a cadeia produtiva.

Olhando com esperança para o futuro– “A força e a honra são seu vestido, e se alegrará com o dia futuro” (v.25).

Emitindo sua opinião acerca de qualquer assunto e em qualquer lugar – “Fala com sabedoria” (v.26). Esquece aquela estória de que mulher deve ficar calada. A orientação de Paulo servia para um contexto cultural judaico-helênico e não para os demais.

Ensinando, transmitindo conhecimento– “Ensina com amor” (v.26). Seja numa sala de aula, seja num púlpito ou aonde for.

Cuidando dos negócios da família– “Cuida dos negócios de sua casa e não dá lugar à preguiça” (v.27).
Sendo elogiada por seus filhos e cônjuge– “Seus filhos se levantam e a elogiam; seu marido também a elogia, dizendo: Muitas mulheres são virtuosas, mas tu superas a todas” (vv.28-29).

Sendo muito mais do que um rostinho bonito ou um corpo escultural– “A beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada” (v.30).

Sendo reconhecida pela excelência de seu desempenho– “Que ela receba a recompensa merecida, e as suas obras sejam elogiadas à porta da cidade” (v.31).

Conclusão: Não é a Bíblia que é machista. Nós que insistimos em lê-la a partir de lentes obscurecidas com o nosso machismo. 

Recadinho aos machistas de plantão: Não felicite as mulheres por seu dia se você insiste em seu discurso mequetrefe, privando-as de ocupar um lugar que você julga pertencer exclusivamente aos homens, perpetuando assim, um modelo que oprime a mulher, reduzindo-a a um ser de segunda classe, limitando seu potencial. Guarde suas felicitações para o dia das mães, seu hipócrita! Perdoe-me o desabafo. Tenho duas filhas e quero que elas vivam num mundo mais justo do que aquele em que cresceu sua mãe e suas avós. 

Eu até iria à manifestação do próximo dia 13 se...

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Por Hermes C. Fernandes

Eu até iria à manifestação convocada para o próximo domingo, 13 de março, se não soubesse quem realmente a está convocando...

Eu até iria a tal manifestação se não soubesse que interesses sórdidos estão por trás dela...

Eu poderia até me vestir de verde e amarelo e sair às ruas se fosse algo espontâneo, legitimamente popular, sem a sombra dos que almejam entregar nossas riquezas às grandes corporações multinacionais e que se escondem na penumbra da ignorância de nossa burguesia...

Eu até me esforçaria para comparecer à manifestação se desconhecesse que a mesma mídia que estará dando cobertura aos protestos, com takes favoráveis em que aparecerão famílias do tipo ‘comercial de margarina’ sorrindo para as câmeras não fosse a mesma mídia que detonou os verdadeiros protestos ocorridos em Junho de 2013, comparando os manifestantes a hordas de vândalos...

Eu até toparia participar se não me embrulhasse o estômago ver participantes posando com os mesmos policiais que meteram o cassetete nos que protestaram para valer em manifestações legítimas desdenhadas pela grande mídia e pelas autoridades... O brilho dos olhos dos participantes desta é incompatível com a vermelhidão provocada pelo spray de pimenta de outras...

Talvez eu aparecesse por lá se me garantissem que em momento algum eu toparia com pregadores midiáticos que se levantam contra o atual governo pelo simples fato de não terem alguns de seus pedidos atendidos, dentre os quais, concessões de canais de TV, cargos públicos, leis que beneficiam sua própria classe, etc. Se não me deparasse com teólogos fundamentalistas de plantão destilando seu veneno para apoiar o golpe, destorcendo o livro sagrado a seu bel-prazer para impor sua agenda moralista sobre um estado laico...Definitivamente, não tenho vocação para ser massa de manobra e nenhum líder religioso tem procuração para pensar em meu lugar. O escudo da minha fé não vem com a estampa do Capitão América...

Eu seria visto por lá se concordasse com uma tentativa de golpe para derrubar um governo que mal ou bem foi eleito por voto popular...


Se concordasse que a alternativa ao atual modelo fosse uma intervenção militar... Lembrando que, se ainda vivêssemos sob a égide da ditadura dos milicos, manifestações como esta seriam coibidas...

Se me convencessem de que a corrupção só surgiu no país a partir do atual governo e que membros de partidos da oposição também não foram indiciados na operação lava-jato...

Se o lugar escolhido para a manifestação não fosse um cartão postal que servirá de cenário para a aglutinação de uma maioria branca, pertencente à classe média, usando a mesma camisa que usaram nos jogos da Copa depois de pagaram por ingressos caríssimos para assisti-los nos estádios construídos pela atual administração...

Eu até acreditaria do patriotismo de toda esta gente não fosse o fato de que muitos que vociferam contra a corrupção não fossem os mesmos a sonegar impostos ao entrarem no país sem declarar o que compraram em sua viagem a Miami...

Eu me proporia a fazer coro com a grande turba vestida de verde e amarelo se não tivesse a consciência de que o Brasil corre o risco de dar uma guinada à direita que resultaria no abandono de programas governamentais que contemplam os mais necessitados e que são responsáveis pela inserção de 36 milhões oriundas das classes mais baixas na classe média.

Se não corresse o risco de ouvir de cima de um trio elétrico o pronunciamento de algum político racista, homofóbico, xenófobo, que aproveita do momento para seduzir o coração de um povo ávido de esperança.

Eu até me atreveria a comparecer a tal marcha, se não desconfiasse da possibilidade de que indivíduos fossem pagos para se infiltrar no meio da multidão, portando bandeiras vermelhas para tocar baderna, criar tumulto, e assim, fomentar a hostilidade contra partidos da base do governo... Já vi este filme antes...



Sinceramente, eu ficaria muito constrangido de ser flagrado marchando ao lado de neonazistas, de defensores da intervenção militar, de gente que prega o ódio aos gays, negros, nordestinos, imigrantes, etc.

Reconheço a legitimidade do direito de sair às ruas, mas não reconheço a legitimidade da motivação por trás da manifestação que se pretende no próximo domingo. Se é democrática como se diz, então, qualquer um poderia ir vestido como quisesse, inclusive de camiseta vermelha, sem ser hostilizado.

Se eu tiver que marchar, não será pela família tradicional, mas pela família humana. Não será contra um partido, mas contra a corrupção cuja metástase já comprometeu todo o tecido político e social deste país. Não será ao lado de Bolsonaros, Cunhas, Aécios, Felicianos e Malafaias, mas ao lado de quem se inspira em Luther King, Bonhoffer, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Mandela, Papa Francisco e, sobretudo, em Jesus Cristo, o maior pacifista de todos os tempos. Bem que Jesus disse, "onde estiver a carniça, os abutres se ajuntarão." Se quiser julgar uma causa, verifique quem ela é capaz de atrair. 

Sinta-se à vontade para seguir a sua consciência. 

Abaixo a canção "Admirável Gado Novo" de Zé Ramalho (Nunca foi tão atual!)

 

Querem transformar a manifestação numa "marcha para Jesus"

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Por Hermes C. Fernandes

A que ponto chegamos para convencer as pessoas a deixarem seus ambientes de culto no domingo para participar da manifestação que pretende derrubar uma presidente democraticamente eleita... Para dar uma aura de espiritualidade, líderes estão convocados seus rebanhos para juntar-se à turba para dar uma espécie de cobertura espiritual ao protesto, orando e louvando enquanto marcham. Agora sim... vamos amarrar a potestade da corrupção e o principado do comunismo... SQÑ.

Enquanto a presidente estiver sendo aviltada com xingamentos dos mais baixos, estaremos falando em línguas. Enquanto muitos estiverem clamando pela volta da ditadura militar, os crentes estarão entoando louvores e encenando atos patéticos, ops, proféticos. 

Vamos transformar a manifestação de domingo numa grande "marcha para Jesus", com palavras de ordem do tipo "O BRASIL É DO SENHOR JESUS!" E assim, vamos destronar Belzebu e deixar o trono vago para Satanás. O que nossos netos pensarão de nós ao lerem sobre isso nos livros de história? Que o Senhor tenha misericórdia desta geração de crentes perdida em seus devaneios de poder.

Como os cristãos se tornaram tão suscetíveis a este tipo de apelo? Como podem ser tão ingênuos a ponto de se deixarem manipular por líderes inescrupulosos que usam e abusam de um discurso religioso moralista só para seduzi-los? Não se enganem! A pauta moralista (família tradicional, contra o aborto e o casamento gay, etc.) não passa de uma isca. No fundo, estão pouco se lixando para tudo isso. Cansei de vê-los apoiar candidatos favoráveis a tudo isso em troca de certas regalias. O que querem mesmo é poder, concessões de rádio e TV, isenção de impostos e outros privilégios.

Ao postar minha indignação em meu perfil numa rede social, alguém insinuou que eu fazia pior ao levar os Beatles para dentro da igreja (referência clara ao "Rastros da Graça", trabalho que promovemos nos cultos dominicais da Reina em que cantamos canções seculares onde julgamos encontrar lampejos da graça de Deus). Ora, o que seria mais 'grave', Paulo citar poetas pagãos em sua pregação ou Jesus entrar na pilha da multidão e marchar em direção ao palácio de Herodes para depô-lo? Sem se deixar engambelar com os gritos de "hosanas" que não passavam de pressão política favorável a um golpe, Jesus tomou o caminho do templo e lá chegando, botou para quebrar em cima dos mercadores. Como podemos exigir o fim da corrupção enquanto cedemos nossos púlpitos para candidatos e em troca de ofertas vultuosas? Cantar os Beatles soa inofensivo diante do que estão fazendo com o evangelho. Tudo por amor... ao poder.

Que tal fazermos como Daniel? Em vez de promover um levante para derrubar o rei da Babilônia que havia promulgado uma lei injusta que prejudicava diretamente a ele e ao seu povo, o profeta hebreu preferiu subir para o seu quarto três vezes ao dia para orar em secreto. Pelo menos, isso é o que pretendo fazer juntamente com a minha família, no intervalo entre os cultos da manhã e da noite. Vamos rogar a Deus para que o país não caia numa armadilha que resulte em retrocesso social. Que Ele conceda sabedoria aos nossos governantes para vencer esta crise e conduzir a nação ao crescimento sustentável. Que as manifestações ocorram sem percalços, na mais perfeita paz. E que nosso povo, já tão sofrido, não dê ouvidos a promessas mirabolantes de quem se apresenta como o salvador da pátria, mas não passa de oportunista espertalhão que só almeja sugar o que nos resta.

Delação Premiada da Alma

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“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Romanos 8:1-2

Somos salvos pela graça! Isso significa que nada fizemos para merecer a salvação. Salvos pela graça, mediante uma fé da qual Ele é o autor e consumador. Em outras palavras, Ele deu o pontapé inicial e é quem vai concluir a obra. Entender isso é essencial para que desfrutemos plenamente da paz oferecida em Jesus.

Porém, o fato é que, mesmo salvos, somos mantidos cativos pela lógica meritocrática. Ainda que acreditemos que a salvação independa de mérito, agimos como se dependesse. Nossa mente está viciada em padrões de pensamentos profundamente arraigados, aos quais Paulo chama de “fortalezas espirituais” que devem ser derrubadas até que não fique pedra sobre pedra (2 Co.10:4).

Para Paulo, andar “segundo a carne”é aderir a uma espiritualidade que dependa do desempenho, enquanto que viver “segundo o Espírito”é depender exclusivamente da graça. Os que militam segundo a carne “inclinam-se para as coisas da carne”, mas os que militam segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. A inclinação da carne é morte, a do Espírito é vida e paz.

Qualquer um que tenha abraçado o evangelho com consciência vai sinalizar positivamente para estas preciosas verdades. Porém, terá que enfrentar padrões insistentes de pensamentos. A gente diz crer na graça, mas segue dependendo da própria performance.

Quem tenta agradar a Deus a partir da domesticação de suas pulsões, invariavelmente vai desagradá-lo, pois se nega a depender da graça para depender de si mesmo. É como tentar enfrentar as fortes correntezas de um rio e acabar sendo levado por elas.

Quando o apóstolo diz que a inclinação da carne é inimizade contra Deus, não é apenas por causa de suas obras más, mas por retroalimentar o ciclo do orgulho humano. Mesmo as coisas boas que eventualmente praticar, não passarão de insulto à graça divina. Depender da carne, mesmo que para tentar agradar a Deus, resultará em inimizade contra Deus, pois a mesma não pode sujeitar-se à lei de Deus. Portanto, só há uma maneira de agradá-lo: estando no Espírito e não na carne. Rompe-se a lógica meritória. Rasga-se o livro caixa existencial, onde registramos nossas “entradas” e “saídas”, “créditos” e “débitos”.

A conclusão de Paulo não poderia ser outra, senão de que “somos devedores, não à carne para viver segundo a carne”(Rm.8:12).

Aqui, o apóstolo revela o “x” da questão. Sabe quando adestramos um animal, condicionando-o a responder conforme desejamos? Como se dá este condicionamento? Através da recompensa. Ele não age mediante reflexão, considerando as possibilidades, os prós e os contras. Não. Ele age por ter seus instintos aguçados pela oferta de uma recompensa. Assim é a carne.

Quando a adestramos, temos a ilusão de que finalmente ela se submeteu à lei de Deus. Então, inconscientemente dizemos a ela: Boa menina! Já que obedeceu ao comando, vou te recompensar. E geralmente, a recompensa que ela espera é algo que desagrada a Deus. Mesmo que seja apenas a manutenção de um sentimento de orgulho, de superioridade ( eu disse “apenas”?... como se isso por si só não se constituísse no maior insulto que se possa fazer a Deus).

Agora, vamos analisar o outro lado da moeda.

Geralmente, quando atacamos a doutrina das obras meritórias, abordamos apenas o aspecto do mérito, negligenciando o aspecto do demérito. E assim, nossa consciência se mantém refém sem se aperceber disso.

E quando pecamos, o que fazemos? Inconscientemente, buscamos uma maneira de nos infringir algum castigo. A lógica aqui é a mesma, a do mérito e demérito. O nome disso é penitência. Tento convencer-me de que meu pecado foi tão grave que a maneira de castigar-me é renunciando qualquer coisa de bom que a vida possa me dar e aceitando com resiliência a mediocridade. Vale salientar que nem sempre isso ocorre no nível da consciência. Na maioria das vezes é inconsciente.

“Não mereço nada melhor que isso”, nos convencemos. Ou como diz o adágio, “pra quem é, bacalhau basta.”

Há que se romper com tal lógica perversa se quisermos desfrutar do que Deus, por Sua graça, tem reservado para nós a fim de que nossa existência sirva a Seus propósitos. E isso faremos quando aprendermos a depender exclusivamente de Sua graça e não na força de nosso braço.

Em se tratando de salvação, nada fizemos para merecê-la e nada podemos fazer para perdê-la. Em se tratando do propósito de Deus para a nossa existência, o princípio é o mesmo.

A lógica meritocrática nos mantém reféns do passado. A graça nos liberta e nos remete para o futuro. Não vivemos em função do que fizemos ou deixamos de fazer, mas em função daquilo para o qual fomos alcançados.

Em Filipenses 3, Paulo fala sobre a subversão da lógica do livro caixa. Ele diz por A + B que o que antes considerava lucro, ele agora considerava perda. Isso significa que ele não levava mais em conta nada além da própria graça. Não há mais nada a ser cobrado. Nada a cobrar de si, nada a cobrar dos demais. Deixamos para trás as coisas que devem ficar no passado e avançamos para as que estão diante de nós, a fim de alcançar aquilo para o qual fomos alcançados.

Se a carne busca nos submeter às suas pulsões, o Espírito nos guia pelo Seu ímpeto. A carne nos segura ao passado, o Espírito nos remete para frente. Não se trata apenas de impulsos, mas de ímpeto. Impulso é força que vem de fora. Ímpeto é força que vem de dentro.

Imagine um carro enguiçado sendo empurrado ladeira a cima. Cada vez que empurram, o carro anda alguns centímetros e voltar a descer com mais força ainda. É como uma reação pendular. Mas se o motorista girar a chave e lograr fazer funcionar o motor, o carro vai subir a ladeira sem dificuldade. A força do motor gera o ímpeto necessário para fazê-lo andar sem voltar para trás.

Se desligar o carro e destravar o freio de mão, o carro vai descer a ladeira sem que ninguém consiga detê-lo. Assim é quem se entrega de vez às pulsões da carne. Qualquer um que se coloque no caminho é atropelado.

Outra passagem que lança luz sobre a questão é encontrada em I João 3:20-21:

“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus.”

Tenho a impressão de que temos entendido equivocadamente esta passagem. Se nosso coração é enganoso, não devemos confiar em seu veredito, seja-nos favorável ou não, condenando-nos ou absolvendo-nos. Se ele nos condenar, devemos recorrer a uma instância superior: DEUS! Mas se ele nos absolver, nossa confiança segue sendo em Deus.

Mesmo quando nos absolve, sua motivação pode não ser confiável. O que ele realmente pretende é conquistar nossa confiança para que no futuro, nos submetamos cegamente a qualquer de suas avaliações.

Redobremos os cuidados para não confundirmos a voz do Espírito com a de nossa própria carne. Quando o Espírito nos justifica, Ele não nos inocenta. Temos a convicção de que erramos, porém, nos arrependemos. Já a carne tenta nos inocentar, apresentando-nos justificativas para os nossos erros. Não confunda justificação com justificativa. Ser justificado é ser perdoado e receber de Deus um nada-consta do tribunal celestial. Deus só justifica quem admite não haver justificativa para os seus pecados. O veredito do Espírito ao nos justificar produz verdadeira paz para a nossa consciência. O veredito do nosso coração, por ser aliado de nossa carne, produz uma sensação de trégua. A paz de Deus é eterna. A trégua proposta pela carne é temporária.

Da mesma forma, quando pecamos, o Espírito não põe pano quente e nem propõe algum tipo de acordo. Somos tomados por uma tristeza que visa conduzir-nos ao arrependimento sincero.  Se o Espírito nos conclama ao arrependimento, o diabo segue nos acusando. E a carne, o que faz? Descaradamente, ela nos propõe uma espécie de delação premiada. E assim, põe para fora todos os nossos podres, mas sai ilesa, como verdadeira heroína. Não se esqueça de que se trata de “delação premiada”. Mais cedo ou mais tarde, ele cobra seu prêmio.  E não pense que ela se contenta apenas em ser ‘inocentada’. Ela quer mais. Ela quer o direito de continuar pecado a seu bel-prazer.  E assim, o ciclo se retroalimenta ad infinitum.


Somente a graça interrompe este “karma”, liberando-nos para viver plenamente o propósito de Deus para a nossa existência neste mundo. 

Por uma sociedade sem muros

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“Eu vejo a vida melhor no futuro.Eu vejo isso por cima de um muro
de hipocrisiaque insiste em nos rodear.” Lulu Santos

G
osto de observar a ordem em que os acontecimentos são relatados nos evangelhos. Creio que desperdiçamos muitas mensagens quando nos atemos apenas aos acontecimentos em si, e não enxergamos suas entrelinhas, contextos, conexões e desdobramentos. Deus Se revela de maneira surpreendente nos flagrantes contrastes dessas passagens!

Lucas nos descortina um episódio em que Jesus Se dirige a Jericó.[1] Antes de entrar na cidade, Ele Se depara com um cego “assentado à beira do caminho, mendigando”, cujo nome é Bartimeu. Depois de clamar insistentemente pela misericórdia do Filho de Davi, Jesus manda chamá-lo e restitui miraculosamente sua visão. Bartimeu, um homem marginalizado, um excluído da sociedade de Jericó, é a primeira pessoa a quem Jesus direciona Sua atenção.

Mas ao atravessar os muros da cidade, Jesus Se depara com outro homem, pertencente à elite de Jericó. Enquanto Bartimeu vivia do lado de fora da cidade, Zaqueu, o chefe dos coletores de impostos, vivia luxuosamente na parte mais requintada de Jericó. 

Ambos eram cegos.
Bartimeu, fisicamente.
Zaqueu, espiritualmente.

Os dois deviam sua condição social à ganância. Um era vítima, o outro algoz. Talvez jamais houvessem prestado atenção um ao outro, e nem sequer sabiam de sua existência. Porém ambos tinham algo em comum: queriam muito ver a Jesus. Lucas diz que  Zaqueu “procurava ver quem era Jesus, mas não podia.”[2]Não por causa de alguma deficiência visual, mas porque era nanico. A fim de avistá-lo no meio da multidão, Zaqueu tratou de escalar uma árvore, meter-se por entre sua folhagem, e ali, discretamente, sem almejar qualquer atenção, esperou até que Jesus passasse.

Veja a diferença gritante entre Bartimeu e Zaqueu.
Não apenas social, ou cultural,
mas também comportamental.

Bartimeu queria a atenção de Cristo, e por isso não poupou sua voz. Esgoelou-se ao ponto dos discípulos rogarem que se calasse. Já Zaqueu preferia a discrição, a camuflagem de uma árvore, a preservação de sua imagem pública. De cima dela, ele podia ver sem ser notado, espiar sem ser exposto, numa espécie de voyeurismo desprovido de culpa. Afinal, um homem importante como ele não podia correr este risco. Mas para a sua surpresa, Jesus não hesitou em mirar-lhe por entre as folhas e dizer: Desce depressa, Zaqueu! Hoje vou me hospedar em sua casa.

O que desejo ressaltar aqui é que Jesus não se importou com qualquer convenção social. Ele simplesmente ignorou o muro que separava aquelas duas classes sociais. Ele deu atenção tanto ao que vivia de esmolas, quanto ao que vivia de propinas. Entretanto, devemos realçar que primeiro Ele voltou Sua atenção para o explorado, e só depois para o explorador. Sua prioridade sempre foram os oprimidos, os marginalizados, os excluídos, os que ficam "à beira do caminho". Todavia, jamais deixou de atender também ao opressor, acolhendo-o e convidando-o ao arrependimento.

Bartimeu e Zaqueu são subprodutos de uma sociedade injusta, engrenagens da mesma máquina social. Uns com tanto, outros com tão pouco. Uns clamando por misericórdia, outros por privacidade. Uns sem ver, outros sem querer ser vistos. Uns se valendo da compaixão alheia, outros se valendo da ignorância das massas. Acredita-se que a capa que Bartimeu usava era uma espécie de licença dada pelo governo autorizando-o a pedir esmolas. Sua fé de que seria curado foi tão grande, que não pensou duas vezes para livrar-se dela tão logo fora chamado por Jesus. Provavelmente, foi o próprio Zaqueu quem forneceu aquela licença ao cego Bartimeu, de modo que até das esmolas coletadas por um mendigo se cobrava impostos. Portanto, Bartimeu era um daqueles que haviam sido defraudados por Zaqueu e a quem ele prometeu devolver quadruplicado depois de seu encontro transformador com Jesus.

 algo mais que não podemos deixar passar despercebido. Que cidade era aquela? Jericó. Isso nos lembra alguma coisa? Trata-se da mesma Jericó, cujos muros foram derrubados por Deus na ocasião em que o povo de Israel, liderado por Josué, marchou por sete dias ao seu redor.

Ora, se Deus derrubou aquele muro, o que é que ele fazia de pé dois mil anos depois?

Foi durante o reinado do perverso Acabe que Jericó foi reconstruída. Os créditos por esta façanha entraram na conta de tal Hiel, o betelita, que acabou pagando um alto preço por sua ousadia.

“Em seus dias Hiel, o betelita, reconstruiu a Jericó. Pelo preço de Abirão, seu primogênito, lançou-lhe os fundamentos e pelo preço de seu último filho, Segube, assentou-lhe as suas portas, conforme a palavra do Senhor, falada por intermédio de Josué, filho de Num.” 1 Reis 16:34

Aquela muralha representava a divisão dos povos. Para isso servem os muros. Sejam de concreto ou acrílico, como os que têm sido erguidos ao redor de algumas favelas cariocas, isolando-as do resto da cidade, ou ideológicos, religiosos, sociais, étnicos, nacionalistas, etc. Seja sob o pretexto de proteger, guardar ou até de embelezar, todos têm o mesmo objetivo: separar.

Tão logo os muros de Jericó vieram a baixo, Josué pronunciou uma maldição:

“Maldito diante do Senhor seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó: Com a perda do seu primogênito a fundará, e com a perda do seu filho mais novo lhe colocará as portas.” Josué 6:26

Esta maldição nos revela a gravidade atribuída a qualquer tentativa de se levantar novamente aqueles muros. Era comum à época o pronunciamento de maldições para coibir certas atitudes consideradas reprováveis. Mesmo assim, séculos depois, com a autorização do rei Acabe, Hiel pôs-se a reconstruir Jericó. Em cumprimento à palavra de Josué, Hiel perdeu seu primogênito assim que lançou os fundamentos da cidade, e seu filho caçula quando assentou suas portas.

Agora, Jesus, o Unigênito de Deus, resolve se dirigir àquela cidade cujos muros não deveriam jamais ter sido reconstruídos. Ao atender a Bartimeu do lado de fora dos muros, e a Zaqueu do lado de dentro, Jesus parece indicar que simplesmente ignora a obra creditada a Hiel. Para Jesus, era como se aqueles muros não existissem. O Unigênito de Deus não reconhece qualquer separação entre os homens. Ele transita livremente entre todos os estratos sociais, atravessando fronteiras que só existem nos mapas e na imaginação de quem os desenhou.

Soa-nos exagerada a maldição pronunciada por Josué. Mas que tal considerar o custo envolvido na demolição dos muros que separavam os homens de Deus e uns dos outros? Se reconstruir aqueles muros custou a vida dos filhos de Hiel, derrubar os muros que nos separavam de Deus e de nossos semelhantes custou a vida de ninguém menos que o próprio Filho de Deus.

Veja o que Paulo diz sobre isso:

“Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a parede de separação, a barreira de inimizade que estava no meio, desfazendo na sua carne a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, matando com ela a inimizade.” Efésios 2: 13-16

Resumindo: pela cruz de Cristo, todos os muros vieram a baixo. Jericó representa uma sociedade construída sobre o preconceito racial, social, religioso, sexual, cultural. Compete a cada um de nós, como expressão do Corpo de Cristo, transitar livremente entre os povos, ignorando qualquer que seja o muro que os separe. Em Cristo, a humanidade foi reunificada. “Desta forma”, conclui o apóstolo, “não há judeu nem grego (acabou a distinção nacionalista e cultural), nem servo nem livre (distinção social), não há macho nem fêmea (distinção sexista), pois todos vós sois um em Cristo Jesus.”[3]A igreja deveria ser, por assim dizer, a nova humanidade em estado embrionário.

O problema é que, em vez de adotar esta revolucionária postura, a igreja preferiu alienar-se da sociedade e investir seu tempo e recursos na construção de novos muros, e na reconstrução dos que já foram derrubados. Serve-nos como advertência as sábias palavras do apóstolo dos gentios: “Se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.”[4]

Cristo continua a fazer pouco caso dos muros que reconstruímos. Porém, não fará vista grossa à qualquer tentativa de se reconstruir o que Lhe custou tão caro destruir. E é isso que fazemos quando erguemos bandeiras e nos entrincheiramos contra qualquer segmento da sociedade. Quando nos vemos no direito de dizer quem vai ou não para o céu. Quando privilegiamos uma nacionalidade (por exemplo, Israel), enquanto menosprezamos outra (por exemplo: os palestinos). Quando contamos piadinhas envolvendo diferenças raciais.

Trabalhemos, não na reconstrução de velhos muros, mas na edificação de uma nova sociedade, cujo fundamento seja o amor revelado em Jesus. Amor que acolheu prostitutas no passado, e que pode perfeitamente acolhê-las hoje, juntamente com os homossexuais, os transexuais e os travestis. Amor que acolheu os excluídos de então, e continua a fazê-lo hoje. Que une oprimidos e opressores, jogando por terra uma rivalidade que perdura séculos, reconciliando as diferentes classes sociais sob a égide da justiça, da verdade e do amor. Afinal, quem ama a Bartimeu, também ama a Zaqueu. E o desejo de Cristo é que se reencontrem numa Jericó sem muros.

Nunca gostei de muros! Quando criança, pulava o muro de minha casa em Quintino para fugir para igreja. Na adolescência, pulava o muro da escola para ir para praia escondido de meus pais. Devido à criação rígida que recebi, sentia-me instigado a espiar o mundo lá fora, vislumbrando realidades até então inexploradas.

Muros cerceiam a liberdade. Em vez de nos proteger do mundo, parece proteger o mundo de nós.

Definitivamente, não fui feito para o clausuro. Gosto do vento em meu rosto e da sensação de liberdade. Liberdade de ir e vir, de expressar o que penso, de escolher o que quero ler, comer, onde morar, estudar, etc.

Mas os muros existem. Alguns de concreto, outros invisíveis. Alguns espessos, outros sutis. Muitas vezes nós mesmos assentamos seus tijolos. Construímos muros para nos esconder, como também para esconder de nós a realidade que nos circunda. Preferimos fingir que nosso mundo se restringe ao espaço guardado por entre os muros. Não há nada lá fora com que devamos nos importar.

Entretanto, os mesmos muros atiçam nossa curiosidade, e de quando em vez, espiamos por entre as suas frestas para saber o que se passa lá fora. Meninos entendem bem disso. Meninas... também.

Moradores dos condomínios luxuosos ficam a imaginar o que significa viver em condições precárias numa favela. Já há até agências turísticas que oferecem pacotes em que seus clientes são levados para conhecer a realidade nua e crua dos guetos cariocas. Já os 'favelados' fantasiam sobre o estilo de vida glamoroso dos ricos enquanto assistem às novelas.

Somos todos voyeurs sociais. Não é à toa que o Big Brother Brasil já está em sua décima quarta edição. Em nenhum lugar do mundo este tipo de programa alcançou sucesso tão duradouro como em nosso país.

Bartimeu e Zaqueu viviam muito próximos geograficamente, porém socialmente distantes. Havia dois muros entre eles, um literal e outro social.

Estes dois personagens são arquetípicos. Nossa sociedade está cheia de Bartimeus e Zaqueus.

Bartimeu representa os excluídos, as classes menos favorecidas, que cegas pela ignorância, são obrigadas a viver "à margem do caminho", na dependência da compaixão de quem passe. Estes são o efeito colateral de uma máquina social cujas engrenagens trabalham sem estarem devidamente lubrificadas pelo amor.

Não haverá justiça social onde não houver amor. O que os mais pobres necessitam não é de uma capa, de uma licença para esmolar, nem mesmo de misericórdia dos que passam, e sim de solidariedade e justiça. Não confunda filantropia com solidariedade. Ao passar por ele, Jesus não lhe deu esmola, mas restituiu-lhe a visão. Mesmo antes de receber a palavra que o curaria, Bartimeu, cheio de esperança e fé, abandonou sua capa e saiu tateando ao encontro do Mestre Galileu.

A verdadeira solidariedade visa emancipar o sujeito, oferecendo-lhe opções que o dignifiquem. O mecanismo da esmola apazigua a consciência dos mais favorecidos e alimenta um filantropismo estéril. Programas governamentais que estimulem a educação são imprescindíveis. 

As igrejas deveriam estimular as pessoas a dependerem cada vez menos de programas assistenciais do Estado e de outras instituições, e a buscarem uma vida produtiva, não apenas do ponto de vista econômico, mas também de realização pessoal. Para isso, Bartimeu tem que voltar a enxergar! As pessoas precisam se preparar para a vida, estudando, buscando aprimorar seus conhecimentos. A educação é, deveras, emancipadora.

Zaqueu aponta para os que vivem do outro lado do muro social. São as classes abastadas, que colhem os dividendos da injustiça social, dos lucros abusivos do comércio e da indústria, dos famigerados juros bancários, e da máquina pública. Muitos indivíduos desta classe sofrem de um tipo de nanismo espiritual. Como Zaqueu, tendem a travar suas próprias buscas espirituais, valendo-se de frondosas árvores como a ciência, a filosofia e o misticismo. Como Zaqueu, prezam a privacidade; seu maior temor é a exposição. Escondem-se por trás da folhagem provida pelo arbusto do conhecimento humano. Esses talvez até consigam vislumbrar algo, mas são incapazes de alcançá-lo dada a sua estatura espiritual prejudicada. Almejam ver a Deus, mas de camarote. Nem sempre é a Deus que procuram, e sim um sentido para a vida. Por isso, preferem o deus de Spinoza, de Einstein, dos deístas, que passa por eles, mas não interfere em seu cotidiano. Um deus que respeita sua privacidade. Almejam ver, porém, sem serem vistos.

Jesus corta o barato de Zaqueu. Ele o chama pelo nome, e diz: Desce depressa! Se quisermos que a mensagem emancipadora e transformadora do evangelho ecoe tanto nas palafitas quanto nos palácios, não podemos fazer média com ninguém. Ninguém deve ser poupado!
Só teremos condição moral de fitar Zaqueu e dizer que desça de seu pedestal, depois que acudirmos Bartimeu do lado de fora dos muros. Uma igreja sem responsabilidade social não está qualificada para atender às demandas espirituais das classes abastadas.

E se Zaqueu quiser mais do que simplesmente um vislumbre do Criador, terá que descer. Terá que aceitar suas limitações e atender ao convite de hospedar em sua vida o Filho de Deus. Cristo jamais Se prestou a matar a curiosidade de quem quer que seja. Ele busca relacionamentos, intimidade, interatividade.

Por não entendermos isso, achamos que devemos manter cada macaco em seu galho, isto é, deixar as coisas como estão, sem ferir o interesse ou os escrúpulos de ninguém.

Passando por Bartimeu, a gente pensa que basta dar-lhe uma esmolinha, fazer-lhe uma oração, e ponto... cumprimos nosso papel.

Bartimeu foi reintegrado à sociedade. Entrou com Jesus na cidade. Abandonou sua capa, pois já não precisava de licença do Estado para esmolar. Zaqueu se arrependeu das mutretas que o fizeram rico, chegando ao ponto de devolver o produto de suas extorsões. Isso sim é conversão. O pobre se livra da capa e da cegueira, o rico desce da árvore e abre sua casa para receber o Deus-Homem. A partir daquele fatídico dia, nunca mais Jericó foi a mesma.




[1]Lucas 18:35-43
[2] Lucas 19:3
[3] Gálatas 3:28
[4] Gálatas 2:18


Abaixo a canção "Another brick in the wall" da lendária banda Pink Floyd.

 

Um Xeque-mate na corrupção ou na democracia?

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Por Hermes C. Fernandes

O país está vivendo uma convulsão como há muito não se via. Nossas instituições estão sob fogo cruzado. O que emergirá de tudo isso? Só o tempo dirá. Mas, confesso: temo que seja o pior. Foi assim em 54, em 64 e queira Deus que tenhamos aprendido a lição para não cometermos os mesmos erros de então (tudo indica que não...).

Como num jogo de xadrez, facilmente identificamos as peças: Rei, Rainha, Bispos, Cavalos, Torres e Peões (precisa mesmo dizer que são os peões?). Mas, talvez, o que nos escapa são os jogadores. Quem são, afinal? Quem estaria por trás de cada jogada?

A renúncia de Jânio Quadros foi atribuída à pressão de forças ocultas, a quem ele denunciou como grupos e indivíduos famigerados, inclusive do exterior. Em seu curtíssimo período de governo, Jânio caiu na asneira de contrariar interesses internacionais, condenando as intervenções estrangeiras, o isolamento de Cuba por parte dos EUA, além de restabelecer laços diplomáticos com a URSS e a China.  O presidente que tinha como símbolo de campanha uma vassoura, foi varrido do cenário político nacional de maneira vergonhosa. Sua renúncia se deu um dia após o discurso de Carlos Lacerda em cadeia nacional, acusando-o de pretender dar um golpe de estado.

A mesmas forças ocultas teriam sido responsáveis pela pressão que culminou com o suicídio do maior estadista que este país já teve: Getúlio Vargas.

Quero deixar claro que não sou afeito a teorias de conspiração. Mas, fato é que o tabuleiro da política internacional está passando por modificações sensíveis e, pelo que tudo indica, chegou a vez do Brasil. Nossos verdadeiros inimigos estão de fora assistindo ao circo pegar fogo e celebrando o lucro que obterão com tudo isso.

Assisti recentemente a uma produção hollywoodiana que se encaixou perfeitamente como analogia do que está acontecendo com o mundo. No terceiro filme da série “Divergente” (se ainda não assistiu, aviso: spoiler), os protagonistas resolvem transpor o muro que separava Chicago do resto do mundo. Após atravessar uma região inóspita, são resgatados por uma força aparentemente do bem e que se apresenta como sendo os guardiões responsáveis pela cidade. Eles assistiam a tudo de fora e, quando necessário, intervinham para manter a ordem numa sociedade que fora ‘preventivamente’ dividida em facções. Aos poucos, os heróis vão percebendo que os mocinhos são na verdade os bandidos que se aproveitavam da ingenuidade do povo, usando-o como cobaias num experimento social que pretendia produzir uma raça pura (alguma semelhança com o nazismo?). Quando uma pessoa era ‘resgatada’ (eufemismo para rapto), era-lhe ministrada uma vacina que a fazia esquecer-se de toda sua vida pregressa. Tal medida evitava questionamentos desnecessários e eventuais insurreições.  Deixei a sala do cinema refletindo sobre o que tem ocorrido em nosso país. Quem seria os responsáveis por sermos um povo de memória tão curta? É o fato de desconhecermos nossa própria história que nos torna tão vulneráveis à manipulação.

Em meus 46 anos, nunca vi um circo midiático como o que se armou nos últimos dias no país. É de se admirar que poucos percebam a intenção por trás disso. A mídia foi com tudo para cima do atual governo.  Algo bem parecido com que fizeram não só com Getúlio e Jânio, mas também com Juscelino e Jango. Pena que poucos se recordem disso. E não foi só no Brasil. Homens que hoje são celebrados como Nelson Mandela, Gandhi, Luther King, e, até a Madre Teresa de Calcutá, foram execrados pela mídia de seu tempo. Faça uma pesquisa. Acusaram Gandhi de ser um pedófilo. Luther King de ter um harém. Mandela de ser comunista. Madre Teresa de ser mentalmente perturbada.  

Devo confessar que a mídia nunca me fez amar ninguém. E que, portanto, jamais me fará odiar a quem quer que seja. O ódio nos cega, privando-nos do bom senso e nos tornando suscetíveis à mais sórdida manipulação. Malcolm X tinha razão ao advertir: “Se você não tomar cuidado, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as que estão oprimindo.”

Entendo e partilho da profunda indignação do povo brasileiro com toda a sujeira que está vindo à tona. Mas há que se cuidar para que isso não se torne ódio e divida famílias, amigos, igrejas e a sociedade como um todo.

Nossos verdadeiros inimigos não são os que pensam diferentemente de nós, mas os que se locupletam do fato de estarmos nos atacando mutuamente.

Sou totalmente a favor de que se investigue até a última sujeira. Mas não me convenço de que os fins justifiquem os meios. Tudo deve ser feito dentro da legalidade e sem este circo todo que visa causar instabilidade política e assim retroalimentar o ciclo do caos.

Não estou aqui para defender tal governo. Não tenho qualquer ligação com o PT, nem com qualquer outro partido de esquerda ou de direita. Se há crimes, que sejam apurados e punidos. O que não endosso é a pressão midiática para derrubar um governo com o objetivo de substituí-lo por um cuja pauta represente um retrocesso e cujo partido também esteja envolvido nos mesmos escândalos de corrupção. Como tenho dito com certa frequência, não adianta remover a prostituta para ceder o lugar ao cafetão.

Em vez de entrar na pilha de quem sempre manipulou a opinião pública, por que não saímos às ruas clamando por reforma política? Parafraseando João Batista, o machado deve ser colocado à raiz da árvore. Senão, será apenas uma poda mal feita e o mal voltará a brotar.

E mais: Independentemente de sua posição, seja ou não a favor da maneira como as coisas estão sendo conduzidas, que tal se nos uníssemos em oração pelo país? Só Deus conhece o coração dos homens e sabe realmente o que se passa nos bastidores dos palácios e nas redações da grande mídia. A gente faz conjecturas, e em nome de nossas posturas, acaba fazendo desafetos. Ninguém está 100% certo. Todos temos uma margem de erro em nossas percepções. Mas há algo que nos une: o desejo de que as coisas mudem para melhor. Opiniões e ideologias nos dividem e enfraquecem. Sentimentos e ideais nos unem e fortalecem. Então, o que estamos esperando? Em vez de ficarmos disseminando ódio, chamando de patifes e idiotas quem discorde de nosso posicionamento, vamos levantar aos céus um clamor pela nossa tão sofrida nação. Afinal, todos queremos um xeque-mate na corrupção, não na democracia. 

URGENTE! LEIA ANTES DE SAIR ÀS RUAS

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“As pessoas que querem fazer deste mundo um lugar pior 
não descansam, por que eu vou descansar?" Bob Marley


A queda do muro de Berlim marcou o fim de uma era caracterizada pela polarização entre duas super potências: os EUA e  a União Soviética. Lançava-se uma pá de cal na guerra fria que assombrou a civilização por décadas. Há fortes indícios de que o mundo esteja caminhando para uma nova polarização. Basta verificar as novas produções hollywoodianas que refletem bem o espírito desta época. “Batman vs Superman”, “Guerra Civil” (Capitão América vs Homem de Ferro), e tantas outras. Nem produções cristãs escapam deste espírito. Observando o cartaz do filme “Deus não está morto 2”, encontrei no subtítulo a provocante pergunta “De que lado você está?” e a imagem de uma mulher caminhando em direção a uma Corte, cercada por dois grupos:  o da esquerda (tinha que ser!) exibindo cartazes que dizem: “Deus está morto!”, “Jesus é um mito”, “Para um mundo sem atraso”, etc.; o da direita com cartazes que dizem: “Deus está vivo!”, “Deus é amor”, “Eu acredito na cruz”, etc.

De fato, Deus não está morto. Mas o que está moribundo é o bom-senso.

Se a polarização ficasse só nas telas, tudo bem. O problema é quando ela vem para as ruas, dividindo povos, provocando hostilidade entre grupos de matizes ideológicos diferentes, arruinando assim, qualquer projeto de nação. Afinal, o que seria mesmo uma nação, senão um povo reunido em torno de um propósito? Ainda que não estejam 100% de acordo, decidiram caminhar juntos, transpondo abismos, superando diferenças étnicas, religiosas, culturais, a fim de possibilitar um futuro promissor às próximas gerações. Sem que haja isso, podemos até ser um país, mas não uma nação.

A polarização só serve aos interesses de quem pretende nos enfraquecer para nos dominar ou de quem trabalhe na indústria armamentista. 

Num momento de ânimos acirrados como o que estávamos vivendo agora, precisamos de gente que leve a paz à sério, caso contrário, corremos o risco de ter nossas ruas banhadas de sangue.

Jamais me opus à liberdade de expressão. Está insatisfeito? Põe pra fora! Achou que alguma medida foi arbitrária? Exponha sua decepção. Esta é a vantagem de se viver numa democracia. Mas daí, sair ofendendo a todos os que pensam diferentemente...

No mesmo sermão em que Jesus diz ser bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, também diz ser bem-aventurados os pacificadores. Será que dá para ter fome e sede de justiça e ainda assim ser um pacificador? Estou convencido de que não são coisas excludentes. Por isso lemos que "o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz" (Tiago 3:18). Mas devemos redobrar os cuidados com os que preferem atear fogo! Não é à toa que entre as coisas abominadas por Deus está "o que semeia contenda entre irmãos" (Provérbios 6:19). Não importa o quão ortodoxo seja a sua teologia, se não prega a verdade em amor, não serve. 

Há coisas que precisam ser ditas, porém, na hora certa. O mesmo álcool usado para desinfetar algo, pode ser usado para provocar um incêndio. Então, nada de pôr álcool próximo de fogo!

Alguns, não satisfeitos com tal postura pacificadora, vão nos chamar de isentões. Talvez chamassem Jesus assim por não instigar os judeus contra os romanos. Talvez até desconfiassem que Ele fosse um partidário de Roma devido aos rasgados elogios feitos a um centurião por sua fé. Mas o Príncipe da Paz não estava nem aí para os comentários maliciosos.

Antes de ser recebido em Jerusalém aos brados de “hosanas”, “quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, dizendo: Ah! Se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos” (Lucas 19:41-42). Em outra ocasião exclamou:“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”(Lucas 13:34).

Quão frustrante é não conseguir fazer as pessoas verem o que se está aproximando. Quanta desgraça poderia ser evitada! Mas os que deveriam pregar a reconciliação, preferem emprestar os lábios ao ódio.

Peço a Deus que levante nesses dias pessoas com a envergadura moral de Nelson Mandela e de Desmond Tutu que se deixaram usar pelo Espírito da Graça para promover a reconciliação de uma sociedade profundamente dividida pelas feridas causadas pelo Apartheid. Que Deus levante homens como Gandhi e Luther King para conduzir nosso povo pelas trilhas da paz e não do ódio. 

Sabe aquele ser humano vestido de verde amarelo? Ele não é um coxinha, mas um brasileiro que almeja um lugar melhor para criar seus filhos. Em suas veias corre um sangue tão vermelho quanto o seu.

Sabe aquele ser humano de camiseta vermelha? Ele não é um petralha, mas um brasileiro tão patriota quanto você, cujo coração é tão verde e amarelo quanto o seu.

Lembre-se de que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra principados e potestades nos lugares celestiais (Efésios 6:12). Traduzindo: Jamais leve o embate para o lado pessoal. Mantenha-o no campo das ideias. Os gregos para os quais Paulo escrevia acreditavam que toda estrutura de poder estava baseada num protótipo nos lugares celestiais (eufemismo platônico para o mundo das ideias). Enquanto certas ideias não forem desarticuladas, tais estruturas se perpetuarão. No nosso caso, há uma verdadeira fortaleza de ideias que mantém nosso país refém. A corrupção que nos assola é endêmica, semelhante a um câncer cuja metástase já espalhou por todo o tecido social. Não adianta mudar os atores, porém, manter o enredo da peça. Logo, não faz sentido ficar trocando farpas entre nós. Todos almejamos mudança, mas cada um tem sua opinião sobre como ela será promovida.

Sem querer dar spoiler, tomara que este filme termine como os dois primeiros que citei acima, em que Batman e Superman se unirão para fundar a Liga da Justiça e somarão esforços para combater um inimigo em comum, e o Capitão América e o Homem de Ferro se reconciliarão para o bem de todos. Se não, o que é mesmo que vai sobrar de tudo isso?

"Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e,
derrubando o muro de separação que estava no meio, na sua
 carne desfez a inimizade." S. Paulo em Efésios 2:14-15a

Por que choras, Brasil?

O dia em que Jesus frustou a expectativa de um golpe

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Hermes C. Fernandes


Havia uma expectativa no ar. Todos comentavam entre si que finalmente chegara o dia em que o Messias tão esperado adentraria triunfantemente em Jerusalém; dirigindo-se ao palácio, deporia Herodes, o rei fajuto, marionete do império romano. Um tal galileu surgira na periferia, fazendo milagres, exorcizando demônios, alimentando multidões. Além de tudo, tinha pedigree. Só poderia ser Ele, o filho de Davi, que libertaria Seu povo do domínio romano, e assumiria o trono do qual era herdeiro.

A cidade estava em polvorosa. Munidos de ramos, todos dirigiram-se ao portão principal para dar boas vindas ao que vinha em nome do Senhor. HOSANA! Os tempos áureos voltaram! Viva o Filho de Davi!

De repente, desponta no horizonte um figura doce, serena, montada num jumentinho. Seus discípulos O precediam e engrossavam os brados de hosana.

Acostumados em assistir às paradas triunfais, em que reis e generais se apresentavam montados em extravagantes corcéis, a imagem d’Aquele galileu montado num jumento era, no mínimo, frustrante. Mesmo sem entender direito o que acontecia, os brados de hosana se intensificavam. Talvez aquilo fosse um recurso cênico, visando identificá-lO com as camadas mais pobres e oprimidas da sociedade. Ninguém podia supor que o jumentinho era emprestado.

Ao atravessar o portão da cidade, todos imaginavam que Ele Se dirigiria ao palácio, liderando o povo para um golpe de estado, mas em vez disso, Ele toma o lado oposto, e Se dirige ao Templo.

Possivelmente muitos pensaram que Ele faria uma breve escala no templo, a fim de legitimar Seu motim, buscando apoio da casta sacerdotal.

Inusitadamente, Sua feição é transformada. O galileu humilde montado num burrinho, agora improvisa um chicote, adentra os pátios do templo, e de lá expulsa os cambistas e mercadores.

Confusão geral! Os brados de hosana foram substituídos por burburinhos. Todos estavam enganados em suas expectativas. Ele não estava interessado em ser unanimidade. Não buscava apoio dos sacerdotes, nem dos dos principais partidos religiosos.

O reino que Ele representava não propunha mudanças que começassem pelo palácio, mas pelo templo. A Casa de Seu Pai estava sendo profanada, transformada num mercadão a céu aberto. Antes de instaurar a ordem do reino, aquela “ordem” teria que ser subvertida. Mesas de pernas pro ar! Gaiolas abertas! Cambistas expulsos!

O mesmo Cristo do jumentinho é o Cristo do chicote. Não confunda Sua humildade com passividade. Ele jamais fez vista grossa às injustiças dos homens.

Depois de limpar o terreno, cegos e coxos Lhes são trazidos, e Ele os cura ali mesmo. De repente, o silêncio é quebrado por brados de hosana, que desta vez vinham dos lábios de crianças.

Os sacerdotes, indignados, perguntam se Ele não se incomoda com aquilo. Jesus responde: Vocês jamais leram? Da boca das crianças é que sai o mais puro louvor.

Repare nisso: Os hosanas bradados à entrada de Jerusalém não mereceram qualquer comentário de Jesus. Entretanto, Ele sai em defesa das crianças que O louvavam com a mesma expressão. Por quê? Porque estes eram legítimos, desprovidos de interesses. Os hosanas de quem O recepcionou à porta da cidade foram interrompidos, tão logo Jesus feriu seus interesses. Os mesmos lábios que O enalteciam, dias depois clamavam por sua crucificação. Quão volúveis somos nós, humanos. Num dia aplaudimos, noutro vaiamos. Quem hoje é unanimidade, amanhã é execrado. 

Aqueles O louvavam por imaginarem que Jesus planejava um golpe político, e que, em posse do trono, romperia relações com Roma, reduziria a carga tributária, e restabeleceria a monarquia de Davi. Mas Jesus tinha em mente outro tipo de revolução. Somente as crianças estavam prontas para isso. Naquele momento, Jesus Se tornou no super-herói da meninada.

Só Ele teve a coragem de desafiar o status quo. Só Ele ousou enfrentar os que detinham o monopólio religioso.

Enquanto as crianças O louvavam, os adultos, indignados, já pensavam em como detê-lO. Foi esta postura subversiva que Lhe custou a vida. Começava ali a contagem regressiva para que o Cristo subversivo fosse morto, não por defender uma ideologia, mas um ideal, o ideal do Reino de Deus.

Desde então, o grito de “hosana” deveria ter conotação subversiva, e não ser mais um jargão religioso. Que seja o hosana das crianças, dos representantes do futuro, aqueles para os quais é o reino dos céus, e não o hosana dos interesses inconfessáveis, do monopólio, da religiosidade insípida, do jogo político. É triste e revoltante ver tantos cristãos deixando seus cultos dominicais portando ramos nas mãos, sem com isso serem cúmplices de Deus na instauração do Seu reino.

Que a religião instituída desista de tentar domesticar Jesus. Que ninguém se atreva a reduzir Sua agenda às nossas expectativas e paixões ideológicas.

Aos líderes evangélicos que fazem coro com o que há de mais reacionário no atual cenário brasileiro, antes de saírem às ruas, promovendo seus 'atos proféticos' para amarrar o principado da corrupção, com seus comícios travestidos de cruzadas evangelísticas, preparem-se para receber uma visita relâmpago de Jesus em suas próprias igrejas. Assim como os cambistas transformaram o pátio do templo num mercadão a céu aberto, muitos estão transformando a igreja em curral eleitoral. O Cristo que derruba mesas, também derruba púlpitos. Então, antes de apontar seus dedos inquisidores para os de fora, tratem de parar de negociar os votos de suas ovelhas ou induzi-las com seu discurso de ódio a se posicionarem contra outros segmentos. Lembrem-se de que o juízo de Deus sempre começa pela Sua própria casa, e ele será sem misericórdia com os que não usaram de misericórdia com os seus semelhantes. 

O que vens fazer no Brasil, Jesus?

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Leiam com atenção e reflitam...

Comentem, critiquem, concordem e discordem a vontade... este é um artigo para gerar os mais diversos tipos de reação!

"No início do cristianismo, o Imperador Nero perseguia os cristãos com ódio terrível. Para ilustrar esta perseguição, conta uma lenda que o Apóstolo Pedro, grande propagador do Evangelho, foi aconselhado a deixar a cidade de Roma e salvar a sua vida. Já fora dos muros, ele encontra-se com Jesus que ia em direção à cidade Pedro, assustado pergunta: "Para onde vais, Senhor?"

Jesus responde: "Vou morrer novamente em Roma". Após este encontro com o seu Mestre, Pedro compreende a mensagem e volta para a cidade, onde mais tarde é crucificado de cabeça para baixo.

Meus caros leitores, depois de dois mil anos, Jesus volta até nós, entra em nossas cidades para morrer com cada ser humano abandonado, desprezado e marginalizado em sua dignidade de filhos e filhas de Deus.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com os agricultores vítimas de uma política que não os incluem em programas governamentais, e assim sofrem com a seca, com a ausência de médicos e escolas para os seus filhos estudarem.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer nas cidades vitimadas pela dengue e pela meningite, cidades estas das promessas de políticos inescrupulosos que só procuram os pobres em campanhas eleitorais fomentando intrigas e ódio, políticos estes que não se preocupam com o saneamento básico ou com a preservação da natureza.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer na vida dos presidiários que vivem crucificados em verdadeiros depósitos humanos clamando por justiça e piedade.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com a juventude vítimas de traficantes nas portas das escolas, nas favelas e nas festas de uma sociedade farisaica que não sabe dialogar com os seus filhos entregues as drogas, à prostituição e ao roubo.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com os garimpeiros no trabalho árduo para ter o pão na mesa, na luta dos menores através dos trabalhos forçados em busca de sobrevivência e no rosto triste dos mendigos que dormem em nossas rodoviárias, nas nossas praças e viadutos passando fome e frio.

Mas o que vens fazer em nossas cidades Jesus? Ele responde: Venho morrer na luta de nossos índios e negros pelas suas terras e quilombos na eterna busca de sua identidade e sobrevivência.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com as pobres vítimas de uma política que hipnotiza, manipula e compra votos em nome da manutenção do poder e de uma hegemonia econômica, social e política.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer na vida triste, sofrida e crucificada dos doentes enfrentando filas na eterna peregrinação nas portas dos hospitais, clínicas e postos de saúde clamando por saúde e dignidade.

Mas o que vens fazer em nossas cidades Jesus? Ele responde: Venho morrer na vida dos menores abusados sexualmente por pais, empresários e políticos que usam e abusam do seu poder econômico e político.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com aqueles e aqueles que são vitimas da fofoca de desocupados que ficam de plantão nas ruas e praças para caluniar e crucificar todos e todas que fazem uma opção ética e democrática na luta por uma nova sociedade baseada nos valores cristãos.

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com os que morrem vitimas da manipulação dos Meios de Comunicação Social em nome do poder econômico, de Multinacionais e grupos políticos conservadores que oprimem e manipulam o povo em nome do "Status Quo".

Mas o que vens fazer no Brasil, Jesus? Ele responde: Venho morrer com os sem terra e sem teto assassinados em nome da manutenção da ordem e do sistema fundiário e habitacional que exclui, mata e marginaliza.

Meu caro leitor. Com Jesus, também vamos ser condenados, sentiremos os espinhos da sua coroa nos ferindo,  vamos carregar a cruz, subiremos ao Calvário, seremos colocados na cruz, pregos serão postos em nossas mãos e pés. Com Jesus sentiremos a dor da lança transpassando o nosso peito e gritaremos: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste"? (Mc 15: 34). Com Ele, desceremos da cruz e seremos postos no túmulo. Mas também com Jesus não temos nenhuma dúvida: IREMOS RESSUSCITAR!"

Fonte: ADITAL

Justiça ou Misericórdia? Pelo o que clama o sangue do Crucificado?

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Por Hermes C. Fernandes

A lista contida na galeria dos heróis da fé é encabeçada por Abel. É interessante notar que Abel é o único a quem não se atribui qualquer proeza. Enoque foi arrebatado ao céu; Noé salvou o mundo com sua arca; Abraão e Sara tiveram um filho depois de velhos, etc. Mas Abel, o que fez de tão importante para figurar ali?

O texto diz que “pela fé Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho das suas ofertas, e por meio dela, depois de morto, ainda fala” (Hb.11:4).

Embora as proezas dos demais heróis tenham alcançado enorme repercussão neste mundo, a oferta de Abel repercutiu na Eternidade.

A queda das muralhas de Jericó, por exemplo, foi testemunhada por milhares de hebreus. Mas a oferta de Abel foi testemunhada única e exclusivamente por Deus. E por alguns milênios, seu sacrifício foi um referencial de excelência. Sua fé, expressada em suas ofertas, não perdeu a eloquência, nem depois de sua morte.

Seu sangue, ao ser derramado na terra, misturou-se ao sangue de todos os seus sacrifícios, elevando a Deus um clamor por justiça.

Ao arguir Caim, o assassino de Abel, disse Deus: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn.4:10). E o sangue de todas as vítimas inocentes da maldade humana, uniu-se ao sangue de Abel neste clamor.

Jesus advertiu aos Seus contemporâneos:
“Portanto desta geração será requerido o sangue de todos os profetas, que foi derramado desde a fundação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo. Assim, vos digo, será requerido desta geração.” Lucas 11:50-51
Desde Abel, a humanidade estava presa a um tipo de carma. O que seria capaz de romper com ele? Aquele velho mundo com seu interminável carma tinha que acabar, para dar lugar a um novo mundo, onde prevalecesse a Graça em vez da vingança.

Embora a fé de Abel o projetasse para o futuro, razão pela qual oferecia a Deus sacrifícios que prefiguravam o sacrifício do próprio Cristo, seu sangue, uma vez derramado sobre a terra, prendeu-nos nesse ciclo de “dente por dente”, “olho por olho”.

O clamor do sangue de Abel nos aprisionava ao passado. Precisaríamos de alguém cujo sangue falasse melhor do que o de Abel, a fim de nos libertar para o futuro. Alguém cujo sacrifício de Sua própria vida exterminasse o carma, e estabelecesse a pedra fundamental de um novo mundo.

O término da lista da galeria da fé, o escritor sagrado arremata:
“E todos estes, embora tendo recebido bom testemunho pela fé, contudo não alcançaram a promessa. Deus havia provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.” Hebreus 11:39-40
Que “coisa superior” seria esta? A resposta vem logo em seguida:
“Portanto, visto que nós também estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todos embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.” Hebreus 12:1-2
Todos os heróis do passado formam agora a plateia que nos assiste, porém, nossa nova referência é Cristo, que nos desafia a deixar o embaraço, isto é, aquilo que nos prende ao passado, e o pecado que tenta nos acorrentar ao presente, e correr em direção ao futuro que Seu sacrifício nos garantiu.

Os heróis da Antiga Aliança viveram sob o eco do clamor do sangue de Abel. Enquanto os antigos heróis “morreram na fé, não alcançaram as promessas, apenas viram-nas de longe, e as saudaram” (11:13), nós, que vivemos sob a égide da Nova Aliança, já as alcançamos n’Ele. Paulo declara: “Pois quantas promessas há de Deus, têm nele o sim, e por ele o amém, para a glória de Deus por nosso intermédio” (2 Co.1:20-21).

Enquanto eles estavam“buscando uma pátria” (Hb.11:14), nós somos aqueles que finalmente chegaram “à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial” (Hb.12:22). Mas tudo isso porque o sangue de Jesus, derramado no madeiro, “fala melhor do que o de Abel” (Hb.12:24).

Se o sangue de Abel clamava por justiça, o sangue de Jesus clama por misericórdia. E “a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg.2:13). Se o sangue de Abel continuou a falar, mesmo depois de morto, qual seria o alcance do clamor do sangue do Ressuscitado?

Ele viveu um pesadelo para nos dar o direito de voltar a sonhar

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Por Hermes C. Fernandes

Você já quis muito alguma coisa que a vida lhe negou? Por que somos seres desejantes? Por que nunca nos damos por satisfeitos? O que procuramos, afinal? E quando desejamos algo e a vida nos dá outro totalmente diferente? E se tivéssemos todos os desejos atendidos? Haveria, então, plena satisfação?

Os filósofos estoicos acreditavam que para vencer nossos desejos, deveríamos suprimi-los. Todavia, pode-se dizer que o desejo é fruto de uma necessidade. Logo, enfrentar as necessidades suprimindo os desejos seria como cortar os pés para não precisar de sapatos.

De fato, a necessidade cria o desejo. Todavia, o desejo cresce, se agiganta, deixando de ser motivado pela simples necessidade e tornando-se numa carência. E assim, o desejo transcende a necessidade. Desejamos até aquilo de que não precisamos. Trata-se, portanto, de uma espécie de sede, não de água, ou de qualquer outro elemento, mas de sentido, de significado, de propósito. O prazer é tão-somente o bônus de se haver se saciado.

No afã de sermos saciados, nos aventuramos em múltiplos relacionamentos como fez aquela samaritana abordada por Jesus à beira de um poço. Cinco relacionamentos não haviam dado conta de saciá-la. E o sexto se mostrava igualmente incapaz. Cada relacionamento era um poço no qual lançava seu cântaro, garantindo-lhe uma satisfação momentânea. A sede sempre voltava e ficava cada vez maior. Nem mesmo o receio de ter sua reputação destroçada era capaz de fazê-la recuar na sua incessante busca por satisfazer seus mais profundos desejos.

Sem lhe apontar o dedo ou lhe dar um discurso moralista, Jesus diz: “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna” (João 4:13-14). Ela só entendeu a mensagem quando Jesus pediu que lhe trouxesse o seu marido. Até aquele instante, ela achava que aquele misterioso judeu lhe falava de uma sede literal.

Chega a ser desumano colocar sobre as pessoas expectativas que não possam corresponder. Nem elas dão conta de nos satisfazer, nem nós de satisfazê-las. A mulher samaritana não era a única frustrada nessa história. Cada um de seus maridos era igualmente um ser desejante que não conseguiu satisfazer-se em seu relacionamento com ela.

A solução que o mundo nos oferece para a satisfação de nossos desejos não passa de paliativo. É como tentar matar a sede com água salgada.

Quando não nos saciamos numa relação, projetamos nosso desejo em acontecimentos, tais como eventos, aquisição de bens materiais, realizações profissionais, etc. Contamos o dia e a hora pela chegada do tão esperado evento que nos saciará, porém, somos igualmente frustrados. A festa termina e lá se vai nossa alegria. As gargalhadas cedem ao tédio. Da euforia resultante do consumo de bebida alcoólica sobra a ressaca. Mas o pior de tudo é que aquela sede existencial persiste.

Talvez por isso, Jesus tenha deixado para se manifestar pela primeira vez em Jerusalém no último dia de uma grande festa.

“E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva. Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.” João 7:37-39

Podia até parecer presunçoso que um morador da periferia da Galileia aparecesse do nada se dizendo capaz de saciar a sede de quem quisesse. Mas, o que motivou Jesus a isso foi constatar que ao fim da festa, todos se preparavam para voltar para seu lugar de origem com o coração frustrado e ainda sedento.

Jesus repete à multidão basicamente a mesma coisa que disse à samaritana, mas com algumas poucas adições. A condição para saciar-se n’Ele é crer como diz a Escritura. Não é crer como diz a tradição. Nem crer como diz uma ideologia, mas como diz a Escritura. Repare que “Escritura” aqui não está no plural, mas no singular. De que “Escritura” Jesus estaria falando? Provavelmente de algum trecho do Antigo Testamento. Mas de qual? Certamente de Isaías 55, onde lemos nos primeiros versos:

“Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e, vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo. Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão e o seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz? Escutem, escutem-me, e comam o que é bom, e a alma de vocês se deliciará na mais fina refeição. Deem ouvidos e venham a mim; ouçam-me, para que sua alma viva.” Isaías 55:1-3

Crer como diz esta Escritura é entender que não se trata de uma troca, de uma barganha, mas de algo oferecido gratuitamente. Tudo o que envolve troca não satisfaz verdadeiramente. Quando muito, oferece uma satisfação relâmpago, sem consistência e durabilidade.

No convite feito na festa, Jesus reafirma o fato de quem aquele que d’Ele beber terá sua sede saciada para sempre, e que de seu próprio interior fluirão rios de águas vivas. Isso não significa que deixaremos de ser seres desejantes. O desejo nos move. A falta dele nada mais é do que a própria morte. Porém, sabemos que aquilo que desejamos está sempre disponível, jorrando incessantemente de dentro de nós.

Em Sua fala com a samaritana, Jesus diz que tais águas vivas não apenas fluem, mas jorram, saltam na direção da vida eterna. A imagem que nos vem à mente é a de um exuberante chafariz, que chama a atenção de quem passa. Isso parece indicar que as águas que se instalaram em nós não visam apenas saciar-nos, mas também saciar aos que nos cercam.

Leia atentamente o que diz a passagem a seguir:

“Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes vivas das águas; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima.” Apocalipse 7:15-17

Chama nossa atenção a promessa de aqueles que servem a Deus diuturnamente, nunca mais terão sede. Mas passa despercebido que tal fato se dá porque o Cordeiro os apascenta e os guia até “as fontes vivas das águas”. Reparou que “fontes” está no plural? Mas como pode isso, se Cristo é a única fonte de onde jorra a água da vida? Ora, é este mesmo Cristo que pelo Seu Espírito vem habitar em cada um de nós, tornando-nos um só espírito com Ele. Logo, cada um de nós é uma fonte que visa saciar a outros além de nós mesmos.

A mulher samaritana não podia saciar-se em seus múltiplos relacionamentos porque nenhum de seus maridos havia sido habitado pelo Espírito de Cristo. Nem tampouco ela poderia saciá-los. Porém, a partir do momento em que nos tornamos moradas de Cristo, as águas vivas que jorram do nosso interior vão de encontro aos anseios daqueles que nos cercam. Uma vez saciados, passamos a viver em função da satisfação de nosso semelhante. Queremos que ele desfrute da mesma alegria, do mesmo amor, da mesma fé, dos mesmos cuidados.

Fazemos coro com o Espírito Santo no convite feito a todos os homens:

“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” Apocalipse 22:17

É de graça! Não envolve o pagamento de nada! E sabe porquê? Porque o preço já foi pago. Sai de graça para nós, mas custou caríssimo para Ele.

Lemos em João 19:28 que, “sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.”

O que você faz se alguém bate à sua porta e diz que está com sede? Imagina alguém se esvaindo em sangue, perdendo todo o líquido de seu corpo, rogando por água... Qualquer ser humana se compadeceria. Mas em vez de água, “deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber” (Mateus 27:34).


A mistura de vinho com fel produzia um entorpecimento análogo a de um poderoso anestésico. O que parecia um ato de crueldade era na verdade um gesto de misericórdia. Porém, Jesus se recusou a sorver aquela esponja embebecida.

Da mesma maneira, o mundo nos oferece entorpecentes para aliviar nossas frustrações, nossas dores mais profundas. Sorvemos até a última gota desta esponja embebecida. Temos a ilusão de que os desejos foram saciados. Mas eles ainda estão ali. Porém, suprimidos.

O apóstolo Paulo nos adverte a não nos embriagarmos com o vinho em que há devassidão, mas nos enchermos do Espírito Santo. O vinho representa tudo o que nos desliga da realidade, que disfarça nossa vulnerabilidade, que tira nosso foco, que engana nossos sentidos. Já o Espírito é o que nos devolve ao chão, que nos mantém em estado de constante vigília.

Podemos afirmar que naquele momento, Jesus vivenciou Seu maior pesadelo. Não bastasse toda a dor, a decepção de haver sido traído, o abandono de Seus discípulos, Ele agora tinha que lidar com o desejo não atendido. Porém, este era o preço para que todo ser humano pudesse voltar a sonhar.

Suas últimas palavras foram um brado: “Tetelestai!”, que significa “Está consumado!”

Este brado encontra eco no livro de Apocalipse, onde lemos:


“E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida.” Apocalipse 21:5-6

Páscoa: Travessia e Travessuras da Humanidade

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Por Hermes C. Fernandes


A Páscoaé celebrada por duas das principais religiões monoteístas do mundo, a saber, o judaísmo e o cristianismo. Para os judeus, é comemoração de sua saída do Egito, depois de mais de 400 anos de escravidão. Para os cristãos é a comemoração da morte e ressurreição de Cristo, através das quais somos libertos da escravidão do pecado e da morte. Gostaria de sugerir uma interpretação que englobasse ambas as celebrações, baseada no sentido original da palavra. “Páscoa” (Pesach, em hebraico) significa literalmente “Passagem”, ou “Travessia”.

Desde os primórdios da civilização, a humanidade tem sido desafiada a atravessar fronteiras que delimitam não apenas sua morada, mas também sua compreensão de Deus, da vida e da realidade como um todo (cosmovisão). Esta “travessia” tem sido instigada pelo próprio Deus, e patrocinada pelo Cordeiro cuja vida foi entregue antes da fundação do Mundo. É este “Cordeiro” o elo entre ambras celebrações, a judaica e a cristã.

O cordeiro que cada família hebréia teve que sacrificar antes de deixar o Egito tipificava o Cordeiro de Deus que remove o pecado do mundo, e que, para os cristãos, é ninguém menos que Jesus de Nazaré, Unigênito de Deus, engendrado pelo Espírito Santo no ventre de uma virgem judia chamada Miriam (Maria).

Foi Sua entrega anterior ao start da história que garantiu que Ele mesmo seria o guia da humanidade em sua travessia rumo à maturidade. Deus sabia que nesta travessia, o homem faria muitas travessuras. Somente o sangue de Seu Unigênito seria capaz de impedir que tais travessuras nos fizessem atolar em nossa travessia.

João refere-se a isso ao declarar:”Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram sobre ela (…) A luz verdadeira que ilumina a todos os homens estava vindo ao mundo” (Jo.1:4-5,9).

Apesar das trevas que insistem em cobrir os povos, Cristo tem sido o farol que tem guiado a civilização humana nesta travessia. Não há sociedade em que não encontremos Seus rastros de luz. No dizer de Paulo, ainda que Deus“nos tempos passados”, tenha deixado andar todas as nações “em seus próprios caminhos”, “contudo, não deixou de dar testemunho de si mesmo” (At.14:16-17). Em outro sermão, desta vez pregado no centro do saber filosófico, Paulo diz que Deus,“de um só fez todas as nações dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação. Deus fez isto para que o buscassem, e talvez, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós” (At.17:26-27).

Podemos encontrar lampejos de Sua presença entre os povos pré-colombianos nas Américas, entre os ameríndios nas ilhas do pacífico, e até entre os esquimós nas geleiras. Se Deus nos houvesse deixado entregues à própria sorte, há muito teríamos nos auto-extinguido.

Esta “travessia” tem sido feita em etapas, nas quais a humanidade tem sido conduzida a uma compreensão mais madura acerca de Deus.

No início da saga humana, nossa busca primordial era por sobrevivência. Nesta etapa de nossa travessia enxergávamos Deus como o Supremo Provedor. A Terra era um jardim de onde coletávamos aquilo de que necessitávemos para sobreviver. Não tínhamos ideia de quão vasta era a Terra para além do território em que vivíamos. Aquele era o nosso jardim, nosso lar, cenário da comunhão entre nós e Aquele Ser que nos havia criado.

Tão logo comemos daquele fruto que nos tinha sido vetado, vimo-nos expulsos do conforto daquele jardim, e partimos em nossa peregrinação pelo mundo. Expostos a todo perigo, nossa busca passou a ser por segurança. Desenvolvemos clãs, tribos, e mais tardiamente, nações. Nossa compreensão de Deus atribuiu-Lhe o caráter de Protetor, guerreiro, e não apenas provedor. Daí surgiu o politeísmo. Cada tribo desenvolveu sua compreensão particular acerca da divindade. E quando guerreavam, era como se seus deuses também guerreassem. Quando perdiam uma batalha, achavam que seu deus não estava satisfeito e deveria receber algo em troca, alguma oferta, para que lhes garantisse o êxito da próxima batalha. Surgia a religião. Não demorou para que pessoas se destacassem como mediadoras entre a divindade e os demais.

Quando algumas tribos resolveram se reunir, somar forças contra um inimigo comum, surgia uma nação. Com isso, também surgia o sincretismo, reunindo elementos de ambas as religiões numa teologia e cosmovisão únicas. Nesta etapa da travessia, nossa busca passou a ser por Poder. Surgiam os impérios e sua sede de domínio. Povos menores eram conquistados e assimilados. O deus territorial adorado por cada tribo era substituído por panteões, onde os deuses disputavam a lealdade de seus povos. Cada deus passou a ser visto como responsável por uma área específica da realidade. Surgiram deuses da agricultura, da fertilidade, da guerra, etc. Entretanto, sempre havia um lugar de honra dedicado ao “Deus dos deuses”, tivesse o nome que fosse. Esta visão de Deus nos ajudou a estabelecer a ordem civil, impedindo-nos de sermos dissolvidos num caos social. O rei era visto como o representante dos deuses, e às vezes era identificado como um deles. Seus decretos tinham peso de ordens divinas, que não podiam ser contestadas.

Logo, surgiram os abusos. Povos dominados eram escravizados. Impostos insuportáveis eram exigidos de seu próprio povo. Isso nos empurrou para uma próxima fase de nossa travessia. Os injustiçados e dominados passaram a buscar Independência. Ninguém mais suportava o jugo dos dominadores. Havia um clamor que subia incessantemente ao céu. A compreensão acerca de Deus evoluiu mais uma vez. Ele agora era visto não apenas como o Soberano, Rei dos reis, mas também como o Juíz da causa dos oprimidos, e o seu Libertador. Um Deus que desdenha dos panteões criados pela imaginação humana, e intervém em favor dos desprezados. Um Deus que não se dobra aos caprichos dos dominadores, mas que pauta Suas ações na justiça. Um Deus que promulga leis as quais até os maiorais dentre o povo devem se submeter. Um Deus que nos convida à liberdade consciente, assistida pela responsabilidade. Foi, de fato, um grande salto na compreensão da humanidade acerca de Deus. Porém, a travessia não terminou.

Em cada nova etapa de sua travessia, a humanidade faz suas travessuras. Aos poucos, passamos a enxergar a lei como um fim em si mesmo. A Lei Moral foi cedendo espaço às leis da física. O Universo tornou-se como um relógio, onde leis fixas regem seu funcionamento. Esquecemo-nos do Relojoeiro. A chegada da Era da Razão, com seu paradigma cartesiano, declarou nossa autonomia de Deus. A fé tornou-se obsoleta. A relatividade, antes confinada ao campo da física, agora era aplicada também às questões morais e éticas. Embora neglicenciado por Sua criatura, Deus não a abandonou à própria sorte, mas acompanhou de perto sua chegada à adolescência.

Nessa busca por autonomia, aportamos em mais uma escala de nossa travessia: o Individualismo. O velho lema dos mosqueteiros, “Um por todos e todos por um”, foi substituído pelo “Cada um por si…”. A reação ao fato de que o mundo funciona como uma máquina, é o desejo de transcender o papel de mera engranagem. Cada indivíduo passou a se ver como o centro do Universo. Tudo deve funcionar para seu próprio bem, independente do que isso venha proporcionar ao semelhante. Esta é a era do bem-estar. Cada consciência estabelece sua própria escala de valores. O que é certo para um, não é necessariamente certo para o outro, e vice-versa. O importante é sentir-se bem consigo mesmo. É desse narcismo/egocentrismo que emerge a Teologia da Prosperidade, em que as pessoas são estimuladas a buscar sua própria fatia do bolo. Surgem igrejas pra todo gosto, com suas teologias ajustáveis às demandas de uma sociedade individualista e consumista. A mensagem que dizia “negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” foi descartada e em seu lugar impera a mensagem da auto-estima, do amor próprio. Chegamos a um terreno pantanoso em nossa travessia.

Ao ver-nos atolados nesse tremedal, ou mesmo afundando na areia movediça do individualismo, o Espírito de Deus, enviado para guiar-nos em nossa travessia rumo à Terra Prometida, nos introduz à uma nova etapa: a Honestidade/Avaliação. Somos confrontados com o resultado de nossas próprias escolhas. Em que nos tornamos? Que legado deixaremos para a posteridade? Temos que admitir que nossa civilização está definhando. Produzimos regimes totalitários, ideologias excludentes, escravidão, segregação, destruição do meio-ambiente, exploração econômica, duas Guerras Mundiais, terrorismo, religiões que não sabem co-existir respeitosamente, pornografia, etc. E o pior é que quanto mais tentamos reagir, mais parecemos afundar. Definitivamente, precisamos de ajuda de fora. Temos que voltar ao ponto de partida e descobrir onde erramos como civilização. Chegou a hora de repensar cada uma de nossas posturas, e nos abrir ao diálogo. Ninguém está só. O individualismo é uma farsa. Todos dependemos uns dos outros. E o que afeta ao nosso semelhante, também nos afeta a todos. Se formos, de fato, honestos em nossa avaliação, seremos conduzidos a um estágio de humildade. Teremos que reconhecer que erramos e que precisamos de uma mudança radical. Caso contrário, nos auto-destruiremos.

O sétimo estágio de nossa travessia é o da Reconciliação. Primeiro, com a fonte primeva da existência, DEUS. Uma vez reconciliados com o Criador, estamos prontos a nos reconciliar com toda a criação, incluindo nossos parceiros de jornada (todos os seres humanos), os seres vivos em sua totalidade (tudo o que tem fôlego), e todas as demais coisas, visíveis e invisíveis. Os profetas hebreus chamavam este estágio de Shalom (Paz).

Foi por isso que o Cordeiro Se deixou imolar antes mesmo da fundação do cosmos. “Foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl.1:19-20).

A Terra Prometida que almejamos não é um pedaço de chão em algum lugar do Universo, mas o Universo como um todo, concebido por uma consciência renovada pelo Espírito de Deus. Ao fim de nossa travessia, tomaremos nossos tamborins, como fez Miriam, a cantaremos e dançaremos na presença do Cordeiro. Ação de graças haverá em nossos lábios, quando o cosmos inteiro for visto como sacramento eucarístico, e Deus for tudo em todos (1 Co.15:28).

Desejo a todos uma bem-sucedida TRAVESSIA.

Feliz Páscoa!


Postado originalmente em 1/4/10

Você pouparia este Jesus?

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Por Hermes C. Fernandes

- Alguém aí me acusa de pecado?[1] 

Esta pergunta fora feita por ninguém menos que o Filho de Deus.

Até onde sabemos, ninguém ousou se pronunciar. Mas pensando bem... alguns cristãos modernos talvez tivessem sérias acusações a fazer. 

Abaixo, segue uma lista de supostos pecados que Ele teria cometido:

Sentou-se e comeu com gente da pior espécie.[2]

Aceitou presentes de prostitutas.[3] 

Foi conivente com o vício ao transformar água pura em bebida alcoólica de ótima qualidade.[4] 

Foi flagrado conversando com uma mulher de moral duvidosa, e ainda por cima, samaritana.[5] 

Impediu a execução justa de uma adúltera descarada, e ainda expôs seus delatores.[6] 

Quebrou o santo mandamento do sábado várias vezes (pelo menos, segundo a interpretação dos sábios e piedosos judeus).[7] 

Exaltou a figura de um pária em uma de suas parábolas, enquanto desmascarou a religiosidade apática de uma casta religiosa.[8] 

Elogiou a fé de um oficial romano (provavelmente um idólatra) na frente de seus patrícios.[9] 

Tocou e deixou-se tocar por leprosos, o que, pela Lei, tornava-o imundo.[10] 

Não fez média com autoridades; pelo contrário, chamou Herodes de raposa.[11] 

Xingou gente piedosa de ‘cobras e lagartos’, enquanto tratou com cavalheirismo quem não merecia nem atenção.[12] 

Falou com gente morta (dois de uma vez!).[13] 

Hospedou-se na casa de um corrupto.[14] 

Traiu os anseios populares ao abonar o recolhimento de impostos por parte do império que ocupara suas terras.[15] 

Não negou a possibilidade de se ser fiel a Deus e, ao mesmo tempo, cumprir seus deveres para com o estado, mas denunciou a impossibilidade de se servir a Deus e aos interesses do capital.

Contou estorinhas com mensagens subliminares e teor subversivo.[16] 

Pediu arrego no momento de maior pressão.[17] 

Questionou o abandono do Seu Deus na hora da morte.[18] 

Garantiu o acesso ao paraíso a um meliante condenado à morte.[19] 

Frustou uma expectativa de golpe quando em vez de marchar em direção ao palácio para depor Herodes, preferiu dirigir-se ao templo para peitar o sistema religioso corrompido.

Promoveu a desordem ao entrar em recinto sagrado munido de chicote. [20]

Sabotou o sistema financeiro ao expulsar cambistas e negociantes do pátio do templo. [21] 

Celebrou reuniões secretas com seus seguidores pedindo sigilo absoluto. [22] 

E para completar o vexame, foi exposto completamente nu, vestindo unicamente uma coroa de espinho e três cravos que penetraram sua carne.

Esse Jesus não soa ‘subversivo’ demais? Não teria sido melhor crucificá-lo mesmo? Será que os cristãos de hoje o poupariam?

Alguém com este currículo deve ser detido o quanto antes, para que sua doutrina não se espalhe pelo tecido social, resultando na subversão da ordem vigente.  Se não for calado o quanto antes, poderá servir de inspiração para gente da laia de Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros promotores da paz.




[1]João 8:46
[2]Marcos 2:16
[3] Lucas 7:37
[4]João 2:9
[5] João 4:27
[6]João 8:4
[7]João 5:16
[8]Lucas 10:33
[9]Mateus 8:10
[10]Marcos 1:41
[11]Lucas 13:32
[12] Marcos 8:38
[13]Mateus 17:3
[14]Lucas 19:5-7
[15]Mateus 22:21
[16]Mateus 13:34
[17]Mateus 26:39
[18]Mateus 27:46
[19]Lucas 23:43
[20] João 2:15
[21] Mateus 21:12
[22] Foram várias, antes e depois da ressurreição.


* Os fatos não estão em ordem cronológica. 

O Silêncio do Inocente

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Por Hermes C. Fernandes

O Silêncio dos Inocentes (no original, The Silence of the Lambs), é um filme americano de 1991, dirigido por Jonathan Demme. A agente do FBI Clarice Starling, brilhantemente interpretada por Jodie Foster recorre à ajuda de Hannibal Lecter (Antony Hopkins), um psiquiatra psicopata condenado à prisão perpétua por assassinatos seguidos de canibalismo, para fazer o perfil psicológico do sequestrador da filha de uma senadora. Os indícios apontam para o fato de se tratar de um serial killer que deixa como pista casulos de uma mariposa tropical encontrados no interior dos corpos das vítimas. O criminoso é uma transexual que, insatisfeita com sua forma física, resolve costurar para si uma segunda pele feminina a partir das peles removidas de suas vítimas (daí o título em inglês “o silêncio dos cordeiros”).

Diferente de outros animais que caminham para o abate demonstrando desespero, o cordeiro costuma manter sua característica mansidão mesmo em face da morte ou durante sua tosa. Talvez por isso, tenha sido escolhido como representação de Cristo.

Foi João, o Batista, que exclamou ao vê-lo encaminhar-se para as águas do batismo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Porém, ele não foi o primeiro a utilizar-se da figura do cordeiro como representação do Messias. Cerca de setecentos anos antes, o profeta Isaías descreveu o sofrimento ao qual o Cristo seria submetido para redimir a criação.

Como se houvesse viajado no tempo e vislumbrado toda a cena, Isaías O descreve como não tendo “beleza nem formosura” (bem diferente do Cristo galã com feições nórdicas que vemos por aí...).  “Olhando nós para ele”, prossegue o profeta, “nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.” Pelo contrário,ele era“o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.” Isso tudo, antes que a indústria religiosa O ajustasse aos padrões estéticos da cultura dominante. O Cristo que emerge das páginas das Escrituras tinha pele bronzeada pelo sol escaldante da Judeia e calos nas mãos. Era operário e não membro da elite judaica. Mas tudo isso tinha um propósito: identificar-se com as camadas mais carentes da sociedade. Isaías conclui que“verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca(Isaías 53:2b-7).

Não é tarefa fácil manter o silêncio quando se tem razão. Diferente de quando se está errado e as acusações que pesam contra nós são justas e verdadeiras. Mesmo assim, Jesus jamais abriu Sua boca em defesa própria. O único inocente dentre os homens, manteve-se calado diante das provocações, insinuações e acusações que lhe eram impingidas. E não pense que Ele agiu assim para nos dar o direito de agirmos diferentemente. Pelo contrário. Foi para nos dar exemplo (apesar de não sermos inocentes como Ele).

Pedro recorre ao profeta Isaías para advertir a seus leitores a adotarem a mesma postura encontrada em Cristo.

“Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.” 1 Pedro 2:19-25

Além de nos manter silentes ante as acusações e injustiças que sofremos, devemos nos entregar àquele que julga retamente. Repare nisso: não se trata de entregar nossos oponentes como que desejando desforra da parte de Deus, mas de entregar a nós mesmos. Não os apresentamos como se fossem réus, mas a nós mesmos.  Uma vez havendo entregado sua causa ao justo juiz, deve-se ceder a palavra ao supremo advogado: JESUS.

Quando pleiteamos nossa própria causa, dispensamos os préstimos de nosso advogado. Não há desordem no tribunal celestial. Ou bem falamos, ou bem nos aquietamos cedendo vez a quem saberá como nos defender.

Não se trata de alegarmos inocência. Mesmo porque, todos somos culpados perante Deus. O único inocente que transitou por este planeta foi Jesus. Os demais, somos todos pecadores. O papel de nosso advogado não é provar nossa inocência, mas nos justificar. Não confunda “justificação” com “inocentização”. Cristo não se presta a defender que não admite culpa. Ainda que não sejamos culpados daquilo de que estamos sendo acusados no momento, mas somos culpados de tantas outras coisas, inclusive, de nossa omissão e letargia. A defesa de Cristo não consiste em provar nossa inocência, mas em nos justificar através de Seu sacrifício. Somos declarados justos, não por não haver pecado, mas porque nossos pecados foram devidamente castigados em Jesus. Daí Isaías dizer que “o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.” É como se o tribunal celestial nos emitisse um Nada Consta. Nossa dívida com a justiça divina está definitivamente paga.

E quando somos, de fato, inocentes daquilo que nos acusam? Sabemos que temos um Advogado diante de Deus. Mas quem nos defende diante dos homens?

Pedro nos oferece uma incisiva resposta: “Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem.  (...) Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus” (1 Pedro 2:12, 15-16). Portanto, não tente se defender. Siga como um cordeiro mudo. Em vez de bate-boca, o silêncio dos justificados. Seu procedimento falará por você de maneira muito mais eloquente do que qualquer defesa pessoal.

De qualquer maneira, não temos razão para sair em defesa própria, nem diante de Deus, nem perante os homens. Diante do tribunal divino, Cristo por nós. Diante dos tribunais humanos, Cristo em nós. 

Continua amanhã.

O Silêncio do Cordeiro vs O Rugido do Leão

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Por Hermes C. Fernandes

Nada mais contrastante do que a natureza passiva do cordeiro e a ferocidade do leão. Pois ambos são usados nas Escrituras como símbolos do caráter de Cristo. Como conciliar as duas figuras? Alguns teólogos dizem que em Seu primeiro advento, Cristo teria se revelado como o Cordeiro que deveria ser oferecido em sacrifício a Deus pelos nossos pecados, mas que, em Seu segundo advento, Ele se manifestará como o Leão da Tribo de Judá, destinado por Deus a reinar soberanamente sobre toda a criação. A tentativa de conciliar imagens tão contrastantes é até louvável, porém, revela-se insuficiente.

O cordeiro mudo levado ao matadouro é o mesmo que reina soberanamente. Ele não precisa passar por nenhuma mutação para isso.

Leia atentamente a descrição que João nos oferece de sua experiência de arrebatamento até a sala do trono de Deus:
“E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele..." Apocalipse 5:1-4
Aquele livro contém o propósito de Deus que abarca a criação como um todo. Ele vem escrito por dentro e por fora porque abrange tanto o que é acessível aos olhos (comumente chamado de “mundo material”), quanto ao que é inacessível aos sentidos (“mundo espiritual”). Somente alguém digno poderia romper seus lacres e, assim, desencadear a execução do plano divino. Não foi encontrado um único ser que preenchesse todos os requisitos. Nem mesmo entre os anjos, quanto mais entre os homens, confirmando assim o que lemos em Jó 4:18: “Eis que ele não confia nos seus servos e aos anjos atribui loucura.” João se vê desesperado.Todas as esperanças se desvaneceram. Até que um dos anciãos se aproxima para o consolar:

Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra.” Apocalipse 5:5-6

Repare nisso: o ancião se refere a Cristo como um leão, porém, o que João vê sobre o trono é um cordeiro. Isso derruba o argumento de que em Seu segundo advento, Jesus deixa de ser cordeiro para ser leão. Ser cordeiro não tem a ver apenas com o Seu sacrifício vicário, mas também com o Seu reinado. Ele ocupa do trono do universo como cordeiro. Ele não se tornou cordeiro por um curto espaço de tempo. Ele o é desde a eternidade. Como diz outra passagem, Ele é “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8; leia também 1 Pedro 1:19-20).  E aquilo que se é desde a eternidade não pode ser alterado. Afinal, Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. Nele não há mudança, nem sombra de variação.

Ele não precisa deixar de ser cordeiro para ser leão. Trata-se, antes, de duas facetas de Sua personalidade.

Ele é um cordeiro mudo quando se trata de sair em Sua própria defesa. Mas é um leão feroz quando se trata de sair em defesa daqueles a quem ama.

Um exemplo disso pode ser visto no episódio em que Jesus visitou a casa de um fariseu chamado Simão. Uma mulher de moral duvidosa invadiu a casa, quebrou todos os protocolos, e derramou sobre Jesus um caro perfume que lhe custou um ano inteiro de programas. Aquela situação feriu os escrúpulos do religioso que se pôs a duvidar da legitimidade do ministério de Jesus. “Se este fosse realmente profeta”, ponderou, “não aceitaria a oferta desta mulher”. Em momento algum Jesus abriu a boca para defender Seu próprio ministério. Mas vendo que até os discípulos a criticavam, Jesus saiu em sua defesa. Assim, Ele agiu como cordeiro e leão ao mesmo tempo.

Quando os judeus intentaram apedrejá-lo, Ele se retirou discretamente. Mas quando se deparou com a cena em que uma mulher flagrada em adultério estava prestes a ser apedrejada, Ele rugiu como um leão em Sua defesa.

Até na cena da cruz verificamos estas duas facetas de Cristo. Como cordeiro, não se pronunciou para se defender das acusações que lhes eram impingidas até por quem morria ao Seu lado. Como cordeiro, não interferiu para impedir que os soldados loteassem Suas vestes. Mas como leão, demonstrou preocupar-se com o futuro de Sua mãe, destacando um discípulo para abriga-la em Sua ausência. Como leão, garantiu ao ladrão moribundo a entrada em Seu reino.

Como vimos no post anterior, somos advertidos a seguir Suas pegadas, o que implicaria sermos cordeiros mudos que se negam a sair em defesa própria, mas sermos verdadeiros leões na defesa de nossos semelhantes.

Como igreja, não devemos advogar em causa própria, como geralmente temos visto por parte dos que dizem representá-la no congresso nacional. Se, de fato, os deputados evangélicos são discípulos de Jesus, eles deveriam estar lutando em favor dos excluídos, dos oprimidos e marginalizados e não em benefício de suas respectivas denominações, garantindo isenções fiscais e etc.

Parece-me que os cristãos de hoje inverteram a ordem. São leões em causa própria, mas cordeiros mudos na hora de defender a causa alheia.  Talvez não queiram expor sua reputação ou ferir interesses de outros grupos que os apoiem. Preferem abrir a boca por quem os banca, ou por quem lhes traz algum benefício. Porém, nada justifica tal postura. As Escrituras são claras: “Abre a tua boca a favor do mudo, a favor do direito de todos os desamparados”(Provérbios 31:8). E duras ao advertir: Até quando julgareis injustamente, e tereis respeito às pessoas dos ímpios?Fazei justiça ao pobre e ao órfão; procedei retamente com o aflito e o desamparado.Livrai o pobre e o necessitado, livrai-os das mãos dos ímpios”(Salmos 82:2-4).

A igreja não precisa de quem represente seus interesses. Isso é uma grande balela! Já temos um advogado, tanto junto a Deus, quanto junto aos homens, e Seu nome é Jesus Cristo (1 João 2:1-2). Quando abrimos nossa boca em defesa própria, estamos dispensando Sua atuação. Bem faríamos em dar ouvidos à Sua poderosa voz que ecoa pelos séculos dos séculos: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmos 46:10a).

Quando abrimos nossa boca em defesa própria, estamos nos justificando a nós mesmos. Isso equivale a cair da graça, desligando-se de Cristo, dispensando-o como nosso advogado (Gálatas 5:4). Para o escritor de Hebreus, é o mesmo que crucificar novamente o Filho de Deus, expondo-o à vergonha (Hebreus 6:4-6). Como crucificado, Ele se mantém mudo como um cordeiro inofensivo.

Se esta tem sido nossa postura, urge que nos arrependamos e recorramos novamente à Sua misericórdia, crendo que como um leão feroz que defende a sua cria, Ele pleiteará por nós. 

Para melhor compreensão deste artigo, leia o anterior: O Silêncio do Inocente
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